Ainda melhor que um Almodóvar mais reflexivo,
melancólico, é ver Antonio Banderas consciente das modulações de sua grande
atuação. O fio mnemônico do cineasta-alter-ego-ficcional busca se conciliar com
o passado materno e ao mesmo tempo, sem saber, está atrás da origem do desejo
capaz de reacender a chama criativa. Um mergulho do realizador espanhol em si
mesmo, olhando para a própria persona como se quisesse quebrá-la, enxergar o
ser humano além da casca, das dores do corpo que refletem as da alma. É
divertido e triste, intimista e arquetípico. Os paradoxos que sempre impregnam
as narrativas pessoais – e não importa se Almodóvar está ou não falando
diretamente dele. Com inspirações fellinianas, cruza várias coisas [até esquece
algumas] sem fugir da essência. O desfecho que escancara a metalinguagem não
precisa surpreender, mas atestar a coerência dessa espécie de autorrevisão
existencial. Como o faz bem.
Dolor y Gloria * * * ½
ESP, 2019 | Drama | 113 min
[13.07.19 | Cine Teresina 5]
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