Filmes de 2007 [comentários]

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

O PASSADO * * *
[El Pasado, ARG/BRA, 2007]
Drama – 114 min
Casal se separa após doze anos. Apesar das dificuldades e dos traumas da separação, ele tenta seguir em frente. Ela, por sua vez, não parece muito disposta a deixar o passado morrer. As dores e os conflitos vão se acumulando ao longo dos anos e marcará a vida de ambos de maneira forte e irreversível. O que separa o amor da obsessão? Até onde duas pessoas conseguem lidar, cada qual à sua maneira, com o fim de um grande amor? Até que ponto se é possível superar um amor do passado, renitente, que insiste em não desaparecer? O quanto uma pessoa pode destruir-se por causa disso? Hector Babenco se junta a Gael Garcia Bernal não para responder essas questões, mas para suscitá-las. Nos moldes do atual (e bom) cinema argentino, “O Passado” passa longe de ser um grande filme, porém tem um quê de amargo que gradativamente vai se tornando mais forte, até percebermos que o destino dos personagens já estava selado desde o início. A narrativa melancólica tenta não apontar vítimas ou vilões, tornando tudo circunstancial, embora não seja difícil projetar certas conclusões. [18.03.08]
 
MEDO DA VERDADE * * * *
[Gone Baby Gone, EUA, 2007]
Suspense – 114 min
Quando a pequena Amanda é sequestrada dentro da própria casa, causando comoção por entre os habitantes de Boston, um casal de detetives é contratado pela tia da menina para ser uma ajuda a mais à polícia nas investigações. À medida que avançam, tudo indica ser de fato um sequestro motivado por vingança. No entanto, a verdade envolve razões mais complexas que irão mexer profundamente com todos os envolvidos. Surpreendente estreia na direção do ator Ben Affleck, que também co-assina o roteiro adaptado do livro de Dennis Lehane (“Sobre Meninos e Lobos”). O filme teve sua estreia europeia adiada por causa de sua similaridade com o caso da menina Madeleine McCann, e aqui chega às locadoras num momento em que todos se voltam para o caso da menina Isabela. Afora esses tristes detalhes, o filme consegue ser um excelente exercício de suspense policial e ainda levantar questões relevantes acerca da infância e do cuidar dela. Focando a narrativa nos personagens e em suas motivações, Affleck ultrapassa os limites do gênero, quase transformando o filme em um drama contundente sobre as intenções humanas. Seu irmão, Casey Affleck, brilha ao lado de Amy Adams (indicada ao Oscar de atriz coadjuvante) e do resto do elenco de rostos familiares. “Medo da Verdade” é um daqueles filmes que deixam o espectador pensando nele por um bom tempo após assisti-lo. Nada mal para um ator canastrão em seu primeiro trabalho por trás das câmeras. [12.04.08]
 
A LOJA MÁGICA DE BRINQUEDOS * * *
[Mr. Magorium’s Wonder Emporium, EUA/CAN, 2007]
Infantil – 93 min
No mágico empório de brinquedos de Mr. Magorium (Dustin Hoffman), uma crise tem início quando seu dono chega à conclusão que, aos 243 anos de idade, chegou a hora de partir. Ele decide deixar o estabelecimento que administra há quase 113 anos para sua adorável gerente, Molly Mahoney (Natalie Portman), um prodígio no piano quando criança e que agora desconhece o brilho e a magia em si mesma. Para deixar a casa em ordem, Mr. Magorium contrata um cético contador, carinhosamente chamado de Mutante (feito por Jason Bateman, mais conhecido pela série “Arrested Development”), ao mesmo tempo em que precisa lidar com a relutância de Mahoney e da própria loja com relação à sua partida. À primeira vista, esse filme pode afugentar o público adulto por ter uma campanha publicitária voltada às crianças, e de fato é uma obra leve, super colorida e divertida. Porém, surpreende por ter várias camadas de leitura, e quem ultrapassar a primeira – e mais óbvia – irá comover-se como uma bela fábula acerca da morte, aqui mostrada da forma mais lúdica e otimista possível. Cortesia do diretor/roteirista Zach Helm, que após ter escrito o roteiro de “Mais Estranho que a Ficção”, estreia na direção com outra história original, enxuta e cheia de efeitos especiais, mas sem nunca perder o foco dos personagens e sem pesar demais sua câmera. Seguro a ponto de não deixar escapar sutilezas na composição das cenas, como mostrar todo um diálogo enquadrando somente as mãos de dois personagens e vários outros detalhes que só enriquecem a experiência, Helm ainda consegue abordar com sensibilidade a solidão infantil e a criança dentro de cada adulto, além de mostrar a magia no mundo com uma naturalidade singular. Assista ao filme com a mente e o coração abertos e você terá uma bem-vinda surpresa. [20.04.08]
 
ENCURRALADOS *
[Butterfly on a Wheel, GB/CAN/EUA, 2007]
Suspense – 95 min
Neil Randall (Gerard Buttler, de “300”) é um bem-sucedido publicitário prestes a ser promovido, casado com uma linda e dedicada mulher, Abby (Maria Bello, de “Marcas da Violência”) e pai da adorável Sophie. Quando esta se torna refém dentro da própria casa, Neil e Abby ficam a mercê do misterioso Tom Ryan (Pierce Brosnan), que, por motivos obscuros, passa a brincar com o casal, aterrorizando-os com a ideia de nunca mais verem a filha caso não cumpra os seus comandos. Sendo direto, “Encurralados” é uma total perda de tempo. Geralmente, de todo filme, seja ele qual for, pode-se tirar coisas positivas que não o transforme num imperfeito saco de lixo. No entanto, nem a referência que remete ao título original é capaz de conferir alguma substância à experiência que o diretor Mike Barker obriga o espectador a ter. Sem um pingo de criatividade na direção, ele deixa o fiasco de roteiro escrito por William Morrissey revelar toda a sua falta de conteúdo e indulgência ao arrastar a história (não chega nem a ser o caso de “levar adiante”) com situações bobas, como o casal ter que conseguir dinheiro em determinado tempo para pagar o almoço do vilão. Ora, isso não pode ser chamado de cinema de entretenimento, e sim de estupidez cinematográfica aguda. Além disso, as “reviravoltas” soam forçadas e aleatórias demais para merecerem algum crédito e o desfecho é tão patético e, a partir de certo ponto, previsível que quem estiver dormindo na hora não vai ter perdido absolutamente nada. Para fechar a torta americana, o elenco de velhos e novos astros está canastrão a ponto de causar vergonha ao pior aluno de teatro (referência a uma peça que vi quinta-feira última na qual a bolsista era considerada a pior aluna pelo professor quando na verdade era o contrário). “Encurralados” encurrala aquele que quer divertir-se no cinema com algo que valha a pena. Quem sabe “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” venha curar as cicatrizes desse último fim de semana. [16.05.08 – cinema]
 
SIMPLES MORTAIS * *
[Idem, BRA, 2007]
Drama – 80 min
O brasiliense Mauro Giuntini discute as relações familiares em choque e a proximidade que distancia as pessoas. Mas o filme quase não avança, fica no meio do caminho. Os cineastas adoram exercitar o fetiche de narrar histórias sobre fracassados. Deve haver um quê de psicanálise nisso, sobretudo quando os personagens são artistas que nunca chegam a acontecer, por um ou outro motivo. Nessa narrativa, têm-se três histórias parecidas que se cruzam pelas “esquinas” de Brasília: um músico fracassado, um escritor fracassado e uma jornalista que fracassa ao tentar engravidar. Parece que o fracasso é intrínseco àqueles que labutam atrás dos sonhos. Afinal, somos simples mortais, como afirma o título, e não raramente tomamos as decisões erradas. Mas a mensagem pessimista de uma produção que se diz existencialista não é de longe o problema. Talvez o roteiro escrito por Di Moretti permaneça no óbvio, na camada superficial da premissa – uma característica comum ainda às narrativas cinematográficas [não, não direi brasileiras]. É preciso mais para se alcançar uma reflexão realmente digna da arte. [16.01.13]
 
 

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