Filmes dos anos 1920 [comentários]

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

NOSFERATU * * * * *
[Idem, ALE, 1922]
Terror - 80 min
É quase inútil tentar fazer algum comentário sobre essa pérola do cinema alemão. “Nosferatu” é um daqueles filmes que falam por si mesmo. A história, todos já conhecem do filme de Coppola, com algumas poucas diferenças, uma vez que essa é uma versão não autorizada do livro de Bram Stroker. Uma terrível e desconhecida peste ruma à pacífica Bremen quando o conde vampiro Orlock, por intermédio do cético Hutter, compra um velho casarão na cidade. É impressionante notar o impacto que o filme ainda tem praticamente oitenta anos após seu lançamento. O roteiro demonstra claramente sua enorme brilhanteza e o clima sombrio consegue ainda causar calafrios junto com o impecável acompanhamento musical. Já se foi dito que é um marco do expressionismo alemão, e realmente o é. A utilização de luzes e sombras é o maior exemplo da genialidade e originalidade do filme. Um grande clássico do terror, de fazer nossa imaginação ficar bem desconfiada. [03.01.01]

FAUSTO * * * *
[Faust: Eine deutsche Volkssage, ALE,1926]
Terror - 116 min
A adaptação feita por F. W. Murnau da peça de Goethe continua uma experiência forte da sombria fábula sobre a corrupção do espírito humano. Na parte visual, os efeitos ópticos e de transição se destacam. Alguns impressionam, criando a atmosfera onírica da narrativa. O roteiro é fiel à parte I do poema trágico, publicado em 1808 como uma peça de teatro [o texto foi retomado em 1826 com outra abordagem]. Emil Jannings rouba todas as suas cenas como o travesso Mefistófeles, o demônio que aposta com Deus a alma de Fausto. Mas Gösta Ekman e Camilla Horn, como o personagem-título e Gretchen, respectivamente, também entregam atuações formidáveis. Trata-se do último filme realizado na Alemanha pelo cineasta por trás do clássico expressionista “Nosferatu” [1922] antes de ir para os Estados Unidos. [04.08.15]

AURORA * * * * *
[Sunrise: A Song of Two Humans, EUA, 1927]
Drama/Romance - 94 min
A sensibilidade e sofisticação de Murnau no embate amor versus condição humana é, até hoje, um monumento do cinema. Sim, o amor está além da condição humana, do desejo, da culpa, do medo. O marido tenta assassinar a esposa, sob a influência da amante, mas não consegue. Arrepende-se e tem um dia para reconquistá-la. É um poema, e o cineasta alemão, agora nos Estados Unidos, o filma como tal. O trabalho de câmera e os efeitos ópticos são geniais, fantasmagóricos, assim como as referências que vão do expressionismo ao romance de formação. A narrativa passeia por diversos gêneros sem qualquer receio, nos guiando por um turbilhão de sensações. No ápice do apuro do cinema silencioso, o domínio total do sentido das imagens, os intertítulos vão se tornando escassos à medida que a história progride – e quando usados trazem sacadas que quebram sua aparente inutilidade. É como uma música com vários movimentos imprevisíveis. E nem estou falando do uso inovador da trilha sonora e do som direto [“O Cantor de Jazz”, lançado na mesma época, ofuscou esse aspecto]. Um filme que você encontra em todos os filmes feitos depois dele, em maior ou menor grau, e ainda assim conserva um caráter único, diria original. George O’Brien e Janet Gaynor, enquanto casal que se desfaz e refaz, talvez nunca tenham sido superados. A química é tão comovente quanto a situação em que são testados. Há momentos sublimes, intocáveis pelo tempo. Para Truffaut, é o filme mais belo do mundo. Não sou nem doido de discordar. No mínimo, trata-se de uma prova inconteste de que uma obra de arte não respeita as leis físicas: é etérea, conecta passado, presente e futuro no mesmo instante quântico. [05.08.15]

Nenhum comentário:

Postar um comentário