Filmes de 2000 [comentários]

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

A PRAIA * * ½
[The Beach, EUA, 2000]
Aventura - 119 min
Leonardo DiCaprio, sumido desde Titanic e O Homem da Máscara de Ferro, encarna Richard, um jovem viajante em busca de emoções e novas aventuras. Em Bangcoc hospeda-se em um hotel de terceira e conhece Daffy (Robert Carlyle), um estranho homem que delira com um paraíso perfeito. Segundo ele, existe uma ilha secreta ainda intocada onde tudo o que se cultiva é o prazer. Antes de cortar os pulsos, Daffy deixa o mapa da suposta praia que mudou sua vida. Junto com um casal que havia acabado de conhecer, Richard parte para uma jornada em busca do desconhecido. A Praia é realmente o paraíso que procurava: logo na chegada dão de cara com uma imensa plantação de maconha; mas é do outro lado da ilha vive uma pequena comunidade em total harmonia com uma natureza virgem e primitiva. Em meio a uma sociedade caótica, aquele parece ser o lugar mais belo do mundo. Richard já não pensa em voltar e, mesmo cultivando um amor proibido, está em paz e se divertindo à beça. No entanto, o paraíso se transforma em inferno quando percebe-se que tudo o que importa mesmo é ocultar ao máximo a existência da ilha, mesmo que para isso mortes tenham que ocorrer. O diretor Danny Boyle parece ter sofrido da Síndrome de Hollywood. Seu primeiro filme, Cova Rasa, mostrava alguém disposto a inovar. O auge veio com Trainspotting - Sem Limites, um filme realmente contundente e polêmico. Decaiu um pouco com Por Uma Vida Menos Ordinária, mas ainda assim manteve o pique artístico do melhor estilo do cinema independente. Só que pegou um astro e um roteiro um tanto interessante, talvez na tentativa de melhorar ou mudar sua concepção, e o resultado não teve o mesmo êxito de seus filmes anteriores. Isso leva a perceber que Boyle não tem cara de grande público. Seus projetos não levam jeito para produções encabeçadas por apenas um nome e muito aguardadas. Um orçamento baixo e atores não muito conhecidos podem resultar em filmes surpreendentes e brilhantes - os nomes acabaram de ser citados. Mas não botemos toda a culpa no diretor, afinal de contas, A Praia não é um fracasso total e sua direção está de primeira. DiCaprio demonstra o bom ator que é, apesar de sua cara de garoto na puberdade. Na verdade, estamos falando de um filme de aventura, mas que não vai de encontro com nenhuma “armadilha” do gênero. Esse é o aspecto inovador da fita. Trata-se de uma aventura pessoal, interna, de um personagem só. Uma experiência atípica que não reserva lugar para romantismo, heróis e vilões carica-tos, e sim para desejo, traição, dor e abandono. Em alguns momentos, chega a ser uma crítica à sua própria concepção ao mostrar que a alegria não pode ser ameaçada (um dos habitantes do local, ferido por um tubarão e agonizando em dor, é levado para bem longe e largado no meio do mato só para que o resto possa continuar se divertindo). Quando Richard começa a enlouquecer sozinho na floresta, vemos que o diretor de Trainspotting está mesmo ali e disposto a nos levar para um final imprevisível e impactante. É aí que o roteiro peca: num desfecho quase decepcionante e fora de hora. E a conclusão? Por que os per-sonagens são como são? Se A Praia mudou a vida de algum deles, isso não parece nítido na tela. A história termina de um modo muito convencional e fica aquela coisa no ar de que faltou algo: um fim. Porém, A Praia, o filme, nos traz grandes cenas, como a da cachoeira, do tubarão que fala e de Richard dentro de um vi-deogame, o que valoriza muito o filme. Danny Boyle quase chegava lá. Tomara que ele retome suas raízes na Escócia e que essa “síndrome de astro no elenco” tenha sido apenas um resfriado. E dos leves. [fevereiro 2000 - cinema]
 
EU TU ELES * * *
[Idem, BRA, 2000]
Comédia – 102 min
Regina Casé impressiona em sua atuação contida como Darlene, uma nordestina forte e batalhadora que consegue botar três maridos para conviver em uma mesma casa: o folgado e ranzinza Osias (Lima Duarte), o apaixonado e carinhoso Zezinho (Stênio Garcia) e o mais jovem e viril de todos, Ciro (Luiz Carlos Vasconcelos). A incrível história da protagonista – muito real – poderia descambar para algo bastante irregular, se não fossem uma direção segura e um belo roteiro que consegue equilibrar comédia e drama com toques de sensibilidade e sem cair na pieguice. A câmera de Waddington realça a sobriedade do sertão sem nos fazer agonizar e capta bem as emoções que ocorrem na tela. É um filme feito de belas imagens para se guardar na memória e possui uma linda fotografia. “Eu Tu Eles” é sem dúvida uma sessão indispensável e surpreendente, pois tem como objetivo apenas divertir com uma história bastante incomum, com uma produção caprichada. É o cinema nacional mostrando-se vigoroso e muito competente. Bem acima da média. [julho de 2000]

O AUTO DA COMPADECIDA * * * *
[Idem, BRA, 1999/2000]
Comédia – 104 min
Essa é a versão cinematográfica da genial minissérie exibida pela Rede Globo em janeiro de 1999. Com uma hora a menos do original da televisão, fica ainda mais gostoso acompanhar as travessuras de João Grilo e Chicó numa cidadezinha do sertão nordestino, desde a confusão feita para o padre benzer a cachorra da mulher do padeiro ao julgamento dos personagens principais diante de Deus e do diabo. Da obra de Ariano Suassuna, o diretor Guel Arraes adaptou para as telas de maneira bastante inteligente e fez um filme altamente divertido e cheio de críticas nada sutis. O padre e o bispo interesseiros são um exemplo. O ator Matheus Nachtergaele prova que é um dos melhores atores brasileiros de sua geração ao lado de Shelton Melo, formando a dupla principal do filme. “O Auto da Compadecida” se revela um dos mais promissores e rentáveis trabalhos do novo cinema nacional e impressiona tanto pela história quanto pela qualidade técnica da produção. Um trabalho de primeira. Pode acreditar: é de morrer de rir. Quem ainda não teve o prazer de assisti-lo, vai se surpreender com a inteligência dos diálogos e situações e com várias outras surpresas. Para quem já viu, o conselho é aquele velho clichê de televisão batido: vale a pena ver de novo. [agosto de 2000]

MEN – O FILME * * *
[X-Men, EUA, 2000]
Ficção - 104 min
Essa é, sem dúvida nenhuma, uma das adaptações dos quadrinhos mais aguardadas da história desde os anos 70, quando os X-Men, uma nova evolução do homo sapiens dotada de extraordinários poderes que variam de indivíduo para indivíduo, atracaram nas bancas de jornal de todo o mundo. Eles são mutantes, odiados pela humanidade, mas que se dispuseram a protegê-la dos que desejam sua total extinção, sob o comando do telepata pacifista Charles Xavier. O diretor Bryan Singer, responsável pelo excelente “Os Suspeitos” (1995) e pelo perturbador “O Aprendiz” (1998), jura nunca haver lido nenhuma revista desses anti-heróis até ser convocado para transpô-los para o cinema. O trabalho de Singer era fazer um filme que agradasse tanto aos fãs dos X-Men quanto aos que nunca leram sequer uma linha sobre eles. Se levarmos em conta os 54,5 milhões de dólares arrecadados somente no final de semana de estreia do filme, então é certeza absoluta afirmar que o diretor cumpriu sua missão. Começamos na Polônia em 1944, plena 2a Guerra Mundial, quando o jovem judeu Eric Lensher, que mais tarde se tornaria Magneto, é separado de sua família e incrivelmente entorta um imenso portão de ferro. Pulamos diretamente para um futuro não muito distante, onde transcorre a trama do filme. Enquanto o senador Kelly (Bruce Davison) lidera uma campanha de registro de mutantes e causa tumulto no congresso, a jovem Vampira (Anna Paquin), que fugiu de casa por ter descoberto seus poderes mutantes – absorver a energia vital de quem toca – ao beijar o namorado e deixá-lo em coma por três semanas, encontra o protagonista da história, Wolverine (Hugh Jackman), brigando em um bar em troca de dinheiro. Os dois são atacados pelo terrível Dentes de Sabre (nos quadrinhos ele é o inimigo número 1 de Wolverine e aqui não passa de um mero capanga de Magneto), do qual são salvos pelos X-Men Ciclope e Tempestade (James Mardsen e Halle Berry) e levados para a Escola para Jovem Superdotados do Professor Xavier (Patrick Stewart). Do lado dos vilões, estão Mística (Rebecca Romijn-Stamon), Groxo (Ray Park, o Darth Maul de “Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma”) e Dentes-de-Sabre (o grandão Tyler Mane), liderados por Magneto (Sir. Ian Mckellen), que possui um catastrófico poder sobre o magnetismo. Ex-amigo de Xavier, esse mutante é extremamente vingativo e, ao contrário do outro, acredita na supremacia de seus “irmãos” sobre a espécie humana, que deverá ser conquistada em uma guerra que estaria por vir. Para isso, Magneto traça um plano devastador envolvendo um importante encontro de líderes mundiais da ONU. Até a metade da fita, “X-Men – O Filme” mostra-se bastante interessante, mas morno para quem espera por uma baita aventura de sequências eletrizantes ininterruptas. Melhora quando Magneto põe seu mirabolante plano em prática. O roteiro enxuto surpreende por tratar também de temas sensíveis como preconceito, medo, rejeição, fuga, coisas que são comuns em nossa sociedade hoje em dia. Apesar de em algumas partes o filme parecer nos agradar como um todo, fica a dever muito daquilo que deveria ser “a aventura” e não “uma aventura dos X-Men”. O visual é arrojado, efeito especiais incríveis e tal, porém não chega nem perto de ser algo espetacular. Talvez o roteiro seja um importante fator de influência. A história é legal e muito bem amarrada, não deixa nada ao léu e contém algumas grandes surpresas... Mas é condensada demais. Muito simples e previsível. Até uma criança escreveria algo como o que filme mostra. Deixa bem claro o nervosismo dos produtores por trás de cada cena, cada diálogo, reduzidos ao máximo (até mesmo os poderes dos mutantes ficaram contidos). O clima criado por Bryan Singer e sua direção segura e bem orquestrada fazem disso apenas detalhes. Mas são detalhes que se notam. Poderia ser algo mais devastador e impactante? Sim, com certeza. Em vez disso, criaram uma história pequena, certinha, que finge satisfazer o público, mas que na verdade nem chega a se igualar à nossa expectativa. É quase correto dizer que foi o mesmo que houve com “Star Wars – Episódio I”, outro filme “hiperaguardado” que decepcionou milhões de fãs. Bem, depois de tudo o que foi dito aqui, parece até que “X-Men” é uma total decepção, mas na verdade não é. O intérprete do desmemoriado Wolverine, o australiano Jackman, é um verdadeiro achado. Com adamatium implantando cirurgicamente para reforçar seu esqueleto, um incrível fator de cura e garras de ferro que saltam de seus antebraços, Wolverine é uma verdadeira arma mortal. Embora suas lutas sejam poucas, uma contra Mística e outra contra Dentes de Sabre, dá para se ter uma noção de que o cara, dono de uma ironia sem igual e “caído” pela namorada de Ciclope, Jean Grey (Famke Janssen), não está para brincadeira. São dele as cenas mais engraçadas da fita, além de ser um dos personagens mais humanos. Apesar de tudo, “X-Men – O Filme” é uma diversão mais que recomendável para matar a ansiedade de ver ali em carne e osso os heróis mais rentáveis dos quadrinhos, em uma adaptação que supera quase todas já feitas. Sendo apenas esse o motivo de dar uma espiada no filme, então os detalhes registrados aqui passarão completamente despercebidos. [20.08.00 - cinema]
 
PAIXÕES PARALELAS *
[Passion of Mind, EUA, 2000]
Drama - 105 min
Demi Moore nunca foi aquela atriz de verdade capaz de figurar na lista de atrizes de algum cinéfilo medíocre. Mas o fato é que desde um tempo atrás a ex-mulher de Bruce Willis tem afundado cada vez no poço. Pode acreditar: ela está com um bom tempo que não faz um filme que preste. Em sua última empreitada, Demi é uma mulher dividida entre dois mundos: mãe viúva de duas lindas garotinhas na França e uma solteirona cobiçada na metrópole nova-iorquina. O que diabos uma história dessas pode ter de interessante? Absolutamente nada. Nas duas vidas – uma dorme e a outra acorda – nossa fraca protagonista vive lindos e complicados romances. O roteiro cria ambientes bem agradáveis para que tenhamos dificuldade em escolher qual mundo é real e qual é apenas sonho. Nesse vaivém interminável, a monotonia de uma história besta nos causa um sono profundo. A impressão que temos é de que nem os roteiristas nem o diretor, muito menos a própria Demi Moore, sabia o que estavam fazendo. A explicação encontrada para os fatos é das mais sem sentido. Não possui nenhuma psicologia concreta ou coerente, é apenas para encher nossos olhos de lágrimas forçadas. Um conselho de amigo: fuja dessa pieguice e vá ver algo mais animado. [setembro de 2000]
 
GAROTOS INCRÍVEIS * * * *
[Wonder Boys, EUA, 2000]
Drama – 112 min
Michael Douglas está simplesmente brilhante como um escritor de sucesso que não consegue terminar seu segundo livro, vive fumando maconha, é constantemente assediado por uma de suas alunas e mantém um relacionamento com a Coordenadora da faculdade onde leciona (saiba que ela é casada). No mesmo dia em que a esposa o deixa e seu editor afetado chega de viagem para cobrar o livro, nosso angustiado protagonista vai a uma festa para escritores onde passa a se relacionar com James (Tobey Maguire, excelente como sempre), um jovem escritor inquestionavelmente genial e com tendências suicidas. Começa então uma amizade de modo, pode-se dizer, incomum: o garoto os mete numa incrível confusão ao matar o cachorro da amante de Douglas e roubar uma jaqueta que pertenceu à Marilyn Monroe. Cheio de surpresas, o premiado diretor de “Los Angeles – Cidade Proibida” fez uma obra contundente, às vezes caricatural, mas de maneira consciente, genial e original. Somos lançados bem no meio de uma ciranda de personagens inusitados e situações que nos levam a acompanhar a história com bastante interesse, mesmo sem ter uma trama definida. E como não há trama, não há previsibilidade. Não sabemos que fim terá tudo isso. O magnífico texto de Steve Klove, adaptado do romance de Michael Chabon, é uma fantástica aula sobre relacionamentos humanos, tendo o mundo da literatura como pano de fundo. Um filme feito de interpretações consistentes, juntos com a apurada técnica de Curtis Hanson de narrar uma excelente história. A bela Katie Holmes, Frances McDormand e Robert Downey Jr. encabeçam o resto do elenco principal. No fim das contas, é mais um daqueles filmes sobre alguém a procura de si mesmo, mas contado de modo maravilhoso e agradável. Uma experiência que vale a pena, pois tem muito a ensinar, numa sessão quase obrigatória e que merece ser vista. Os momentos finais, e a própria conclusão em si, são sem dúvida nenhuma emocionantes. Para ver e rever. [outubro de 2000]
 
AS PANTERAS * * *
[Carlie’s Angels, EUA, 2000]
Aventura – 92 min
Não tenha dúvidas. “As Panteras” diverte, e quando não levado a sério, o filme diverte em dobro. Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu fazem parte de uma agência secreta de detetives comandada por Charlie, um milionário anônimo cujo único contato real com as meninas é feito por meio de Bosley (Bill Murray, inspirado). Aqui, elas têm de lidar com um misterioso caso de sequestro antes de descobrirem que caíram em uma cilada. Além do enorme carisma das atrizes, grande parte do sucesso de “As Panteras” se deve ao roteiro descompromissado, mas com uma história inteligente, e à ágil direção de McG. O cara é do tipo que interrompe a ação por alguns segundos para vislumbrar a beleza e o contorno das belas protagonistas, dando charme ao filme. O resultado é ação pura e comédia besteirol de primeira, sem falar nos efeitos especiais e nas inúmeras cenas de luta (sim, porque as meninas não usam armas de fogo) estilo “Matrix”. Coisa para divertir qualquer mortal. Apesar de confirmar a pouca fertilidade do cinema neste ano – o filme é baseado numa série de TV dos anos 70 –, é uma diversão quase obrigatória para quem gostou deste singelo rascunho feito às pressas. Mas é bom repetir: não leve a sério. Pode ser fatal. [outubro de 2000]
 
A FUGA DAS GALINHAS * * * *
[Chicken Run, GB, 2000]
Animação – 82 min
Não se engane. Está aqui um dos melhores filmes do ano. Dentre todas as animações que tivemos o prazer de conferir neste Milênio, “A Fuga das Galinhas” é sem dúvida a melhor e a mais original delas. Partindo do pressuposto de que galinha também pensa, fala e sente medo, os diretores Peter e Nick, que já faturara três Oscars de Animação, criaram uma aventura muito mais que legal, e que vem agradando gregos e troianos. A história se passa na Inglaterra, no galinheiro de uma velha ditadora e seu subordinado paranoico, onde as galinhas já se cansaram de tentativas de fuga frustradas. A galinha Ginger sempre acaba sendo a responsável por tudo, mas nunca desiste de seu desejo de libertar todas as companheiras de uma só vez. O sonho parece começar a se realizar com a chegada de um fajuto galo de circo com pinta de herói. Só que Ginger não sabe que é ela quem será a heroína quando descobrir que todo o galinheiro está condenado a virar tortas. Um espetacular e infalível plano de fuga é imediatamente posto em prática. Com uma técnica de animação, digamos, um tanto obsoleta comparada com a atual tecnologia cinematográfica – stop-motion, ou seja, aquela feita com bonecos de massinha fotografados quadro a quadro –, demorou quatro anos para o filme ficar pronto. E o resultado supera qualquer expectativa. Em outras palavras, o filme é perfeito visualmente. É de deixar no chão os efeitos gráficos de computador, usados hoje em dia. Feições expressivas e distintas, gestos humanos, saltos... É um riqueza de detalhes de dar água na boca. Como se isso não bastasse, ainda caprichou-se num roteiro divertido e bastante inteligente, com referências a filmes com “Fugindo do Inferno” e “Os Caçadores da Arca Perdida”. Enfim, o filme é um espetáculo completo. Quem não se divertir assistindo a ele pode procurar com urgência um psiquiatra. Palmas para os diretores, que nos agraciaram uma rara e maravilhosa obra-prima. [dezembro de 2000]

A NOVA ONDA DO IMPERADOR * * *
[The Emperor’s New Groove, EUA, 2000]
Infantil – 83 min
A Disney volta a tacar e acerta no alvo com uma animação bem legal. Trata-se da história de Kusko, um jovem arrogante imperador que é transformado em uma lhama por sua maquiavélica conselheira. Obstinada a tomar para si o império, ela ordena seu atrapalhado capacho que dê um fim ao animal. Claro que isso não acontece e o destino do imperador vai parar nas mãos de Pacha, um camponês honesto que ver sua vila ser destruída a qualquer momento para dar lugar à “casa de campo” de Kusko. Juntos, primeiro os dois tem que se entender e deixar de lado as diferenças para poderem enfrentar os enormes perigos que aparecerão em seus caminhos na volta ao palácio. Sem dúvida, este é um dos melhores desenhos da Disney desde meados da década passada. É um filme de piadas rápidas e um ritmo frenético, além de ter uma história bem original, se comparado aos últimos desenhos do estúdio. Impossível não se divertir à beça, numa sessão em que cada cena tem uma lição de moral. Crianças e adultos entram numa só sintonia em que o objetivo maior é curtir uma diversão bem prazerosa e acima da média. Na versão dublada conferida no cinema brasileiro temos as vozes de Selton Melo, Humberto Martins, Marieta Severo e grande elenco vocal. Vale a pena. [02.01.01]
 
ZONA DE RISCO * * * *
[Gongdong Gyeongbi Guyeok JSA, CS, 2000]
Drama - 110 min
Antes de se consagrar mundialmente com “Oldboy”, o cineasta sul-coreano Chan-wook Park já demonstrava talento, e muito, com este drama singular sobre amizade em tempos de guerra. O filme acontece bem na zona militar que separa a Coréia do Sul capitalista e a Coréia do Norte comunista. Falar mais da trama propriamente dita (tudo gira em torno de dois assassinatos) seria estragar uma experiência interessantíssima acerca da quebra da neutralidade e do separatismo, conduzida com incrível habilidade por Park, que desenvolve a história através de camadas e fica indo e vindo no tempo com facilidade e sem grandes perdas. Mesmo não sendo didático, a obra dá uma boa pincelada para a compreensão do conflito entre as duas Coréias, o que a engrandece e a contextualiza para os mais desinformados. Cheio de meandros e reviravoltas sutis, porém significativas, “Zona de Risco” chega a ser complexo ao falar dos sentimentos que podem unir ou separar as pessoas e que estão acima de conceitos ou ideologias introjetadas. Pode acreditar, assim como “Oldboy”, o filme fica um bom tempo ecoando na cabeça do espectador.
 

 

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