FILMES
2015
FRANCISCO
MONTEIRO JÚNIOR
283 filmes
Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *
Janeiro – 27 filmes
A ENTREGA
* * ½
[The Drop, EUA,
2014]
Drama - 106 min
O belga Michaël R.
Roskam [“Rundskop”, 2011] estreia em solo estadunidense com um "heist
movie" completamente focado nos personagens. O próprio Dennis Lehane
[“Sobre Meninos e Lobos”, “Medo da Verdade”] adapta seu conto de 2009, “Animal
Rescue”, nesse suspense dramático eficiente, apoiado na atuação de Tom Hardy. O
triste do filme é marcar a última aparição de James Gandolfini, falecido em
junho de 2013. [02.01.15 – resort Salinas do Maragogi, AL]
BLIND
* * ½
[Idem, NOR, 2014]
Drama - 92 min
O norueguês Eskil
Vogt fala da solidão autoimposta por meio de uma narrativa instigante, com
vieses muito curiosos. Autor do roteiro de “Oslo, 11 de Agosto” [2011], Vogt
estreia na função de diretor com esse filme cinestésico, que entrelaça quatro
personagens cujas relações se configuram no mote para brincar, no sentido
sério, com a própria linguagem. Não alcança um Terrence Malick, mas, para o
espectador certo, é uma experiência com eco. [03.01.15 – resort Salinas do
Maragogi, AL]
UMA NOITE NO MUSEU 3: O SEGREDO DA TUMBA * * ½
[Night at the Museum: Secret of the Tomb, EUA/GB,
2014]
Comédia - 98 min
Muda-se o museu,
mas o resto continua o mesmo. A diversão agora tem atmosfera, sempre ingrata,
de despedida. Para as gerações mais velhas, é o último filme com Mickey Rooney.
Na verdade, penúltimo. Para esta geração, o adeus de Robin Williams. Penúltimo
também. O diretor Shawn Levy fecha a trilogia inspirada, a princípio, no livro
de Milan Trenc. A ação vai para Londres e anda em círculos para resolver a
trama incipiente, apoiada nas gags e no carisma do elenco liderado por Ben
Stiller. O destaque é mesmo a sequência dentro da litografia “Relatividade”
[1953], do holandês M. C. Escher. O último diálogo de Williams, obviamente,
ultrapassa a sessão escapista para nos deixar pensativos. [06.01.15 – cinema]
ANTES DE DORMIR *
[Before I Go to
Sleep, GB/FRA/SUE, 2014]
Suspense - 92 min
A mistura de
"Amnésia" [2000] com "Como se Fosse a Primeira Vez" [2004]
resulta num suspense frouxo e sonolento. Não sei quanto ao livro do inglês S.
J. Watson, publicado em 2011, mas essa adaptação feita por Rowan Joffe [filho
de Roland] não poupa nem o elenco [Kidman, Firth, Strong] de uma sessão
embaraçosa. [07.01.15]
VIDA DE ADULTO * * ½
[Adult World, EUA,
2013]
Comédia - 93 min
Comédia dramática
indie sobre crescer e amadurecer o talento. Embora rasa, trata-se de uma
experiência simpática. Emma Roberts [sobrinha de Julia] faz uma aspirante à
poetisa que vai trabalhar numa locadora de vídeos pornôs e aprender que viver
um pouco é essencial para qualquer escritor. Basicamente, um filme de rito de
passagem tardio – ou como ter 22 anos lidando com as próprias frustrações
vocacionais. Difícil não se identificar. [08.01.15]
O UNIVERSO NO OLHAR * * ½
[I Origins, EUA,
2014]
Ficção - 107 min
Mike Cahill [“A
Outra Terra”, 2011] articula um interessante conceito para mostrar que, na
busca pela gnose [conhecimento], ciência e religião devem andar juntas. Michael
Pitt é um cientista obcecado pelo olho humano. Ao conhecer a bela Sofi [Astrid
Bergès-Frisbey], todo o seu ceticismo será posto em prova rumo à descoberta de
porque os olhos são, literalmente, a janela da alma. Uma experiência que vale
mais pela intenção. [10.01.14]
LATITUDES
* * ½
[Idem, BRA, 2014]
Romance - 81 min
Última parada do
romântico – e ambicioso – projeto transmídia do diretor/roteirista Felipe Braga
com os atores Alice Braga e Daniel de Oliveira. Só faltou um pouco de ousadia
do trio. Confesso que curti mais a versão da TNT com a montagem em cima dos
ensaios. Obviamente, a narrativa cinematográfica não escapa do tom episódico,
limitada aos oito destinos dos encontros e desencontros do fotógrafo com a
editora de moda, exibidos também no YouTube. O texto é tão espertinho que não
chega a ser natural e a química entre o casal, que já trabalhou junto antes, é
um tanto fria. Porém, não deixa de ser um investimento artístico notável, visto
em sua totalidade. [11.01.15]
WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO * * * *
[Whiplash, EUA,
2014]
Drama - 107 min
Damien Chazelle
mostra até onde vão os limites da ambição artística, conseguindo performances
arrebatadoras de Miles Teller e J. K. Simmons. Sobretudo este último, na pele
nada suave de um instrutor musical linha dura. Cada cena com ele é tensa o
bastante para rivalizar com certos psicopatas do cinema. Entretanto, ele
defende sua não ortodoxa lógica de ensino com clareza, além de quebrar o mito
do gênio puro, abençoado pelo talento e nada mais. Talento é prática, repetição
exaustiva, um pouco de sangue e boa dose de frustração. Chazelle ressignifica
sua própria experiência pessoal, acerta na maioria de suas escolhas narrativas.
Não perde o ritmo, e sim o eletrifica na montagem rápida dos planos-detalhes,
tendo o jazz mais alucinado como um metrônomo. Nada nos prepara para o duelo
final entre mestre e aprendiz. No mínimo, é de cortar o fôlego. [11.01.15]
O JOGO DA IMITAÇÃO * * *
[The Imitation Game, GB/EUA, 2014]
Drama - 114 min
Nessa narrativa
absorvente, o norueguês Morten Tyldum ["Headhunters", 2011] nos traz
uma dinâmica pouco mostrada da 2ª Guerra Mundial. Trata-se da história de como
o matemático Alan Turing quebrou os códigos japoneses, consagrando vitória aos Aliados.
Embora o foco seja a atuação esforçada de Benedict Cumberbatch, contendo sua
voz de barítono, a trama, extraída do livro de Andrew Hodges, é mais do que
isso. É sobre a obsessão de um gênio complexo em atingir o seu objetivo e como
foi tratado depois por sua homossexualidade. O roteiro de Graham Moore
entrelaça três ações temporais paralelas para dar conta da interessante/conturbada
vida de Turing, hoje o pai da ciência da computação. Nem sempre o equilíbrio
perfeito é alcançado; algumas transições de época são bem esquemáticas enquanto
outras parecem fora de ordem, arrefecendo um maior impacto emocional. Há
momentos interessantíssimos, sem dúvida, a maioria envolvendo o trabalho em
equipe. Sobretudo quando se consegue quebrar o Enigma [a máquina codificadora
do Japão, tida como inquebrável] e a difícil decisão tomada após isso. Por
algum estranho [ou não] motivo, persiste a impressão de que as melhores partes
ficaram fora do quadro. Mesmo assim, tem seu apelo. Um bom apelo. [13.01.15 –
madrugada/09.02.15 – cinema]
PARA SEMPRE ALICE * * * ½
[Still Alice, EUA,
2014]
Drama - 101 min
Julianne Moore
carrega com sensibilidade esse estudo muito humano de algo tão doloroso quanto
a "arte de perder" a si mesmo. Extraído do livro de Lisa Genova, a
história traz uma bem sucedida acadêmica que descobre ter Alzheimer pouco
depois de completar 50 anos. Além do devastador processo de observar todo o seu
conteúdo intelectual se esvaindo gradativamente, a possibilidade da doença ser
genética [ela tem três filhos] piora o pesadelo familiar. A dupla de
diretores/roteiristas Richard Glatzer e Wash Westmoreland realizou um daqueles
filmes que pedem lenço; não exageradamente, mas o suficiente para percebermos o
quanto a vida é preciosa em seus detalhes mais banais. O quanto deve ser
angustiante ir perdendo a própria identidade. Ainda mais quando se está consciente
disso. Difícil vez ou outra não escorregar no melodrama diante da abordagem
narrativa. Nada que desmereça o resultado comovente. [13.01.15/26.03.15 –
cinema]
DE VOLTA AO JOGO * * ½
[John Wick,
EUA/CAN/CHI, 2014]
Ação - 101 min
Eles mataram o
cachorro errado. E agora não há nada que pare a matança desenfreada
protagonizada por um Keanu Reeves em invejável forma aos 50 anos. Nada.
[14.01.15 - madrugada]
OS PINGUINS DE MADAGASCAR * * ½
[Penguins of
Madagascar, EUA, 2014]
Animação - 92 min
Esse spin-off da
série da DreamWorks aposta em gags divertidíssimas, fora a empatia do quarteto
maluco junto ao público. Capitão, Kowalski, Rico e Recruta já tinham ganhado
sua própria série de TV em 2008 pela Nickelodeon. Mesmo assim, precisavam
provar que podiam segurar um filme sem serem os coadjuvantes de Alex e
companhia. Para garantir, mantiveram Eric Darnell, codiretor de todos os
anteriores. Resultado: uma simpática diversão ligeira, que não foge da
atmosfera já conhecida. Para as crianças, a energia cômica é contagiante. Para
os adultos, há referências saborosas de se identificar. [15.01.15 – cinema]
COMPLICAÇÕES DO
AMOR * * ½
[The One I Love, EUA, 2014]
Romance - 91 min
Curiosa mistura de
romance e ficção que apresenta um modo nenhum pouco ortodoxo de resolver crises
conjugais. [17.01.15]
BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA) * * * *
[Birdman: or (The Unexpected Virtue of Ignorance),
EUA/CAN, 2014]
Comédia/Drama - 119
min
Com narrativa
operística, Alejandro González Iñárritu elabora um estudo cínico e sombrio
sobre o ego artístico em convulsão para não desaparecer. Em plena época na qual
a “indústria do entretenimento” reconfigurou [para o bem ou para o mal] o que
significa arte, o cineasta mexicano vem, quatro anos após o pesado “Biutiful”
[2010], com uma virtuosa comédia dramática de humor negro. Virtuosa pelo fato
de serem longos planos-sequências com colas invisíveis [algumas nem tanto],
fazendo a câmera passear pelo filme inteiro. Ou quase. Michael Keaton cai como
uma luva no papel de um ex-ator de cinema, outrora popular por ter dado vida ao
super-herói do título, agora tentando um comeback como diretor/ator teatral. O
filme pulsa processo criativo, não apenas pelo universo abordado, mas também
por ter sido escrito a oito mãos. Ótimos diálogos e referências desfiando a
eterna crise egoica de precisar sentir-se relevante ou mesmo amado, como
antecipa a citação do escritor estadunidense Raymond Carver no início da
produção. Nesse sentido, a conversa travada entre o protagonista e uma crítica
de teatro é a síntese feroz do que Iñárritu pretende passar. Os personagens
coadjuvantes são arquétipos tão bem explorados que ganham vida e importância
próprias, seguidos pela câmera na batida da bateria que ousadamente domina a
trilha sonora. Há quem defenda, com razão, uma intertextualidade da história
com a tragédia shakespeariana “Macbeth” [1603/1607]. Não chega a ser uma
obra-prima, porém é uma experiência fabulosamente desconcertante acerca da
angústia autodestrutiva das estrelas cadentes para se manterem brilhando numa
constelação em constante movimento. [18.01.14]
MISS VIOLENCE * * *
[Idem, GRE, 2013]
Drama - 99 min
A crise econômica
na Grécia serve como pano de fundo para uma narrativa incômoda envolvendo abuso
doméstico físico, sexual e psicológico. Não como justificativa ou mesmo mera
alegoria da atual situação do país, como defendem alguns críticos numa análise
claramente superficial e simplista. Além de soar cruel e irresponsável por
parte do cineasta Alexandros Avranas, em seu segundo longa, seria desconsiderar
as [poucas] informações oferecidas pela história. Estamos diante de algo que,
infelizmente, acontece em qualquer parte do mundo. O monstro muitíssimo bem
feito por Themis Panou pode ser aquele tio insuspeito – ou, no caso aqui, o avô
lutando para manter a família unida. A abordagem de Avranas é crua, não poupa o
espectador do que decide manter no quadro ou, pior ainda, fora dele. Sim, é
preciso estômago para encarar a atmosfera opressora, a qual não chega ao choque
gráfico, mas inquieta como se assim fosse. [19.01.15]
SONHOS À DERIVA * * ½
[Rudderless, EUA,
2014]
Drama/Musical - 105
min
O ator William H.
Macy estreia atrás das câmeras com esse drama musical honesto em cima de uma
premissa agridoce. [19.01.15]
IRMÃOS DESASTRE * * ½
[The Skeleton Twins, EUA, 2014]
Drama/Comédia - 93 min
A
"química" entre Kristen Wiig e Bill Hader faz a diferença nessa
comédia dramática levemente melancólica. [19.01.15]
SNIPER AMERICANO * * *
[American Sniper,
EUA 2014]
Drama/Guerra - 132
min
Em close quase o
filme inteiro, Bradley Cooper carrega a narrativa que instiga qual a definição
de herói no contexto da guerra. E logo a do Iraque, por si só distante de
qualquer unanimidade. Perto de completar 85 anos de idade, Clint Eastwood
mostra que ainda é capaz de entregar um sucesso de bilheteria, mesmo a experiência
dividindo opiniões ideológicas. Prefiro focar no que está por trás da aparente
propaganda militar e no reforço do sentimento xenofóbico da produção: o estudo
de personagem muito bem realizado por Eastwood e Cooper. Se o verdadeiro Chris
Kyle, assassinado em fevereiro de 2013, foi herói ou assassino, cabe aos
valores morais de cada espectador auxiliar na resposta. O drama defende seu
personagem, no bom sentido, ao invés de julgá-lo de maneira arbitrária. Não é
dos melhores trabalhos do veterano cineasta, mas certamente é um dos mais
corajosos. [21.01.15 – madrugada/26.02.15 – cinema]
PALO ALTO
* * ½
[Idem, EUA, 2013]
Drama - 100 min
Gia Coppola, neta
de Francis “Godfather” Ford, estreia na narrativa de longas com esse retrato
dos desencontros adolescentes no término da high school. Baseado nos contos
escritos pelo ator James Franco, que participa do filme, trata-se de uma
produção muito local, no sentido deles, os estadunidenses, perceberem melhor o
eco propagado pelo próprio reflexo. A nós, a impressão é de que, na fase
retratada, os jovens de lá ou caminham no vazio ou são babacas esforçados.
Felizmente, o talento parece mesmo correr nas veias da família Coppola. Gia não
passa a mão na cabeça de seus personagens, deixa-os à deriva. Em algum lugar, vão
se encontrar, claro. Porém, é uma deixa tão sutil que serve como comentário,
extra filme, do motivo de existirem tantos adolescentes tardios nas produções
hollywoodianas. [21.01.15]
BUSCA IMPLACÁVEL 3 * *
[Taken 3, FRA,
2014]
Ação - 109 min
Só mesmo quem
esqueceu a trama de "O Fugitivo" [1993] irá encontrar algo novo, ou
excitante, nesse genérico. Basicamente, o terceiro filme da franquia com Liam
Neeson criada por Luc Besson e Robert Mark Kamen recicla [para não dizer
plagia] os elementos do thriller com Harrison Ford e Tommy Lee Jones, a listar:
o marido acusado injustamente do assassinado da [ex]esposa; ele se torna um
fugitivo enquanto tenta desvendar o verdadeiro responsável pelo crime; um
astuto investigador, agora feito por Forest Whitaker, parte com tudo em seu
encalço. Como se pode perceber, dessa vez não há sequestro, uma das marcas
indeléveis da série. Porém, o protagonista durão continua a máquina mortífera
que empolga os cabeças de vento. Dirigido por Olivier Megaton, retornando do
segundo filme, a ação, por vezes exagerada, passa-se nos Estados Unidos, ao
contrário dos anteriores. O desenrolar da trama é fraquinho, previsível, cheio
de furos, como se escrito às pressas. A favor da produção, é a primeira vez,
acredito, que vejo um carro literalmente atropelar um jatinho. Pena isso não
fazer muita diferença no contexto geral. [22.01.15 – cinema]
JOHNNY, O
GÂNGSTER * *
[Johnny Dangerously, EUA, 1984]
Comédia - 90 min
Um jovem Michael
Keaton emula James Cagney nessa sátira meia-boca do gênero que teve seu auge
nos 1930/1940. Amy Heckerling vinha do sucesso de “Picardias Estudantis” [1982]
quando pôs em cheque seu talento para a comédia. O filme não é um desastre,
apenas não decola. Heckerling até se esforça, brinca com recursos narrativos,
mantém o timing, insere uma animação protagonizada por testículos... Enfim, vai
do gosto ao desgosto para acertar em algo. Inclusive, repete uma mesma gag
usada por Mel Brooks em “Silent Movie” [1976]. Sem querer querendo algumas
coisas saem engraçadas, mas no geral é uma pizza fria com pouco queijo. E
queijo, numa pizza, é essencial. [25.01.15 – Telecine Cult]
PARIS, TEXAS * * * *
[Idem,
ALE/FRA/GB/EUA, 1984]
Drama - 145 min
O cult road movie
de Wim Wenders, atravessando a alienação social derivada de um árido "american
way of life". Exaustivamente comparado, com alguma razão, ao clássico de
John Ford “Rastros de Ódio” [1956], o qual expunha a crise do Velho Oeste, traz
a jornada de um homem se reconectando ao mundo que o feriu. Para depois
entender não pertencer mais a ele, incluindo o filho pequeno e a ex-esposa. O
texto do ator/dramaturgo Sam Shepard é uma pérola, desfia as camadas do enredo
aos poucos, sem se atropelar ou perder o tom. O inusitado protagonista é feito
por Harry Dean Stanton, marcado até hoje. Ele custa a falar, mas quando o faz
domina o quadro. Seu monólogo de costas para o vidro que o separa de Nastassja
Kinski é fantástico – e logo em seguida há aquela sensacional sobreposição do
rosto dele no dela. Wenders faz um inspirado uso do enquadramento para mover a
história, auxiliado pela fotografia “viva” do holandês Robby Müller. Da mesma
forma, impossível não comentar o score de guitarra executado por Ry Cooder,
visitando a canção gospel-blues de Blind Willie Johnson sobre a crucificação de
Cristo, “Dark Was the Night, Could Was the Ground” [1927]. É fácil entender o
status alcançado pela produção ao longo dos anos, as influências provocadas
pela narrativa intimista de Wim Wenders, seguindo um personagem que tem
consciência, dolorida, do seu não pertencimento. O quanto não passa de um
estranho em sua própria vida. [26.01.15]
DEPOIS DO ENSAIO * * *
[Efter
repetitionen, SUE/ALE, 1984]
Drama - 70 min
Instigante
telefilme no qual Ingmar Bergman, em seu primeiro trabalho de ficção após se
aposentar do cinema, entrelaça seus questionamentos romântico-existenciais ao
processo teatral. [26.01.15]
UMA NOITE
* * *
[Una Noche,
EUA/GB/CUB, 2012]
Drama - 90 min
Além do retrato da
juventude cubana em fuga dentro do regime opressor, a estreante em longas Lucy
Mulloy faz, com muito talento, um estudo das tensões catalisadas pelo desejo.
[27.01.15 – madrugada]
TERCEIRA PESSOA * *
[Third Person, GB/EUA/ALE/BEL/FRA, 2013]
Drama - 137 min
Paul Haggis
exercita sua criatividade de escritor com uma sofisticada e pretensiosa ciranda
de personagens correndo no vazio de uma página em branco. [27.01.15]
INVENCÍVEL
* * ½
[Unbroken, EUA,
2014]
Drama/Guerra - 137
min
Angelina Jolie
entrega um filme bonito, sem dúvida. A história, real, de Louis Zamperini
[falecido em julho de 2014] é impressionante. Sobretudo por mostrar a
persistência do espírito humano. Entretanto, todo o seu esforço não esconde o
fato de ainda ser uma diretora casta, careta de tão correta. O oposto de sua
persona como atriz. A impressão é de que a produção se contorce para acontecer
por dentro do gesso moldado para o Papa assistir. [28.01.15]
CAMINHOS DA FLORESTA * ½
[Into the Woods,
EUA/GB, 2014]
Musical - 125 min
Bom na arrancada, é
decepcionante assistir a algo promissor ir, sem o perdão do trocadilho, caminhando
gradativamente para o desastre. E claro que não é por ser um musical, gênero do
qual sou fã e que todo amante de cinema deve ter o gosto apurado para saber
apreciar. Não, os problemas são outros. A primeira sequência musical, com “Into
the Woods – Prologue”, consegue criar expectativa de como as narrativas
paralelas envolvendo personagens dos irmãos Grimm, desde a Chapeuzinho Vermelho
a Jack e o Pé de Feijão, vão se cruzar. De certo, a coisa anda bem até certo
ponto, com os atores se esforçando e a direção sem devaneios de Rob Marshall,
já familiarizado com os musicais. Adaptado do espetáculo da Broadway do grande
Stephen Sondheim e de James Lapine, que assina o roteiro, nem percebemos como
somos levados a um terceiro ato extremamente bagunçado, cheio de twists
inorgânicos e soando arrastado. Aí vai da percepção de cada um. Eu não gostei,
apesar do desfecho ser salvo [nem tanto] pela melhor música da produção,
justamente a belíssima “No One is Alone”, reverenciada pelos estadunidenses
desde 1987, quando estreou a versão teatral. Fora isso, o próprio percurso é
desencontrado ao tentar entrecruzar as histórias e, segundo li, foi bastante
suavizado da fonte original, como a questão da pedofilia na canção do Lobo. É
preciso aceitar as indulgências narrativas para curtir a experiência. E olha
que o elenco tem nomes do calibre de Meryl Streep e Johnny Depp, cuja
participação não ultrapassa cinco minutos de tela. Fico com o que diz Martin
Heidegger no livro cujo nome foi “emprestado” ao título nacional do filme: “Na
floresta há certos caminhos que frequentemente se perdem, recobertos de ervas,
no não traçado. A gente os chama de Holzwege.” Pois bem, a obra dirigida por
Marshall nos conduz a Holzwege – o lugar nenhum. [31.01.15 – cinema]
Fevereiro – 20
filmes
O DIÁRIO DE ANNE FRANK * * * ½
[The Diary of Anne Frank, EUA, 1959]
Drama - 171 min
George Stevens não
perde o tom intimista, ao mesmo tempo em que nos confina junto com os
personagens. Para isso, precisou driblar a imposição do estúdio em rodar o
filme no formato CinemaScope [2:35:1] usando o ótimo design de produção, aliada
à magnífica fotografia em preto e branco de William C. Mellor, para criar um
ambiente claustrofóbico. Realizada 12 anos após a primeira publicação do
comovente livro-diário, a produção contou com os mesmos autores, Frances
Goodrich e Albert Hackett, da peça na
qual a narrativa se baseia. A história da menina Anne Frank e seus dois anos
escondida, junto à família judia, no sótão de um prédio ainda hoje provoca
reflexões sobre a guerra extirpando a inocência. Mas também como preservar, de
certa forma, essa inocência e manter a esperança até o fim. É possível ser
otimista diante da tragédia e do caos? Anne é o símbolo da resposta positiva,
compartilhando conosco sua difícil fase de amadurecimento, cheia de
questionamentos, desejos, raiva e até romance. O confinamento no esconderijo
funciona como um microcosmo de um mundo dissonante. Por isso o sábio
investimento narrativo de três horas, para não esquecermos certos períodos da
História que não devem ser repetidos. [01.02.15 – Telecine Cult]
AS CANÇÕES
* * * * *
[Idem, BRA, 2011]
Documentário - 92
min
O mestre Eduardo
Coutinho trabalha o minimalismo narrativo para enquadrar a comovente memória
afetiva musical. Parente direto, em termos estruturais, do também brilhante
“Jogo de Cena” [2007], parte de uma premissa simplíssima – qual música marcou
sua vida? –, extraindo não só depoimentos espontâneos mas performances das
canções carregadas do mais profundo sentimento. O estilo alcançado pelo
documentarista ultrapassa o cru de uma construção cinematográfica, é o mais
direto possível na abordagem do tema e dos entrevistados. Talvez seja a
abordagem mais humanista de lidar com pessoas no formato audiovisual. Sem nada
que distraia o espectador dos únicos protagonistas. Sem sentimentalismo, caro
ou barato. Mesmo assim, Coutinho não se anula, está presente fora do quadro o
tempo inteiro, quase canta junto, sem nunca roubar a atenção para si. Gênio. [03.02.15]
PERDIDO EM LA MANCHA * * *
[Lost in La Mancha,
GB/ESP, 2002]
Documentário - 89
min
Fascinante e
doloroso registro do pesadelo do cineasta Terry Gilliam ao tentar realizar o
filme "The Man Who Killed Don Quixote". Após dez anos planejando sua
versão da obra de Cervantes, tudo parecia que daria certo na Espanha, com
elenco composto por Johnny Depp, Jean Rochefort e Vanessa Paradis nos papéis
principais. Ao invés disso, o que testemunhamos é uma sucessão dos piores
contratempos que poderiam acontecer a uma produção cinematográfica, levando-a ao
total desastre. Não preciso nem dizer o quanto o documentário de Keith Fulton e
Louis Pepe, que já haviam capturado o processo criativo de Gilliam nos
bastidores de “Os 12 Macacos” [1995], me deixa numa angústia melancólica. A
empolgação e energia do ex-Monty Python só perde para sua imensa frustração e desânimo
ao ver seu sonho ser levado pela correnteza – literalmente. De temporais
destruindo equipamentos a atores doentes, um retrato agridoce do artista se
isolando na incapacidade de produzir sua arte. Em outras palavras, na
impossibilidade de existir. [05.02.15 – madrugada]
BOB ESPONJA: UM HERÓI FORA D'ÁGUA * * ½
[The SpongeBob Movie: Sponge Out of Water, EUA, 2015]
Animação - 93 min
Demora um pouco a
desenrolar o meio de campo, porém ganha ao manter o humor característico da popularíssima
série do Nickelodeon. Essa continuação do filme de 2004 leva Calça Quadrada e
companhia de volta à superfície, agora desafiando o pirata-cozinheiro feito por
Antonio Banderas, divertindo-se como nunca. A mistura de animação e live action
agora tem o auxílio do 3D para embalar o apelo do personagem criado pelo
biólogo marinho e desenhista Stephen Hillenburg junto a crianças e adultos. De
maneira inteligente, mantiveram na direção Paul Tibbitt, veterano da série,
craque no timing para agradar os fãs. A trama, escrita pela dupla Glenn Berger
e Jonathan Aibel [“Kung Fu Panda”, 2008], gira em torno do roubo da receita
secreta do hambúrguer de siri, o que leva a Fenda do Biquíni a um verdadeiro
apocalipse. Além das piadas/gags inspiradas, a produção brinca, já em sua reta
final, com a onda de super-heróis em voga no cinema e na TV. Do lado educativo,
evoca a importância do trabalho em equipe. Claro, sem deixar de tirar um bom
sarro disso também. [05.02.15 – cinema]
O DESTINO DE JÚPITER * * ½
[Jupiter Ascending,
EUA, 2015]
Ficção - 127 min
Os Wachowskis
investem no campo das "space operas", mas o roteiro esquemático nunca
faz jus ao espetáculo visual. Mila Kunis [“Cisne Negro”, 2010] encarna Jupiter
Jones, diarista em Chicago cuja rotina sacal é quebrada quando passa a ser
disputada por três irmãos de uma nobreza intergaláctica com pretensões sobre a
Terra. Para protegê-la, um deles envia Channing Tatum [“Foxcatcher”, 2014] na
pele do ex-militar geneticamente modificado Caine Wise. Entre uma e outra
escapada, eles se apaixonam. Há ideias interessantes nessa tentativa dos irmãos
cineastas de construir uma nova mitologia, assim como fizeram em “Matrix”
[1999]; inclusive dando outras explicações para o que antes eram falhas no sistema.
Agora há tênis especiais para, literalmente, surfar na gravidade – algo só soma
ao melhor do filme: suas eletrizantes sequências de ação – enquanto nosso
planeta vira parte de uma colmeia para a realeza extrair tempo. Infelizmente, o
desenvolvimento do mirabolante plot não sustenta a própria ambição, perdendo
fôlego à medida que as burocracias narrativas nos conduzem a twists
shakespearianos óbvios, voltados para o vilão fraquinho feito por Eddie
Redmayne [“A Teoria de Tudo”, 2014]. Com o lançamento adiado em nove meses por
causa do trabalho de pós-produção, a parte estética da produção é sensacional,
bem como os efeitos visuais são empolgantes. Em contrapartida, a história corre
sem freio, sem o tempo [ops...] necessário para torná-la mais consistente e
aprofundar os personagens. Os aficionados por sci fi menos exigentes podem até
desfrutar da experiência sem maiores problemas, sobretudo com a homenagem de
Andy e Lar... Lana Wachowski a “Brazil: O Filme” [1985], com a participação de
ninguém menos do que Terry Gilliam. Isso, sim, é imperdível. [05.02.15 –
cinema]
O MENSAGEIRO * * ½
[Kill the
Messenger, EUA, 2014]
Drama - 112 min
Investe numa
narrativa mais intimista, sobretudo na segunda metade, para contar um
controverso caso de jornalismo investigativo nos Estados Unidos. Boa atuação de
Jeremy Renner. [08.02.15]
LADO A LADO * * *
[Side by Side, EUA, 2012]
Documentário - 99
min
Nomes de peso do
cinema num oportuno debate, comandado por Keanu Reeves, acerca do advento
digital sobre a película no processo de filmagem. O diretor/roteirista
Christopher Kenneally não se desvencilha do tom didático, resgatando o contexto
histórico e 0 conceito por trás da película cinematográfica. Da mesma forma
lida com a evolução das câmeras de vídeo e o surgimento dos primeiros filmes
totalmente digitais, cujo marco inicial recai em “Festa de Família” [1998], do
dinamarquês Thomas Vinterberg. Mais interessante ainda são as intervenções de
Reeves junto aos convidados, que vão de Martin Scorsese a Christopher Nolan,
passando por George Lucas, Lars von Trier, David Fincher, Danny Boyle e
diversos outros cineastas, fotógrafos, editores e produtores. Para o espectador
atento, é um prato cheio ver quem fica, quem some e quem resiste à substituição
irrefreável da película pelos sensores digitais cada vez melhores. Estamos
mesmos assistindo ao fim do charme e da beleza dos sais de prata, que granulam
a imagem, para a matemática cheia de possibilidades dos pixels? O que perdemos
e o que ganhamos? Aqui está uma pequena amostra dessa transição do ponto de
vista dos ilustres realizadores. [09.02.15 – HBO Signature, madrugada]
A MULHER DE PRETO 2: O ANJO DA MORTE * *
[The Woman in Black 2: Angel of Death, GB/CAN, 2014]
Terror - 98 min
Ainda que se
esforce para criar atmosfera, não passa de um festival de sustos vazios
apoiados na velha muleta sonora. O primeiro filme, de 2012, já não era lá essas
coisas e trazia como única relevância [para quem mesmo?] o fato de ter Daniel
Radcliffe em seu primeiro papel pós-Harry Potter. Se essa sequência possui
algum mérito é ser a primeira [continuação] de um filme da Hammer desde 1974,
quando o estúdio lançou “Frankenstein e o Monstro do Inferno”. Inferno foi o
que eu passei para sobreviver à cartilha dos sustos difundida por Hollywood. Em
obras assim, a trama é mera desculpa para o diretor e o editor brincarem com o
batido susto falso seguido da queda na trilha extradiegética para somente aí aplicar
o susto verdadeiro, com toda a sua picaretagem sonora. O público adora. Fazer o
quê? No caso aqui, após um começo morno, a coisa vai do irritante ao risível,
pela pura apelação [a do rosto da enfermeira]. Assim, ninguém liga se o roteiro
de Jon Croker, em cima do argumento criado pela autora do livro original, Susan
Hill, é fraquinho e repetido. Ou se a direção de Tom Harper deixa passar
indulgências vergonhosas, como a cena na qual vários personagens se revezam
para acender uma vela no escuro e imediatamente depois alguém liga uma
lanterna. Mas tudo isso é besteira. Os espectadores querem mais é esperar pelo
próximo susto previsível. Nada como socar o coração para se sentir um pouco
vivo. Numa dessas, o cardíaco morre. Que não seja eu. Não vale a pena morrer
num filme como esse. [10.02.15 – cinema]
CINQUENTA TONS DE CINZA *
[Fifty Shades of Grey, EUA/GB, 2015]
Romance - 125 min
A adaptação do
"pornô para mamães" da britânica E. L. James se revela uma narrativa
absurdamente misógina. E sem pornô algum. Obviamente, a única relevância dessa
última afirmação é somente pelo “fascínio” dos leitores com as cenas detalhadas
de BSDM, a prática sexual sadomasoquista, que o personagem Christian Grey impõe
a Anastasia Steele como eixo do relacionamento deles. Não entrarei no mérito do
livro publicado em 2011 – li o primeiro capítulo e me lembro de ter detestado a
escrita juvenil –, mas sou consciente da “comoção” provocada por ele e suas
duas continuações na vida de mulheres e casais. Contudo, assistindo ao filme
dirigido por Sam Taylor-Johnson [também uma mulher, por sinal] e sentindo a
reação efusiva da plateia a cada diálogo ou cena mais quente, fiquei me
perguntando se não estava diante de outra produção. Quem sabe numa realidade
paralela. Porque o que eu via era uma obra audiovisual desinteressante, cujo
roteiro, assinado por Kelly Marcel, nunca convencia na relação entre os personagens,
apresentava sérias distorções no conceito de BSDM, trazia provocações rasteiras
[as cenas de sexo/nudez não são nada demais], uma estrutura esquemática e com
furos. Além de subjugar a mulher ao absoluto domínio masculino, mostrando não
compreender o que significa a palavra submissão no “contrato” sadomasoquista,
uma vez que a ingênua Anastasia [Dakota Johnson, o melhor do pior da sessão] passa
longe do prazer em sua condição imposta por Grey [Jamie Dornan, fraquinho].
Resumindo: era um filme de duas longas horas que girava em torno dela relutando
em assinar um contrato de completa despersonalização. Literalmente. Eu realmente
estava vendo o mesmo filme daquela plateia com indiscretos orgasmos sublimados?
Sim, estava. Eu, que cresci numa cultura machista e derrapo numa ou noutra brincadeira/comentário
sexista, acreditando não fazer por mal, senti vergonha de ser homem. Sendo
assim, prefiro nem imaginar os verdadeiros motivos das mulheres gostarem tanto
dessa fanfiction de “Crepúsculo” [livros/filmes] completamente vazia. No
mínimo, seria devastador. [12.02.15 – cinema]
FORÇA MAIOR * * *
[Turist/Force
Majeure, SUE/FRA/NOR, 2014]
Drama - 120 min
O sueco Ruben
Östlund instiga o espectador a questionar os valores morais dos personagens enquanto
a família convulsiona. Quando coloco família, trata-se tanto da dos
protagonistas feitos por Johannes Kuhnke e Lisa Loven Kongsli quanto da
instituição em si e suas convenções. A figura do pai como protetor é colocada à
prova quando o mesmo tem uma reação instintiva covarde e egoísta diante de uma
avalanche de neve. Sem pressa, Östlund desenvolve o drama camada por camada,
levantando discussões e julgamentos morais. Testemunhamos como os filhos são
afetados pelos conflitos psicológicos dos pais, numa situação delicada, sem
atalhos fáceis. De certo, passa longe da zona de conforto ao se debruçar sobre
o terreno movediço do instinto de sobrevivência. Ambientado num frio resort nos
Alpes Franceses, ironicamente é o “Verão” de Vivaldi que pontua o dilema trazido
pelo filme. Até que ponto podemos ser juízes do comportamento humano sem também
virarmos o dedo para nós mesmos? [14.02.15]
FRANCIS FORD COPPOLA – O APOCALIPSE DE UM CINEASTA * * * *
[Hearts of Darkness: A Filmmaker's Apocalypse, EUA,
1991]
Documentário - 96
min
Registro de todo o
caos e da loucura criativa sofridos por Coppola durante as filmagens de
"Apocalipse Now" [1979]. Pegando carona no material feito pela esposa
do cineasta, Eleanor Coppola, cuja narração em off estrutura o documentário – e
o torna, em vários níveis, pessoal –, os diretores Fax Bahr e George
Hickenlooper nos jogam no centro do excruciante processo de realização do épico
de guerra psicológico. O que seriam cinco meses de filmagens nas Filipinas se
arrastaram por quase um ano, isso sem contar as pausas nos trabalhos provocadas
por conflitos locais com rebeldes e temporais devastadores. A saga ainda
envolveu estouros no orçamento, o enfarto de Martin Sheen, Marlon Brando acima
do peso demorando a encontrar seu personagem, enquanto Coppola fazia o projeto
ficar cada vez maior sem saber ao certo qual seria o final. Assim como a
adaptação de “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, trata-se de uma
experiência fascinante acerca das adversidades do processo cinematográfico e da
persistência de um artista consciente do risco corrido. Em pouco mais de uma
hora e meia de tirar o fôlego, compreendemos a famosa declaração do padrinho em
Cannes, quando ele diz: “Meu filme não é sobre o Vietnã. Meu filme é o Vietnã.”
Literalmente. [15.02.15 – madrugada]
A FONTE DA DONZELA * * * *
[Jungfrukällan,
SUE, 1960]
Drama - 87 min
Ingmar Bergman
visita uma antiga fábula sueca acerca do embate medieval entre cristianismo e
paganismo. Trata-se de “A Filha de Töre em Vangé”, adaptada por Ulla Isaksson,
e se passa no século XIV. Karin [Birgitta Pettersson], a filha de 15 anos do
casal Töre [Max von Sydow] e Märeta [Birgitta Valberg], vai com a criada da
família, Ingeri [Gunnel Lindblom], até a igreja do vilarejo acender velas para
a Virgem Maria. Antes de chegar ao destino, contudo, a menina é estuprada e
morta por dois irmãos pastores. Ingeri se sente culpada, pois, além de
testemunhar passivamente o crime, tinha rogado a Odin para algo ruim acontecer
a Karin. Como se não bastasse, os criminosos, sem saber, vão passar a noite na
casa dos pais da vítima. Apesar de já ter entregue obras-primas como “O Sétimo
Selo” e “Morangos Silvestres” [ambos de 1957], é apenas com esse filme que
Bergman ganha o primeiro dos seus três Oscars. Ironicamente [ou não], ele não o
considerava dos seus melhores trabalhos. Aqui, o mergulho bergmaniano na alma
dos personagens é um pouco mais sutil, como se não quisesse pesar mais uma
história com bom grau de intensidade. Mesmo assim, é narrado de maneira
soberba, trabalhando com concisão os temas da inveja e da vingança a desafiarem
o forte paradigma religioso. Como deleite extra, a maravilhosa fotografia em
preto e branco de Sven Nykvist e o milagre da última cena, que, o bem ou para o
mal, encerra com otimismo uma obra trágica. [16.02.15]
MEU QUERIDO COMPANHEIRO * * *
[Longtime
Companion, EUA, 1989]
100 min - Drama
Com sensibilidade e
leveza [até onde é possível], traça um painel muito humano do assombro da AIDS
nos anos 1980. Estreia de Norman René na direção de longas – ele só faria mais
dois filmes, todos com roteiros de Craig Lucas –, foi a primeira produção
estadunidense a levar o tema para o grande público. O elenco de jovens rostos
conhecidos trata tudo com delicadeza, sem afetação ou overacting. Contudo, o
destaque é mesmo Bruce Davison dizendo ao amante [ou companheiro de longa data,
como colocavam os jornais da época] que está tudo bem se ele quiser morrer,
numa cena comovente. No fundo, trata-se de uma bela celebração do amor sem
julgamentos, da amizade e da vida. [18.02.15]
TANGERINAS
* * *
[Mandariinid,
EST/GEO, 2013]
Drama/Guerra - 83
min
Mostra o quanto a
empatia pode se sobrepor a diferenças étnicas-religiosas. Sem dúvida, uma bela
narrativa antiguerra. A história se passa durante a Guerra na Abecásia entre
1992 e 1993 e põe um mercenário checheno [Giorgi Nakashidze] sob o mesmo teto
com um soldado georgiano [Misha Meskhi] enquanto ambos os inimigos se recuperam
de um confronto. O diretor e roteirista Zaza Urushadze, georgiano, demonstra
interesse na dinâmica desses dois personagens, sempre se provocando, mas
claramente caminhando para a compreensão e o respeito mútuo. Não deixa de ser
utópico, e quem sabe precisasse de mais tempo para desenvolver melhor essa
insuspeita amizade. Mesmo assim, é tocante a simplicidade com a qual Urushadze
expressa sua boa intenção, bem amarrada no desfecho agridoce. O destaque,
entretanto, fica por conta de outra relação de amizade, entre o anfitrião Ivo
[Lembit Ulfsak] e seu vizinho Margus [Elmo Nügamen], um vendedor de tangerinas.
Em determinado momento, Ivo diz que o cinema é uma grande fraude. Bem, garanto
que esse filme não é. [20.02.15]
SELMA – UMA LUTA PELA IGUALDADE * * * ½
[Selma, EUA, 2014]
Drama - 128 min
Humaniza bem a
figura de Martin Luther King e sua entrega à luta pelos direitos civis dos
negros com um recorte muito interessante. E, infelizmente, atual. Infelizmente
ainda vemos a questão étnica pautar os noticiários, quase sempre de maneira
negativa. Ainda vemos negros serem detidos/espancados/mortos por policiais tão
somente pela cor da pele. Isso meio século depois do eventos mostrados no filme
dirigido com segurança por Ava DuVernay. Quando começa, King está treinando o
discurso de recebimento do Nobel da Paz enquanto ajeita a gravata. Todavia, o
foco da narrativa assinada por Paul Webb é a marcha [ou as marchas] da cidade
de Selma até Montgomery, capital do Estado do Alabama, em prol do direito ao
voto. A Lei dos Direitos Civis, que tornava ilegal a segregação racial, já
havia sido assinada pelo então presidente Lyndon Johnson, mas não era levada a
sério no sul dos Estados Unidos, ainda com forte ranço da cultura escravagista.
O proeminente ativista logo viu em Selma a oportunidade perfeita para
pressionar o governo à outra importante conquista. Não sem intenso confronto com
as autoridades locais e boa dose de sangue derramado.
[23.02.15]
CITIZENFOUR * * * *
[Idem, ALE/EUA,
2014]
Documentário - 114
min
O documentário de
Laura Poitras não fica a dever a nenhuma narrativa de espionagem. Com a
diferença de ser assustadoramente real. [24.02.15]
RELATOS SELVAGENS * * * ½
[Relatos Salvajes,
ARG/ESP, 2014]
Comédia/Drama - 122
min
Uma corrosiva
antologia com seis narrativas interligadas pelo mesmo tema: os extremos atos de
descontrole do comportamento humano. [25.02.15]
TRASH – A ESPERANÇA VEM DO LIXO * *
[Trash, GB/BRA,
2014]
Suspense - 114 min
Por trás da trama
mirabolante e do ritmo frenético, há uma narrativa bipolar junto a uma crítica
social rasteira e caricata. Sob a direção do britânco Stephen Daldry [“As
Horas”, 2002] e roteiro de Richard Curtis [“Simplesmente Amor”, 2004],
adaptando o livro de Andy Mulligan, o Brasil vira o palco de um suspense juvenil
com lances até divertidos, mas em sua maioria implausíveis. O “abrasileirado”
Daldry falha ao tentar emular o Fernando Meirelles de “Cidade de Deus” [2002]
com o otimismo do Danny Boyle de “Quem Quer
Ser um Milionário?” [2008], construindo uma caricatura em cima da sofrível
realidade do nosso país. Daria uma ótima HQ, sem dúvida. Se a esperança brasileira
vem do lixo, é lá mesmo onde ela fica soterrada. Infelizmente. [26.02.15]
VIRGÍNIA
* *
[Twixt, EUA, 2011]
Terror - 88 min
Coppola abre mão do
talento em prol da liberdade criativa, num terror gótico que emula, com
relativo sucesso, a literatura barata praticada por seu protagonista. É como se
o gênio por trás de “O Poderoso Chefão” [1972] e “Apocalipse Now” [1979] desse
um “foda-se” para os críticos e quisesse apenas exercitar um cinema B que já
teve seu auge no esquema de Hollywood. Sim, a sessão é absolutamente sofrível –
a “noite americana”, por exemplo, é usada descaradamente para dar o tom dos
sonhos. Em contrapartida, tenho minhas dúvidas se o “padrinho” estava realmente
se importando com isso ao conceber essa pérola conscientemente medíocre. Ou,
quem sabe, muito além do seu tempo. Nesse caso, estaria ele criticando os
moldes que o tornaram, com poucos filmes, um dos grandes cineastas do século
XX? [27.02.15]
MISTÉRIO NO PARQUE GORKY * * ½
[Gorky Park, EUA,
1983]
Suspense - 128 min
Esse suspense
policial que se passa na fria/extinta URSS tem início promissor, mas, ao
arrastar demais a trama, desliza aqui e ali em redundâncias ou movimentos
óbvios. Dirigido por Michael Apted, é baseado no livro de Martin Cruz Smith,
publicado dois anos antes. O detalhamento da investigação conduzida pelo
personagem de William Hurt parece ser mesmo o ponto forte da narrativa. Pena
nos privar de reviravoltas mais surpreendentes. [27.02.15 – Netflix]
Março – 23
filmes
VIRUNGA
* * *
[Idem, GB/CGO,
2014]
Documentário - 100
min
Pungente narrativa
acerca da tentativa de preservação do parque-título e seus habitantes [os
gorilas das montanhas, cada vez mais raros] no barril de pólvora que é a atual região
do Congo. O cineasta Orlando von Einsiedel foca no trabalho dos guardas
florestais [sua dedicação aos gorilas é comovente] e dos correspondentes de
guerra para nos colocar no meio de uma complicada situação que envolve desde
empresas petrolíferas a rebeldes milicianos, numa tensão que afeta não só os
animais mas a população pobre e desabrigada. Tanto o gorila que chega a falecer
quanto a criança que perde o braço no confronto do último ato são imagens
fortes o bastante para chamar a atenção do mundo para uma realidade a não ser
ignorada, e sim transformada. Urgentemente. [01.03.15 – Netflix]
AMORES IMAGINÁRIOS * * ½
[Les amours
imaginaires, CAN, 2010]
Drama - 96 min
O canadense Xavier
Dolan carrega no estilo para tornar mais atraente seu triângulo de desejos não
consumados. Possui defensores fervorosos entre os amantes de cinema indie, e de
certo possui um charme muito peculiar, com uso interessante da versão em
italiano da música “Bang Bang”, cantada pela egípcia Dalida. No fundo, trata-se
de uma reimaginação personalíssima e ao contrário da obra-prima de Pasolini,
“Teorema” [1968]. Com o extra de boas referências cinematográficas. [01.03.15 –
Netflix]
A PRINCESA PROMETIDA * * ½
[The Princess
Bride, EUA, 1987]
Aventura - 98 min
Divertida sátira
aos contos de fada dirigida por Rob Reiner. Trata-se de um filme muito querido pelos
estadunidenses. Para eles, um verdadeiro cult oitentista. Adaptado por William
Goldman do seu próprio livro, publicado publicado em 1973, possui um tom
ingênuo que pode não encontrar eco em todo mundo. Reiner estava em grande fase,
vindo do ótimo “Conta Comigo” [1986]. Em seguida, faria “Harry & Sally –
Feitos um para o Outro” [1989]. Nesse entremeio, lançou a jovem e linda Robin
Wright, hoje fazendo sucesso na série “House of Cards”. Há ainda uma hilária
participação de Billy Crystal, escondido numa pesada maquiagem. Fora a icônica
frase repetida seis vezes por um eloquente Mandy Patinkin [“Olá. Meu nome é
Inigo Montoya. Você assassinou meu pai. Prepare-se para morrer.”] e a presença
do lutador de wrestling André the Giant, falecido em 1993. Uma obra de fantasia
para ser vista como a mesma se apresenta: sem pretensão. [03.02.15 – Netflix]
THE SIGNAL
* * ½
[Idem, EUA, 2014]
Ficção - 97 min
A primeira metade
dessa sci-fi intriga e cria boa expectativa. O problema é dilatar demais essa
expectativa, confiando num desfecho que não chega a ter o impacto pretendido. Ou
pelo menos não convence enquanto twist desconcertante. [03.03.15]
KINGSMAN:
SERVIÇO SECRETO * * ½
[Kingsman: The Secret Service, GB, 2014]
Aventura - 129 min
Matthew Vaughn
homenageia os filmes de espionagem com muito humor, ritmo e boa dose de
violência gráfica. O cineasta britânico mais uma vez adapta uma graphic novel
escrita por Mark Millar – a outra foi “Kick Ass – Quebrando Tudo” [2010] – em
parceria com a roteirista Jane Goldman. Logo nas primeiras sequências, fica
claro que o filme não esconde sua fonte. Pelo contrário, quem curtiu os
arroubos violentos de “Kick Ass” vai identificar o toque nada sutil de Vaughn
aqui. Se naquele a sátira recai sobre o subgênero dos super-heróis, nesse a franquia
protagonizada por James Bond é a desculpa ideal para deixar os espiões menos
sisudos e mais bem vestidos. Nada da densidade de um John Le Carré; agora o
leitmotiv é o próprio pastiche em si. Felizmente, essa despretensão serve à
narrativa que põe Colin Firth em busca de um candidato a agente secreto [Taron
Egerton] enquanto lida com um vilão megalomaníaco com a língua presa [Samuel L.
Jackson]. Impossível fugir da caricatura quando é ela que detém o charme da
coisa. Vaughn exercita a estética pós-moderna [pós-temporânea?] das adaptações
de quadrinhos, manipulando perspectiva e frame rate para fazer das dilacerações
um evento divertido. No auge da trip, Firth detona sozinho 79 descontrolados
figurantes dentro de uma igreja fundamentalista ao som de “Free Bird”, do
Lynyrd Skynyrd. Yeah, baby. Sem necessariamente ser fiel à HQ de Millar e Dave
Gibbons [isso mesmo, “Watchmen”], a trama não se preocupa com os movimentos
óbvios, alguns cartunescos, embora arrisque uma ou outra subversão e traga
referências cinematográficas muito curiosas. No final das contas, é o público
que decide [sempre] até que ponto uma obra tem o potencial de cult, com tropeço
e tudo. Mas que diverte num nível voyeurístico perigoso, não serei eu a negar. [05.03.15
– cinema]
LITTLE ACCIDENTS * * ½
[Idem, EUA, 2014]
Drama - 100 min
Sara Colangelo
debuta na realização de longas [roteiro e direção] com essa pequena e
localizada ciranda de personagens pesados pelos segredos que carregam. Por
pouco não entrega uma experiência sólida, embora o elenco seja esforçado. O
filme compartilha o mesmo título do curta metragem da cineasta lançado em 2010.
[08.03.15]
O AMOR É ESTRANHO * * ½
[Love is Strange,
EUA/FRA/BRA/GRE, 2014]
Drama - 95 min
Alfred Molina e
John Lithgow brilham na delicadeza de uma narrativa sobre como o amor é tudo,
menos estranho. Dirigido com sensibilidade por Ira Sachs, o roteiro mais uma vez é assinado por ele e o brasileiro
Mauricio Zacharias. Comovente sem ser melodramático. [09.03.15]
NO TENGAS MIEDO * * *
[Idem, ESP, 2011]
Drama - 90 min
Um retrato
incômodo, mas necessário e urgente, das sequelas físicas e psicológicas do
abuso sexual na infância. Embora o terror da narrativa do espanhol Montxo
Armendáriz [“Segredos do Coração”, 1997] esteja fora de quadro, é forte o suficiente
para nos embrulhar o estômago do início ao fim. Muito se deve às atrizes que
fazem Silva em diferentes idades. Todas carregando no olhar a angústia de
conviver com um segredo abominável. [09.03.15]
GOLPE DUPLO * * ½
[Focus, EUA, 2015]
Comédia/Ação - 105
min
Will Smith ensaia
um retorno ao carisma nessa comédia de ação com roteiro que se acha mais
esperto do que de fato é. Se bem que a primeira parte do filme consegue nos
enganar direitinho, inserindo-nos na gangue de golpistas liderada por Smith. O
modus operandi da trupe, coreografado como um balé pela dupla de
diretores/roteiristas Glenn Ficarra e
John Requa [“O Golpista do Ano”, 2009], é divertidíssimo, gera boa expectativa
quanto ao que vem a seguir. Pena depois da sequência das apostas durante a
partida de futebol a narrativa não prosseguir no mesmo nível. Mesmo assim, há
uma leveza no tom de esperteza, não é difícil deixar-se levar pelos meandros da
farsa com pretensão de alcançar alguma relevância dentro do subgênero. Não
chega a ecoar clássicos como “Golpe de Mestre” [1973] ou pérolas do naipe de
“Nove Rainhas” [2000], mas há um senso de humor muito bem vindo. Margot Robbie,
revelada em todo o seu esplendor em “O Lobo de Wall Street” [2013], garante o
núcleo romântico motivador do conflito, a tentação de desviar a trama por um
caminho mais fácil de vender ao público médio. Will Smith tenta cicatrizar as
feridas egoicas deixadas por seus últimos trabalhos, principalmente “Depois da
Terra” [2013], fracasso de bilheteria. Aqui, parece mais humilde na atuação do
que de costume. Pegando carona no título original, está mais focado. Nosso
compatriota Rodrigo Santoro não causa maior impressão, com sotaque carregado.
Pudera, só entra em cena quando o filme já perdeu o foco e investe em
reviravoltas fáceis de antever, tentando se equilibrar na linha ingrata que
corta o genial do fogo de monturo. [12.03.15 – cinema]
JAMES BROWN * * ½
[Get on Up, EUA/GB, 2014]
Drama/Musical - 138 min
A performance de
Chadwick Boseman é a força motriz dessa cinebiografia musical com leve jeito de
telefilme da HBO – sem o selo de qualidade do canal. Dirigida por Tate Taylor,
de “Histórias Cruzadas” [2011], a narrativa demora a afinar seu tom, ao
contrário do “padrinho do soul” retratado. No fim das contas, não foge do óbvio
em relação ao subgênero, embora seja eficientemente divertido na sequência de
anedotas escolhidas para tirar uma fotografia, bem de longe, do homem por trás
de hits como “I Feel Good”, “Get Up (I Feel Like Being a Sex Machine)”, “Try
Me”, entre outras pérolas do verdadeiro funk. [15.03.15]
LIVRE
* * *
[Wild, EUA, 2014]
Drama - 116 min
Reese Witherspoon
nos leva junto em sua caminhada intimista de 4200 km enquanto reflete as dores
do passado e a própria condição feminina. Inspirado pela história real de
Cheryl Strayed, que escreveu um livro sobre, o canadense Jean-Marc Vallée, a
exemplo de “Clube de Compras Dallas” [2013], entrega outro filme com narrativa
sólida e atuações de primeira. Enquanto Whitherspoon é posta no limite da
exaustão física e psicológica, Laura Dern rouba todas as suas cenas graças à
leveza etérea de sua personagem. Assinado pelo também escritor Nick Hornby, o
roteiro poderia muito bem ter nos poupado das narrações em off, permitindo a
poesia imagética fazer seu trabalho sem distrações, embora cometa algumas
reflexões oportunas. Além disso, consegue usar os constantes flashbacks [um
recurso que geralmente detesto] para mover a história adiante, tornando-os
quase inserts que não chegam a atrapalhar o fluxo. Vallé comprova seu talento em
explorar conflitos nada originais de maneira cinestesicamente interessante,
fora um deslize de tom aqui e ali. Um bom exemplo de como a solidão pode ser
redentora. [15.03.15]
ALIVE INSIDE * * * *
[Idem, EUA, 2014]
Documentário - 78
min
Prova tocante de
como a música é mágica a ponto de resgatar a memória afetiva de quem já não
sabe de si mesmo. O tema desse documentário escrito e dirigido por Michael
Rossato-Bennett passa longe de ser original. A musicoterapia já é aplicada a
idosos com Alzheimer há anos. No entanto, ver alguém com demência literalmente
despertar após ouvir uma canção conhecida é uma dessas sensações difíceis de
descrever. Posso dizer que há um lado lindo, revigorante, e outro melancólico,
nostálgico, como nunca achar de fato um tesouro perdido. A narrativa não é das
mais sofisticadas, devo dizer. Pouco importa. O que o cineasta e seu, digamos
assim, fio condutor – a luta de Dan Cohen para que o maior número de idosos nas
casas de repousos dos Estados Unidos tenham acesso individual à música – conseguem
capturar transcende meras questões formalistas. Se você chorou em algum momento
de “Tempo de Despertar” [1990], não vai escapar de lacrimejar aqui, com a força
diferencial de serem imagens reais. O próprio dr. Oliver Sacks, que inspirou o
personagem de Robin Williams no filme citado acima, dá seu depoimento para
Rossato-Bennett. Fora isso, o documentário não se furta de trazer reflexões
nada animadoras acerca de como a velhice é e será tratada num futuro cada dia
mais próximo. Se eu chegar lá, só espero poder ser capaz de recordar minha
trajetória com a ajuda de uma boa trilha sonora. Até parece um haikai, não? [17.03.15]
O BEIJO AMARGO * * *
[The Naked Kiss,
EUA, 1964]
Drama - 91 min
Samuel Fuller
decanta sem concessões o "sonho americano" nessa narrativa noir que
segue por caminhos tortuosos. [18.03.15]
A SÉRIE DIVERGENTE: INSURGENTE * * ½
[Insurgent, EUA,
2015]
Aventura - 119 min
Mais conciso e
direto que o antecessor, também adiciona ação e um tom sombrio à série
distópica teen saída dos livros escritos por Veronica Roth. [19.03.15 – cinema]
RENASCIDA DO INFERNO *
[The Lazarus
Effect, EUA, 2015]
Terror - 83 min
O documentarista
David Gelb debuta na ficção com esse terror reciclado em sua trama sem maior
desenvolvimento, perigoso por martelar no público uma "culpa
católica". O espectador mais atento vai perceber a mistura insalubre de
“Frankenstein” [1931], “Linha Mortal” [1990] e “Lucy” [2014], embora o filme
estivesse pronto para ser lançado desde 2013. Só agora resolveram jogar a bomba
no nosso colo. Depois que Olivia Wilde é ressuscitada por Mark Duplass [o que
você faz aí, cara?] e equipe, a ciência é deixada de lado em prol das introjeções
religiosas, quase numa propaganda descarada da angústia inerente ao catolicismo
– remoa sua culpa para escapar do inferno. Manter a ação num único ambiente não
melhora a narrativa, mas o contrário, é a descida ao inferno cinematográfico. E
o que posso dizer da utilização da conhecida ária de Mozart, a agudíssima “Queen
of the Night”, para identificar a presença da vilã-protagonista? Não se usa
música clássica como recurso numa narrativa tão pífia. É um desrespeito
desesperado à genialidade. [20.03.15 – cinema]
O SÉTIMO FILHO * ½
[Seventh Son, EUA/GB/CAN/CHI, 2014]
Aventura - 102 min
Pretenso épico de
fantasia que resulta bobo e sonolento. Testa a paciência [até irritar] de quem
está habituado à qualidade de "Game of Thrones". [20.03.15 – cinema]
A RECOMPENSA * * ½
[Dom Hemingway, GB,
2013]
Comédia - 93 min
Como se diverte
Jude Law, bombado e com barba à la Wolverine, nessa desestruturada narrativa
com humor negro britânico bem politicamente incorreto. [22.03.15 – HBO]
REFLEXOS DA INOCÊNCIA * * ½
[Flashbacks of a
Fool, GB, 2008]
Drama - 114 min
O
diretor/roteirista Baillie Walsh aspira a um "Verão de 42"/”Houve uma
Vez um Verão” [1971] nessa narrativa de reminiscências com bons momentos
musicais ["If There is Something", do Roxy Music, embala um
particularmente interessante], mas tropeços estruturais que poderiam ter sido
evitados. [24.03.15]
MOMMY
* * * ½
[Idem, CAN, 2014]
Drama - 138 min
Dessa vez, Dolan
consegue fazer com que seus excessos estilísticos trabalhem em função do
conteúdo. E, ironicamente [ou não], é graças a eles que chega a arrancar grandes
atuações do elenco principal, o inusitado trio composto por Anne Dorval,
Antoine-Olivier Pilon e Suzanne Clément. De fato, a opção pela razão de aspecto
1:1 não deixa a narrativa se desligar em momento algum das emoções e reações
dos personagens, exigindo uma maior entrega dos atores. Embora possa, e deva, incomodar
os mais sensíveis aos enquadramentos claustrofóbicos do formato, a relação
entre a mãe egoísta, o filho com problemas de hiperatividade e a vizinha
vacilante ganha muito nessa dinâmica imagética que segura com dureza o olhar do
espectador. Os dois momentos nos quais a tela se abre ao 1:85 representam um
respiro [complacente?] não apenas de quem assiste mas também dos próprios
personagens, em instantes raros de felicidade plena ou uma brisa suave antes da
realidade caótica retornar e os aprisionar novamente em suas existências. Os
excessos se dão mesmo pelo abundante uso da trilha musical, com boa seleção, e
os vários slow motions que sobrecarregam uma duração já um tanto alongada. Com
apenas 26 anos de idade, o canadense Xavier Dolan racha no meio as opiniões
sobre seu cinema bastante particular. Só espero que esse não seja o seu
“Cidadão Kane” [1941], a obra-prima lançada por um Orson Welles na mesma idade
e nunca superada por ele. [24.03.15]
CINDERELA
* * ½
[Cinderella, EUA,
2015]
Romance - 105 min
De fato, é quase
uma reverência luxuosa à animação de 1950, embora o novo roteiro suavize o
quanto pode o sexismo da fábula. A Cinderela de Lily James até canta alguns
versos da ingênua [quando ficamos tão cínicos?] “A Dream is a Wish your Heart
Makes” e tem a gentileza altruísta como bússola de caráter, mas também é
norteada pela coragem de ir em busca do que deseja. O príncipe no cavalo
branco? Pode até ser, com o detalhe de fazer o público cada dia mais
politicamente correto [i.e.: sem senso de humor] compreender que dessa vez ela
decide o seu próprio destino. Só não espere Cinderela dizer não ao príncipe [Richard
Madden, o Robb Stark de “Game of Thrones”] para ficar com um camponês. A Disney
ainda não é tão progressiva assim. Dirigido pelo shakespeariano Kenneth
Branagh, a primeira parte da história roteirizada por Chris Weitz é eficiente
ao mostrar como a personagem chegou ao ponto de ser a empregada da casa,
governada pela madrasta má [a diva Cate Blanchett] e suas duas filhas
chatinhas. Daí para frente, segue todo o protocolo narrativo conhecidíssimo
praticamente ao pé da letra, com uma ou outra alteração sutil. Ainda não
conseguem explicar de maneira convincente porque apenas os sapatinhos de
cristal não se desfazem após a meia-noite. Só porque um ficou para trás? Não
faz sentido, porém é em prol da construção dramatúrgica do conto de fadas
popularizado pelo francês Charles Perrault a partir de 1697. Deixe estar. Da
produção propriamente dita, os destaques vão para o magnífico design de
produção do mestre Dante Ferretti e o figurino estonteante de Sandy Powell, com
algumas homenagens a outros clássicos Disney. Nunca fui fã da animação
original, mas até posso recomendar essa versão live action para os incuráveis
românticos, ssobretudo aqueles ainda não afetados pelos sintomas de uma época
com cada vez menos magia. [26.03.15 – cinema]
O ANO MAIS VIOLENTO * * *
[A Most Violent Year, EUA/EAU, 2014]
Drama - 125 min
O texto de J. C.
Chandor, também na direção, e as sólidas atuações de Oscar Isaac, Jessica Chastain
e Elyes Gabel abrilhantam a narrativa de gângster num curioso contexto oitentista – ao invés da bebida
alcóolica temos o tráfico de combustível. [29.03.15]
AS AVENTURAS DE PADDINGTON * * *
[Paddington,
GB/FRA, 2014]
Comédia - 95 min
Britânica até a
medula, essa comédia-família que dá vida [em CGI] ao simpático urso criado por
Michael Bond em 1958 trabalha muito bem seus elementos narrativos, com ótimo
acabamento visual. Como diriam os ingleses, absolutamente adorável. [29.09.15]
CADA UM VIVE COMO QUER * * * ½
[Five Easy Piecies, EUA, 1970]
Drama - 98 min
Como um homem
eternamente deslocado e insatisfeito, Jack Nicholson está fantástico no primeiro
protagonista de sua carreia. Não apenas ele, mas também Karen Black tem uma
atuação que a marcaria pelo resto da vida [ela faleceu em 2013]. O roteiro
assinado por Carole Eastman, sob o pseudônimo Adrien Joyce, pega emprestado
momentos da vida do diretor Bob Rafelson para fazer esse retrato dos Estados
Unidos de ressaca da contracultura dos anos 1960. É o cinema começando a
colocar em cheque de fato o tão superestimado “american way of life”. [30.03.15]
Abril – 23
filmes
A ENSEADA
* * * *
[The Cove, EUA,
2009]
Documentário - 92
min
Impossível não
sentir asco de ser da mesma espécie dos que promovem a injustificada matança de
golfinhos na baía de Taiji, no Japão. Muito menos não endossar a causa de Ric
O’Barry, que virou ativista contra o cativeiro de golfinhos e baleias depois de
praticamente ter popularizado a atividade ao trabalhar para o seriado de TV
“Flipper”, nos anos 1960. Seu choque, e despertar de consciência, foi
presenciar o suicídio de Cathy, um dos cinco golfinhos fêmeas “bico de garrafa”
que faziam o protagonista da série. O nosso é testemunhar, por meio de equipamentos
escondidos na fatídica enseada, o horror dos golfinhos sendo abatidos sem
humanidade enquanto a água se converte num imenso mar de sangue. O diretor
Louie Psihoyos realizou um documentário-denúncia que não deixa ninguém com um
mínimo de sensibilidade indiferente à prática acobertada dos japoneses pelo
próprio governo do país. Assim como o mais recente “Fúria Animal” [2013],
trata-se de uma experiência revoltante sobre uma realidade que não pode
continuar. [01.04.15]
CADA UM NA SUA CASA * * ½
[Home, EUA, 2015]
Animação - 94 min
Essa animação da
DreamWorks possui personagens simpáticos e muito bom humor, com premissa
extraída do livro de Adam Rex, “The True Meaning of Smekday”. Todavia, eu
esperava uma sessão bem mais empolgante. Não sei até que ponto o divertidíssimo
jeito de falar errado de Oh pode influenciar mal quem está começando a entender
a língua [3-5 anos] e por qual motivo, para quem já decorou e desaprendeu o
alfabeto, lembra [vagamente?] outra animação, “Lilo & Stitch” [2002], da
Disney. Por que será? [02.04.15 – cinema pré-estreia]
PONTE AÉREA * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Romance - 100 min
A crônica romântica
entre uma paulista e um carioca até envolve e tem ritmo, apesar da estrutura
pobre do roteiro com falhas e da rasura dos personagens. A diretora Julia
Rezende [“Meu Passado me Condena”, 2013] fez um filme que já vimos antes, em
outras pontes aéreas. Mas acerta ao focar no amadurecimento dos sujeitos da
trama, no crescimento individual de cada um. Só poderia ter sido um pouquinho
menos obvia, trabalhado mais as interações no entorno desse amadurecer – no
caso dele, o irmão recém-descoberto; no dela, o ambiente de trabalho. A química
entre Letícia Colin e Caio Blat é uma ajuda e tanto, mesmo ela se sobressaindo
a ele, um desses tristes casos de atores que só interpretam si mesmos. Felizmente,
a trilha musical parece escolhida a dedo e o desfecho é coerente. [02.04.15 –
cinema]
VELOZES & FURIOSOS 7 * * *
[Furious 7,
JAP/EUA, 2015]
Ação - 137 min
James Wan entrega
sequências de ação capazes de fazer o espectador se segurar à poltrona com toda
força e quase faz esquecer que se trata de um filme de despedida. Quase.
Iniciada em 2001 com base num artigo sobre a subcultura dos rachas de rua, a
franquia se solidificou aos longo dos anos, mesmo com seus pontos baixos,
graças ao carisma dos personagens encabeçados por Vin Diesel, sua ação cada vez
mais adepta do exagero e, sobretudo, à importância que prega da família. Aqui,
temos a fórmula elevada à nona potência quando Toretto e companhia passam a ser
alvos de Jason Statham, que definitivamente não brinca em serviço. Melhor nem
ligar para a falta de profundidade do roteiro de Chris Morgan, na série desde
“Desafio em Tóquio” [2004] e do qual esse sétimo é descendente direto. O
segredo é aproveitar a orquestração de Wan [“Invocação do Mal”, 2013] para
mexer com a nossa adrenalina. Adoro a câmera girando junto com os atores nas
cenas de luta, exaustivas só de olhar. Assim como consegue usar bem os
elementos no gênero que o consagrou, o terror, o cineasta é esperto na
dialética dos enquadramentos e na montagem para mostrar que o cinema de ação
não é para cardíacos. Não se espante caso repita “Puta que p...” sem fôlego a
cada dez minutos, o testemunho incrédulo diante de carros saltando de
paraquedas ou literalmente atravessando dois prédios pelo ar. Wan também não se furta de angular as
mulheres daquele jeito que deixa as feministas sem senso de humor com vontade
[só vontade] de sofrerem um enfarto, quando quem deveriam enfartar são os
homens. Vá entender... A estrutura em três atos comete alguns deslizes, como
transformar as aparições de Stathan em insistentes gags que soam over e
prejudicam a imersão na história. Por outro lado, a narrativa explora tão bem a
interação entre seus personagens a ponto de ser impossível não nos sentirmos
parte da família de Domenic Toretto. Não sofrermos também a perda de Paul
Walker, falecido num acidente de carro em 2013. Com a ajuda dos irmãos dele, de
imagens não utilizadas nos filmes anteriores e do fabuloso CGI da Weta Digital,
o ator prossegue até o último minuto, protagoniza a talvez melhor cena de ação
[a do ônibus caindo no penhasco] e tem uma despedida que fará muito marmanjo
bombado alegar um cisco no olho. Walker nunca foi um talento unânime, mas seus
adeus tão lindamente elaborado nos comove tanto por ser mais um que se vai
jovem quanto pelo amor demonstrado por seus amigos. Numa franquia com
testosterona em excesso, um pouco de humanidade, mesmo nessas circunstâncias,
faz uma diferença danada. [02.04.15 – cinema]
GRANDES OLHOS * * *
[Big Eyes, EUA,
2014]
Drama - 105 min
Tim Burton faz uma
pintura bem acabada, embora longe de ser perfeita, dessa curiosa história real
de fraude artística. Fã e notório colecionador das obras de Margaret Keane, que
por uma década teve o marido usurpador levando o crédito por suas populares
pinturas das crianças com olhos grandes e tristes, o cineasta se distancia do
cinema de fantasia, algo que não fazia desde outra “biopic”, “Ed Wood” [1994]. É
saudável e criativamente estimulante sair vez ou outra da zona de conforto. E
olha que, no caso, trata-se de um passeio sem tantos cintos de segurança –
leia-se: sem Johnny Depp ou outros renitentes no elenco. Felizmente, Amy Adams
e Christoph Waltz dão mais do que conta do recado, relevando-se o histrionismo
[justificado] desse último. O roteiro da dupla Scott Alexander e Larry
Karaszewski aproveita para abordar a submissão feminina ao homem provedor,
ainda em voga no final dos anos 1950 e início dos 1960, pré-revolução. Contudo,
o que mais fica é a angústia do roubo da propriedade intelectual da artista,
muito bem trabalhada por Adams. Vê-la ir se distanciando de si mesma, e
consequentemente das pessoas ao seu redor, por não poder assumir a autoria dos
próprios quadros já vale a experiência conduzida com fluidez por um atípico Tim
Burton. [03.04.15]
CAKE – UMA RAZÃO PARA VIVER * * ½
[Cake, EUA, 2014]
Drama - 102 min
É na qualidade da
atuação de Jennifer Aniston que reside a força desse drama sobre as dores,
físicas e emocionais, de uma perda devastadora. Dirigido com equilíbrio por
Daniel Barnz [“A Fera”, 2011], faltou ao roteiro de Patrick Tobin arranhar sem
tanto medo a superfície dos delicados temas abordados. Quem sabe assim
conseguisse atingir uma camada dramática mais consistente. [04.04.15]
14 ESTAÇÕES DE MARIA * * *
[Kreuzweg, ALE,
2014]
Drama - 106 min
O alemão Dietrich
Brüggemann enquadra a obsessão religiosa num rigor estético coerente com a
abordagem, já que sugere de maneira quase irrevogável a prisão dos personagens
às suas crenças. São 14 longas cenas com planos de câmera fixos, com exceção de
duas, fazendo um paralelo entre o calvário de Jesus Cristo e a entrega trágica
da jovem protagonista [a debutante Lea van Acken, ótima] às introjeções
extremas da religião. Se por um lado parece limitar a narrativa à forma
proposta, por outro o trabalho tanto de marcação de cena quanto com o elenco é
sublime. Os católicos fervorosos não gostarão muito da crítica, posso garantir.
De todo modo, é uma experiência dura de se assistir – e essencial para
refletirmos acerca das circunstâncias as quais a religiosidade se converte numa
doença. [05.04.15]
PARA SEMPRE NA MEMÓRIA * * *
[Permanent Record,
EUA, 1988]
Drama - 92 min
Título evocativo,
tanto o original quanto o brasileiro, para uma sensível narrativa sobre
precisarmos lidar com perdas que não entendemos. Quem tem mais de 30 anos
certamente deve se lembrar desse drama com Keanu Reeves, ainda em começo de
carreira, muito popular no final dos anos 1980 – ou então nas exibições na TV
na década seguinte. Ele faz esse estudante secundarista, um tanto aéreo e com
vocação musical [pré-“Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica”, 1989], cujo
melhor amigo se suicida durante uma festa, afetando todos da turma. O roteiro
escrito a seis mãos consegue nos passar a angústia da morte do personagem
David, uma vez o mesmo sendo falso protagonista por um terço da fita. Assim, o
vazio e a confusão sentidos pelos colegas chegam também até nós, sobretudo
quando os motivos do rapaz, bem estimado por seus pares e com futuro promissor,
não são tão esclarecidos, ficam na sutileza de um desconforto existencial pouco
perceptível. A diretora Marisa Silver alcança o tom harmônico de uma música
triste que trata dos sonhos interrompidos e dos questionamentos surgidos com a
dor. A vida continua, sempre, como mostra a chorosa cena da canção “Wishing on
Another Lucky Star”, composta por J. D. Shouther. Embora a cerca de arame do
último plano permaneça para gravarmos permanentemente o que um dia foi perdido.
[05.04.15]
A EMBRIAGUEZ DO
SUCESSO * * * *
[Sweet Smell of Success, EUA, 1957]
Drama - 96 min
Tony Curtis e Burt
Lancaster encabeçam essa narrativa sordidamente inteligente sobre o lado B do
colunismo social. Se é que existe um lado A. De qualquer maneira, as noções de
moralidade e ética no jornalismo caem por terra no roteiro amargo extraído do
livro do também roteirista Ernest Lehman ["Intriga Internacional",
1959], assinado por ele e Clifford Odets. O personagem de Lancaster é inspirado
em Walter Winchell [1897-1972], tido como o pai da "coluna social
moderna", quem primeiro tornou pública a vida pessoal de figuras famosas.
Já Curtis é um assessor de imprensa sem nenhum escrúpulo que vai dar fim a um
romance a pedido do outro, em troca de oportunidades de publicação de seus
artigos. O diretor Alexander Mackendrick, que fez carreira no cinema britânico,
apesar de ser estadunidense, consegue nos inserir na noite lamacenta desses
pseudojornalistas passando por cima de tudo para atingir seus objetivos, sejam
eles quais forem. Embora cometa uma notória quebra do eixo da câmera [pelo
menos, gritou nos meus olhos], isso não chega a tirar o brilho de uma obra
ainda hoje atual, infelizmente. A diferença é que o mau-caratismo contemporâneo
não possui a elegância dos diálogos bem lapidados e o cinismo sutil das
artimanhas psicológicas do filme. Desconcertante na amoralidade de seus
personagens, foi um fracasso quando lançado. O tempo se encarregou de colocar
essa pérola no seu devido lugar. [13.04.15]
SÉTIMO
* *
[Séptimo, ESP/ARG,
2013]
Suspense - 84 min
Embora tensa,
ligeira e com elenco gabaritado [Ricardo Darín e Belén Rueda], é uma trama
fraquinha, por vezes forçada, que nunca se sustenta. Sobretudo com o absurdo
twist no desfecho mal resolvido. [13.04.15]
TRINTA
* * ½
[Idem, BRA, 2014]
Drama - 92 min
E não é que os
bastidores da árdua preparação de um desfile carnavalesco ameaça puxar o tapete
do ilustre protagonista? Basta uma lida desleixada num resumo da vida de
Joãosinho Trinta para perceber como são boas as intenções do cineasta Paulo Machline;
assim como o resultado alcançado passa longe de fazer um maior jus a tal
resumo. Ele e seus três corroteiristas escolheram como recorte narrativo a
labuta de levar à avenida “O Rei de França na Ilha da Assombração”, primeiro
samba-enredo assinado sozinho por Trinta, entre 1973 e 1974, pela Escola de
Samba Salgueiro. Claro, é necessário eleger um recorte, a parte pelo todo, numa
cinebiografia, mesmo relegando aquela coisinha antipática chamada apuro
histórico a um discurso careta. Aí começam os inúmeros problemas do gênero, já
que deixar importantes momentos de fora significa tomar decisões dificílimas.
Quando esse jogo masoquista consegue captar a essência de toda uma jornada
existencial, o sofrimento é louvável. O problema é que Joãosinho Trinta não está
no seu filme. Está, sim, uma boa representação dele, amparada no esforço de
Matheus Nachtergaele e na excelente produção ao seu entorno. Sem dúvida, a
melhor sensação aqui é trazida pelo desfile ir tomando forma diante dos nossos
olhos. A câmera, acidentalmente ou não, documental contribui sobremaneira para
essa fascinante imersão. No meio do caos, para defender seu ponto, o
personagem-título solta o famoso bordão [“O povo gosta de luxo. Quem gosta de
miséria é intelectual.”] como se o leitmotiv da narrativa fosse ele bradar
isso. Não deveria ser. Numa abordagem quase hagiográfica, não há espaço para a
vida pessoal ou mesmo um mergulho mais profundo na personalidade desse gênio em
sua arte. Nem os desfiles em si são recriados, pois o filme nos expulsa quando
pensávamos em contemplar a obra que testemunhamos nascer. Desculpem, mas
imagens de arquivo numa tela reduzida não satisfazem perante todo o
investimento dispensado. Em se tratando do homenageado, falecido em 2011, eu
realmente esperava, pegando carona no cáustico bordão, um luxo narrativo ao
invés da miséria oferecida ao intelectual que não cabe em mim. [15.04.15]
OS AMIGOS
* * ½
[Idem, BRA, 2013]
Drama - 88 min
Nem sempre
consistente, a abordagem de Lina Chamie lida com seus temas por meio de referências
mitológicas e analogias lúdicas para mostrar a infância que reverbera na vida
adulta. [18.04.15]
VÍCIO INERENTE * * *
[Inherent Vice,
EUA, 2014]
Drama/Comédia - 149
min
A adaptação de Paul
Thomas Anderson ["Magnólia", 1999] do livro de Thomas Pynchon, de
quem o cineasta é fã confesso, aqui e ali parece um tanto arrastada. No
entanto, o resultado compensa pela dose lisérgica injetada no neonoir.
[19.04.15]
SANGUE NO GELO * *
[The Frozen Ground,
EUA, 2013]
Suspense - 105 min
Embora com o peso
de ser baseado numa história verídica, narrativamente não acrescenta muito aos
filmes de serial killer. Também é conhecido, no Brasil, como "O Assassino
do Alaska". [19.04.15 – Telecine Action]
A GANGUE
* * * *
[Plemya, UKR/HOL,
2014]
Drama - 127 min
O ucraniano
Miroslav Slaboshpitsky mostra que o cinema não precisa estar preso a diálogos
[os verbais, pelo menos] para entregar uma narrativa absolutamente envolvente e
de forte impacto. Todo na linguagem de sinais, e sem legendas, o filme é uma
experiência poderosa sobre delinquência juvenil e descaso educacional. Em seu
primeiro longa, o cineasta investe no realismo cru dos atores não
profissionais, assim como em longos planos-sequência e na óbvia ausência de
trilha sonora extradiegética, atingindo um raro resultado apto a incomodar os
mais sensíveis. Nada que chegue a espantar aqueles que não têm medo de sair um
pouquinho da sua zona de conforto. [21.04.15]
WHAT WE DO IN THE SHADOWS * * *
[Idem, NZE/EUA,
2014]
Comédia - 85 min
Hilário
mockumentary que "acompanha" um grupo de vampiros neozelandeses em
meio aos "desafios" da vida moderna. [21.04.15]
VINGADORES: ERA DE ULTRON * * *
[Avengers: Age of
Ultron, EUA, 2015]
Aventura - 141 min
Joss Whedon assume
riscos maiores nessa sequência que almeja levar seus heróis a um nível mais
humano. Enquanto o primeiro filme, lançado em 2012, era mais redondinho em sua
estrutura de três atos bem definida e voltada a juntar o time, agora impera a
urgência desde os minutos iniciais – quando se percebe o quanto a narrativa
assumiu um abrupto salto temporal para mostrar os heróis já [re]unidos em
substituição a S.H.I.E.L.D., relegada à clandestinidade. Claro, para o fio da
meada não escapulir, é preciso ter visto, ao menos, “Capitão América: O Soldado
Invernal” [2013] e a série da TV liderada pelo ressuscitado Agente Phil
Coulson. O problema mesmo é que a tal pressa mencionada reverbera negativamente
no surgimento do interessante vilão Ultron [voz mixada de James Spader] e no
fato do filme apenas encostar no filmaço prometido pela massiva publicidade.
Como assim? Há ação de cortar o fôlego, o tom mais sombrio de segundo filme e
espaço para explorar os personagens sem seus uniformes/armaduras de supers.
Você não viu o filme? Sim, cara pálida, eu vi o filme. Ou pelo menos o que a
plateia ensandecida de pré-estreia me permitiu ver. Assumindo roteiro e direção
novamente, Whedon é experto o bastante para emular o próprio trabalho,
acreditando estar subvertendo alguma coisa. O que se sobressai é o seu carinho
pelos personagens, o humor entre eles, a química certeira que gostamos de
testemunhar. Química essa que rende um dos filmes mais românticos do já
alardeado Universo Cinematográfico Marvel, uma vez três Vingadores terem seu
lado amoroso evidenciado pela primeira vez. Em meio ao caos da devastadora
briga entre Hulk [Mark Ruffalo] e Homem de Ferro [Robert Downey Jr.], dentro do
Hulkbuster, há tempo para afeto e família. Pena o desenvolvimento da trama em
si ser um tanto indulgente, às vezes repetitivo, embora brincar com os valores
morais em prol do bem universal, radicalizando suas semânticas, seja um dos
bons truques do roteiro. Se Ultron é de fato um Pinóquio sem cordas com
péssimas interpretações sobre como salvar a humanidade, os gêmeos Aprimorados
[só a Fox pode chamá-los de mutantes] Feiticeira Escarlate [Elizabeth Olsen] e
Mercúrio [Aaron Taylor-Johnson] trazem o tempero cinzento para colocar cada
herói em contato íntimo com seus traumas e medos. Outra figura muita aguardada,
Visão [Paul Bettany], “nasce” com toda a pinta mítica, somente para logo em
seguida ser mais um dentre tantos. Se na produção de 2012, Whedon construiu com
maestria o contexto que levou ao primeiro plano da trupe unida, aqui esse
plano, em slow e tudo, ocorre quase que imediatamente ao fade in do prólogo,
antecipando a falta de impacto que será vê-los se separarem. De todo modo,
trata-se de uma sessão Marvel divertidíssima. Sobretudo como parte de uma
franquia com muito a render ainda. Isso se não bagunçarem demais o meio de
campo. [22.04.15 – cinema pré-estreia]
KAHAANI
* * ½
[Idem, IND, 2012]
Suspense - 123 min
Suspense indiano
absorvente, embora um tanto arrastado, que se sustenta mais em virtude do
inesperado twist no final. Escrito e dirigido por Sujoy Ghosh, é protagonizado
por Vidya Balan e vai ganhar remake em língua inglesa previsto para 2016. Sim,
Bollywood também exporta. [24.04.15]
ALEMANHA, ANO ZERO * * * *
[Germania Anno
Zero, ITA/FRA/ALE, 1948]
Drama - 73 min
O italiano Roberto
Rossellini não faz concessões nesse amargo registro neorrealista das feridas
alemãs, tanto as sociais quanto as psicológicas, no pós-Segunda Guerra Mundial.
Dedicado ao filho do cineasta falecido dois anos antes, o filme segue um menino
transitando por entre os escombros morais da derrota nazista, corrompendo a
própria natureza para ajudar a família. A obra fecha com crueldade a trilogia
da guerra também composta por "Roma, Cidade Aberta" [1945] e
"Paisà" [1946]. [26.04.15]
PROMESSAS DE GUERRA * * ½
[The Water Diviner,
AUS/TUR/EUA, 2014]
Drama - 111 min
Finalmente, Russell
Crowe realiza seu desejo de dirigir um longa de ficção. Faltou apenas essa
direção ser apurada e o roteiro mais sólido ou pelo menos que disfarçasse
melhor os elementos clichês. [27.04.15]
A MALDIÇÃO DA LUA CHEIA * * ½
[The Boy Who Cried
Werewolf, EUA, 1973]
Terror - 93 min
É preciso baixar
bem a guarda para curtir essa história de lobisomem com uma atmosfera hippie.
Cult? Nem tanto, embora tenha seus defensores. Trata-se de um dos últimos
filmes da Universal lançados em sessão dupla [double feature], no caso com
"Sssssss" [1973], e o derradeiro trabalho do diretor Nathan Juran, de
"A Vinte Milhões de Léguas da Terra" [1957] e "A Mulher de 15
Metros" [1958]. Uma obra que, nos dias de hoje, tem lá seu charme.
[27.04.15 – Netflix]
O FANTASMA E O COVARDE * * *
[The Ghost and Mr.
Chicken, EUA, 1966]
Comédia - 90 min
A persona nervosa
de Don Knotts, popularizada no seriado “The Andy Griffith Show” [1960-1968], é
absolutamente hilária nessa "screwball comedy" que brinca com as
crenças e, sobretudo, o medo no sobrenatural. Ele faz um aspirante a jornalista
que precisa passar a noite numa mansão supostamente mal-assombrada. Sua matéria
o torna o novo herói da cidade, mas ele termina sendo levado a julgamento para
provar a veracidade do relato. Mesmo sendo uma expansão de um dos episódios do
show e claramente um veículo para o talento de Knotts, falecido em 2006, o
filme sobrevive muito bem sozinho, provocando risadas genuínas. E olha que eu
show chato para rir com comédias [eu sei, eu sei...]. É delicioso poder voltar
num tempo no qual as gags eram realmente engraçadas e distantes de qualquer
apelação escatológica. O título original faz referência a “O Fantasma
Apaixonado” [The Ghost and Mrs. Muir], drama dirigido por Joseph L. Mankiewicz
em 1947. [28.04.15 – Netflix, madrugada]
PÂNICO NO ANO ZERO * * ½
[Panic in the Year
Zero!, EUA, 1962]
Ficção - 93 min
Vazão ao medo
estadunidense de um ataque nuclear durante a Guerra Fria, discute as noções de
civilização que vão se perdendo em prol da sobrevivência. Além de protagonizar,
Ray Milland ["Farrapo Humano", 1945] dirige essa ficção B, com roteiro
assinado por Jay Simms e John Morton, que o coloca como um chefe de família disposto
a tudo para garantir a segurança dos seus. Mesmo isso incluindo defender uma
"adaptação justificada" dos valores morais à nova situação. Difícil é
não entender as motivações do personagem, sem necessariamente concordar com
elas. Os destaques são o também cantor Frankie Avalon fazendo o filho mais
velho de Milland e o score jazzístico de Les Baxter. [29.04.15 – Netflix]
Maio – 23 filmes
SEDUÇÃO
* *
[Cracks,
GB/IRL/ESP/FRA/SUE, 2009]
Drama - 104 min
Mais parece uma
mistura de "Sociedade dos Poetas Mortos" [1989] com "Assunto de
Meninas" [2001] subvertendo os elementos de ambos. Jordan Scott, filha de
Ridley, estreia na direção de longas com essa adaptação do romance escrito por
Sheila Kohler. Não se trata de um filme ruim, apenas não sabe chegar ao nervo
da história que pretende contar. A preocupação da diretora com as nunces
psicológicas das personagens sabota a própria narrativa, não a deixa
desenvolvê-la melhor. A britânica Juno Temple [“Desejo e Reparação”, 2007] e a
espanhola María Valverde [“100 Escovadas Antes de Dormir”, 2005] puxam fácil o
tapete da francesa Eva Green [“007 – Cassino Royale”, 2006]. A fotografia de
John Mathieson é outro destaque numa sessão que, infelizmente, não vinga. [03.05.15
– Netflix]
ENTRE ABELHAS * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama/Comédia - 100
min
Ian SBF e Fábio
Porchat surpreendem com uma curiosíssima comédia dramática kafkaniana sobre,
pegando carona na síndrome na qual o título é inspirado, "perder a
colônia". Sim, as abelhas estão desaparecendo do mundo já há alguns anos.
Porchat seria a abelha que permanece, a abelha cuja maldição é ver [ops, “ver”]
as companheiras da colmeia simplesmente irem sumindo. No reino humano, seria a
inversão distópica da aldeia global de McLuhan. A metáfora da individualização
social do sentir-se sozinho. Estranho? Não tanto o quanto eu me pegar gostando
[muito] de um filme protagonizado por Fábio Porchat. Mas dou a mão à
palmatória. Minha simpatia por quem se arrisca fora da sua zona de conforto
encontra eco num gênero dificílimo de agradar, a dramédia. Egressos do canal do
YouTube Porta dos Fundos, SBF [Samarão Brandão Fernandes] e o amigo-sócio
comediante acreditam na estranheza de sua fábula como fator positivo. Coautores
do roteiro, o primeiro dirige enquanto o segundo tenta atuar sem as caras e
bocas familiares ao grande público. A narrativa comete grandes acertos. Logo na
primeira cena, a introdução da cadeira [elemento retomado depois] com a voz em
off do amigo dá a dica de que o cineasta está atento às possibilidades da
premissa. E as usa sem medo, como mostra a recriação cômica de uma cena do
filme de Paul Verhoeven, “O Homem sem Sombra” [2000]. Há exemplos mais
apurados: a inversão de perspectiva da condição do personagem principal e o
chefe “invisível” apenas aparecer quando ele se levanta e extrapola os limites
do enquadramento. Detalhes preciosos. Porchat não se permite exagerar; reage
sem forçar o riso e por isso o consegue. Para um drama sem graça para alguns,
até que eu ri bastante. Sobretudo nas cenas com Irene Ravache e Luis Lobianco,
o humor é quase britânico, para quem compreende a piada. Refinado? Comparado ao
nível rasteiro das comédias brazucas, diria seminal. No outro lado da balança,
o drama não se furta de situações pesadas, como um atropelamento e um caixão
cujo morto não está lá. A figura do psiquiatra seria dispensável, mas o modo
como concretiza o insólito destino do protagonista o justifica muito bem.
Quando o contraste com os planos iniciais de Porchat por entre os transeuntes
cariocas [visualize um incomum Rio de Janeiro em tons acinzentados] nos ensina
uma valiosa lição sobre o mal necessário de Rosseau. Sim, há questionamentos
existenciais na jornada do herói, mesmo não implicando em mudanças mais
profundas de comportamento. Seria pedir demais? E como não admirar a ousadia do
desfecho abrupto, um semideus ex machina, que pede ao espectador que fabule o
seu próprio final? Com todos os problemas de equilíbrio, ritmo, performance e
vazio narrativo que os exigentes apontarem [e com razão], quero ver – sem aspas
agora – mais filmes brasileiros assim, desprendendo-se da própria tradição.
Seja do drama ou da comédia. [04.05.15 – cinema]
NOITE SEM FIM * * ½
[Run All Night,
EUA, 2015]
Ação - 114 min
Liam Neeson tem
apenas uma noite para se redimir dos pecados, reconquistar o afeto do filho e
matar os bandidos. A única diferença é que ele também é um. No caso, um capanga
remoído pelas mortes que perpetuou para o chefe, e melhor amigo, feito por Ed
Harris. A correria pela sobrevivência do título original começa mesmo quando o
protagonista salva o próprio filho [Joel Kinnaman, o Robocop de José Padilha]
estourando a nuca do filho do patrão. Já falaram da semelhança da trama com a
de “Estrada para Perdição” [2002] e de como Neeson se converteu num Charlie
Bronson moderno desde o primeiro “Busca Implacável” [2008]. Aqui ele até tenta
sair um pouco do piloto automático, pois o roteiro de Brad Ingelsby [“Tudo por
Justiça”, 2014] adiciona uma fina camada psicológica à ação com violência
gráfica. Nada profundo, mas é interessante a relação entre Neeson e Harris e
como o primeiro não permite que o filho dê o passo capaz de torná-lo igual a
ele. Pena ter um óbvio diálogo expositivo explicando isso. A direção do
espanhol Jaume Collet-Serra [“Sem Escalas”, 2014] passa por cima dos clichês e
dos buracos contidos no plot para desfilar excessos estéticos em animações 3D
de Nova York e sequências de ação sob medida. O arremate da sessão é simples:
situações de extremo perigo, no cinema, sempre são ótimas, e batidíssimas,
deixas para reatarem-se os laços familiares. Pena geralmente serem tarde
demais. [05.05.15 – cinema]
A CHAVE DE SARAH * * *
[Elle s'appelait
Sarah, FRA, 2010]
Drama - 109 min
A adaptação do
livro de Tatiana De Rosnay mexe forte no trauma do colaboracionismo francês à
campanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Assim como a Alemanha
contemporânea se construiu em cima da negação do Holocausto, na França é um
doloroso tabu a participação do país no conflito. O enredo tem início na
chamada Razia do Velódromo de Inverno, na Paris de 1942, para seguir a jornada
da pequena Sarah [Mélusine Mayance, a melhor coisa do filme], que esconde seu
irmão mais novo no armário antes de ser levada com os pais judeus. Ela foge do
campo de concentração rumo à capital francesa, sem largar a chave do tal
armário. Paralelamente, na época atual, a jornalista feita por Kristin Scott Thomas
reconstrói a fatídica história, enquanto lida com problemas conjugais,
tornando-se obcecada em descobrir o destino de Sarah. Dirigido e corroteirizado
por Gilles Paquet-Brenner, o drama alterna passado e presente de maneira
equilibrada para provocar essa tomada de consciência francesa e apontar-lhe uma
mea culpa, mea maxima culpa. Antes tarde do que nunca. A segunda parte da
produção escorrega no melodrama ao adiar o desfecho provavelmente mais do que
deveria. Como já estamos completamente imersos no contundente relato, fica
difícil não querermos continuar até a resolução um tanto agridoce. Uma
experiência muito oportuna para nos lembrar – sempre – dos erros de julgamento
que jamais devem ser repetidos. [07.05.15 – Netflix]
AS HIPER MULHERES * * *
[Itão Kuegü, BRA,
2011]
Documentário - 80
min
Fascinante como a
narrativa entremeia ficção e realidade, de modo a não sabermos onde um começa e
o outro termina. Realizado com e por uma tribo indígena do Alto Xingu [MT], a
obra dirigida por Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, este último
nativo, gira em torno do Jamurikumalu, o maior ritual feminino da região. A
desenvoltura dos índios-atores traz algo muito especial para uma experiência de
imersão singular. [08.05.15 – DVD]
OS 7 SUSPEITOS * * ½
[Clue, EUA, 1985]
Comédia - 94 min
Divertida
"crime comedy whodunit" [quem matou?], com plot ao estilo Agatha
Christie e elenco cheio de energia encabeçado por Tim Curry, o dr.
Frank-N-Furter de “The Rocky Horror Picture Show” [1975]. Estreia na direção de
Jonathan Lynn [“Meu Primo Vinny”, 1992], trata-se do primeiro filme baseado num
jogo de tabuleiro, no caso o popular “Detetive”. Possui três diferentes
resoluções, à época exibidos em cópias e sessões distintas, agora reunidas em
sequência. Não chega a ser tão inspirado no conjunto final, mas há gags
impossíveis de não rir. Virou cult. [10.05.15 – Netflix]
MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA * * * ½
[Mad Max: Fury
Road, EUA/AUS, 2015]
Ficção - 120 min
Testemunhe a ópera
rock pós-apocalíptica de George Miller, numa sequência-reboot tardia, mas com
energia alucinante. Sim, já se passaram 30 anos desde o mediano “Mad Max: Além
da Cúpula do Trovão” [1985] encerrar a trilogia ozploitation protagonizada por
Mel Gibson. Agora é o britânico Tom Hardy que veste a carapuça atormentada do
Guerreiro da Estrada e participa de um filme no mínimo prodigioso, cheio de
mensagens e muito [mesmo] a ensinar aos atuais filmes de ação. Aos 70 anos de
idade, o australiano Miller, diretor-roteirista de toda a série, executa uma
perseguição de duas horas com reverberação sensorial de cortar o fôlego, sem se
esquecer de contar uma história e desenvolver a dinâmica dos seus personagens.
Não há dúvidas de que, no meio do caos no qual somos jogados, com um
empurrãozinho do 3D, o maestro tem o controle da situação: arquiteta sequências
ininterruptas à moda antiga [efeitos práticos, pouca computação gráfica] como
um elaboradíssimo desfile de carnaval se desconstruindo insanamente em meio ao
mundo desértico melhor apresentado em “Mad Max 2: A Caçada Continua” [1981]. Há
mais referências a esse segundo filme do que aos outros, ainda que Max
Rockatansky continue o mesmo herói relutante da produção de 1979 e, sobretudo,
suas duas continuações. Detalhe sintomático, pois mostra que ele, enquanto
personagem, tem pouco ou quase nada a acrescentar à sua versão século 21. O
problema se resolve com outro problema; Max termina sendo um coadjuvante no seu
próprio filme – e isso só não incomoda mais porque o desvio da atenção para a
Furiosa de Charlize Theron é tão natural quanto o talento e a beleza da atriz
sul-africana. Ainda há o interessante Nux feito por Nicholas Hoult, uma
investigação nos processos por trás de um terrorista-kamikaze guiado pelo
fanatismo religioso. Sem falar no discurso feminista longe da afetação radical,
portanto temos atrizes lindas em trajes sumários, só que contextualizados e
servindo tanto ao enredo quanto ao discurso, reforçado pelos diálogos entre
elas. A proeza da ação, com planos de câmera e montagem sensacionais, sem falar
no uso do frame rate acelerado e na fotografia com uma variação magnífica
cores, duela apenas com a maneira como Miller explorou o fiapo de enredo para
exercitar uma estética neopunk com algo a dizer. O filme funciona bem até para
quem não é iniciado no universo Mad Max. Estamos diante do blockbuster mais
autoral do ano? Fiquemos observando. O fato é que a lisérgica experiência
ressuscita o interesse por uma franquia agora com mais estilo, e fúria, do que
nunca. [14.05.15 – cinema]
SHUFFLE
* *
[Idem, EUA, 2011]
Drama - 81 min
Poderia muito bem
ser um interessante quebra-cabeça narrativo; pena o conjunto das peças não
formar nenhuma figura convincente. A premissa não é tão original assim – homem
fica acordando em momentos aleatórios da própria vida – e ainda comete alguns
furos na lógica estabelecida. Mesmo assim, eu esperava pelo menos bons
questionamentos levantados, ou algo menos batido sobre estar atento aos sinais,
e uma finalização que não ficasse com cara de telefilme. O cineasta Kurt Kuenne
[olha esse nome] é um Steven Soderbergh/Robert Rodriguez antes da fama:
escreve, dirige, edita, opera a câmera e ainda compõe o score da produção. Só
faltou mesmo a ele canalizar melhor seus dotes para entregar uma obra de ficção
[é dele o documentário “Dear Zachary: A Letter to a Son About His Father”, de
2008] digna de ser apreciada. [15.05.15 – Netflix]
OS QUATRO DESCONHECIDOS * * *
[Kansas City
Confidential, EUA, 1952]
Suspense - 99 min
Phil Karlson dirige
esse "heist movie" noir cheio de reviravoltas na absorvente trama que
segura bem o espectador. E que se passa por original até nos dias de hoje,
mesmo o cinema já tendo usado ladrões de banco mascarados depois disso. Aqui,
eles não conhecem a identidade um do outro, o que certamente cria
possibilidades dramáticas interessantes. John Payne é o florista injustamente
suspeito que vai atrás da sua parte do dinheiro do roubo, terminando por se
passar por um dos assaltantes à espera do encontro com o misterioso chefe para
dividir a grana. Payne também trabalhou no roteiro, assim como Karlson, mas
ambos não receberam esse crédito. Coisas de Hollywood. [15.05.15 – Netflix]
ANGEL-A
* * ½
[Idem, FRA, 2005]
Comédia - 91 min
Mistura
politicamente incorreta de "A Felicidade Não se Compra" [1946] e
"Michael – Anjo e Sedutor" [1996], pela imaginação de Luc Besson.
[15.05.15 – Netflix]
QUEIMANDO TUDO * * ½
[Cheech and Chong's
Up in Smoke, EUA, 1978]
Comédia - 81 min
"Stoner
movie" cult por natureza, a primeira investida no cinema dos doidões
Cheech e Chong provoca risos chapados. Alguns deles bem hilários, até para os
caretas. Como eu. Os comediantes Cheech Marin e Tommy Chong, também autores do
roteiro, já trabalhavam suas personas hippies maconheiras havia dez anos quando
juntaram as ideias para fazer um filme. Altas ideias – não resisto ao
trocadilho. Lou Adler, produtor executivo de “The Rocky Horror Picture Show”
[1975], assina a direção [Chong não recebeu o crédito, embora tenha codirigido]
dessa comédia fumacenta que mostra os Estados Unidos pós-Vietnã e, querendo ou
não, reforça alguns estereótipos acerca dos mexicanos. Se você deixar o
politicamente correto de lado, dá para embarcar numa viagem com elementos
antológicos. É o que posso dizer da van feita 100% de maconha, cuja fumaça da
erva queimada que sai do escapamento chapa e dá “larica” em todos por onde
passa. A produção teve tanto sucesso que rendeu seis continuações. Não me
surpreenderia se fosse o filme preferido de Seth Rogen, figurinha carimbada nos
atuais exemplos desse subgênero da comédia. Também não posso deixar de apreciar
a criatividade do título da obra em Portugal, “E Tudo o Fumo Levou”. Genial,
não? [19.05.15 – Netflix]
HISTORIAS MÍNIMAS * * ½
[Idem, ARG/ESP,
2002]
Drama - 87 min
Um road movie
humanista, honesto, no qual o argentino Carlos Sorin guia nosso olhar para os
pequenos detalhes. O cenário é a Patagônia desertificada, onde três personagens
se cruzam, cada qual ao seu tempo – desequilibrado, devo dizer; a montagem
paralela passa longe de fazer jus ao recurso narrativo. Por sorte, ficamos mais
ao lado do personagem feito por Antonio Benedicti, em seu único trabalho no
cinema [ao menos registrado]. Sem dúvida, ele é a alma do filme. Tanto que
quase esquecemos as outras histórias, nenhuma delas tão marcante assim. Embora
o sentido da obra escrita por Pablo Solarz esteja mesmo na simplicidade exibida
pelos não enredos, apenas as buscas de pessoas que poderiam ser reais. Não há
grandes viradas ou explosões de dramaturgia, mas um otimismo e uma doçura
ingênua que nos leva a querer ir até o final. Há, sim, uma textura poética
cobrindo a solidão desses personagens. De todo modo, a estrada que pegam é
cheia de esperança. [19.05.15 – Netflix]
SEDUCED AND ABANDONED * * ½
[Idem, EUA, 2013]
Documentário - 98
min
O cineasta
independente James Toback e o ator Alec Baldwin percorrem o tortuoso caminho
para conseguir financiamento para um suposto filme da dupla durante o Festival
de Cannes. Entre colher depoimentos de diretores do naipe de Scorsese, Coppola,
Polanski, Bertolucci e potenciais empresários/investidores, além de atores e
atrizes como Ryan Gosling, Neve Campbell [ótima, mas sem valor de mercado,
segundo um produtor], James Caan, Jessica Chastain, eles traçam um painel
agridoce da faceta da indústria cinematográfica que não vemos na tela. Para os
fracos de paixão e persistência, pode ser uma experiência triste e
desmotivadora. Para todos os outros, apenas uma dura constatação do que passam
os realizadores. [20.05.15 – Cinemax, madrugada]
POLTERGEIST – O FENÔMENO *
[Poltergeist, EUA,
2015]
Terror - 93 min
Por razões obvias,
fui ao cinema sem esperar muito, mas não achava que assistiria a um remake tão
ridículo em seu "diálogo" com o original. Se por acaso existirem
motivações interessantes [sério?] em se refazer uma obra, seriam a dialética da
nova produção com a fonte [como ela se coloca no mesmo universo da outra] e de
que maneira atualiza o enredo e os temas já trabalhados. O resto é marketing.
Dito isso, não me resta outra opção para concluir: a nova versão do clássico de
terror dirigido por Tobe Hooper em 1982, com argumento de Steven Spielberg,
falha nas duas coisas. E falha feio. Sai o charme do original – o fascínio pelo
sobrenatural se convertendo num pesadelo familiar – e fica o carbono genérico
pós-“Identidade Paranormal” [2009], que apela para os sustos gráficos e sonoros
como forma de manter o espectador acordado. O máximo que o diretor Gil Kenan
[“A Casa Monstro”, 2006] faz são gags com o filme de Hooper, como a abertura
partindo do detalhe dos pixels e saindo por um tablet [hum...] e a cadeira de
balanço onde antes sentava o boneco de palhaço. Nessa versão, a história é
vista pelos olhos do filho do meio, e por alguns momentos ficamos na dúvida
sobre quem será levado para o outro lado. E se não íamos junto com a mãe
resgatar a garotinha Carol Anne [rebatizada como Madison], agora um drone traz
imagens direto de lá. O roteiro de David Lindsay-Abaire [“Oz: Mágico e
Poderoso”, 2013] tenta ser experto antecipando a reviravolta que levava à
última sequência no filme de Tobe Hooper, mas apenas dá um tiro no pé, pois não
põe nenhuma novidade no lugar. Quanto ao elenco, é só coisa da minha cabeça ou
Sam Rockwell parece estar no filme contra a vontade? E o que dizer dos
fantasmas, que agora “surfam na rede elétrica” de forma quase explícita? Ou da
médium feita Zelda Rubinstein como uma figuraça, substituída por um Jared
Harris sem graça? Ou da televisão, que perde o impacto dramático o qual já teve
um dia? Sem qualquer inspiração digna do mínimo elogio, o caça-níqueis da união
entre Fox e MGM nem arrisca mexer na nossa memória afetiva de um terror tão
assustador quanto comovente. A não ser que você seja o medroso insensível dos
dias de hoje. [21.05.15 – cinema]
O VENDEDOR DE PASSADOS * *
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 82 min
Apesar da discussão
sobre [re]construção da memória ser atraente, o roteiro nunca a sustenta ou nos
convence. [21.05.15 - cinema]
WISH YOU WERE HERE * *
[Idem, AUS, 2012]
Drama - 89 min
Ainda que se
preocupe com os aspectos psicológicos dos seus personagens, falha ao propor
diversos, e delicados, assuntos sem aprofundá-los. Uma premissa com potencial
que desaba no vazio. [22.05.15 – Cinemax]
TANTA ÁGUA
* * ½
[Tanta Agua,
URY/MEX/NLD/ALE, 2013]
Drama - 102 min
As uruguaias Ana
Guevara e Leticia Jorge lançam um olhar humanista sobre o comportamento que diferencia
as gerações na relação entre pais e filhos. No caso, entre pai [divorciado, um
pouco distante] e filhos [a adolescente querendo se autoafirmar e o mais novo
avoado]. [24.05.15 – Telecine Cult]
DISTANTE NÓS VAMOS * * ½
[Away We Go,
EUA/GB, 2009]
Drama/Comédia - 98
min
Sam Mendes dirige
essa "dramédia" singela, doce, sobre um casal em busca do lugar
perfeito para criar o primeiro filho que vai nascer. É um filme agradável feito
para agradar – e muito dessa atmosfera se deve ao uso do “soft focus” pela
fotografia de Ellen Kuras [“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, 2004] e
ao texto do casal de escritores Dave Eggers e Vendela Vida. Não é sempre que
nos deparamos com um road movie guiado pelo coração dos seus realizadores.
[26.05.15 – Netflix, madrugada]
ADORADORES DO DIABO * *
[The Believers,
EUA, 1987]
Suspense - 114 min
Pena a premissa com
potencial macabro ser jogada no lixo por um desenvolvimento tão fraquinho. E
não ajuda o fato da legendagem brasileira dos canais Telecine, como muitos já
apontaram, confundir Santeria – religião africana com sacrifício de animais e,
no filme, crianças – com Candomblé, apesar de compartilharem alguns elementos.
Foi o premiado John Schlesinger [“Perdidos na Noite”, 1969] quem comandou com
indulgência essa adaptação do livro de Nicholas Conde. O roteiro de Mark Frost,
criador, ao lado de David Linch, da cult série “Twin Peaks” [1990-1991], não
evita os clichês ou os personagens caricatos. Sem falar no controverso teor
racista da produção, lançada no mesmo ano do muito melhor “Coração Satânico”.
Mas qualquer comparação com “O Bebê de Rosemary” [1968] soa ainda mais
ridículo. Tanto na época quanto hoje. [26.05.15 – Telecine Cult]
A DELÍCIA DE UM DILEMA * * ½
[Rally ‘Round the
Flag, Boys!, EUA, 1958]
Comédia - 106 min
O casal Paul Newman
e Joanne Woodward se divertindo à beça nessa comédia pró-exército de Leo
McCarey, em seu penúltimo trabalho. [27.05.15 – Telecine Cult]
TERREMOTO – A FALHA DE SAN ANDREAS * * ½
[San Andreas, EUA,
2015]
Ação - 114 min
Os efeitos visuais
bem finalizados junto ao esforço e carisma do elenco ajudam [ora não?] a
embarcar nesse filme-catástrofe absorvente. E quando falo em carisma, refiro-me
a Dwayne Johnson, ex-The Rock [ou para sempre The Rock], um brutamontes que
simpatizo e o qual finalmente começa a ser protagonista dos próprios
blockbusters. Não é grande ator, mas sua presença em cena é simpática e quase
compensa sua canastrice. Quase. O argumento de Andre Fabrizio e Jeremy
Passmore, apoiado no medo estadunidense em relação à Falha de San Andreas, é,
em si, uma falha. Afinal, a única escolha moral do herói recai em abandonar o
serviço [ele é um bombeiro de resgate] para socorrer a família. Mas podemos
julgá-lo por isso? Não me atrevo. Só me atrevo a pensar que Carlton Cuse tentou
explorar o fiapo de enredo no limite de sua capacidade, esboçando um roteiro
que toma o caminho mais fácil: tornar a escala de destruição o apelo para
ajeitar todas as questões [ah, meus tempos de gestalt] familiares. Num nível
não exigente demais, cumpre a função, mesmo que passe por cima de tropeços
básicos e clichês como se não os tivesse vendo. Tampouco nós, com aqueles
malditos óculos 3D que apenas tiram o brilho e as cores da imagem. Brad Peyton
é quem orquestra o espetáculo tenso e, em seus melhores momentos, de mexer com
nosso fôlego, sem se importar se há mais emoção barata do que conflito
dramático, ou personagens rasos recitando frases de efeito batidíssimas,
vivendo dramas dantes já vistos. Nesse sentido, há uma sensação de déjà vu cuja
relação com “Twister” [1996] é sintomática do colapso das ideias dessa geração.
Você saberá quando a sentir, garanto. No mais, esqueça todas essas bobagens de
críticos amargurados e se divirta com edifícios caindo e tsunamis lavando os
escombros, enquanto os personagens arrumam tempo para paquerar e reaver
casamentos. Depois, não remoa tanto a culpa por, durante duas horas, ter
abstraído a tragédia recente no Nepal. Afinal, Hollywood não é tão sensível
quanto aos desastres reais que acontecem à sua volta. E não se preocupe: se The
Rock não for correndo salvar você é porque a família sempre vem em primeiro
lugar. Ou então ele está muito ocupado fazendo 105 selfies em três minutos e
entrando para o Guinness Book, o livro dos recordes inúteis. Como ele deixa
claro no filme, um sujeito legal valoriza suas prioridades. [29.05.15 – cinema]
007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE * * *
[Moonraker, GB/FRA,
1979]
Aventura - 126 min
Aquele no qual Bond
desembarca um Rio de Janeiro caricatural para brigar em cima de um BONDinho
antes de ir ao espaço arruinar os planos do vilão Drax. Quarto dos sete filmes
protagonizados por Roger Moore e última aparição de Bernard Lee como M. Traz de
volta o grandalhão duro de matar Jaws, que agora arranja uma namorada. O
cineasta Lewis Gilbert comanda sua derradeira produção na franquia, explorando
todas as gags possíveis para dar um ar de graça à aventura. Realizado seguindo
a esteira do sucesso do primeiro “Star Wars” [1977], as referências a “2001:
Uma Odisseia no Espaço” [1968] e “Contatos Imediato do 3º Grau” [1977] dão a
dica do último ato, quando se transforma numa verdadeira sci-fi espacial. Sem
perder o charme do espião britânico. [31.05.15 – Telecine Cult]
EU E VOCÊ
* * ½
[Io e Te, ITA,
2012]
Drama - 103 min
Bertolucci tem aqui
uma premissa atraente de rito de passagem, extraída do livro escrito por
Niccolò Ammaniti, à qual resolve não seguir a trilha mais densa – contornando-a
ao invés disso. [31.05.15 – Telecine Cult]
Junho – 20
filmes
A METADE NEGRA * *
[The Dark Half,
EUA, 1993]
Terror - 122 min
Não espere por
sutilezas de George Romero nessa adaptação de Stephen King que materializa de
forma grotesca [em vários sentidos] o lado obscuro da personalidade humana.
[02.06.15 – madrugada]
O SAL DA TERRA * * *
[The Salt of the
Earth, FRA/BRA/ITA, 2014]
Documentário - 110
min
Juliano Ribeiro
Salgado e Wim Wenders disputam, de maneira harmônica, o olhar sobre a obra
magistral de Sebastião Salgado. Mas quem é o homem por trás das fotos? Não
descobrimos. O filme é uma exuberante moldura, digna do talento do fotógrafo
brasileiro. A opção por colocar o entrevistado diante das próprias fotografias
como leitmotiv narrativo é curiosa e muito eficiente [sim, as imagens em preto
e branco são o ponto alto], embora não esteja blindada das controvérsias [se
uma imagem vale mais do que mil palavras, precisava de tanta palavra assim?].
Sendo Ribeiro Salgado filho de Sebastião, é de se admirar de fato que Wenders
consiga um tom mais pessoal sobre o artista. De todo modo, ambos não fogem da hagiografia,
sequer fazem menção a tal, entregando um ambicioso relato didático sobre a vida
e a obra do protagonista. As fotos e o contexto delas sem dúvida tornam a
imersão imperdível, ajudada por uma montagem contemplativa. Para ser um grande
filme, só faltou mesmo ser um estudo mais incisivo do grande personagem em
questão. [02.06.15]
CÁSSIA ELLER * * * *
[Idem, BRA, 2014]
Documentário - 113
min
Paulo Henrique
Fontenelle extravasa o registro autobiográfico, ou pelo menos tenta, para nos
colocar bem próximo da talentosíssima e complexa artista. Ao mesmo tempo em que
foi esse vulcão em erupção em cima do palco, Cássia Eller tinha uma doçura fora
dele. Para aqueles que só conseguem enxergar a casca da laranja, de certo se
surpreenderá. O filme intenta dar conta desse ser humano contraditório, cheio
de camadas [como são todos], e alcança um resultado muito equilibrado, honesto
e apaixonante. Não mascara nada, os vícios, os casos, mas lança um olhar
carinhoso que desmistifica preconceitos e tabus. Pode até ser que sua estrutura
seja convencional a ponto de contar negativamente, o que é compensado pela
paixão contagiante impressa na própria energia da narrativa. Além, claro, do
fortíssimo apelo da intérprete. É tocante como o nascimento do filho Chicão foi
de fato um divisor de águas para Cássia, cuja influência a fazia mexer no
repertório e a levou, segundo a mesma, a reaprender a cantar. Como se já não
dominasse sua poderosa voz grave. Fontenelle já havia se debruçado sobre outro
ícone musical, Arnaldo Baptista, no excelente “Loki” [2008]. Agora condensa a
passagem de Cássia Eller pela existência num documentário para fãs e não fãs.
Carismático até a medula, difícil não se pegar lacrimejando em diversos
momentos da história dessa brilhante estrela cadente. Até se render e deixar a
lágrima escorrer pelo mesmo caminho curto e intenso que a própria Cássia um dia
tomou. [03.06.15]
CHAPPIE
* *
[Idem, EUA/MEX/ZAF,
2015]
Ficção - 120 min
O tom cartunesco
dispensado por Neill Blomkamp soterra as potenciais questões abordadas –
existenciais, religiosas e sociais –, transformando a sci-fi num bagunçado
pastiche de si mesma. Sim, é divertido em vários momentos, o que ganha peso [ou
perde peso ganhado] com o realismo dos efeitos visuais. Por outro lado, os
movimentos do roteiro de Blomkamp e sua esposa Terri Tatchell nunca soam
consistentes, como se estivéssemos diante de uma “screwball comedy” sem o
timing correto. Para piorar, os personagens são rasos, caricatos, não criam
empatia. Até o robô-título, carismático em sua busca por apreender o certo e o
errado e evitar sua iminente morte, é mais um fantoche tentando dar o mínimo de
coerência à narrativa, versão ampliada do seu primeiro curta, “Tetra Vaal”
[2004]. O cineasta sul-africano que foi sensação em 2009 com “Distrito 9” parece
recuar mais um passo depois do bem intencionado [e só] “Elysium” [2013]. Espero
que não esteja sofrendo o “efeito Shyamalan”, sobretudo quando seu próximo
trabalho dará prosseguimento às desventuras da tenente Ripley na franquia
“Alien”. Que ele não use as referências erradas, como fez aqui. Mesmo com a
melhor das intenções. [03.06.15]
DEUS BRANCO * * *
[Fehér Isten,
HUN/ALE/SUE, 2014]
Drama - 121 min
O húngaro Kornél
Mundruczó usa o levante dos cachorros como uma alegoria para falar sobre as
relações de opressão e suas consequências maais extremas. [04.06.15]
TOMORROWLAND – O LUGAR ONDE NADA É IMPOSSÍVEL * * *
[Tomorrowland,
EUA/ESP, 2015]
Ficção - 130 min
A imaginativa
sci-fi com apelo retrô de Brad Bird defende o pensamento otimista como a chave para
salvar o futuro. Em virtude disso, talvez seja um pouquinho mais difícil o
filme encontrar seu público. No cinismo da era em que vivemos, parece ser mais
confortável taxar a obra de ingênua, boba, do que embarcar nela, com ou sem
pin, e absorver toda a positividade que ela emana. Sem falar do nosso
preconceito “progressista” em relação a filmes com mensagem [por serem
politicamente corretos]. Bem, aqui vai uma dica: esqueça o parti-pris
sintomático do nosso estado de espírito e se divirta como se ainda fosse uma
criança sonhadora querendo consertar o mundo. É esse o charme da história de
Damon Lindelof, Bird e Jeff Jensen, baseada numa atração temática da Disney. É
esse o convite. Por que não aceitá-lo? Sim, o desenvolvimento do plot não é
esse primor todo, há falhas em várias direções. Quando a verdadeira trama se
estabelece, muito tempo já foi gasto, o que nos faz saltar direto para o final.
Em compensação, o tom do filme é ótimo, meio anos 1950, com referências geeks
[a começar pela produtora, a A113] e gags engraçadíssimas, mas sem nunca perder
de vista o contexto e não dispensando a sensação de perigo quando necessária,
com alguma violência robótica. Em seu segundo trabalho em live action, Brad
Bird [“Os Incríveis”, 2004] imprime ritmo e fluência spielberguianas a um
enredo que pode parecer confuso, com dimensões paralelas, mas que se revela
absorvente quando as peças estão todas montadas. O elenco se diverte de maneira
notória, sobretudo George Clooney e as jovens Britt Robertson e Raffey Cassidy.
A produção talvez não esconda sua pegada de autoajuda acerca do mundo doente
por conta da negatividade entorno dele, porém isso diz mais sobre nós,
espectadores, do que sobre o filme.
Abaixe a guarda fatalista e aproveite o blockbuster mais bem
intencionado dos últimos anos. Dificilmente veremos outro parecido. [04.06.15 –
cinema]
EX MACHINA – INSTINTO ARTIFICIAL * * * ½
[Ex Machina, GB,
2015]
Ficção - 108 min
A estreia de Alex
Garland na direção resulta numa sci-fi cerebral no tom e instigante pelas
questões que levanta e nos põe a refletir. [06.06.15 – madrugada]
CORRENTE DO MAL * * *
[It Follows, EUA,
2014]
Terror - 100 min
David Robert
Mitchell converte uma ideia absurda numa experiência de medo com atmosfera
tensa até o último plano. [07.06.15]
O FANTÁSTICO ROBIN CRUSOÉ * *
[Lt. Robin Crusoe,
U.S.N., EUA, 1966]
Aventura - 110 min
A versão Disney do
livro de Daniel Defoe, estrelada por Dick Van Dyke, trata-se de uma alegoria
falsa, corrompida, à luta pelos direitos femininos. [10.06.15 – Telecine Cult]
JURASSIC WORLD – O MUNDO DOS DINOSSAUROS * * *
[Jurassic World,
EUA/CHI, 2015]
Aventura - 124 min
O cineasta Colin
Trevorrow acerta em cheio ao fazer dessa nova sequência uma homenagem
nostálgica ao filme original, lançado há exatos 22 anos. Ele sabe que, por mais
realistas que sejam os atuais efeitos especiais, não há nada de novo em ver
dinossauros correndo atrás de pessoas. Ou vice-versa. Sua solução criativa? Ser
honesto consigo mesmo. Ele e Derek Connolly, que escreveu seu filme anterior, a
sci-fi indie “Sem Segurança Nenhuma” [2012], pegaram o tratamento do roteiro
feito pelo casal Amanda Silver e Rick Jaffa e o reformularam como um revival de
“Jurassic Park – Parque dos Dinossauros” [1993], dirigido por Steven Spielberg.
O resultado funciona. E como! Trevorrow emula a sensação de deslumbramento com
a própria proeza que o primeiro filme passava tão bem, com o adendo de ser
usado como comentário acerca da inexorável substituição da sensação anterior
pelo desespero. Jeff Goldblum também verbaliza algo parecido no segundo filme
da franquia, ignorado aqui. A narrativa é consciente do lugar no qual se
coloca, da sua repetição arquetípica, se a expressão cabe. Tanto que comete uma
gag genial logo no início, com uma “pesada” que brinca em cima [esse foi sem
querer, juro] de outra bastante conhecida, e nem dá atenção quando o T-Rex
surge no fundo da cena, preferindo focar num personagem falando ao celular. Mas
relaxe, o momento do nosso herói por acidente está guardado. Até porque o astro
jurássico da vez é o Indominus Rex, um híbrido genético inteligente e sanguinário.
Depois que o monstro gigante arquiteta sua fuga e inicia a matança, a
adrenalina se mantém alta quase de maneira ininterrupta, cabendo ao carismático
Chris Pratt [“Guardiães da Galáxia”, 2014] e companhia salvarem o dia. Colin
Trevorrow conduz a aventura com mais acertos que erros, potencializando os
momentos de perigo e focando nos personagens. Muitas vezes, os dinossauros
surgem com as cabeças cortadas ou apenas no fundo da ação, mostrando que o
interesse da narrativa é humana, não tecnológica. Ótima opção. Claro,
tecnicamente é uma produção irrepreensível, do tipo segure-se na poltrona para
não ser devorado. Por outro lado, não se esquiva de um humor e diálogos
espertos, levantando questões as quais, sem aprofundá-las, anima o espectador
mais atento. Mas nada disso supera [num nível pessoal, talvez] as referências
que Trevorrow faz à própria experiência com o filme de 1993, e como transmite
isso a quem também experimentou o mesmo impacto das possibilidades oferecidas
pelo cinema. Nesse sentido, o uso do icônico tema musical de John Williams,
mesclado ao score de Michael Giacchino, é de aflorar a emoção da criança
boquiaberta: resgata coisas daquela ida ao cinema, há mais de 20 anos, capazes
de deixar um sorriso de orelha a orelha. No fim das contas, estamos diante de
uma genuína “fanfiction”, realizada com a cabeça e o coração. E todo o aparato
que dá vazão a esses dois. [11.06.15 – cinema]
MAMONAS PRA SEMPRE * * *
[Idem, BRA, 2009]
Documentário - 83
min
Cláudio Kahns se
beneficia dos muitos registros em vídeo para documentar a trajetória meteórica
da irreverente banda de Guarulhos. [14.06.15 - Netflix]
JÚLIO SUMIU * *
[Idem, BRA, 2014]
Comédia - 94 min
O elenco se
esforça, porém a direção pesada e sem timing de Roberto Berliner ["A
Pessoa é para o que Nasce", 2003], estreando na ficção, faz dessa farsa
uma experiência sacal e sem graça. [16.06.15 – Telecine Fun]
DIVERTIDA MENTE * * * * ½
[Inside Out, EUA,
2015]
Animação - 94 min
Impossível não
entrar de cabeça [eu sei...] e se encantar com a experiência engenhosa e muito
humana nos presenteada pela Pixar. A narrativa mostrando o que se passa na
mente da garotinha Riley, notadamente as cinco emoções que ajudam a compor sua
personalidade, enquanto ela lida com a mudança de cidade é uma das premissas
mais bacanas do estúdio. Embora não seja a mais original [assista no YouTube a
um episódio da série “Herman’s Head”, 1991-1994], é cativante e complexa o
suficiente para sairmos do cinema com a sensação de que algumas coisas não
serão mais as mesmas. Pelo menos eu não recordo um filme que trabalhasse de
maneira tão estimulante as mudanças de humor nos seres humanos. Óbvio que
quantidade de emoções é muito maior do que as selecionadas pelo diretor Pete
Docter [“Up! – Altas Aventuras”, 2009] e seu codiretor Ronaldo Del Carmen, mas
era preciso simplificar para não espantar o público-alvo. Eles usaram, como já
mencionei, cinco emoções básicas – Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojo –,
diferindo da classificação do psiquiatra canadense Eric Berne [1910-1970]
apenas por substituir Afeto por Nojo, esta com insuspeita cara de brócolis.
Aliás, todas as emoções possuem uma forma característica daquilo que
representam e algumas das melhores partes da animação ocorrem por conta das
suas interações umas com as outras, nem sempre harmônicas, na chamada sala de
controle, que talvez pudesse ter recebido um nome menos behaviorista. Seja como
for, a história complica quando Alegria e Tristeza são acidentalmente lançadas
para fora da sala, deixando Medo, Raiva e Nojo sem saber como contornar a
menina em estado neutro, apático. Tal destaque nas duas emoções tentando
retornar aos seus lugares nos conduz à grande mensagem da obra, comovente, e
ousada [humanista?], pela defesa da melancolia em detrimento da felicidade
constante [egoísta?] como rito de passagem. Quantas animações já tocaram na
questão da tristeza subjacente ao fim da infância? Não precisa contar muito.
Apenas deixe as fortalezas de adulto ser derrubadas por diálogos
inteligentíssimos, sacadas imaginativas [as do inconsciente e do pensamento
abstrato são fantásticas] e gags geniais num passeio pelos recantos mentais de
uma garota tentando compreender tanto o mundo quanto si mesma. Uma daquelas
experiências com poder de marcar. [18.06.15 – cinema]
O ENIGMA CHINÊS * * *
[Casse-tête
chinois, FRA/EUA/BEL, 2013]
Comédia/Drama - 117
min
Na terceira parte
da série cômico-dramática do francês Klapisch, o olhar estrangeiro sobre Nova
York dita o caos da vida do protagonista. [18.06.15 – Telecine Cult]
ENQUANTO SOMOS JOVENS * * *
[While We're Young,
EUA, 2014]
Comédia/Drama - 97
min
Dessa vez, Baumbach
reflete sobre o despertar da noção de envelhecer, e de quebra ainda discute a
ética no processo do documentário. [19.06.15]
HACKER
* *
[Blackhat, EUA,
2015]
Suspense - 134 min
Raramente esse
pretenso thriller dirigido por Michael Mann empolga ou mesmo sai do morno, com
trama chata de acompanhar. [22.06.15]
O ESPÍRITO DA COLMEIA * * * *
[El Espíritu de la
Colmena, ESP, 1973]
Drama - 98 min
A melancolia e o
medo no olhar infantil [da sensacional garotinha Ana Torrent], catalisados pela
experiência do cinema, nessa instigante obra atmosférica, e recheada de
simbolismos políticos, cometida pelo espanhol Víctor Erice. [23.06.15]
MAGGIE – A TRANSFORMAÇÃO * * ½
[Maggie, EUA/CHE,
2015]
Drama - 95 min
A atmosfera indie
impressa por Henry Hobson, estreando na direção de longas, e o esforço
dramático de Schwarzenegger perante o conflito do seu personagem diferem esse
de outros filmes de zumbis. [24.06.15]
MINIONS
* * ½
[Idem, EUA, 2015]
Animação - 91 min
O carisma dos
capanguinhas amarelos de fala hilária justifica essa prequel spin-off de
"Meu Malvado Favorito" [2010]. Na condição de coadjuvantes, eles
roubaram a cena do vilão-protagonista Gru, sobretudo na continuação de 2013.
Quando ficou claro que era inevitável uma produção focada somente nessas
criaturas cuja razão de existir é servir a um “gênio” do mal. De fato, a
primeira parte contendo seus idos primórdios e suas tentativas atrapalhadas de
encontrar um mestre para preencher o vazio existencial dão o tom certo da
narrativa. Pena estarem no trailer. Pena o enredo não melhorar muito depois
disso. Quando encontram a candidata à vilã Scarlett Overkill, o roteiro
assinado por Brian Lynch embola, morde o próprio rabo e custa a soltá-lo. A
sorte é termos Pierre Coffin, que esteve por trás de todos os filmes,
continuando como codiretor. Mantém o humor característico, além da identidade
visual da série. Fora as gags e referências à época retratada – a Londres de
1968. De tudo, o melhor ainda é a indizível linguagem dos minions, dublada pelo
próprio Coffin [portanto a salvo da dublagem nacional, cada dia infestando mais
as salas de cinema]. Eu pagaria sem pestanejar para ver tiraram a narração e os
diálogos humanos. Imaginou um “Minions” estilo “A Gangue” [2014], em que só há
a linguagem dos sinais e sem legendas? Mais fácil ousar na Ucrânia do que em
Hollywood. Certo? [25.06.15 – cinema]
RIO PERDIDO * *
[Lost River, EUA,
2014]
Drama - 95 min
Não cabe muita
esperança nessa fábula dark, carregada de estilo e presunção, escrita/dirigida
por Ryan Gosling, em sua primeira experiência atrás das câmeras. Tem cara, mas
não é cult. [29.06.15]
Julho – 21
filmes
FREQUENCIES * * *
[Idem/OXV: The
Manual, AUS/GB, 2013]
Ficção - 105 min
Instigante
discussão sobre destino versus livre arbítrio [eu sei, mais uma], com uma
embalagem curiosa e original. O britânico Darren Paul Fisher escreve, dirige e
produz esse “Romeu e Julieta” metafísico, no qual as emoções e os
relacionamentos são pré-determinados pelas frequências de cada pessoa. No terço
final, a viagem toma proporções um tanto absurdas. Porém Paul Fisher até que
consegue voltar para a linha atmosférica da história com uma fascinante teoria
envolvendo música, em particular a de Mozart. Longe de ser arrebatadora, é uma
produção pequena, bem realizada, cheia de ambição junto com referências
científicas e filosóficas. Deixa a gente pensando em algumas coisas, sem
dúvida. [01.07.15]
O EXTERMINADOR DO FUTURO: GÊNESIS * * ½
[Terminator:
Genisys, EUA, 2015]
Ficção - 126 min
Para o bem ou para
o mal, homenageia os dois primeiros filmes de James Cameron [1984 e 1991], ao
mesmo tempo que os subverte sem dó. E não digo isso de maneira negativa.
Inclusive, recomendo rever as produções [eu o fiz] para não perder nenhuma das
referências que tentam se integrar organicamente à nova premissa. Garanto que é
a parte mais divertida. Principalmente pelo fato do roteiro de Laeta Kalogridis
e Patrick Lussier ter como inspiração o conceito da linha temporal alternativa/modificada
de “De Volta para o Futuro 2” [1989] para justificar esse reboot da franquia. A
intenção é ótima. Revisitamos cenas do original sobre outro ponto de vista,
dessa vez de Alan Taylor, que chamou a atenção na série “Game of Thrones” e
migrou de vez [hum...] para o cinema com “Thor: O Mundo Sombrio” [2013]. Aqui,
comprova ser um diretor eficiente e com noção de ritmo, mas ainda sem
personalidade. Muitas vezes, Taylor copia os mesmos planos de câmera de Cameron
apenas para depois testar algo diferente. Uma delícia. Assim como as
mirabolantes reviravoltas da primeira metade da trama, capazes de fazer os mais
afeiçoados pela série [odeio a palavra fãs, embora já a tenha usado muito]
coçando a cabeça. O humor também tenta ser mais equilibrado – nada tão pavoroso
quanto a gag dos óculos e o “Talking to the Hand” de “A Rebelião das Máquinas”
[2003], ignorado junto com “A Salvação” [2009] –, com o sorriso forçado de
Schwarzenegger e o bordão “Velho, não obsoleto” retirados do segundo filme.
Aliás, o velho Arnold continua esbanjando carisma, agora como o Guardião
[spoiler?], e nem a presença de Emilia “Khaleesi” Clarke, trazendo de volta
Sarah Connor, ofusca seu sotaque forçado. Todavia, quando as surpresas
terminam, a história adquire problemas para empolgar. Há tantas questões
lançadas que pode ressoar num filme confuso para alguns espectadores. Mas não
é. O problema é “apenas” o roteiro não saber o que fazer direito com elas,
deixando até perguntas sem respostas. O início de uma trilogia, está certo. Estamos
na época em que um único filme não cabe em si. Pura deturpação comercial e que
não alivia a indulgência do caminho para onde conduzem os personagens e certas
“forçações de barra” – ainda não engoli aquele upgrade do exterminador no
final. O próprio James Cameron endossou a sequência, dizendo ser a terceira
parte da saga que ele começou há 31 anos. Eu, pelo menos, esperava que a
radicalização fosse ser mais fundamentada, sólida. Apelo e potencial sem dúvida
tem que sobra. Os direitos da franquia retornam para o “rei do mundo” em 2019.
Aí quero ver como [e se] ele vai consertar o que não tem mais jeito. [02.07.15
– cinema]
KURT COBAIN: MONTAGE OF HECK * * *
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 132
min
Brett Morgen usa
[quase] todos os recursos narrativos possíveis para nos aproximar ao máximo do
espírito inquieto do protagonista, líder relutante da banda grunge Nirvana
[1987-1994]. Às vezes, é sublime; às vezes, visceral; às vezes, lacunoso. Mas
sempre pungente. [04.07.15 – madrugada]
GOOD KILL
* * ½
[Idem, EUA, 2014]
Drama - 102 min
Por meio de uma
crise ética e moral, Niccol denuncia o "trabalho" dos pilotos de
drones em meio à "guerra ao terror" promovida pelos Estados Unidos.
[06.07.15]
KUMIKO, A CAÇADORA DE TESOUROS * * ½
[Kumiko, the
Treasure Hunter,EUA, 2014]
Drama - 104 min
É no mínimo curioso
acompanhar a quixotesca protagonista tentando escapar da própria melancolia. O
surpreendente é essa produção ser inspirada na história real da japonesa Takako
Konishi e sua suposta procura por aquela maleta cheia de dinheiro enterrada por
Steve Buscemi no filme "Fargo" [1996], dos irmãos Coen. [07.07.15]
O FRANCO-ATIRADOR * *
[The Gunman,
EUA/ESP/GB/FRA, 2015]
Ação/Suspense - 115
min
Além de atuar, Sean
Penn produz e ainda é um dos coautores dessa adaptação irregular e por vezes
aborrecida do livro do francês Jean-Patrick Manchette. [07.07.15 - com Thiago]
O INQUILINO * * ½
[Le Locataire, FRA,
1976]
Suspense/Terror -
125 min
Roman Polanski
comanda, e protagoniza, esse delírio claustrofóbico sobre paranoia e desconstrução
da personalidade. Baseado no livro do francês Roland Topor e realizado logo
após o ótimo "Chinatown" [1974], fecha a trilogia do apartamento,
composta também por "Repulsa ao Sexo" [1965] e "O Bebê de
Rosemary" [1968]. A pegada de Polanski está mais personalíssima do que
nunca, brincando com gêneros e referências, abrindo mão da consistência para
provocar estranhamento. Divide opiniões, mas cumpre seu papel. [08.07.15]
CIDADES DE PAPEL * * ½
[Paper Towns, EUA,
2015]
Comédia/Drama - 109
min
Já assistimos a
esse filme antes, em outras Sessões da Tarde, o amadurecimento caminhando junto
com a valorização da amizade. No embalo do sucesso de “A Culpa é das Estrelas”
[2014], outro livro do vlogger John Green ganha adaptação cinematográfica.
Mantiveram até a mesma dupla de roteiristas, Scott Neustadter e Michael H.
Weber, que provavelmente tiveram mais trabalho. Não li o livro, mas dizem que a
produção o supera, é mais dinâmica. O próprio Green comenta que uma cena não
existente no livro é tão boa que lamenta não ter pensado nela durante o
processo da escrita. De todo modo, a história é mais bobinha, cheia de
incoerências e personagens mal escritos. Incluindo aí a própria Margo [não vi
essa magia toda em Cara Delevingne], egocêntrica e desinteressante. Sua suposta
química com o Quentin de Nat Wolff, mais carismático, é forçada pela boa
intenção do espectador. Felizmente, o longa se volta para o trio de amigos,
Quentin, Ben e Radar, como o verdadeiro espírito da obra. Isso salva a
experiência do desastre arquitetado pelas frases feitas que saem da boca dos
personagens. Green pode até falar a língua da juventude – estadunidense –, mas,
nesse caso, deixa os arquétipos pronunciarem os diálogos. Ironicamente, o
título parece bem adequado à estrutura da trama, uma mistura de “Garota
Exemplar” [2014] versão teen com “Os Goonies” [1985] versão sem aventura. O
diretor Jake Schreier [“Frank e o Robô”, 2012] se esforça para criar uma
atmosfera de nostalgia a esse rito de passagem. Melhora de maneira considerável
quando se transforma num “road movie”, parando para refletir acerca das
mudanças que chegam com o futuro – nos Estados Unidos, é o fim da “high school”
o estopim da reflexão. Todavia, os produtores têm tanta consciência que o apelo
do filme é seu pedigree que colocam uma participação especial de um dos atores
da adaptação anterior. Para o desespero bestial da plateia púbere pré-sexo que,
isso é certo, não sabe direito nem por que está gritando. Impossível, para mim,
não repetir baixinho o bordão de Danny Glover [quem?, a mesma plateia pergunta]
na série “Máquina Mortífera”: I’m too old for this shit! Mas não desisto. Eu
acho. [09.07.15 – cinema]
DIAS DE IRA * * * ½
[Vredens Dag, DIN,
1943]
Drama - 97 min
Numa alusão ao
nazismo, Dreyer expõe a "crise de percepção" do paradigma religioso
durante a "Santa" Inquisição. [10.07.15]
CASA GRANDE * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Drama - 110 min
Felipe Barbosa
descortina sua própria descoberta do "Brasil real". Acerta aqui [o
naturalismo das atuações], erra ali [o esquema um tanto óbvio dos arquétipos e
o tom de panfletagem], num diagnóstico social ponderativo. Não é uma obra rasa
nem profunda, apenas correta em sua crítica à la Gilberto Freyre sem novidades.
[11.07.15]
UNITED PASSIONS *
[Idem, FRA, 2014]
Drama - 110 min
Fora o recente
escândalo da FIFA, esse filme tem a proeza de ser ruim até como peça
institucional de autopromoção. [11.07.15]
DEAR ZACHARY: A LETTER TO A SON ABOUT HIS FATHER * * * *
[Idem, EUA, 2008]
Documentrio - 94
min
Impossível estar
preparado para esse registro pessoal de Kurt Kuenne sobre a perda do amigo e
todo o seu desenlace ainda mais devastador. [13.07.15]
MORTDECAI – A ARTE DA TRAPAÇA * *
[Mortdecai, GB/EUA,
2015]
Comédia - 107 min
Já faz um tempinho
que Johnny Depp não protagoniza um filme digno de nota. E essa "crime
comedy" bobíssima baseada no livro do britânico Kyril Bonfiglioli
[1928-1985] não ajuda. Em nada. [14.07.15]
HOMEM-FORMIGA * * *
[Ant-Man, EUA,
2015]
Aventura - 117 min
Investe no cinema
de gênero, o "heist movie", e num humor inspirado a fim de tornar
grande o que tinha tudo para ser pequeno. Em outras palavras, eu não nutria
muitas expectativas em relação ao primeiro filme baseado no herói dos
quadrinhos criado em 1962 por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby. Sobretudo
após a saída de Edgar Wright [“Scott Pilgrim Contra o Mundo”, 2010] da direção
e a entrada de Peyton Reed, mais conhecido pelas comédias românticas, como o
ótimo “Separados pelo Casamento” [2006]. Por outro lado, já foi comprovado que,
em sua missão de dominar o mundo [cinematográfico], a Marvel não dá murro em
ponta de faca, e quando o faz usa luva de ferro. Embora seja impossível não
pensar no que o talentoso Wright entregaria, também é difícil não se divertir à
vontade com o resultado alcançado por Reed com notável equilíbrio. Claro, a
estrutura clássica em cima da temática “passar o bastão” é esquemática na
medida certa para não deixar espaço ao erro, girando em torno de arquétipos
surrados para cativar o público. E o pior é que, no geral, o plano funciona
bem, graças ao tom da produção e do carisma de seu elenco. Começando por Paul
Rudd e sua persona gente fina, aqui tendo a oportunidade de mudar o rumo da
carreira. O cara é ladrão, mas a gente torce por ele. Ponto. Michael Douglas
estava precisando voltar ao mainstream, e dessa vez sem protagonizar “porn
thrillers”. Evangeline Lilly segue sua escalada na Hollywood para as massas.
Podemos culpá-la? E Corey Stoll faz o que pode com o vilão caricato. Encare o
filme como a comédia de ação que ele é; assim a frustração com uma ou outra
derrapada infantil é um bafo de calor distante. Peyton abusa do efeito de
lentes macro, associado à janela 1:85, para nos deixar minúsculos como o
herói-título. E a brincadeira de alternar esse ponto de vista com o tamanho
real das coisas é a gag registrada do filme. Se a Marvel fosse irônica, teria
colocado Joe Johnston [“Querida, Encolhi as Crianças”, 1989] para dirigi-lo. Se
fosse ousada, teria deixado Edgar Wright reinventar o personagem. Todavia, o
UCM [vá ao Google, se você não for geek] não admite riscos fora do controle de
Kevin Feige. Mesmo que o link direto entre o fim da Fase Dois [aqui] e o início
da Fase Três [“Capitão América: Guerra Civil”, 2016] se esconda na segunda, e
um tanto forçada, cena pós-créditos finais. E quem se incomoda quando o plano,
até o momento, parece estar funcionando direitinho? Até já escuto algum reaça
encher os pulmões e gritar “chupa DC”. Hora de mudar o disco de lado, galera.
[15.07.15 – cinema, pré-estreia]
ANJO DO MAL * * *
[Pickup on South
Street, EUA, 1953]
Suspense - 80 min
Só mesmo Samuel
Fuller para fugir do maniqueísmo bruto e romantizar personagens marginais que o
cinema estereotipou. [17.07.15 – madrugada, voo Salvador-Madri]
O ESPELHO
* * * *
[Zerkalo, URSS,
1975]
Drama - 102 min
As reminiscências
de Tarkovsky poetizam e traçam o perfil da ex-URSS antes, durante e depois da
participação do país 2a Guerra Mundial. O que ficou conhecida como Grande
Guerra Patriótica. A experiência social fundida à vivência do autor, num
lirismo narrativo que transcende a suposta ordem das coisas. Como se já fosse
pouco, há um trabalho de câmera sensacional, pontuando as atmosferas
percorridas. Atores se revezam em mais de um personagem para fazer do ciclo
nietzchiano o suporte estrutural dramatizado na relação com a mãe que reverbera
no relacionamento com a ex-esposa. Mais simbólico com a própria situação da
nação impossível. Uma obra que dificilmente deixará de produzir eco. [18.07.15
– Londres]
UM DIA EM NOVA YORK * * *
[On the Town, EUA,
1949]
Musical - 98 min
Nessa primeira
parceria atrás das câmeras, Stanley Donen e Gene Kelly fazem uma divertida
homenagem à Big Apple dos anos 1940. Na verdade, trata-se no début de ambos na
direção de musicais, eles que em 1952 fariam o mais clássico do gênero,
“Cantando na Chuva”, também protagonizado por Kelly. Aqui, ele é um marinheiro
com 24 horas de folga em Nova York junto com outros dois, feitos por Jules
Munshin e o já famoso Frank Sinatra. É este último quem canta uma das melhores
músicas do filme, a minha favorita, “You’re Awful”. A produção ganhou o Oscar
de Melhor Trilha Sonora, entregue a Roger Edens e Lennie Hayton, que compuseram
as canções novas da adaptação da peça musical de Adolph Green e Betty Comden
[Broadway, 1944], também autores do roteiro. O enredo se desenvolve com ritmo
ligeiro de “screwball comedy”, embora aqui e acolá derrape na própria estrutura
e em idiossincrasias hoje ultrapassadas. O apelo da atmosfera dos musicais da
época e do talento carismático do elenco, que ainda inclui Vera-Ellen, Betty Garrett
e Ann Miller, nos faz relevar as falhas de uma sessão sempre contagiante.
[22.07.15 – madrugada, Paris]
POR QUEM OS SINOS DOBRAM * * *
[For Whom the Bell
Tolls, EUA, 1943]
Drama - 165 min
Adaptação da
considerada como a obra-prima de Ernest Hemingway, publicada três anos antes,
foca no romance e suaviza o teor político motivador do livro. O escritor
utilizou sua experiência como correspondente em Madri durante a Guerra Civil
Espanhola [1936-1939] para construir a história de um professor estadunidense
convertido num especialista em explosivos atuando ao lado dos republicanos. Sam
Wood [“Uma Noite na Ópera”, 1935] comandou a produção estrelada por Gary Cooper
e Ingrid Bergman, esta última surgindo em cores pela primeira vez. Uma das mais
belas atrizes da sua geração, foi exigência do próprio Hemingway, que inclusive
a usou como modelo para compor a personagem. Já Cooper expressa bem a
característica marcante do vencedor do Pulitzer e do Nobel da “evidência
trágica do fim” inerente à condição humana. Porém, quem rouba a cena do casal é
a grega Katina Paxinou, intérprete da cigana Pilar, tendo conquistado o Globo
de Ouro e o Oscar de atriz coadjuvante. Outro a chamar atenção é o russo Akim
Tamiroff e seu complexo Pablo. Para quem não sabe, o título foi retirado de um
poema de John Donne e justifica o romance do casal central, a evidenciar de
modo melancólico a falta de sentido da guerra. De todas as guerras. É do poeta
inglês: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do
continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa
fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus
amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte
do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles
dobram por ti.” [27.07.15 – Amsterdã]
A HISTÓRIA DA ETERNIDADE * * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Drama - 120 min
Camilo Cavalcante
faz a câmera poetizar sobre o não tempo do sertão, onde se cobram sonhos e
desejos. Sem concessões. Conheci o cineasta pernambucano em 2006, quando esteve
em Teresina ministrando uma oficina como parte do saudoso Festvídeo, evento no
qual eu iria fazer parte da coordenação dois anos depois. Trocamos figurinh...
ops, filmes, e nunca me esqueci dele me dizendo para usar o meu rigor técnico,
ou seja lá o que fosse, em prol da poesia, da narrativa poética. É justamente
isso o que não falta em seu primeiro longa de ficção, o qual toma emprestado o
nome do curta homônimo que ele lançou em 2003. Contudo, será que posso falar de
um rigor poético? Foi minha impressão ao experimentar essa fábula sobre três
mulheres em idades diferentes e seus desejos cerceados pelo lugar onde vivem. A
bem da verdade, a poesia de Camilo é mais funcional [e precisa ser?] quando versa
em cima do vilarejo no interior de Pernambuco do que nos personagens
escolhidos. A câmera fixa prende os moradores na eternidade do sertão que não
passa e nos brinda com o esmero [excessivo?] da fotografia de Beto Martins. Há
simbolismos por toda a parte, dos pássaros à imagem do sol. Nada disso nos
prepara, todavia, para o primeiro movimento [circular] da câmera, perto da
metade já – quando Irandhir Santos, num único momento, se torna maior que o
próprio filme. É uma cena sublime, para dizer o mínimo. A decupagem de Camilo
está impregnada em toda a sua narrativa poética, mesmo o leitmotiv da câmera em
movimentos pontuais quase se padronizarem simbolicamente e nunca repetirem o
impacto da primeira vez. Não se engane, esse é um filme de imagens; o roteiro,
por vezes raso e estereotipado, não chega nem perto da cinestesia magistral, e
melancólica, orquestrada por Camilo Cavalcante. O plot só se revela em sua
plenitude no terceiro ato, depois da declamação de Torquato Neto [“Cogito”], na
chuva repentina que vai formatar os desfechos trágicos [esses, sim, excessivos]
das três histórias. Apesar dessas irregularidades, o todo arrebata quando visto
dos instantes de eternidade que transcendem a obra em si. Pequenas pérolas
raríssimas no cinema brasileiro, com atuações formidáveis e um domínio do rigor
poético narrativo que me leva a entender melhor o precioso conselho que um dia
recebi. [28.07.15 – madrugada, Amsterdã]
O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD 2 * * ½
[The Second Best
Exotic Marigold Hotel, GB/EUA, 2015]
Drama - 122 min
Chegam personagens
novos para mostrar o quanto a hospitalidade indiana continua um charme à parte.
Sobretudo para os mais velhos. [28.07.15 – voo Madri-Salvador]
PIXELS
* *
[Idem, EUA, 2015]
Comédia - 106 min
Sim, há o apelo
nostálgico oitentista dos jogos de fliperama e o tributo sempre bem-vindo aos
nerds [não, passo longe de ser um]. Contudo, que roteiro mais canhestro e com
humor forçado! Parece um daqueles “clássicos B” da Sessão da Tarde que você só
lembra quando passa a chamada. Baseado no interessante curta homônimo que o
francês Patrick Jean lançou na internet em 2010, a produção desenvolve a ideia de um ataque
alienígena a pixelizar os alvos-postais. Menos a Muralha da China; essa fecha o
mercado. Chris Columbus dirige no ritmo de videogame – pelo menos, no ritmo de
um Atari. Outrora um nome de gabarito na indústria, Columbus nunca mais fez as
pazes com as bilheterias após deixar a franquia “Harry Potter” [comandou os
dois primeiros] para ficar um pouco com a família. Cada escolha, uma renúncia.
Os críticos mais “entusiastas” falam em uma boa oportunidade de diversão
original reduzida a “um filme de Adam Sandler”. E não dos melhorzinhos. De
fato, o que tinha tudo para ser uma “sci-fi comedy” em cima dos filmes de
invasão extraterrestre, com um charme extra para quem já passou dos 30 e
tantos, naufraga nas piadas sem graça que ocasionalmente funcionam. As
referências pipocam no 3D desarrumado e escuro [os óculos não estão sendo
“higienizados” direito, seu João Claudino] a todo momento, e são o melhor do
filme. Pena o roteiro assinado por Tim Herlihy e Timothy Dowling ser tão
infantil e indulgente e cheio de falhas e... Espere aí. Tem Pac-Man, Galaga,
Space Invaders, Centopeia, Donkey Kong, Q*bert. Tudo isso não conta? Sim, e
muito. Apenas reuniram a galera num jogo pobre, no qual são os bugs que saem
vencedores. [30.07.15 – cinema]
Agosto – 22
filmes
007 – A SERVIÇO SECRETO DE SUA MAJESTADE * * *
[On Her Majesty's
Secret Service, GB, 1969]
Ação - 142 min
Aquele com George
Lazenby, no qual o solteirão convicto Bond arranja uma noiva e até se casa. Sexto
filme e primeiro sem Sean Connery, dirigido por Peter Hunt, que foi editor dos
anteriores. Por isso há um estilo de cortes rápidos e frame rate acelerado nas
cenas de luta. Para o bem ou para o mal, Hunt impôs sua marca. A trama segue
com fidelidade os eventos do livro de Ian Fleming, publicado em 1963, o que
gerou alguns problemas na continuidade das produções para o cinema. Com duração
longa, forma-se uma “barriga” lá pela metade. Até o filme acelerar de novo. Há
quem considere o australiano Lazenby o pior intérprete do espião playboy, tanto
que fez apenas esse. Mas é visível que ele se diverte, até brincando com seu
antecessor na abertura. De qualquer forma, Connery retornaria no seguinte, “007
– Os Diamantes São Eternos” [1971]. O desfecho aqui é um dos mais amargos da
série. [01.08.15 – Telecine Cult]
FAUSTO
* * * *
[Faust: Eine
deutsche Volkssage, ALE, 1926]
Terror - 116 min
A adaptação feita
por F. W. Murnau da peça de Goethe continua uma experiência forte da sombria
fábula sobre a corrupção do espírito humano. Na parte visual, os efeitos
ópticos e de transição se destacam. Alguns impressionam, criando a atmosfera
onírica da narrativa. O roteiro é fiel à parte I do poema trágico, publicado em
1808 como uma peça de teatro [o texto foi retomado em 1826 com outra
abordagem]. Emil Jannings rouba todas as suas cenas como o travesso
Mefistófeles, o demônio que aposta com Deus a alma de Fausto. Mas Gösta Ekman e
Camilla Horn, como o personagem-título e Gretchen, respectivamente, também
entregam atuações formidáveis. Trata-se do último filme realizado na Alemanha
pelo cineasta por trás do clássico expressionista “Nosferatu” [1922] antes de
ir para os Estados Unidos. [04.08.15]
AURORA
* * * * *
[Sunrise: A Song of
Two Humans, EUA, 1927]
Drama/Romance - 94
min
A sensibilidade e
sofisticação de Murnau no embate amor versus condição humana é, até hoje, um
monumento do cinema. Sim, o amor está além da condição humana, do desejo, da
culpa, do medo. O marido tenta assassinar a esposa, sob a influência da amante,
mas não consegue. Arrepende-se e tem um dia para reconquistá-la. É um poema, e
o cineasta alemão, agora nos Estados Unidos, o filma como tal. O trabalho de
câmera e os efeitos ópticos são geniais, fantasmagóricos, assim como as
referências que vão do expressionismo ao romance de formação. A narrativa
passeia por diversos gêneros sem qualquer receio, nos guiando por um turbilhão
de sensações. No ápice do apuro do cinema silencioso, o domínio total do
sentido das imagens, os intertítulos vão se tornando escassos à medida que a
história progride – e quando usados trazem sacadas que quebram sua aparente
inutilidade. É como uma música com vários movimentos imprevisíveis. E nem estou
falando do uso inovador da trilha sonora e do som direto [“O Cantor de Jazz”,
lançado na mesma época, ofuscou esse aspecto]. Um filme que você encontra em
todos os filmes feitos depois dele, em maior ou menor grau, e ainda assim
conserva um caráter único, diria original. George O’Brien e Janet Gaynor,
enquanto casal que se desfaz e refaz, talvez nunca tenham sido superados. A
química é tão comovente quanto a situação em que são testados. Há momentos
sublimes, intocáveis pelo tempo. Para Truffaut, é o filme mais belo do mundo.
Não sou nem doido de discordar. No mínimo, trata-se de uma prova inconteste de
que uma obra de arte não respeita as leis físicas: é etérea, conecta passado,
presente e futuro no mesmo instante quântico. [05.08.15]
QUARTETO FANTÁSTICO * *
[Fantastic Four,
EUA, 2015]
Aventura - 100 min
Muitíssimo aquém do
esperado, visto os nomes capitaneados numa produção que nunca descobre o
próprio tom. Sim, os filmes de Tim Story [2005 e 2007] foram bobinhos, mas pelo
menos se assumiam como tal, tinham uma pegada despretensiosa. E não vou
comentar a versão de 1994 porque, sinceramente, não me lembro dela; dizem ser
bem ruinzinha. Josh Trank, diretor e corroteirista desse novo, havia feito o
interessante “Poder sem Limites” [2012] e parecia a pessoa certa para dar ao
quarteto de super-heróis criados nos anos 1960 uma roupagem cinematográfica
empolgante. Apenas parecia. De maneira visível, há no filme um abismo entre
intenção e resultado que confere desconforto ao espectador mais atento. A
primeira metade soa arrastada e mesmo assim não consegue tornar os personagens
menos rasos. O elenco se esforça, sobretudo Miles Teller. Uma pena todos
seguirem um mapa óbvio. Jamie Bell tem potencial, não tempo. Não há conflito
nos personagens, ou entre eles, que dure mais de cinco minutos. Lapidaram tanto
o roteiro que tiraram o tutano, sobra a casca do que poderia ter sido. Quando o
último ato chega, o vilão, mais uma vez o Doutor Destino, possui as motivações
genéricas de todos os vilões, além de levar o fraquinho e apressado embate
final para outra dimensão, sem graça. Trank ensaia uma pegada mais sombria aqui
e ali, como na sequência de apresentação dos poderes ainda sem controle, e até
acerta na conformação atualizada da família de Sue e Johnny Storm,
interpretados por Kate Mara e Michael B. Jordan. Contudo, o corte vem rápido
demais, pula etapas, fazendo a casca cobrir apenas o vácuo. O resultado
indulgente deixa a sensação de que o interesse da Fox em realizar o reboot era
mesmo somente manter os direitos sobre a franquia. Poderia ter feito isso sem
arrastar tanta gente talentosa junto. [06.08.15 – cinema]
AFOGANDO EM NÚMEROS * * ½
[Drowning by
Numbers, GB/HOL, 1988]
Drama/Comédia - 119
min
O galês Peter
Greenaway conta de 1 a 100 nessa fábula de humor negro personalíssima e cheia
de referências. [07.08.15]
007 – NA MIRA DOS ASSASSINOS * * *
[A View to Kill,
GB, 1985]
Ação - 131 min
Aquele que traz
Christopher Walken como vilão e marca a despedida de Roger Moore após sete
Bonds. Também é o último de Lois Maxwell, intérprete de Miss Moneypenny desde
“O Satânico Dr. No” [1962]. Moore alegou a idade [tinha 57 à época] para deixar
o cargo, enquanto Maxwell percebeu que nunca seria promovida a M. A
canção-título é interpretada pela banda Duran Duran, a contragosto de John
Barry, e concorreu ao Globo de Ouro. A trama melhora depois que deixa para trás
a parte dos cavalos, encontrando tempo para fazer o agente transar com quatro
mulheres, igualando Sean Connery no não oficial “007 – Nunca Mais Outra Vez”
[1983]. Até a capanga feita por Grace Jones [a Zula de “Conan, o Destruidor”,
1984] ele não deixa passar. Há um ótimo “setpiece” [sequência de perseguição
com logística complicada] envolvendo uma fuga num caminhão de bombeiro.
[07.08.15 – Telecine Cult]
CREEP
* * ½
[Idem, EUA, 2014]
Terror - 78 min
Patrick Brice
[diretor, ator, argumento] e Mark Duplass [ator, argumento] conseguem brincar
com nossas expectativas em relação ao estilo "found footage" nesse
terror psicológico eficiente e algumas vezes inusitado. [11.08.15]
SOB O MESMO CÉU * *
[Aloha, EUA, 2015]
Comédia romântica -
105 min
Cameron Crowe tem
estilo, sabe escrever bons diálogos e criar momentos intimistas. Porém, erra a
mão em quase tudo nessa comédia romântica boba, que sequer consegue explorar de
maneira satisfatória a cultura havaiana. [12.08.15]
MISSÃO: IMPOSSÍVEL – NAÇÃO SECRETA * * * ½
[Mission:
Impossible – Rogue Nation, EUA/HNK/CHI, 2015]
Ação - 131 min
É formidável o
fôlego do cinquentão Tom Cruise, e da própria série, para caprichar na ação e
na trama inteligente. Um dos fatores de chegarmos ao quinto filme pedindo mais,
sem dúvida, é a alternância de diretores a cada produção. Do hitchcockiano
Brian De Palma ao espirituoso Brad Bird, é sempre um aperitivo extra perceber
como os cineastas mantêm elementos característicos do universo criado por Bruce
Geller ainda na década de 1960, quando estreou como série televisiva, e ao
mesmo tempo imprimem personalidades distintas às missões do agente Ethan Hunt.
Agora é a vez de Christopher McQuarrie trazer uma atmosfera old school ao plot
que finalmente traz o Sindicato, a Spectre da série original, uma organização
secreta cuja agenda, até onde entendi, é promover o caos, tornar o mundo um lugar menos seguro. Para
complicar, a IMF é dissolvida por conta dos eventos de “Protocolo Fantasma”
[2011] – aliás, um dos grandes baratos da nova produção são as referencias
quase pontuais às anteriores, portanto esteja atento – e Hunt é perseguido pela
CIA. Para provar a existência do Sindicato, o roteiro assinado por McQuarrie
promove ótimas piruetas, mesclando sequências ora tensas ora divertidíssimas de
ação com reviravoltas e suspense noir que nos remete a clássicos como “O Homem
que Sabia Demais”, de 1956 [as cenas na ópera em Viena], e “Casablanca”, de
1942 [a personagem feita pela sueca Rebecca Ferguson, um dos destaques aqui].
Quem mais se diverte, fora Cruise e suas proezas sem dublês [a já famosa cena
dele do lado de fora do avião acontece logo no começo], é o alívio cômico feito
Simon Pegg, que finalmente vai a campo. Dentre todos os acertos, apenas o fato
do filme ser mais rápido do que suas duas horas e 11 minutos é um certificado
de que funciona muitíssimo bem. Estou curioso para ver se Tom Cruise chega aos
60 nesse pique todo. De qualquer maneira, nunca subestime o poder de uma boa
dieta. [13.08.15 – cinema]
THE PERVERT'S GUIDE TO CINEMA * * *
[Idem, GB/AUS/HOL,
2006]
Documentário - 150
min
O politicamente
incorreto Slavoj Zizek, filósofo esloveno, aproxima com inquestionável clareza
o processo do cinema e a psicanálise freudiana acerca das fantasias versus
realidade. [14.08.15]
O MÉDICO ALEMÃO * * ½
[Wakolda,
ARG/ESP/NOR/FRA, 2013]
Drama - 90 min
Lucía Puenzo adapta
o próprio livro para denunciar a complacência [alienação?] argentina com os
fugitivos da Segunda Guerra Mundial, numa narrativa correta e cheia de
simbolismos que tornam o terror da situação sutil até demais. Faltou só um
temperozinho. [16.08.15 - Telecine Cult]
COP CAR
* * ½
[Idem, EUA, 2015]
Suspense - 87 min
Quase um neo-noir
com crianças, uma premissa curiosa que se mantém enxuta. Mas, quem sabe,
pudesse ter sido mais explorada, tanto a situação em si quanto os personagens, dos
quais pouco ou quase nada ficamos sabendo. [16.08.15]
O HOMEM DE PALHA * * *
[The Wicker Man,
EUA, 1973]
Terror - 93 min
Mesmo com estética
datada, ainda se revela um sinistro terror musical que confronta cristianismo e
paganismo. [18.08.15]
LITTLE BOY
* * ½
[Idem, MEX/EUA,
2015]
Drama - 106 min
Singela e bem
intencionada narrativa de Monteverde sobre o lúdico da fé promovendo esperança
em meio à 2a Guerra Mundial. [19.08.15]
O PEQUENO PRÍNCIPE * * ½
[The Little Prince,
FRA, 2015]
Animação - 108 min
Revela-se mais como
homenagem ao clássico livro de Saint-Exupéry, debaixo de uma alegoria às
pesadas expectativas do mundo adulto cinzento e mecanizado. De certo, a
abordagem de Mark Osborne [“Kung Fu Panda”, 2008] racha as opiniões em relação
a essa nova versão de uma das obras mais lidas do século XX. Desde sua primeira
publicação, em 1943, a história do principezinho com cabelos de ouro encontrado
pelo aviador no Deserto do Saara, além de ser uma bela e melancólica fábula da
solidão infantil perante a estranheza dos adultos, vem reverberando
ensinamentos tão valiosos que viraram clichês, como “O essencial é invisível
para os olhos”. Essencial que se transforma em lema competitivo pela obsessão
de uma mãe em fazer a filha entrar num colégio elitista. O cruel programa de
estudo é abalado quando a menina tem contato com o vizinho velho e maluco e
suas histórias sobre quando seu avião caiu no deserto, fazendo-o conhecer um
menininho loiro que queria voltar ao seu planeta, o asteroide B 612, com
saudades da vaidosa rosa deixada sozinha a mercê dos baobás. É visível a
intenção de Osborne de realçar a alusão à fuga da realidade proporcionada pelo livro.
Nesse sentido o faz muito bem, recriando trechos da obra em um lindo stop
motion. Por outro lado, deixa a impressão de estar mais interessado na leitora
do que no livro, e isso pode ser frustrante para alguns. Não é o segmento mais
atraente do filme [há ecos assumidos de “Up – Altas Aventuras”, 2009], embora a
própria narrativa insiste que sim. O último ato resvala numa fantasia distópica
meio “Peter Pan esquecido no mundo adulto corporativista onde crianças precisam
ser lobotomizadas e as estrelas aprisionadas para gerar energia”. Rende
sequências visuais interessantes, sem dúvida. Mas algo se perde pelo caminho: a
consistência narrativa. O resultado final não deixa de cativar, a pedido da
raposa. Mesmo que seja por descaminhos arriscados. [20.08.15 – cinema]
BELAS E PERSEGUIDAS * *
[Hot Pursuit, EUA,
2015]
Comédia - 87 min
Reese Witherspoon e
Sofía Vergara forçam uma química inexistente, além de se atropelarem na total
falta de timing cômico. [21.08.15]
BOA NOITE, MAMÃE * * ½
[Ich Seh, Ich Seh,
AUS, 2014]
Terror - 99 min
A perturbadora
atmosfera consegue sobreviver ao twist final fácil de antecipar neste terror
psicológico austríaco. [23.08.15]
KLIP *
* ½
[Idem, SRB, 2012]
Drama - 98 min
Maja Milos usa um
estilo cru, realista [pode incomodar alguns], para retratar a juventude de
Kosovo, uma terra de ninguém desde a desintegração da Iugoslávia. Os
personagens e suas perspectivas limitadas conseguem representar um território
no limbo, dividido entre conquistar a independência e pertencer a Sérvia. [26.08.15
– madrugada]
OS PRIMEIROS HOMENS NA LUA * * ½
[First Men in the
Moon, GB, 1973]
Ficção - 106 min
Os efeitos em stop
motion do mestre Ray Harryhausen é que dão charme a essa adaptação de H. G.
Wells. [27.08.15 – madrugada]
TED 2
* * ½
[Idem, EUA, 2015]
Comédia - 115 min
O lado bom: o humor
continua ácido e politicamente incorreto. O ruim: não traz qualquer vestígio do
impacto de antes. Eu fui um dos que receberam a primeira incursão de Seth
MacFarlane no cinema como uma das melhores surpresas de 2012. Agora, sem o
frescor da ousadia, a estrutura narrativa evidencia sua indulgência.
Descaradamente arrastada, destaca-se mais pela maneira como usa as referências
ao UCP – Universo Cinematográfico Pop – do que pela história em si. E olha que
há toda uma pegada de luta pelos direitos civis. No caso, do urso que precisa
provar no tribunal que é um ser vivo e não mera propriedade. Não me incomodo
com o teor das piadas de MacFarlane e sua dupla de corroteiristas, se as mesmas
servem à narrativa. Tenho a impressão de que as gags eram mais orgânicas, ou
pelo menos bem costuradas, no filme anterior. Aqui, muitas parecem
estereotipadas, sem necessariamente mover a ação adiante. O resultado é aquela
sensação de esquetes, a maior parte reciclada de “Family Guy”, série animada do
agora cineasta exibida pela Fox. As mais interessantes conduzem nossas
lembranças a filmes como “Touro Indomável” [1980], “Antes Só do Que Mal
Acompanhado” [1987] e, a mais refinada, uma mistura de “A Praia” [2000] com
“Jurassic Park” [1993] e “Contato” [1997]. Derrapa ao repetir algumas coisas,
como o retorno do personagem de Giovanni Ribisi, e acerta por se manter fiel ao
seu humor escrachado. Se Ted, o urso, tem alguma mensagem significativa a nos
passar, é que nos dias de hoje o politicamente incorreto pode – deve – ser um
estilo de vida. Saudável ou não, vai depender se a piada for de fato engraçada.
[27.08.15 – cinema]
A COLEÇÃO INVISÍVEL * * *
[Idem, BRA, 2012]
Drama - 89 min
Wladimir Brichta
deixa de lado as caretas nesse drama que vagueia por descaminhos amargos rumo à
redenção. Baseado num conto do austríaco Stefan Zweig, foi o último trabalho de
Walmor Chagas [“São Paulo Sociedade Anônima”, 1965]. [28.08.15 – Cinemax,
madrugada]
A ESCOLHA PERFEITA * * *
[Pitch Perfect,
EUA, 2012]
Comédia - 112 min
Há momentos
hilários nessa comédia musical que funciona surpreendentemente bem, é leve e
com algo a ensinar. [30.08.15 – Netflix]
Setembro – 26
filmes
UMA TÃO LONGA AUSÊNCIA * * *
[Une aussi longue
absence, FRA/ITA, 1961]
Drama - 94 min
Alida Valli e
Georges Wilson sendo magníficos na ambígua e intimista narrativa do suíço Henri
Colpi numa França ainda ecoando os traumas da 2ª Guerra Mundial. [01.09.15]
O AGENTE DA U.N.C.L.E. * *
[The Man from
U.N.C.L.E., EUA/GB, 2015]
Ação - 116 min
Nessa versão
cinematográfica tardia da série televisiva dos anos 1960, o
diretor/corroterista Guy Richie insiste num humor forçado, ignorando todas as
indulgências cometidas no enredo bobíssimo. [03.09.15 – cinema]
BRANCO SAI, PRETO FICA * * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Ficção - 95 min
Adirley Queirós
costura gêneros num fascinante híbrido narrativo para mostrar o Brasil que
marginaliza e amputa. [05.09.15]
DOMINGO NEGRO * * *
[Black Sunday, EUA,
1977]
Suspense - 143 min
Frankenheimer
consegue manter a tensão e a atmosfera de thriller sem deixar de se preocupar
com os personagens. Baseado no livro de Thomas Harris publicado dois anos
antes. [06.09.15]
PRA FRENTE, BRASIL * * *
[Idem, BRA, 1982]
Suspense - 105 min
Roberto Farias
constrói o primeiro thriller político a olhar para os "anos de
chumbo" da ditadura militar. Seu grau de filme-denúncia ainda é debatido,
pela estratégia à época de "entrelinhar" a participação dos militares
nos sequestros, torturas e assassinatos dos tidos como subversivos. Mesmo
assim, o filme foi interditado pela censura. Para bom entendedor, a narrativa
absorvente pode fornecer as pistas necessárias. [07.09.15]
PARA SEMPRE TEU, CAIO F. * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Documentário - 90
min
O documentário em
si pode ter um acabamento sofrível, mas a figura lúcida, carismática e
talentosa do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu ["Morangos Mofados",
1982] o extrapola com absurda - e não surpreendente - notoriedade. [07.09.15 -
Canal Brasil]
ZERO MOTIVATION * * ½
[Efes Beyahasei
Enosh, ISR, 2014]
Comédia - 97 min
A israelense Talya
Lavie debuta na direção de longas nessa comédia de humor negro com pegada à la
"M.A.S.H." [1970]. [08.09.15]
TONY ROME
* * ½
[Idem, EUA, 1967]
Suspense - 110 min
Frank Sinatra
esbanja todo o cinismo do personagem-título extraído dos livros de Marvin H.
Albert nesse neo-noir sessentista com algumas boas tiradas. [10.09.15 –
madrugada]
NOCAUTE
* *
[Southpaw, EUA,
2015]
Drama - 124 min
Fuqua nocauteia com
dose cavalar de melodrama o espectador e o personagem de Gyllenhaal, esse
esforçado para dar àquele [àqueles?] algo além do formulaico em relação a
filmes de boxe e redenção. [14.09.15]
ARIEL
* * ½
[Idem, FIN, 1988]
Drama - 73 min
O desejo da
liberdade pela fuga [em todos os sentidos] é o que move os personagens desse
segundo filme da Trilogia do Proletariado de Aki Kaurismäki com notável
economia narrativa. [15.09.15]?
MORTE NO INVERNO * ½
[Dead of Winter,
EUA, 1987]
Suspense - 101 min
A primeira metade é
intrigante e tem atmosfera de thriller psicológico, graças ao esforço de Arthur
Penn ["Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas", 1967]. Todavia o enredo
descamba para o tosco após revelar do que realmente se trata. Tanto que nem
chega a creditar a fonte, o livro escrito por Anthony Gilbert e que já havia
gerado uma adaptação para o cinema em 1945. [15.09.15]
NOS BASTIDORES DA NOTÍCIA * * *
[Broadcast News,
EUA, 1988]
Comédia/Drama - 133
min
Além de mostrar o
agitado [tenso?] dia a dia de uma emissora de TV em Washington, James L. Brooks
["Laços de Ternura", 1983] discute ética jornalística sem tirar a
atenção dos personagens. Ótima atuação do trio principal - Holly Hunter,
William Hurt e Albert Brooks -, sobretudo Hunter, cujo papel havia sido escrito
para Debra Winger. [16.09.15]
CASANOVA JÚNIOR * * ½
[Casanova Brown,
EUA, 1944]
Comédia - 94 min
Não envelheceu bem
essa quarta adaptação da peça "Little Accident" [1928], de Floyd Dell
[autor do livro que a inspirou] e Thomas Mitchell [sim, o ator de "No
Tempo das Diligências", 1939], acentuando as indulgências da metade final.
Dirigido por Sam Wood, o charme do elenco encabeçado por Gary Cooper ainda se
sobressai, mesmo sendo um pouco difícil comprar o enredo como um todo. E tem
quem diz tratar-se da melhor versão. [16.08.15 - Telecine Cult]
STARRY EYES * * *
[Idem, EUA/BEL,
2014]
Terror - 98 min
Terror psicológico
indie que consegue escapar dos clichês do gênero e ainda ser perturbador e
cheio de camadas. Então não espere por sustos ou muletas narrativas sonoras
nessa fábula perversa da dupla Kevin Kölsch e Dennis Widmyer sobre uma
aspirante a atriz em busca do papel que transformará [literalmente] sua
existência. Além de “Cisne Negro” [2010] e “Fausto” [1926], há ecos de “A
Mosca” [1986], com um ato final sanguinolento ao extremo. [17.09.15 –
madrugada]
O HOMEM IRRACIONAL * * *
[Irrational Man,
EUA, 2015]
Drama - 95 min
Outra revisão de
Dostoiévski por Woody Allen, dessa vez usando Joaquin Phoenix para
dessacralizar o pensamento filosófico. Os imparciais vão dizer que “Crime e
Castigo” já foi base para filmes melhores do cineasta, como “Crimes e Pecados”
[1989] ou “Match Point” [2005], e que suas citações de Kant [a mentira],
Kierkegaard [a liberdade de escolha], Heidegger [“Quem precisa de mais um livro
sobre Heidegger e o nazismo?”], Sartre [“O inferno são os outros.”] e Beauvoir
[“Em uma sociedade machista, a mulher é sempre vista a partir de sua relação
com o homem."] são estudantis. Quem se importa quando os diálogos são
deliciosos e a atmosfera de cinema à moda antiga é o último refúgio perante as
produções manufaturadas numa impressora 3D? Além disso, há um quê de
subversividade em optar por cometer um crime como um ato existencial, assim
como a [batida, eu sei] discussão acerca da moralidade de um assassinato numa
sociedade com valores decadentes. Apenas reflete o cinismo da [ir]racionalidade
pós-temporânea. A narrativa enxuta flerta com o suspense à sua maneira, lúcida
sobre o resultado alcançado. Se parece a primeira versão de um roteiro “em
progresso”, prova que Woody Allen é bom até quando põe o ponto no lugar da
vírgula. Por mim, ele pode continuar fazendo remakes de si mesmo até os 100
anos. E eu torço para que chegue lá. [17.09.15 – cinema]
MAZE RUNNER: PROVA DE FOGO * * ½
[Maze Runner: The
Scorch Trials, EUA, 2015]
Ficção/Aventura -
131 min
Wes Ball consegue
fazer um upgrade na narrativa, agora toda focada na ação, sem pseudo-metáforas
adolescentes. O lance é sobreviver ao deserto distópico do segundo livro da
trilogia “spec-lit” de James Dashner. Embora longo, tem ritmo e uma paquerada
com o cinema de zumbis. É o esforço de Ball em capturar a ação, ora sendo
autêntico ora mero discípulo de “O Senhor dos Anéis” [2001-2003], que merece
nota num subgênero com potencial para dizer muito mais. [17.09.15 – cinema]
COM 007 VIVA E DEIXE MORRER * * *
[To Live and Let
Die, GB, 1973]
Ação/Aventura - 121
min
Aquele com Roger
Moore no papel do espião pela primeira vez, numa aventura à la blaxploitation,
tentativa de atualizar a franquia para os anos 1970. Vodu, funeral de jazz em
New Orleans, vilões negros, sexo inter-racial [termo, felizmente, em desuso],
os elementos estão todos no roteiro assinado por Tom Mankiewicz. Mas ainda não
foi dessa vez que tivemos uma bondgirl negra, a tarefa ficou com Jane Seymour
[“Em Algum Lugar do Passado”, 1980]. Moore tenta se desvencilhar da sombra de
Sean Connery, que abençoou sua caraterização. Perde-se o cinismo do escocês,
ganha-se o charme britânico genuíno. Não há a presença de Desmond Llewelyn como
Q e nem John Barry cuidando da trilha sonora.
Trouxeram George Martin [produtor musical dos Beatles], que trouxe Paul
McCartney e sua canção-tema ouvida até hoje. A famosa cena 156, com sua
descrição de uma linha, resulta na interminável perseguição de lancha, quem
sabe empolgação do diretor Guy Hamilton. [20.09.15 – Telecine Cult]
O FIM DE SHEILA * * * ½
[The Last of
Sheila, EUA, 1973]
Suspense - 120 min
Autêntico
"whodunit" [quem matou?] com plot twists que conseguem desafiar até o
espectador mais atento. Herbert Ross [“A Garota do Adeus”, 1977] dirige esse
roteiro escrito por Stephen Sondheim e Anthony Perkins. Sim, o autor/compositor
de musicais da Broadway e o intérprete de Norman Bates em “Psicose” [1960], de
Hitchcock. Fruto de quando os dois se relacionavam e faziam jogos com os
amigos, a trama reúne um grupo de pessoas, todas ligadas à indústria
cinematográfica, num iate pelo sul da França para serem testadas pelo
amargurado viúvo da Sheila do título. A virada da metade, porém, subverte o
gênero e quebra as expectativas, levando a experiência de detetive para
caminhos menos prováveis. Claro, as pistas estão lá, mas somente as processamos
com o desfecho resolvido. Talvez a explicação seja tão didática quanto absurda
em algumas passagens. O fato é que o processo tem algo de fascinante e ousado,
além do comentário metalinguístico, e o elenco entra no jogo apenas com um
único objetivo, nos enganar. A carpintaria da narrativa é bem articulada;
sequer desconfiamos do elemento mais óbvio de todos: a ambiguidade contida no
próprio título da produção. Ops, já estou falando demais... [21.09.15]
A ESPIÃ QUE SABIA DE MENOS * * ½
[Spy, EUA, 2015]
Comédia - 130 min
Melissa McCarthy é
o grande trunfo dessa comédia de ação que traz a "versão cômica
feminina" de James Bond. De fato, a ideia veio ao diretor/roteirista Paul
Feig [“Missão Madrinha de Casamento”, 2011] quando assistiu ao reboot da
franquia, “007 – Cassino Royale” [2006]. Como sempre, é no humor físico que
McCarthy se destaca de colegas de peso como Jude Law e Jason Statham. O roteiro
é esperto e deixa a comédia partir dos personagens, não da trama em si. Isso
permite a Feig caprichar na ação com seriedade e até uma boa dose de violência.
Aqui e acolá há uma forçada de barra e uma leve indecisão do tom na metade
final; talvez a produção merecesse uma resolução mais inspirada. O lado bom é
que o filme funciona, o riso é puxado de nós de forma natural. Dá para curtir
as referências e desopilar sem se sentir ofendido. Se você, claro, não
pertencer à patrulha do politicamente correto. [22.09.15]
O CONTO DOS CONTOS * *
[Il Racconto dei
Raccont, ITA/FRA/GB, 2015]
Drama - 134 min
Adaptação de luxo
do "Pentamerone" [1634], de Giambattista Basile, por Mateo Garrone
["Gomorra", 2008], que investe na fantasia após duas obras calcadas
no realismo. A experiência é sacal e raramente interessante, com ares sombrios,
mas narrativamente estéril. Até teria apelo o hype dos contos de fada versão
adulta [ou original, pois foram escritas assim antes de Hans Christian Andersen
ou dos irmãos Grimm] se resultassem em filmes palatáveis, e não aborrecidos
como esse. Três núcleos se revezam em desequilíbrio numa época de reis,
monstros marinhos, bruxas e ogros. Apesar do visual bem cuidado, não emociona,
empolga ou diz a que veio. [23.09.15]
QUE HORAS ELA VOLTA? * * * *
[Idem BRA, 2015]
Drama - 108 min
Numa só tocada,
Anna Muylaert escancara um desconforto social velado, o choque de gerações e
uma Regina Casé formidável. Como a roteirista e diretora conseguiu isso? O
truque aparenta simples, mas tem seu grau de dificuldade: olhar para si mesma
de fora. Ver o Brasil e suas relações sociais como um estrangeiro. Um estranho
dentro do seu próprio universo. É exatamente essa a sensação que o filme joga
para nós, esse soco autoconsciente com impacto certeiro para nos acordar do coma
cultural. Muylaert põe uma lente de aumento nos detalhes que, no nosso
cotidiano pequeno burguês [ainda usam o termo?], passam completamente
despercebidos. Ora o que vemos é cruel ao extremo ora apenas patético. Mas não
vivenciamos isso no dia a dia sem qualquer tipo de abalo? Não perpetuamos um apartheid
social ao delegarmos funções e modos de tratamento com base no poder
aquisitivo? Por que é necessária uma obra de arte para nos mostrar o óbvio?
Porque somos incapazes de uma autocrítica sem um dedo nos julgando.
Infelizmente. Contudo, reduzir a experiência ao enfoque patrões-empregados é
ser um ativista míope. A produção é muito mais do que isso. É um retrato
tragicômico de como as introjeições sociais se enraízam no fundo de nossas
próprias intenções, todas boas [há senhas para entrar no inferno], e apenas um
agente caótico pode desequilibrar o desarranjo culturalmente aceito. Por isso a
personagem feita pela excelente Camila Márdila me remeteu, em certo ponto, a
Terence Stamp em “Teorema” [1968], de Pasolini; ela chega para catalisar a
percepção da protagonista sobre si mesma, assim como a dos membros da família
patronal, que vão da caricatura [Karine Teles] ao inacreditável [Lourenço
Mutarelli]. O conflito pontuado pelo choque de realidade da filha ao descobrir,
sem compreender, a verdadeira condição da mãe reserva camadas complexas de uma
cebola de comportamentos que, não surpreendentemente, diz muito mais sobre o
espectador do que sobre a diegese tão bem encenada. Sim, somos o desconforto a
achar graça, pena e revolta de nossas próprias atitudes. De maneira feliz, o
impulso panfletário não faz Muylaert se esquecer de contar uma boa história,
guiada pelo humanismo e pela atuação de Regina Casé. A naturalidade e as
nuances de sua composição são brilhantes, driblando até mesmo as cenas mais
esquemáticas do roteiro, como a da piscina. O sentimento contido na sua última
fala quebra todas as nossas defesas sem parecer que ela está atuando. Não, esse
não é um filme fácil de assistir. É obrigatório. Sobretudo para nós, que
estamos nele. [23.09.15 – com Lívia]
HOTEL TRANSILVÂNIA 2 * * ½
[Hotel Transylvania
2, EUA, 2015]
Animação - 89 min
Uma quase
ininterrupta sucessão de tiração de sarro com os próprios personagens, umas
mais inspiradas do que outras, arrematando sobre aceitação. O russo Genndy
Tartakovsky continua como diretor, e o roteiro agora tem a pegada nada sutil de
Adam Sandler. A estrutura narrativa é questionável e as melhores piadas já
estavam no trailer. No qual, aliás, funcionam melhor. [24.09.15 – cinema]
EVERESTE
* * ½
[Everest, GB/EUA, 2015]
Drama - 121 min
A recriação da
trágica escalada de 1996 se apoia na tensão e no realismo alcançados pelo
islandês Baltasar Kormákur [“Contrabando", 2012]. Baseado em “No Ar
Rarefeito”, livro do jornalista Jon Krakauer [também autor de “Na Natureza Selvagem”,
que rendeu o filme de Sean Penn], um dos sobreviventes do fatídico 10 de maio,
conta com extenso elenco famoso e apuro técnico para fazer o espectador se
sentir no próprio Monte Everest. Entre sonhos desfeitos, abuso comercial da
natureza, mortos e feridos, o que fica é o frio de um espetáculo onde a morte
disputa lado a lado com a insistência da vida. [24.09.15 – cinema]
EU TE MATAREI, QUERIDA! * * *
[My Cousin Rachel,
EUA, 1952]
Drama/Suspense - 98
min
A força da
narrativa, adaptada do livro de Daphne Du Maurier, ainda se sustenta bem em sua
atmosfera e, sobretudo, ambiguidade. Que ecoa para além do trágico desfecho.
Por vermos através dos olhos desconfiados do personagem de Richard Burton,
começando a se destacar no cinema, nossa própria percepção da Rachel de Olivia
de Havilland é tendenciosa. Mesmo a estrutura, de um modo geral, tornar óbvio
esse aspecto ambíguo com fins de conflito dramático, não deixa de ser
instigante a maneira como o roteiro de Nunnally Johnson e a direção de Henry
Koster trabalham em cima disso. Tudo para plantar uma dúvida que reverbera até
hoje. [28.09.15]
GÉMINIS
* * ½
[Idem, ARG/FRA,
2005]
Drama - 80 min
Albertina Carri
tira o véu de aparências da família de classe média num drama instigante
catalisado pelo incesto entre irmãos. A cineasta argentina, em seu terceiro
longa, tenta equilibrar sensibilidade e choque sem falso moralismo para mostrar
as consequências de pais alienados [Cristina Banegas, no fio da navalha] e
ausentes [Daniel Fanego]. O desfecho traz um interessante plano-sequência que
sintetiza como a hipocrisia sempre resolve as coisas com o mesmo véu de
aparências, cobrindo uma ferida difícil de curar. [28.09.15]
A CONVOCAÇÃO * *
[The Calling,
EUA/CAN, 2014]
Suspense - 108 min
A absurda premissa
extraída do livro de Inger Ash Wolfe até tem seu potencial macabro, porém a
direção morna do sul-africano Jason Stone teima em perseguir os clichês do
gênero. Termina se revelando apenas uma experiência sonolenta sobre um serial
killer com motivações religiosas. Onde foi parar Susan Sarandon? [30.09.15 –
Max]
Outubro – 27
filmes
PERDIDO EM MARTE * * *
[The Martian, EUA,
2015]
Ficção - 141 min
Ridley Scott
transforma o livro de Andy Weir numa verdadeira experiência cinematográfica
sobre como sobreviver sozinho no planeta vermelho. E ninguém melhor do que
Jason Bourne, vulgo Matt Damon, para nos fazer acreditar que isso é possível. Na
pele do astronauta-botânico Mark Watney, tido como morto pela tripulação
durante uma tempestade de areia, ele precisa descobrir como ficar vivo enquanto
o pessoal da NASA decide se é possível, e como seria, resgatá-lo. Tirando o
fato do filme ser lançado apenas alguns dias depois do anúncio da descoberta de
água em Marte, essa é a melhor parte, ironicamente: o personagem dando uma de
MacGyver para plantar batatas num lugar em que, até onde sabe, nada cresce. Que
coisa, não? Imagino o desespero de Scott ao ser informado com dois meses de
antecedência pela própria NASA que seu filme estrearia com um grande buraco na
premissa. E justo um de seus melhores trabalhos nos últimos anos. Fazer o quê?
Cancelar uma produção de 108 milhões de dólares? Como diz Watney em determinado
momento: “Foda-se, Marte.” Por sorte, o resultado entregue é sólido o bastante
para tal desencontro não passar de uma anedota divertida quando for vista em
retrospecto no futuro. Aliás, o humor é um dos elementos mais espertos da prosa
de Andy Weir, mantido no roteiro de Drew Goddard [“Cloverfield – Monstro”,
2008]. Inclusive, o roteirista resolve bem um dos problemas da obra: por ser um
livro, a narração de Watney é feita por um diário de bordo que escreve, e em
certos trechos é difícil comprar que tenha escrito tudo aquilo no curto
intervalo entre um desastre e outro. No filme, soa mais lógico e dinâmico o
protagonista documentar tudo através de videologs. Mas em ambos, o preciosismo
com os detalhes e o realismo da narrativa [até onde é cinemático, claro] se
convertem na atração principal. Uma sci-fi em Marte sem alienígenas? Isso
mesmo. O diretor de “Alien – o 8º Passageiro” [1979] nunca perde o tom de
crônica acerca de um homem tentando voltar para casa, usando a ciência para
manter o próprio otimismo. Estimulante até quando exagera no didatismo. Matt
Damon faz muito bem o link com o emocional do espectador, embora seu dublê de
corpo esquelético numa cena force a barra um pouco. O resto do elenco se
articula no tabuleiro esquemático que a história pede, e se seus personagens
não são aprofundados é porque há história demais no jogo. O que importa mesmo é
que Marte não era cenário de um ótimo filme fazia um bom tempo. Como provável
planeta a ser colonizado nas próximas décadas, Hollywood faz sua parte para
provocar o zeitgeist da colonização espacial – e nesse pacote temos também,
como exemplos recentes, “Gravidade” [2013] e “Interestelar” [2014]. Não é à toa
a NASA divulgar água em Marte na mesma semana que “The Martian” [prefiro esse
título à tradução genérica] aporta nos cinemas. Trata-se de uma anedota
sofisticada demais para ser apenas uma anedota. [01.10.15 – cinema]
LUGARES ESCUROS * *
[Dark Places,
GB/FRA/EUA, 2015]
Suspense - 113 min
Além da estrutura
aborrecida em cima de flashbacks, é difícil aceitar os elementos forçados da
trama adaptada do livro de Gillian Flynn e a direção sem pegada firme de Gilles
Paquet-Brenner ["A Chave de Sarah", 2010]. O resultado dá sono. [05.10.15]
EVERY THING WILL BE FINE * * ½
[Idem,
ALE/CAN/FRA/SUE/NOR, 2015]
Drama - 114 min
Em ritmo literário,
Wim Wenders tenta driblar o melodrama nessa história sobre as coisas que não
superamos - ou que demoramos a. O roteiro de Bjorn Olaf Johannessen, focado
exclusivamente nos personagens, parece mais promissor do que o resultado obtido
pelo cineasta alemão, que comete alguns excessos. Apreciá-lo ou não, vai
depender mais da não expectativa e do estado de espírito do espectador.
[07.10.15]
A TRAVESSIA * * *
[The Walk, EUA,
2015]
Drama - 123 min
A vertigem
proporcionada pelo 3D dos planos de câmera de Robert Zemeckis só não supera a
proeza artística do equilibrista francês Philippe Petit em 7 de agosto de 1974.
Quando atravessou por oito vezes as ainda inacabadas torres do World Trade
Center. A façanha já havia sido cinematizada no ótimo documentário de James
Marsh, “O Equilibrista” [2008], premiado com o Oscar e outros prêmios
importantes. Na balança, o desequilíbrio: o real sai na frente da ficção.
Apesar de todo o esforço de Joseph Gordon-Levitt e seu sotaque [se fosse Wagner
Moura ninguém deixava passar] e do excitante clima de “heist movie” – o ato em
si é ilegal –, o maior triunfo da produção é fazer com que nos sintamos a 400
metros de altura junto com o personagem. Em outras palavras, esse é um filme
para se assistir em terceira dimensão. Ponto final. Os plongées sobre o homem
no cabo, ou mesmo na beira do prédio de 110 andares, resultam num teste de
resistência da poltrona. Sobretudo para aqueles espectadores que podem ter
algum problema com altura, como eu. Até relevamos os clichês contidos no
roteiro, de Zemeckis e Christopher Browne, e suas falhas estruturais [as
constantes intervenções de Gordon-Levitt em cima da Estátua da Liberdade, a
narração muitas vezes expositiva demais – e que funcionava melhor no
documentário por ter sido feita pelo próprio Petit]. Ou mesmo a tendência
hollywoodiana à simplificação e rasura dos personagens; suas ações os definem,
dizem os manuais. A cereja do bolo aqui é a sensação cinestésica. Pode não
parecer, mas isso nos empurra [o trocadilho veio espontâneo] a diversas
questões ligadas à condição da arte mediante a obsessão do artista. Está lá, no
vazio cortejado por Philippe Petit como uma celebração da vida, não como um
desejo de morte. Sua realização trouxe o belo para próximo do termo impossível.
[08.10.15 – Cinépolis Rio Poty]
PETER PAN
* * ½
[Pan, EUA/GB/AUS,
2015]
Aventura - 111 min
Joe Wright entrega
essa "história de origem" dos clássicos personagens de J. M. Barrie
como um lúdico concerto visual. [09.10.15 – Cinemas Teresina]
A MORTE CONVIDA PARA DANÇAR * *
[Prom Nght, CAN,
1980]
Terror - 92 min
Cult oitentista do
gênero "slasher movie", é uma das gêneses da franquia
"Pânico", de Wes Craven. Mas a Rainha do Grito, Jamie Lee Curtis,
força pouco as cordas vocais. [11.10.15 – Casa da Regina]
007 – OS DIAMANTES SÃO ETERNOS * * *
[Diamonds Are
Forever, GB, 1971]
Ação - 120 min
Aquele em que Sean
Connery faz o primeiro "comeback" ao personagem mais conhecido da sua
carreira. O segundo foi 12 anos depois, no não oficial “007 – Nunca Mais Outra
Vez” [1983]. Dirigido por Guy Hamilton, há algumas piadas internas sobre a
ausência do ator escocês no filme anterior, quando foi substituído por George
Lazenby. O produtor Albert R. Broccoli trouxe Tom Mankiewicz à série para
lapidar o roteiro do veterano Richard Maibaum, embora a estrutura de “complicar
a barriga” continue intocada. Temos a primeira bondgirl estadunidense, Jill St.
John, e a música-tema novamente interpretada por Shirley Bassey, da impagável
“Goldfinger”, da produção de 1964. O arqui-inimigo Blofeld, líder da
organização Spectre, é outro elemento forte, com seus planos de megalômano. Por
conta do alto salário exigido por Connery, tiveram que enxugar gastos com os
efeitos especiais. Algo, infelizmente, muito sentido. [12.10.15 – Telecine
Cult]
EU, VOCÊ E A GAROTA QUE VAI MORRER * * *
[Me and Earl and
the Dying Girl, EUA, 2015]
Comédia dramática -
105 min
Alfonso Gomez-Rejon
encontra leveza em temas pesados, com direção equilibrada e longe do melodrama.
Adaptado do livro de Jesse Andrews pelo próprio autor, pega carona no sucesso
da “sick-lit” para mostrar o sempre duro, para os estadunidenses, fim da high
school. Dessa vez, as referências cinematográficas trazem um atrativo extra num
filme que também se destaca por sua atmosfera visual. O título não poderia ser mais literal, e a
narrativa ecoa tanto “As Vantagens de Ser Invisível” [2012] quanto “A Culpa é
das Estrelas” [2014]. O foco sensível na jornada dos personagens e nas relações
entre eles tenta desconstruir as expectativas óbvias, aliado ao fato de possuir
um ótimo casting. Humano e humorado sem afetar-se, essa comédia dramática indie
atinge bem o ponto sem grandes atropelos. [12.10.15]
MIA MADRE
* * *
[Idem, ITA/FRA,
2015]
Drama - 106 min
Com traços
fellinianos, Nanni Moretti elabora o processo da perda enquanto reflete o
próprio processo cinematográfico. [12.10.15]
HORAS DE DESESPERO * *
[No Escape, EUA,
2015]
Ação/Suspense - 103
min
A tensão
orquestrada por John Erick Dowdle ["Assim na Terra Como no Inferno",
2014] é, em vários momentos, de se contorcer na poltrona. Porém, o roteiro
rasteiro dele e do irmão Drew é de fato maniqueísta e xenófobo demais para ser
relevado. [13.10.15 – Cinépolis Rio Poty]
OS DEMÔNIOS * * ½
[The Devils, GB,
1971]
Drama - 109 min
Talvez o filme mais
controverso de Ken Russell, que recria sem sutilezas o caso das freiras
"possuídas" de Loudun, França, em 1634. Daquela época em que a Nada
Santa Inquisição "confundia" histeria causada por repressão sexual
com o que ela queria que fosse. Mesmo com suas falhas de construção e exageros,
o filme é uma porrada. [14.10.15]
ANIVERSÁRIO MACABRO * ½
[The Last House on
the Left, EUA, 1972]
Terror - 84 min
O début de Wes
Craven no cinema é uma versão escatológica de "A Fonte da Donzela"
[1960]. Para muitos, cult. [14.10.15]
A COLINA ESCARLATE * * *
[Crimson Peak, EUA,
2015]
Terror - 119 min
Notável esforço de
del Toro em sobrepor a atmosfera ao susto, mesmo que o tal romance gótico não
vingue mais. Mia Wasikowska é uma aspirante à escritora em pleno século XIX,
lidando com convenções machistas que a impõem acrescentar romance à sua
história de fantasmas. O longo primeiro
ato a faz se apaixonar pelo aristocrata inglês em decadência feito por Tom
“Loki” Hiddleston e ir morar com ele a irmã [Jessica Chastain] na carcomida
mansão Allerdale Hall. É lá onde a jovem vai descobrir que histórias de
fantasmas podem ser tão verdadeiras quanto sórdidas. Mais uma vez, o cineasta
mexicano prova que é um diretor mais inventivo do que um roteirista singular.
Sim, ele e Matthew Robbins estruturam muito bem o roteiro em cima dos elementos
da literatura clássica, algo que encontra eco nas atuações afetadas e nos
diálogos idem. Coisas do estilo, é preciso entrar no jogo. Todavia, o
desenrolar do mistério não reserva nenhuma surpresa acachapante. O forte da
narrativa emerge do seu visual, da experiência cinemática que Guillermo del
Toro concebe a partir de um filme de assombração à moda antiga. Claro, com todo
o requinte tecnológico do século XXI. O design de produção de Thomas E. Sanders
e a direção de arte de Brandt Gordon [discriminaram as duas funções]
transformam Allerdale Hall no personagem mais expressivo da produção, explorado
com esmero sombrio pela fotografia de Dan Lausten. Também destaco o eficiente
uso das cores no figurino de Kate Hawley, sobretudo o amarelo, habitual
representação do medo. Medo esse construído por del Toro como conceito de cena,
em torno do contexto dramático, e não apelando para os clichês de susto
gratuito. Sem falar na concepção horripilante dos fantasmas e as referências
que trazem. É possível não sentir medo durante a projeção? Com certeza, a
reação vai de cada um [eu mesmo não senti]. O que vale é a intenção e como o
diretor a busca. Essa é a discussão, os instrumentos usados, e nesse aspecto o
trabalho de mise-en-scène aqui é anacronicamente mais sofisticado que 95% da
remessa atual do gênero. Pode não ser uma sessão de cinema magnífica como “A
Espinha do Diabo” [2001] e “O Labirinto do Fauno” [2006], duas das melhores
obras do cineasta. Mas só pela tentativa de desanuviar um pouco o que está
desgastado vale o ingresso. Quem sabe, até mais do que isso. [15.10.15 –
Cinemas Teresina]
007 CONTRA O HOMEM COM A PISTOLA DE OURO * * *
[The Man with the
Golden Gun, GB, 1974]
Ação - 125 min
Aquele do terceiro
mamilo de Christopher Lee, que faz o vilão Scaramanga, e do famoso salto em
360º num AMC Hornet sobre a ponte semidestruída. Um dos maiores fracassos da
franquia em termos de bilheteria, consequência de uma produção conturbada.
Tanto que dissolveu a parceria entre Albert R. Broccoli e Harry Saltzman, assim
como marca a última direção de Guy Hamilton após quatro Bonds. O roteiro, assinado
por Tom Mankiewicz e Richard Maibaum, pega carona na crise de petróleo pela
qual passava a Inglaterra para contextualizar os planos do personagem de Lee,
que era primo do autor Ian Fleming. A base-esconderijo da MI6 na Tailândia é
claramente inspirada nos cenários expressionistas de “O Gabinete do Dr.
Caligari” [1920]. O compositor John Barry, ausente no filme anterior, teve
apenas três semanas para fazer o score, que ele considera o mais fraco de
todos. A sueca Britt Eckland faz Mary Goodnight, recorrente nos livros mas
usada no cinema apenas dessa vez, enquanto o francês Hervé Villechaize
imortaliza Nick Nack, o sinistro capanga-mordomo anão de Francisco Scaramanga.
[17.10.15 - Telecine Cult]
BATA ANTES DE ENTRAR * ½
[Knock Knock, EUA,
2015]
Suspense - 99 min
O tom de sátira até
tenta, mas não consegue salvar essa tortura "sadomoralista" de um Eli
Roth meio caretão. [18.10.15]
ENCONTRO MARCADO * * ½
[5 to 7, EUA, 2014]
Romance - 96 min
Texto elegante de
Victor Levin, também dirigindo, sobre as diferenças culturais de um caso
extraconjugal – o conservadorismo estadunidense versus o liberalismo francês.
Só não consegue deixar de forçar no final um sentimentalismo melancólico.
[18.10.15]
BEASTS OF NO NATION * * *
[Idem, EUA, 2015]
Drama/Guerra - 137
min
Impossível assistir
a esse drama de guerra sem participar dele, sobretudo quando a narrativa é
eficiente na nossa imersão e [quase] evita concessões. Discutir se a violência
encenada por Cary Joji Fukunaga [“True Detective – 1 ª Temporada”] possui apelo
estético é retroceder a 2002, quando os críticos levantaram a mesma questão com
“Cidade de Deus”. Claro que possui, mas como recurso narrativo dentro de um
contexto dramático. O cinema sempre fez isso, apesar de algumas doses bem
exageradas. Ops, eu falei cinema, que coisa! A gente esquece que se trata de
uma produção original da Netflix, o primeiro longa metragem do site de
streaming, tão sólido e pungente é o resultado. De qualquer modo, foi pensado
como cinema, do som à fotografia [do próprio diretor], e lançado
simultaneamente em algumas salas nos Estados Unidos – enfrentando o boicote das
principais redes de distribuição. Para o bem ou para o mal, quando o futuro
bate à porta, ela se abre independente da nossa oposição. Se o novo modelo de
distribuir audiovisual vai pegar ou não [há outros exemplos], o que nos cabe é
observar e extrair disso o melhor. Em relação ao filme em si, adaptado do livro
de Uzodinma Iweala também por Fukunaga, existem ecos tanto de Terrence Malick
[“Atrás da Linha Vermelha”, 1998] quanto de Francis Ford Coppola [“Apocalipse
Now”, 1979]. O grande destaque é o menino Abraham Attah e sua transformação em
criança-soldado pelo vilão carismático feito por Idris Elba nesse país africano
não especificado. Muitíssimo bem construído o processo de sedução à ideologia
da guerrilha, que vai cobrar de maneira chocante a perda da infância. Tudo isso
sem perder o aspecto humano e reflexivo do horror e da loucura provocados pelo
ambiente. Talvez não chegue a superar o igualmente temático “A Feiticeira da
Guerra” [2012], mas é uma daquelas experiências aptas a serem remoídas por mais
tempo que sua própria duração. [19.10.15]
INTERMEDIÁRIO DO DIABO * * ½
[The Changeling,
CAN, 1980]
Terror - 107 min
Com atmosfera e
roteiro elaborado, um dos filmes de mansões mal-assombradas mais influentes dos
anos 1980. [20.10.15]
I AM DIVINE * * ½
[Idem, EUA, 2013]
Documentário - 90
min
Resgate da
trajetória de um "excluído" que conquistou o mainstream, de maneira
sensível e respeitosa. Até demais. [20.10.15 - Maxprime]?
PONTE DOS ESPIÕES * * *
[Bridge of Spies,
EUA, 2015]
Drama/Suspense -
141 min
Spielberg assume
riscos num filme de diálogos [muito bem lapidados], em que a tensão repousa nos
não ditos. Justamente como deve ser por abordar o período da Guerra Fria: a
ideia de que uma palavra mal colocada poderia dar início a um novo conflito
bélico mundial. Por isso os irmãos Coen foram os escolhidos para revisarem o
rascunho de Matt Charman. As conversas e negociações entre os personagens são o
que movem a narrativa, sempre elegante e cinemática [as transições em raccord
são formidáveis]. De certo, o cineasta apostou numa obra de espionagem à la
John Le Carré, diluindo os elementos fortes do autor britânico [o pessimismo e
a melancolia] em detrimento dos seus próprios, os quais são opostos. Com isso,
talvez o caráter de urgência fique a dever para quem espera por um thriller de
sequências tensas. Elas existem, mas em outro nível. O jogo aqui é entre
adultos que não querem ser responsáveis por qualquer desastre iminente. Em sua
quarta colaboração com o diretor de “O Resgate do Soldado Ryan” [1998], Tom
Hanks empresta sua versão madura a James Donovan, figura real que interviu na
troca de prisioneiros de ambos os lados na famosa ponte Glienicke em Berlim.
Não sem antes tornar-se odiado nos Estados Unidos por defender o suposto espião
soviético Rudolf Ivanovich Abel, feito pelo excelente Mark Rylance, e até
simpatizar com ele. A maior complicação da trama surge quando um estudante
norte-americano é preso pela República Democrática da Alemanha, do lado
socialista do recém-erguido Muro de Berlim. Donovan vai se desdobrar para
entregar um e receber dois: o tal estudante e o piloto capturado do avião U-2.
Não é exagero colocar a reconstituição de época, visual e textual, como o forte
da produção. A atmosfera da Guerra Fria está muito bem impressa no texto, no
design de produção e no tom do olhar de Steven Spielberg. Seu preciosismo com
os enquadramentos e a movimentação da câmera só é sabotado por ele mesmo, por
sua ultrapassada tendência de forçar as emoções no espectador. Confiasse mais
no poder da história que está contando, sem lançar mão de subterfúgios
sentimentais canhestros, até poderia ter entregado um dos grandes filmes do
ano. [22.10.15 – Cinemas Teresina, com família]
IPECRESS: ARQUIVO CONFIDENCIAL * * *
[The Ipcress File,
GB, 1965]
Suspense - 103 min
Michael Caine é o
espião britânico novato em meio ao intricado plot que envolve lavagem cerebral.
Baseado no livro de Len Deighton [não creditado], foi produzido pelo mesmo
Harry Saltzman da franquia 007, e até com John Barry na trilha sonora. De todo
modo, a atmosfera paira em algum lugar entre Ian Fleming e John Le Carré.
[23.10.15]
FILHA DO AMOR * * ½
[Love Child,
KOR/EUA, 2014]
Documentário - 75
min
O que há por trás
da estarrecedora história de um casal sul-coreano que deixa a filha de três
meses morrer desnutrida por conta do vício em um jogo online? Não dá para
assistir a essa produção sem ser bombardeado por duras reflexões acerca tanto
da vida moderna [o virtual engolindo o real] quanto da indulgência parental.
[25.10.15 – HBO Signature]
O SOLAR DE DRAGONWYCK * * *
[Dragonwyck, EUA,
1946]
Drama - 103 min
Apesar dos furos no
roteiro, traz ótimos elementos do romance gótico e resulta num drama de
mistério envolvente. Em alguns momentos, sombrio. Baseado no livro de Anya
Seton, Joseph L. Mankiewicz estreia na função de diretor caprichando na
atmosfera. [26.10.15]
GOOSEBUMPS – MONSTROS E ARREPIOS * *
[Goosebumps.
EUA/AUS, 2015]
Comédia - 103 min
A premissa dessa
adaptação da popular [e prolífica] série de livros de R. L. Stine é
divertidíssima. Mas é preciso relevar o tom bobo da produção e os furos do
roteiro para embarcar sem restrições no, em termos de potencial, fraco
resultado. Pelo menos, em chatos como eu. [27.10.15 – Cinemas Teresina]
O ÚLTIMO CAÇADOR DE BRUXAS * *
[The Last Witch
Hunter, EUA, 2015]
Ação/Terror - 106
min
O carisma de Vin
Diesel passa longe de salvar a direção automática, o roteiro formulaico e os
fracos coadjuvantes [fora Michael Caine, bom até se fizesse uma pedra]. Uma
produção que passeia entre gêneros, mas não se destaca em nenhum. [29.10.15 –
Cinemas Teresina]
LA ISLA MÍNIMA * * *
[Idem, ESP, 2014]
Suspense - 104 min
O espanhol Alberto
Rodríguez realiza um suspense atmosférico, ambíguo, cujo pano de fundo
histórico-político dá o tom. Situado logo após o fim do franquinismo
[1939-1976], a relação da dupla de policiais com passados nebulosos pode mesmo
evocar a primeira temporada de "True Detective". O desfecho em aberto
dribla a expectativa plantada pela própria narrativa e é daqueles que nos
deixam pensando por algum tempo. [30.10.15]
MEMÓRIAS DE UM ASSASSINO * * *
[Salinui chueok,
KOR, 2003]
Suspense - 132 min
O sul-coreano
John-ho Bong comete um exercício de gênero [polícia caça serial killer] com
suficiente segurança para extrapolar as referências e lições aprendidas.
Baseado numa história verídica, foge do desfecho banal. [31.10.15]
Novembro – 23
filmes
BACK IN TIME * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 95
min
Uma celebração
afetiva de como a trilogia "De Volta para o Futuro" [1985, 1989,
1990] se tornou parte da cultura pop estadunidense ao longo dos últimos 30
anos. Dividindo os depoimentos entre fãs e realizadores, é mais sobre a maneira
como influenciaram do que os filmes em si. Um prato [meio] cheio para os
apreciadores nostálgicos da obra de Robert Zemeckis e Bob Gale. [01.11.15]
OS 33
* * ½
[The 33, EUA/CHL,
2015]
Drama - 120 min
Tudo é
esquematizado para extrair nossa emoção, numa estrutura bem convencional e "hollywoodiana"
do real drama chileno. Como se a história dos mineiros soterrados durante 69
dias em pleno Deserto do Atacama em 2010 já não fosse dramática o bastante,
ainda carregam nos elementos melodramáticos. Por muito pouco, a produção dirigida
pela mexicana Patricia Riggen não faz o tiro sair pela culatra. Se ecoa para
fora da tela, é graças mais à pura e nobre empatia com relatos humanos de
sobrevivência do que ao filme em si. [01.11.15 – Cinépolis Rio Poty, com mamãe]
007 – SOMENTE PARA SEUS OLHOS * * *
[For Your Eyes
Only, GB, 1981]
Ação - 128 min
Aquele que, de
certa forma, traz a série de volta às origens, com um plot mais realista, sem
planos ou vilões megalomaníacos. Tudo
gira em torno do ATAC, um dispositivo de codificação que serve como McGuffin.
Steven Spielberg, fã declarado do espião protagonista, demonstrou à época
interesse em dirigir esse filme, o qual terminou assumido por John Glen, que
fora editor e diretor de segunda unidade de três Bonds e dirigiria os próximos
quatro. Apesar da ameaça de Roger Moore de deixar o papel, o ator está
muitíssimo à vontade, provavelmente no auge de sua encarnação do personagem.
Como bondgirls, Carole Bouquet, Lynn-Holly Johnson e Cassandra Harris, então
casada com um dos futuros intérpretes do agente 007, o irlandês Pierce Brosnan.
Destaque para Topol na pele de um traficante que se alia ao herói contra o
inimigo em comum feito por Julian Glover. Também a música-tema, cantada por
Sheena Easton e indicada ao Globo de Ouro e ao Oscar. Primeira produção sem a
presença de M, por conta da morte de Bernard Lee. [02.11.15]
007 CONTRA OCTOPUSSY * * *
[Octopussy, GB/EUA,
1983]
Ação - 131 min
Aquele que tem Bond
dando uma de Tarzan na Índia e brigando do lado de fora de um jatinho em pleno
voo. Finalmente, temos uma trama que se insere no contexto da Guerra Fria.
Tanto que o espião é chamado várias vezes de comandante Bond. Os roteiristas
Richard Mainbaum e Michael G. Wilson ganham a companhia do britânico George
MacDonald Fraser num enredo que mistura roubo de artefatos preciosos com uma
bomba atômica – a “barriga” do roteiro é uma das mais enroladas. Ainda bem a
direção de John Glen deslancha no último ato, caprichando na sensação de
urgência. Lançado no mesmo ano do não oficial “007 – Nunca Mais Outra Vez”, com
Sean Connery, foi o primeiro com a marca da MGM. De modo irônico, o “contra” da
tradução brasileira traz uma pista falsa, já que a personagem feita por Maud
Adams acaba por se aliar a 007, um Roger Moore com sinais de cansaço. Introduz
Robert Brown como o novo M, presente nos quatro filmes posteriores. [03.11.15]
007 – NUNCA MAIS OUTRA VEZ * * *
[Never Say Never
Again, GB/EUA/ALE, 1983]
Ação - 134 min
Aquele Bond não
oficial, fora da lista de contagem, com Sean Connery dando sua última
contribuição. Lançado quatro meses depois de “007 Contra Octopussy”, com Roger
Moore, trata-se de um remake de “007 Contra Chantagem Atômica” [1965]. A
direção é de Irvin Kershner, que vinha direto de “Star Wars – Episódio V: O
Império Contra-Ataca” [1980], provavelmente o melhor filme da saga até agora. O
mesmo, infelizmente, não pode ser dito desse filho bastardo das adaptações da
obra de Ian Fleming. Embora tenha suas qualidades. A presença de Connery, sem
dúvida, é a mais atrativa delas. O ator reencontra um velho conhecido, o
protagonista, que se esbalda escapando das ciladas e pegando tantas mulheres
quanto o roteiro assinado por Lorenzo Semple Jr. permite. Uma delas é Kim
Basinger, em início de carreira no cinema, também cobiçada pelo vilão feto por
Klaus Maria Brandauer. O arqui-inimigo Blofeld, o homem por trás da SPECTRE, é
interpretado por Max Von Sydow, enquanto Barbara Carrera [indicada ao Globo de
Ouro] faz Fatima Blush. Não há a icônica sequência de créditos iniciais de
Maurice Binder e nem a trilha sonora de John Barry, mas o filme dá conta do
recado. Deve ter sido muito interessante estar em 1983 [eu tinha acabado de
nascer] e presenciar o duelo entre os Bonds, as discussões sobre quem se saíra
vencedor. Sem levar em conta a bilheteria [Moore se deu bem], há um empate
técnico: “Octopussy” entrega ótimas sequências de ação; porém, a presença de
Sean Connery enche o quadro e faz toda a diferença. Como curiosidade, há a
participação de Rowan Atkinson, já engraçado bem antes de se imortalizar como o
atrapalhado Mr. Bean. [04.11.15]
007 CONTRA SPECTRE * * *
[Spectre, GB/EUA,
2015]
Ação - 148 min
Ambicioso tanto do
ponto de vista narrativo quanto na produção, só faltou um plot com twists menos
previsíveis. Não me entendam mal, a estrutura do roteiro é correta e até oferece
a deixa para Sam Mendes, seguro como um veterano em filmes de ação, mergulhar a
sessão num tom sombrio. Cumpre a promessa de “Skyfall” [2012] de remexer no
passado do protagonista. Uma pena o buraco do coelho levar a lugares óbvios
para o espectador mais atento. Quem acompanha a franquia sabe as implicações de
ter Spectre no título, finalmente trazida de volta após longa batalha por
direitos de uso sobre a criação de Ian Fleming. Simbolicamente, é o grande
acerto da obra se iniciar no Dia dos Mortos mexicano, com aquele plano-sequência
maravilhoso [exibicionista?] que antecede o melhor “setpiece” do ano. A
celebração da vida por meio da morte é o gancho perfeito para Daniel Craig, em
toda a sua brutalidade, descobrir quem puxa os fios de suas angústias. A ideia,
contudo, é melhor que o resultado. E não por culpa de Christoph Waltz e seus
trejeitos, mas do roteiro transformá-lo numa caricatura de Caim após a
revelação mais antecipável da década [ou seria a de Luke no episódio VII de
“Star Wars”? Ops...]. Tudo o que o filme cresce em atmosfera despenca no ato
final, mas não sem elegância ou um fiapo de inteligência. Afinal, saber cair é
o mais importante. Que o dia [ou não] Dave Bautista; seu Hinx não tem o fim que
merece. Para manter o padrão Bond, um pouco [pouco?] de misoginia gratuita, e
logo com Monica Bellucci, exageros nas perseguições e gadgets que resolvem
qualquer situação, personificando o audacioso “deus ex machina”. Léa Seydoux
[“Azul é a Cor Mais Quente”, 2013] é a bondgirl da vez, quem ajuda o espião [ou
ex-espião?] a interligar os pontos soltos desde “Cassino Royale” [2006], talvez
o melhor da era Craig. Com os elementos contidos aqui, eram plenas as condições
para os produtores entregarem uma experiência substancial. Pelo visto, quanto
mais tentam aprofundar a psicologia de James Bond, mais ela se revela rasa,
como um garoto que apenas faz o que deve ser feito. Esse é o charme e o motivo
de sua durabilidade. Até Craig, 007 nunca teve um arco dramático específico.
Mexer nisso agora pode ser um caminho sem volta. Que, sem pestanejar, queremos
pagar para ver. PS: Sam Smith e sua “Writing’s on the Wall” não são nada além
da ressaca de Adele. [05.11.15 – Cinépolis Rio Poty]
A HUMANIDADE * * *
[L'humanité, FRA,
1999]
Drama - 142 min
É preciso ver além
da superfície [a trama policial] para apreciar a narrativa do francês Bruno
Dumont sobre a natureza interna dos personagens. O cineasta está mais
interessado naquilo o que os torna humanos, a dialética truncada entre eles.
Influenciado por Schopenhauer, fez um filme de ponderações melancólicas, muito
bem expressadas por Emmanuel Schotté, em seu único papel no cinema. A produção
ganhou em Cannes os prêmios de ator, atriz [Séverine Caneele] e do júri.
[09.11.15]
SINFONIA DA NECRÓPOLE * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Musical - 86 min
Juliana Rojas
mistura gêneros, críticas e referências numa comédia musical fúnebre, mas de
certa forma leve e personalíssima. Em seu début solo por trás de um longa
metragem [ela codirigiu "Trabalhar Cansa", de 2011, junto com Marco
Dutra], arrisca sem medo nessa salada narrativa que foge dos padrões. Enquanto
alguns temperos parecem brilhar [a trilha diegética se transformando em
música], outros são insossos, como o romance entre o aprendiz de coveiro e a
funcionária do serviço funerário. No final das contas, passada a estranheza
inicial, trata-se de um filme incomum e muito curioso. [10.11.15]
O ESTRANGEIRO * * *
[Lo straniero,
FRA/ITA, 1967]
Drama - 100 min
Marcello
Mastroianni exala apatia perante o absurdo da existência nessa adaptação ipsis
litteris da obra de Albert Camus, publicada em 1942, realizada com reverência
[até demais, muitos dizem] por Luchino Visconti. [10.11.15]
ALIANÇA DO CRIME * * *
[Black Mass,
EUA/GB, 2015]
Policial - 122 min
Não sei se é Johnny
Depp [quebrando a péssima fase que perdurava desde "O Turista", de
2010] ou sua maquiagem "quem" rouba mais a cena nesse gangster movie
sóbrio e didático à la "Os Bons Companheiros" [1990]. [12.11.15 -
Cinemas Teresina]
O FIM DA TURNÊ * * *
[The End of the
Tour, EUA, 2015]
Drama - 106 min
Jason Segel está
muito bem na pele do escritor David Foster Wallace, humanizando o mito do
"gênio literário". Dirigido por James Ponsoldt [“O Maravilhoso
Agora”, 2013], recria os cinco dias nos quais o jornalista da revista Rolling
Stones David Lipsky, feito por Jesse Eisenberg, acompanhou o autor durante o
fim da turnê de promoção de seu colossal “Graça Infinita” em 1996. Baseado no
livro de Lipsky, publicado dois anos após o suicídio de Wallace [2008],
trata-se de um filme de diálogos. Mais do que isso, o encontro empático de duas
almas sensíveis, cada uma à sua maneira, e seus questionamentos existenciais
diante do lançamento de uma obra literária recebida com imenso entusiasmo. A
narrativa não quer explicar Wallace, o que vejo como acerto, mas observar o que
une e separa os dois personagens, o elo criado a partir do compartilhamento de
visões e como isso repercute em ambos. [14.11.15]
AMERICAN ULTRA – ARMADOS E ALUCINADOS * *
[American Ultra,
EUA/CHE, 2015]
Ação - 96 min
O que poderia ser
mais divertido, e até mesmo cool, resulta em violência genérica numa premissa
"Stoner Bourne" mal explorada pelo roteiro de Max Landis ["Poder
sem Limites", 2012]. [15.11.15]
GRANDE SERTÃO * * *
[Idem, BRA, 1965]
Drama - 90 min
A adaptação feita
pelor irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira simplifica e altera alguns pontos
cruciais da obra de Guimarães Rosa [como revelar mais cedo o segredo do
personagem Diadorim], mas consegue manter a atmosfera imponente do cenário.
[16.11.15]
COMO SOBREVIVER A UM ATAQUE ZUMBI *
[Scouts Guide to
the Zombie Apocalypse, EUA, 2015]
Comédia - 93 min
Ou "Como
Sobreviver a uma Comédia Apelativa e Sem Graça que Não Funciona como Sátira de
Gênero e Nem como Paródia de Si Mesma". [17.11.15 – Cinépolis Rio Poty]
JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA – O FINAL * * ½
[The Hunger Games:
Mockingjay – Part 2, EUA, 2015]
Aventura - 137 min
Não compromete o
nível da série e de sua ótima protagonista, mas é fácil sentir a ausência de
mais emoção. Ou mesmo de uma narrativa substancial. Sintoma direto da
famigerada moda de dividir o desfecho das adaptações de séries literárias em
duas partes? Rá! O capitalismo sempre encontra um jeito de propor suas próprias
obras de arte. Foda-se a obra em si, o caminho do lucro é fazer os fãs [algo
que cada vez mais abomino] gerarem esse lucro. Só isso explica como “O Hobbit”
se transformou em três filmes cheios de gordura saturada sobrando, entupindo as
artérias do cinema genuíno, conciso. E agora Peter Jackson mete os pés pelas
mãos ao se justificar e dizer que não sabia o que estava fazendo. Hum... Qual
será a desculpa de Francis Lawrence, que assumiu a distopia infanto-juvenil de
Suzanne Collins no segundo filme da quadrilogia? Talvez nenhuma; ele não parece
ter pretensões autorais, e geniais, como Jackson. Se chegamos ao fim [ou não,
hoje em dia nunca se sabe] das desventuras de Katniss Everdeen contra a
ditadura do Presidente Snow e sua política midiática para amansar/controlar a
massa, é graças à sua intérprete, Jennifer Lawrence. É ela quem justifica o envolvimento
emocional daqueles que não leram os livros [presente!] e rouba a cena das
sequências de ação e inação. O tom político ainda existe, arrefecido em prol do
fiapo de enredo em torno da mesma nota: Katniss quer assassinar Snow. Ela
consegue? Digamos que as reviravoltas são estruturalmente corretas, por isso
longe de surpreenderem. O “trisal” chocho formado por Katniss, Peeta e Gale não
possui tempero dramático algum e é resolvido com uma linha de diálogo. Há
momentos de tensão, sim; o melhor deles parece ser o cerco dos “bestantes” nos
túneis subterrâneos de Panem. E o que falar do epílogo agridoce, novelístico,
que destoa do resto do filme? Para os fãs pré-púberes, deve equivaler a uma
felicidade tão plena que dá vontade de morrer só porque dali para frente
nenhuma sensação superará aquela cena antevista desde o primeiro filme. O que
ficará em mim por algum tempo é Katniss não ter corrido para salvar a menininha
loira que chorava sobre o corpo da mãe. Sinal de que os heróis, e as heroínas,
não precisam mais ser moralmente inquestionáveis. [19.11.15 – Cinemas Teresina]
MISTRESS AMERICA * * *
[Idem, EUA, 2015]
Comédia - 84 min
Noah Baumbach e
Greta Gerwig repetem a parceria no texto, bem testada em "Frances Ha"
[2012], nessa comédia feminina moderna, ágil e com o peso nos diálogos com
tendências cults. Muitos apontam, e com certa razão, uma atmosfera que remete
aos filmes de John Hughes. Outros analisam a questão da mulher feminista e sua
atual posição, ou a tentativa de encontrar uma, na sociedade - na faixa etária
dos 20 aos 30. O meio-termo me parece mais certeiro para a apreciação de um
indie que, se nem sempre mantém o nível, consegue ser finalizado de maneira
muito satisfatória. [24.11.16]
FREE RANGE
* * ½
[Ballaad maailma
heakskiitmisest, EST, 2013]
Drama - 99 min
O estoniano Veiko
Õunpuu observa o protagonista e sua negação em assumir a responsabilidade sobre
a própria vida. [24.11.15]
A CAMINHO DO LESTE * * *
[Dont Look Back,
EUA, 1967]
Documentário - 96
min
D. A. Pennebaker
exercita o cinéma vérité num Bob Dylan ainda folk em turnê pelo Reino Unido
[1965], revelando um jovem e genioso ego. [25.11.15]
O ÚLTIMO VERÃO DA BOYITA * * *
[El Último Verano
de la Boyita, ARG/ESP/FRA, 2009]
Drama - 86 min
O fim da infância
vem junto com a consciência da identidade sexual na delicada narrativa da
argentina Julia Solomonoff. [26.11.15]
A VISITA
* *
[The Visit, EUA,
2015]
Suspense/Terror -
94 min
Entre o terror e a
comédia, o "found footage" de Shyamalan é cheio de incoerências
narrativas e muito, muito fraquinho. [27.11.15 - Cinépolis Rio Poty]
TANGERINA
* * ½
[Tangerine, EUA,
2015]
Comédia/Drama - 88
min
Sean Baker explora
o universo das prostitutas transgêneras de Los Angeles com humanismo e boas
doses de humor. [28.11.15]
LOVE *
* ½
[Idem, FRA/BEL,
2015]
Romance - 135 min
Amor e sexo se
entrelaçam, e se oprimem melancolicamente, ao longo do fio da memória tecido no
"romantic porn" existencialista de Gaspar Noé. [30.11.15]
SEM CONDICIONAL: VIDA E MORTE NO PAVILHÃO A * * ½
[Toe Tag Parole: To
Live and Die on Yard A, EUA, 2015]
Documentário - 80
min
Não se espante caso
crie empatia pelas duras, e extremamente lúcidas, reflexões de quem sabe que só
deixará a prisão com uma etiqueta no dedo no pé. [30.11.15 - HBO]
Dezembro - 28
filmes
VICTOR FRANKENSTEIN * ½
[Idem, EUA, 2015]
Aventura - 110 min
Inacreditável como
a direção de Paul McGuigan e o elenco [McAvoy exagerado; Radciffe forçado]
endossam as indulgências narrativas do roteiro de Max Landis em mais uma
descartável reimaginação do Moderno Prometeu de Mary Shelley. [01.12.15 –
Cinépolis Rio Poty]
NO CORAÇÃO DO MAR * * ½
[In the Heart of
the Sea, EUA, 2015]
Aventura/Drama -
121 min
A direção de Ron
Howard é super eficiente e a primeira metade funciona muito bem. A narração,
porém, afrouxa o nó de marinheiro. [03.12.15 – Cinépolis Rio Poty]
AS DAMAS DO BOIS DE BOULOGNE * * *
[Les dames du Bois
de Boulogne, FRA, 1945]
Drama - 84 min
Segundo filme de
Robert Bresson, um enredo de vingança amorosa [sórdida? sofisticada?] em meio
às aparências da alta sociedade francesa. Jean Cocteau assina os diálogos
adicionais. [05.12.15 – Arte 1, madrugada]
AMY *
* * ½
[Idem, GB/EUA,
2015]
Documentário - 123
min
O registro da breve
e furiosa passagem da Diva do Soul britânica reflete o [sempre] cruel embate
talento versus autodestruição. [07.12.15]
YOUTH
* * * ½
[Idem,
ITA/FRA/CHE/GB, 2015]
Drama - 124 min
Sorrentino fez um
filme de imersão nos personagens, nos questionamentos acerca do tempo e da
memória, na solidão, no desejo, nas fugas que habitam seus corpos envelhecidos.
Banhados por uma atmosfera visual atradente nos Alpes Suíços. Do elenco
soberdo, Michael Caine está divino. [08.12.15 – madrugada]
A VERDADE SOBRE MARLON BRANDO * * * *
[Listen to Me
Marlon, GB, 2015]
Documentário - 103
min
Stevan Riley
costura uma elegia íntima, guiada pelo próprio ator, descortinando sua vivência
em camadas que vão além do Método e seu inquestionável resultado na tela.
Embora não aborde a bissexualidade e atenue [romantize?] a personalidade
difícil, passa longe de um registro hagiográfico. As gravações em áudio feitas
por Brando ao longo da vida revelam uma sensibilidade poética para a observação
de si mesmo nos mais diversos contextos. Nas descobertas e decepções. É como se
compartilhássemos sua intensa jornada humana de dentro para fora. [08.12.15]
THE STANFORD PRISON EXPERIMENT * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 122 min
A terceira
dramatização da controversa experiência conduzida por Philip Zimbardo em 1971
até que instiga reflexões pertinentes acerca da ética [ou o afrouxamento dela]
na pesquisa e da própria natureza do comportamento humano quando
desindividualizado. [08.12.15]
O PRESENTE
* * ½
[The Gift, AUS/EUA,
2015]
Suspense - 108 min
O maior apelo da
narrativa do australiano Joel Edgerton, estreando como roteirista-diretor de
longas, é brincar com a nossa percepção acerca de quem seria vítima e vilão.
Uma história de bullying focada nos personagens, em descamar aos poucos suas
personalidades. Ruma ao ambíguo, o que é bem vindo, embora deixe a impressão de
já termos visto isso antes. [09.12.15 – Cinemas Teresina]
PEGANDO FOGO * * ½
[Bunt, EUA, 2015]
Drama/Comédia - 101
min
Bradley Cooper se
esforça numa bem intencionada narrativa culinária, com [infelizmente] alguns
elementos soltos, sobre o quão árduo é o caminho da redenção. [10.12.15 –
Cinemas Teresina]
THE RIDICULOUS 6 * *
[Idem, EUA, 2015]
Comédia - 119 min
Basta não levar a
sério essa sátira aos westerns, com toda a falta de sutileza de Adam Sandler no
quesito transformar referências em gags nem um pouco inspiradas, para
sobreviver a ela sem maiores traumas. [12.12.15 - Netflix]
DESCOMPENSADA * * ½
[Trainwreck, EUA,
2015]
Comédia - 129 min
A comediante Amy
Schumer emula, no roteiro, o estilo de Judd Apatow nessa comédia dirigida
por... Judd Apatow. [14.12.15]
SCHNEIDER VS. BAX * * *
[Idem, NLD, 2015]
Suspense - 93 min
O holandês Alex van
Warmerdam descama um inusitado exercício narrativo que vai complicando,
comicamente até, à medida que progride. [15.12.15]
OLHOS DA JUSTIÇA * *
[The Secret in
Their Eyes, EUA, 2015]
Suspense - 110 min
Billy Ray até tenta
construir um diálogo com a obra [-prima] original do argentino Juan José
Campanella. Porém, o que acrescenta apena enlata a trama para um público
habituado a receber mastigado o falso-moralista, e desnecessário, tiro de
misericórdia. [15.12.15 – Cinépolis Rio Poty, sala Vip]
DORA OU AS NEUROSES SEXUAIS DE NOSSOS PAIS * * ½
[Dora oder die
sexuellen neurosen unserer eltern, CHE/ALE, 2015]
Drama - 88 min
No que instiga
reflexões oportunas, sejam boas ou ruins, sobre a situação mostrada [o
despertar da sexualidade em pessoas com deficiência mental], talvez falte
sutileza à suíça Stina Werenfels para não descarrilar a narrativa no terço
final. [16.12.15]
STAR WARS: EPISÓDIO VII – O DESPERTAR DA FORÇA * * * ½
[Star Wars: Episode
VII - The Force Awakens, EUA, 2015]
Aventura/Ficção -
135 min
Sai o criador,
assume o fã. A saga recauchuta a própria energia, mesmo emulando suas origens.
Se era essa a intenção de Kathleen Kennedy ao assumir a presidência da Lucasfilms,
comprada pela Disney em 2012, então contratar J. J. Abrams foi a decisão mais
acertada. O cineasta já provou que pode "rebootizar” franquias de sucesso
combinando sua própria pegada com a reverência canônica à fonte. Vide “Star
Trek” [2009] e sua sequência [2013]. Seu segredo é uma lição de casa bem feita
e a tendência a ter os fãs como principal bússola. ▪ Confesso que fui um dos
que não viram como atitude mais honrosa Abrams trocar Trek por Wars. Lembrava o
que Bryan Singer havia feito ao abandonar a franquia “X-Men” para cometer
“Superman – O Retorno” [2006], que ficou anos-luz de qualquer unanimidade. O
mesmo vale para “X-Men: O Confronto Final” [2006], assumido por Brett Ratner. A
sedução do mercado é luta perdida, na maioria das vezes. Nesse novo caso, à
parte a velha ambição capitalista e os atalhos para o sucesso, o produto tende
a ser extremamente funcional. ▪ Fazer uma obra para fãs é algo que vejo com
certo desconforto. Entendo o apelo de atrair e fidelizar o público, e o cinema
comercial vive dos ingressos vendidos. Como não? Por outro lado, em que
entre-espaço repousa o filme em si, a criação artística saída da mente de
alguém [George Lucas, Abrams], a arte que existe sem ser dependente afetiva de
quem a consome? Feita a provocação, reitero que o nome do momento para realizar
fanfictions é o de J. J., o atual deus neon dos geeks na faixa dos 15 aos 45
anos. ▪ Sim, impossível seguir a nova narrativa e não ter déjà vus. E não me
refiro às inúmeras referências e easter eggs que testam nossa memória e atenção
em relação aos seis episódios anteriores. Há, de fato, ecos estruturais com o
“Star Wars” original de 1977 – ou “Episódio IV – Uma Nova Esperança”. Para
alguns, enfraquece a experiência; para outros, a fortalece no aspecto
nostálgico da sessão de matinê. Como se as curvas dramáticas de hoje fossem
cínicas e psicológicas demais. No lugar dos planos da Estrela da Morte do
Império Galáctico roubados pela Aliança Rebelde, escondidos no droide R2-D2 e
que para nas mãos de Luke Skywalker, há a Starkiller [sobrenome de Luke nos
primeiros esboços de George Lucas], a Primeira Ordem, a Resistência, o mapa com
o paradeiro de Skywalker guardado no carismático BB-8 e que serve para juntar a
misteriosa catadora de lixo Rey e Finn, um stormtrooper com crise existencial.
Eles são caçados por Kylo Ren, guerreiro do lado negro da Força, aprendiz do
Supremo Líder Snoke, obcecado pela figura de Darth Vader e com sérios problemas
de temperamento. ▪ Os mais sarcásticos dirão que o filme de J. J. Abrams não
passa de um remake disfarçado de sequência, enquanto os românticos lembrarão
que George Lucas costumava repetir temáticas, e até mesmo situações, nas
trilogias sobre o herói e, depois, sobre o vilão. Agora, os pecados do pai e do
filho reverberam numa nova geração e, apesar de descartarem os argumentos de
Lucas para o encerramento da saga familiar, mantém-se a coerência com o que foi
construído até aqui. Se pensarmos bem, os seis episódios narram a história de
Vader, e o sétimo a prossegue o tendo como uma sombra. Só reforça o quanto é um
personagem icônico. Aliás, todos eles, os que estão dentro e fora do quadro.
Para o bem ou para o mal, este é o episodio de Han Solo [claro, Rey e Finn são
os protagonistas], cuja presença e as falas resumem o espírito da produção. ▪ É
notório o esforço de Abrams em dialogar com os fãs a cada cinco minutos, o que
soa forçado aqui e ali. Ao mesmo tempo, é de onde o filme tira sua força. Para
tanto, o diretor deixa amarrar-se pela estética da franquia, com os letreiros
iniciais e as transições em cortina, capricha nos efeitos práticos [o que faz
Snoke, em CGI, parecer terrivelmente destoado] e até diminuir uma de suas
marcas como cineasta: os flares abundantes. Em contrapartida, o 3D convertido
na pós-produção não acrescenta quase nada além do incômodo causado pelos
óculos. ▪ O roteiro possui sua característica mais forte no humor, com ótimo
timing, menos infantil que o de Lucas. É preciso comprar a ideia do destino
manifesto para aceitar todas as coincidências da narrativa, que desliza na superfície,
em artifícios frouxos e alguns [vários?] diálogos expositivos. Mesmo na
correria, consegue desenvolver os personagens e fazer nos importar com eles.
Claro, sem aprofundar demais. Como primeiro de uma nova trilogia, deixa mais
perguntas do que respostas. ▪ Se para mim, “A Vingança dos Sith” [2005], à
época, simboliza a morte nossa de cada dia, o fechar dos ciclos, esse despertar
vem como uma reencarnação. Quando uma ideia, por mais boba que seja, é
absorvida pela cultura de massa, torna-se à prova de crítica e, mais ainda, à
prova do tempo. O novo “Star Wars” não é o melhor filme do ano. Longe disso. O
próximo, em 2017, também não será. Sinto dizer. Mas não importa. Quando, em
2019, ouvirmos a fanfarra do mestre John Williams, ainda iremos querer ser
tragados por essa galáxia muito distante. Que a Força... Ah, você sabe o resto.
[17.12.15 – Cinépolis Rio Poty 3D / 28.12.15 – Cinemas Teresina 2D]
THE LOBSTER * * *
[Idem,
IRL/GB/GRC/FRA/NLD/EUA, 2015]
Drama - 118 min
Uma estranha, e
sombria, fábula acerca dos relacionamentos como obrigação social. Obra do grego
Yorgos Lanthimos. [20.12.15]
A VERY MURRAY CHRISTMAS * *
[Idem, EUA, 2015]
Musical - 56 min
Nesse especial para
a Netflix, a cineasta Sofia Coppola reencontra Bill Murray e outros convidados
[amigos e parentes] para cantam a "melancolia natalina". Até gosto da
seleção musical, com clássicos estadunidenses do gênero, e, sobretudo, da
atmosfera. Porém, a costura narrativa poderia ter sido bem mais inspirada.
[21.12.15 - NetflIx, Guabes]
SICARIO – TERRA DE NINGUÉM * * * ½
[Sicario, EUA,
2015]
Policial - 121 min
A narrativa não tem
qualquer medo de cruzar as fronteiras morais no contexto apresentado [o
narcotráfico México-Estados Unidos]. E Denis Villeneuve, outra vez, comprova
saber trabalhar/preparar a tensão como poucos - sem perder a lucidez. Grandes
atuações de Emily Blunt, Josh "Thanos" Brolin e, principalmente,
Benicio Del Toro. [23.12.15]
O REGRESSO
* * * ½
[The Revenant, EUA,
2015]
Western - 156 min
Sob arrebatadora
luz natural, Leonardo DiCaprio e o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki
transparecem em cada cena/frame o árduo trabalho de uma experiência
cinematográfica fascinante, orquestrada cheia de técnica e estilo por Iñarritu.
[24.12.15]
SNOOPY & CHARLIE BROWN: PEANUTS, O FILME * * *
[The Peanuts Movie,
EUA, 2015]
Animação - 88 min
Notável esforço,
agora em 3D, de preservar os elementos e a atmosfera da infância nostálgica
criada por Charles M. Schulz. [25.12.15]
O BOM DINOSSAURO * * ½
[The Good Dinosaur,
EUA, 2015]
Animação - 93 min
Há problemas
estruturais, clichês requentados e desequilíbrio de tom na jornada do
apatossauro Arlo para aprender a lidar com o medo. [25.12.15]
BEST OF ENEMIES * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 88
min
Revisita o
histórico bate-boca ideológico, depois pessoal, entre o conservador William F.
Buckley e o liberal Gore Vidal, televisionado em dez debates no canal ABC,
durante a Convenção Nacional Democrata de 1968. [26.12.15]
A ESCOLHA PERFEITA 2 * * ½
[Pitch Perfect 2,
EUA, 2015]
Comédia/Musical -
115 min
Para darem a volta
por cima, as Bellas precisam harmonizar o tom e as expectativas pessoais.
Divertido como o primeiro filme, agora é dirigido com desenvoltura por Elizabeh
Banks. [27.12.15]
BROOKLYN
* * *
[Idem, IRL/GB/CAN,
2015]
Romance - 112 min
Com roteiro
burocrático, mas até que bem resolvido, de Nick Hornby – adaptado do livro
escrito pelo irlandês Colm Tóibín –, Saoirse Ronan fica dividida entre o novo
lar e o deixado para trás. [27.12.15]
OS OITO ODIADOS * * * ½
[The Hateful Eight,
EUA, 2015]
Western - 168 min
Tarantino monta, e
gradativamente desmonta, um perspicaz – amargo até – microcosmo dos Estados
Unidos pós-Guerra Civil. [29.12.15]
SANGUE AZUL * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Drama - 119 min
Notável a sutileza
do pernambucano Lírio Ferreira quanto à maneira de expor o delicado conflito
central. Mas, quem sabe, a narrativa pudesse explodir ao invés de implodir -
até explorando mais o ótimo elenco. Além disso, alguns dramas paralelos soam
soltos e não necessariamente dizem a que vieram. Tecnicamente, porém, a
produção é impecável. [29.12.15]
CAROL
* * * *
[Idem, GB/EUA,
2015]
Romance - 118 min
Todd Haynes comete
uma mise-en-scène delicadíssima, enquanto Cate Blanchett e Rooney Mara entregam
[-se em] performances extraordinárias. Adaptado do livro de Patricia Highsmith
com extremo cuidado por Phyllis Nagy, trata-se de um daqueles filmes feitos
para nos lembrar que o amor é uma força da natureza e quase sempre dissonante
com as hipocrisias da sociedade. Seja a época que for. [30.12.15 – madrugada]
SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS * * * * ½
[Spotlight, EUA,
2015]
Drama - 128 min
Exalta como poucos
a essência do jornalismo investigativo, reencenando o sórdido caso dos padres
pedófilos trazido ao conhhecimento público pelo Boston Globe no início de 2002.
O diretor e corroteirista Tom McCarthy segue a tradição do clássico "Todos
os Homens do Presidente" [1976] e entrega um filme que discute o próprio
processo jornalístico e suas implicações morais e éticas para com a verdade. O
recheio do bolo é o elenco maravilhosamente na mesma vibração. [30.12.15]
Curtas
A PAINFUL GLIMPSE INTO MY WRITING PROCESS * * ½
[Idem, EUA, 2005]
2 min
O caos [ou o
vislumbre doloroso] do processo criativo de um escritor num curta curtíssimo.
[03.01.15 – resort Salinas do Maragogi, AL]
TUCK ME IN * * * *
[Idem, ESP, 2014]
1 min
O espanhol Ignacio
F. Rodó transforma o microconto de Juan J. Ruiz num curta de 1 minuto capaz de
gelar a espinha. [23.03.15]
FROZEN – FEBRE CONGELANTE * * ½
[Frozen Fever, EUA,
2015]
8 min
Logo no aniversário
de Anna, Elsa pega um irônico resfriado, nesse simpático curta musical derivado
do sucesso de 2013. [26.03.15 – cinema]
WHIPLASH
* * ½
[Idem, EUA, 2013]
18 min
Nesse curta, J. K.
Simmons antecipa a excepcional performance que faria no longa homônimo do mesmo
Damien Chazelle. [30.03.15 – madrugada]
HE TOOK HIS SKIN OFF FOR ME * * ½
[Idem, GB, 2014]
9 min
O britânico Ben
Aston se gradua na London Film School com esse instigante curta sobre até onde
ir e pedir em troca num relacionamento. Baseado no conto de Maria Hummer.
[23.04.15]
LEONARD IN SLOW MOTION * * ½
[Idem, EUA, 2014]
9 min
Peter Livolsi faz
da sacada visual uma história triste de nove minutos sobre descobrir seu lugar
no mundo. [29.04.15 – Chroma/Guabes]
CONTROLLER
* * *
[Idem, TAI, 2013]
9 min
O iraniano Saman
Kesh realiza uma sci-fi de nove minutos com premissa tão empolgante quanto
melancólica no desfecho. [05.05.15]
LAVA *
* ½
[Idem, EUA, 2014]
7 min
Curta musical da
Pixar que investe numa fábula romântica sobre dois vulcões solitários ligados
por um desejo e uma canção. [18.06.15 – cinema]
PRÓXIMO PISO * * * ½
[Next Floor, CAN,
2008]
12 min
Esse curta de
Villeneuve faz uma crítica pesada [literalmente] ao desenfreado e inconsequente
consumo burguês num mundo cada vez mais frágil. [09.07.15 – Guabes]
GEOMETRIA
* * ½
[Geometría, MEX
1987]
7 min
del Toro mostra,
nesse curta, que é melhor dar uma estudada antes de invocar o demônio para não
reprovar na matéria. [10.07.15 – Guabes]
A GRAVATA
* * *
[La Cravate, FRA,
1957]
21 min
Cheio de cores e
referências, o primeiro curta de Jodorowsky antecipa muitas características do
seu cinema particular. [18.07.15 – madrugada, Londres]
THE LIFT *
* *
[Idem, EUA, 1972]
7 min
A conturbada
relação entre um homem metódico e o elevador do seu prédio. O primeiro curta
metragem de Robert Zemeckis domina bem nossa atenção. [30.10.15]
A JANELA ABERTA * * *
[Idem, BRA, 2002]
10 min
Nesse curta
quebra-cabeça de Philippe Barcinski, Enrique Diaz não sabe se, ou quando,
fechou a janela da sala. [16.11.15 - Guabes]
Séries
TRANSPARENT – 1ª temporada * * * ½
[Idem, EUA, 2014]
10 episódios
Um mergulho
absolutamente humano, e leve, na questão de assumir sua verdadeira identidade
de gênero. Questão delicada ainda hoje, sobretudo numa sociedade tão hipócrita
e conservadora quanto a estadunidense. Por isso essa série independente criada
por Jill Soloway [“As Delícias da Tarde”, 2013] é, de muitas maneiras, importante
e corajosa. Fala abertamente sobre assuntos tabus e mostra que a beleza está em
sermos únicos e autênticos. Jeffrey Tambor entrega uma atuação delicadíssima,
equilibrada, amparada por um elenco em total sintonia com o projeto. Lembra um
ótimo telefilme da HBO chamado “Normal” [2003], no qual o personagem feito por
Tom Wilkinson também decide assumir-se mulher. Já Soloway investe num sempre
bem vindo senso de humor e numa boa dose de irreverência para narrar o
cotidiano dessa família moderna. E sem desculpas. [13-15.01.15 – madrugada]
FELIZES PARA SEMPRE? * * ½
[Idem, BRA, 2015]
10 episódios
A ciranda dos
casais, e seus impulsos sexuais, no cenário frio de Brasília tem mais
provocação do que ousadia de fato. O que não é algo de todo desmerecedor,
apenas comprova o quanto a televisão brasileira ainda está amarrada ao “bom
gosto” em relação ao sexo encenado. A bunda de Paolla Oliveira pode até ser
maravilhosa, mas suas cenas com Maria Fernanda Cândido parecem mais um
comercial para adolescentes pré-lésbicas do que um motivador dramático contundente
do assassinato que encerra a história. Releitura de “Quem Ama Não Mata”, série
de Euclydes Marinho exibida em 1982, é o mesmo autor quem desenvolve a nova
versão junto a seus colaboradores, atualizando o triângulo amoroso central para
o mundo sórdido da politicagem entre ministros e empreiteiras. Sugestão
acertada de Fernando Meirelles, que assina a direção geral e comanda três do
dez episódios: os dois primeiros e o último. Os nomes dos personagens prestam
homenagem ao elenco original, mas, apesar do tempo de tela, não conseguem ser
desenvolvidos com profundidade, sempre flertando com a caricatura psicológica. Como
o de Enrique Diaz, que certamente daria um ótimo estudo sobre a amoralidade do
psicopata cotidiano caso não ficasse correndo tanto atrás do próprio rabo. Não
é um investimento ruim, pelo contrário. Possui seus méritos, como o elenco em
sintonia com a proposta. O que se destaca mesmo [fora a bunda de Paolla] é a
elegância da fotografia, que, abusando dos drones e da hora mágica, por pouco não
transforma a capital do país numa inocente vítima de seus inescrupulosos
habitantes. [01.02.15/08.02.15]
HOUSE OF CARDS –
3ª temporada * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
13 episódios
Francis Underwood,
personagem de Kevin Spacey, deixa de ser o sociopata em busca do poder para
tornar-se um político inescrupuloso. Algo que, no final das contas, dá no
mesmo. Muitos consideram a segunda temporada menos interessante, sobretudo após
a “saída” da jornalista feita por Kate Mara. Não discordo, porém era
sordidamente excitante ver o protagonista não medir esforços [amorais] para
obter êxito em suas artimanhas. Agora que está na cadeira do presidente dos
Estados Unidos, Underwood tem sua vilania, digamos assim, atenuada, suavizada,
humanizada. Ficou bonzinho demais? Nem tanto, ainda é um lobo. Mas no meio de
tantos lobos, quase se disfarça de cordeiro. Quando defende as nobres intenções
de seu programa “America Works” [um aspirante a “New Deal”], mesmo se
apropriando de fundos indevidos, por um fio não caímos na conversa. Spacey e
Robin Wright, que também dirige alguns episódios, continuam brilhantes em seus
papéis, e essa temporada sacode o casamento sem piedade. Curiosamente, grande
parte da atenção é voltada para Doug Stamper, numa atuação extraordinária de
Michael Kelly, o que só soma e ajuda a equilibrar os outros núcleos. Beau
Willimon e seus escritores continuam entregando roteiros lapidados com
sagacidade, mesmo com alguns movimentos óbvios e muita politicagem. Também há
um uso menor da marca da série: os fantásticos comentários do protagonista
quebrando a quarta parede. Às vezes, uma olhadela cínica para nós no meio de
uma cena diz que o lobo não deve jamais ser subestimado, além de mostrar o
quanto Spacey está confortável no personagem. São 13 longos episódios que
conseguem manter o fôlego, ainda que o desfecho não seja dos melhores. Que
venha a próxima temporada, então. [27.02.15/01.03.15 – Netflix]
OLIVE KITTERIDGE * * * ½
[Idem, EUA, 2014]
4 partes - 233 min
Frances McDormand
defende com humanidade sua complexa protagonista nessa minissérie da HBO de
notável fôlego. Baseia-se no livro de Elizabeth Strout, publicado em 2008 e
pela qual a autora recebeu o Pulitzer. Foi a própria McDormand [oscarizada por
“Fargo” em 1996] quem comprou os direitos do romance que percorre 25 anos da
vida dessa intragável professora de matemática e como sua personalidade forte
afeta as pessoas ao redor. É sempre um risco histórias com personagens
antipáticos, misantropos, sobretudo quando possuem por volta de quatro horas de
duração. Por sorte, a adaptação de Jane Anderson [“Normal”, 2003] é de uma
qualidade hipnotizante, construindo muito bem os quatro momentos que pontuam o
drama. O elenco tem figuras inquestionáveis como Richard Jenkins, Peter Mullan,
Rosemarie DeWitt, além dos destaques Zoe Kazan, Jesse Plemons, Brady Corbet e
John Gallagher Jr. Ah, claro, impossível não mencionar a sensacional
participação de Bill Murray, o qual, sem
maior dificuldade, rouba todas as suas cenas. Dirigido com segurança por Lisa
Cholodenko [“Minhas Mães e Meu Pai”, 2010], não chega a ser uma obra-prima
irretocável, mas se trata de um investimento certeiro para aqueles aos quais
quatro horas é pouco diante de uma pérola audiovisual lapidada com todo o
cuidado do mundo. [22.03.15]
BETTER CALL SAUL
– 1ª temporada * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
T01E01 – O spin-off
da cultuada série "Breaking Bad" começa com um piloto cheio de
referências e humor negro caprichado. [11.02.15 – madrugada]
T01E02 – Assistir a
um episódio dirigido por Michelle MacLaren, com seus planos de câmera
certeiros, é um deleite extra. [13.02.15]
T01E03 – Deixa
claro que, como já podíamos antecipar, um dos pontos altos da série será a
dinâmica entre Odenkirk e Banks. [17.02.15]
T01E04 – A atuação
de Odenkirk faz com que nos comovamos com os esforços nada ortodoxos do
protagonista para ser reconhecido. [24.02.15]
T01E05 – Prova que
um episódio morno pode ficar mais interessante quando a narrativa segue o
personagem de Jonathan Banks. [03.03.15]
T01E06 – Difícil
não ficar comovido com a atuação de Jonathan Banks nesse episódio totalmente
focado em Mike Ehrmantraut. [10.03.15]
T01E07 – Ehrmantraut
realiza seu primeiro trabalhinho sujo para o protagonista para quitar sua
dívida. Se ele soubesse... [17.03.15]
T01E08 – Outra
dinâmica funcionando melhor que a encomenda é a do protagonista com seu irmão
recluso – bem, nem tanto mais. [24.03.15]
T01E09 – Enquanto
Mike mais uma vez mostra porque é um badass motherfucker, Jimmy prossegue no
núcleo "que peninha dele". [31.03.15]
T01E10 – No
finalzinho da temporada, após reviver seus "dias escorregadios",
Jimmy tem um insight nada politicamente correto. [08.04.15]
DEMOLIDOR – 1ª temporada * * ½
[Daredevil – Season
1, EUA, 2015]
13 episódios
Para o deleite dos
fãs, bebe na fonte de Frank Miller: é uma série sombria e violenta que humaniza
os personagens. Pelo menos, até onde pode. Só o fato dessa primeira parceria
entre Marvel e Netflix deixar no chinelo a problemática versão cinematográfica
com Ben Affleck, lá nos idos de 2003, já pede uma conferida. Com Drew Goddard
[“O Segredo da Cabana”, 2012] no comando criativo, o herói criado em 1964 por
Stan Lee e Bill Everett como uma representação das contradições católicas testa
seus limites físicos e morais para limpar sua Hell’s Kitchen, mergulhada no
sangue [como deixa claro a abertura] da corrupção. O personagem é feito pelo
pouco conhecido Charlie Cox, um sujeito esforçado quando não força. Temos
também o Foggy Nelson de Elden Henson, a Karen Page de Deborah Ann Woll e o
jornalista Ben Urich de Vondie Curtis-Hall. Fora esses, há participações de
Rosario Dawson, Scott Glenn, Bob Gunton e Toby Leonard Moore em papéis
secundários que aqui e ali se destacam. Todavia, nenhum dos citados, seja do
time principal ou do outro, consegue puxar o tapete de Vincent D’Onofrio. Na
pele do vilão Wilson Fisk, ou Rei do Crime para os íntimos, ele me parece o
maior acerto da série, que se preocupa em torná-lo complexo, ameaçador, interessante,
ainda que o clichê do trauma de infância seja um deslize. Na verdade, é o único
personagem que arranja uma namorada, uma ousadia bem vinda [até os meninos maus
amam, ora]. Seu arco dramático para decidir se é um anti-herói incompreendido
querendo “ajudar” Nova York ou assumir a crueldade da vilania é o ponto alto
dessa temporada. Funcionando como uma espécie de Ano Um do Demolidor, sua
caracterização vai sendo construída bem aos poucos, o que pode impacientar um ou outro
telespectador. Em contrapartida, a natureza violenta do herói é mostrada quase
de maneira gráfica, suscitando boas reflexões sobre, aliadas às introjeções do
catolicismo. Com 13 episódios de quase uma hora cada, a narrativa sofre no
ritmo da metade para frente, por vezes cansando. Não sei se pelo plot em si, o
qual nunca chega a ter um desenvolvimento mais empolgante [as melhores
reviravoltas são com Fisk]. O que permanece é a fotografia bem cuidada. Junto
com ela, um super-herói formando sua personalidade em meio à toda violência de
uma surrada trama policial. [10-12.04.15 – Netflix]
GOTHAM – 1ª temporada * * ½
[Idem, EUA,
2014/2015]
22 episódios
T01E11 – Após o
break, a série retorna com um episódio focado no Asilo Arkham. Entretanto,
poderia ter sido muito melhor. Ou não? [22.01.15 – madrugada]
T01E12 – Sério, o
plano de Fish Mooney nunca foi essa genialidade toda. E o modo como Gordon captura
o vilão da vez beira o ridículo. [02.02.15]
T01E13 – Gordon
atravessa a movediça zona cinzenta de sua própria moral para driblar o sistema
corrupto. Mas até onde isso é válido? [05.01.15]
T01E14 – Mais uma
vez, Pinguim escapa fedendo da morte enquanto um jovem Espantalho dá as caras.
Nesse episódio, as fobias podem matar. Literalmente. [10.02.15]
T01E15 – Mesmo
sendo extremamente óbvio, confesso que curti o horripilante "batismo"
do Espantalho. Estou muito bonzinho com a série. [17.02.15 – madrugada]
T01E16 – Dessa vez,
o assassinato envolve os Graysons Voadores [sim, eu sei] e o desfecho traz uma
risada não difícil de reconhecer. [25.02.15]
T01E17 – É preciso
sangue frio para não ter uma mínima contração corporal involuntária diante do
que Fish Mooney faz nesse episódio. [02.03.15]
T01E18 – Consigo
lembrar quem irão se tornar quase todos os personagens. Menos um. A qual ator
fraquinho estou me referindo? [17.03.15]
T01E19 – A parte
final dessa temporada começa mais focada na[s] trama[s], além de girar em torno
do Ogro, um serial killer carente. [12.05.15]
T01E20 – Sério que
esse Ogro é mesmo uma mistura freaker dos freaks Norman Bates e Christian Grey?
A criatividade aí passou foi longe. [18.05.15]
T01E21 – O Ogro
encontra seu fim sem muito impacto. Nas empresas Wayne, quem dá as caras é a
versão mais nova de Morgan Freeman. [25.05.15]
T01E22 – Longe de
ser o alardeado final épico da temporada, mostra a resolução do plano do
Pinguim para ascender no mundo do crime. [26.05.15]
SENSE8 – 1ª temporada * * ½
[Idem, EUA, 2015]
12 episódios
A ambiciosa
narrativa holística dos Wachowskis soa mais como uma [intrigante] desculpa para
defender a bandeira das minorias. Não no sentido simplista ou pejorativo, mas
mostrando que a beleza e a complexidade da existência terrena estão justamente
nesse mosaico de seres diferentes e ao mesmo tempo conectados, não importa
questões sexuais, religiosas ou políticas. Por esse ângulo, o que os irmãos
Andy e Lana, juntos com o corroteirista J. Michael Straczynski, conceberam foi um
libelo de como diminuímos o mundo com demarcações morais, sexuais,
religiosas... A lista de categorias humanas aumenta a cada respirada que dou.
Estamos todos no mesmo barco [existimos, ora] e devíamos nos ajudar ao invés de
destruirmos uns aos outros. Tal panfleto bem intencionado vem embalado numa
pretensa sci-fi, na qual o desenvolvimento nem sempre faz jus à premissa
concebida: oito pessoas ao redor do globo ligadas entre si por uma ressonância
límbica, como explica o primeiro dos 12 longos episódios. A princípio eram 10,
mas a Netflix, que produziu a série, deixou os criadores aumentarem dois. Em
seus melhores momentos, a montagem paralela atinge um ótimo nível de
excelência, sobretudo nas sequências de ação em que os personagens se ajudam
num plano mental, cada um com sua particularidade, seja lutar ou até atuar.
Nada de super-heróis, a melhor das decisões.
A ousadia dos Wachowskis comete coisas antológicas, como uma orgia
transcendental. Saindo dessa esfera metafísica, o ritmo da série tropeça em si
o tempo inteiro, e muitas vezes cansa o fato da trama custar a entrar em
movimento. Nem todas as histórias são [ou se mantêm por algum tempo]
interessantes, o que me leva a crer que talvez não funcionassem de maneira
isolada. Embora haja discussões instigantes, diversos diálogos são indulgentes,
redundantes. Outra vez o vilão, sem expressividade, é parte de uma corporação
que nunca justifica sua caça aos “sensates”, como são chamados os
protagonistas, banhados em rasos estereótipos. Há grandes conceitos aqui, os
quais, apesar da duração da série, não são aprofundados. Ficam suspensos no ar,
como se esperando pela segunda temporada para mostrar o potencial que guardam.
Porque essa primeira viagem deixou um gosto agridoce de aperitivo. E eu não
vejo a hora de chegar à sobremesa. [07-09.06.15]
GAME OF THRONES – 5ª temporada * * *
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
T05E01 – A
temporada que promete ser a mais sanguinária até agora [dizem] já faz sua
primeira vítima. No fogo, a flecha da misericórdia. [12.04.15]
T05E02 –
Pretendendo ser justa como uma estátua de mármore, a Mhysa Daenerys continua a
comprovar ter sangue no olho. Mesmo soando cruel. [19.04.15]
T05E03 – Até John
Snow, um dos mais bonzinhos [caretas] da série, entende que um líder eleito
deve decepar algumas cabeças de vez em quando. [26.04.15]
T05E04 – Enquanto a
Fé Militante avança sem dó sobre os pecadores, os Filhos da Hárpia fazem um
levante brutal contra Daenerys. [03.05.15]
T05E05 – Embora
seja uma passagem rápida, gostei da atmosfera ancient de Valíria, até os Homens
de Pedra colocarem um fim na contemplação. [10.05.15]
T05E06 – Como
rainha-mãe, Cersei Lannister está mais maquiavélica do que nunca. Mas a
temporada precisa esquentar um pouco. [17.05.15]
T05E07 – Enquanto
Sam finalmente perde a virgindade [e geme], Tyrion se antecipa para oferecer-se
como presente a Khaleesi. [24.05.15]
T05E08 –
Finalmente, um episódio vibrante: Daenerys se alia a Tyrion e Corvos se unem
com Selvagens contra o exército-zumbi liderado pelos White Walkers. [31.05.15]
T05E09 – De toda a
série, esse episódio tem a morte mais penosa e cruel. Tanto que só é mostrada a
reação de quem a assiste. Menos a nossa. [07.06.15]
T05E10 – Em quanto
uns expiam os pecados [nem todos] numa caminhada humilhante, outros encontram
seu destino sem misericórdia alguma. [14.06.15]
MAGNÍFICA 70 – 1ª temporada * * * ½
[Idem, BRA, 2015]
13 episódios
T01E01 – O que
esperar de uma série brazuca que mistura cinema, candomblé e censura durante a
ditadura militar? Jogaram a isca. [24.05.15]
T01E02 – Nem sempre
a mise-en-scène é boa; contudo, ver um censor da ditadura virar roteirista de
cinema compensa as falhas. [31.05.15]
T01E03 – Reunião de
produção sem sangue rolando não é digna do cinema. E por algum motivo, sempre é
o roteirista quem se lasca primeiro. [07.06.15]
T01E04 – Chega
mesmo a ser irritante um episódio com flashbacks explicativos em demasia. Deixa
o fluxo da narrativa trôpego. [14.06.15]
T01E05 – Cláudio
Torres entrega um episódio equilibradíssimo acerca de tudo o que pode – e vai –
dar errado no primeiro dia de filmagem. [21.06.15]
T01E06 – Há algo
pior do que o produtor executivo meter a mão no seu filme-catártico? Talvez ter
dois rolos de filme queimados. [28.06.15]
T01E07 – Não deixam
Vicente curtir a depressão pós-filmagem por muito tempo nesse episódio do meio
dirigido por Carolina Jabor. [05.07.15]
T01E08 – Manolo
quebra o feitiço, mas descobre que a loira é falsa. Talvez seja o personagem
mais interessante até agora. [12.07.15]
T01E09 – Emtre as
confissões pessoais amargas e a primeira versão do filme pronta, a cruel peça
que parecia faltar é revelada. [02.08.15]
T01E10 – O plot
começa a dominar a narrativa, no que seria, estruturalmente, o episódio da
falsa derrota seguida de um twist. [02.08.15]
T01E11 – Fora o
fato de ter um esquema óbvio, esse é o episódio com o roteiro mais bem
costurado da série, em sua reta final. [03.08.15]
T01E12 – Difícil
deixar de apreciar a maneira como Cláudio Torres fez um assassinato reunir e
formalizar uma equipe de cinema. [09.08.15]
T01E13 – Se o general
Souto tem o sórdido fim que merece, o resto da equipe amarga ter se deixado
envolver tanto com a sétima arte. [16.08.15]
TRUE DETECTIVE * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
8 episódios
T02E01 – O início
soa promissor ao estabelecer a densidade da atmosfera neonoir e apresentar os
demônios internos de cada personagem. [21.06.15]
T02E02 – Mesmo com
um crime investigado por três jurisdições, o roteiro de Nic Pizzolatto não
perde o foco dos personagens. [28.06.15]
T02E03 – Vince
Vaughn está se redimindo como vilão após aquela imitação pavorosa de Anthony
Perkins na recriação de Van Sant. [05.07.15]
T02E04 – A primeira
batida policial dos três protagonistas não poderia ter sido mais desastrosa no
quesito contagem de corpos. [12.07.15]
T02E05 – O Massacre
de Vinci deixa consequências em cada um, mas a investigação prossegue. Agora
pelas sombras do sistema. [02.08.15]
T02E06 – A
sequência da orgia deixa claro que os dramas pessoais têm tanto impacto quanto
a trama bebida em "Chinatown" [1974]. [02.08.15]
T02E07 – Interessante
ver o quanto Pizzolatto é um ótimo roteirista, caprichando na trama adulta e
nos personagens complexos. [03.08.15]
T02E08 – Há tanto
coisas óbvias quanto brilhantes nesse longo episódio final. As últimas cenas de
Vaughn são arrebatadoras. [09.08.15]
NARCOS – 1ª temporada * * *
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
A escalada e
descida do inacreditável reinado do narcotraficante colombiano Pablo Escobar se
apoia no didatismo e na personificação de Wagner Moura. Não à toa, a narrativa
faz um paralelo com a escola literária do realismo mágico; há elementos que
poderiam muito bem ter saídos de um enredo do conterrâneo Gabriel García
Márquez. Com a diferença de estarmos a distância de um autêntico Gabo. A
produção da Netflix que serviu como desculpa oficial para o cineasta brasileiro
José Padilha [“Tropa de Elite 1 e 2” , 2007/2010] se autoexilar nos Estados
Unidos almeja abrir as veias do boom da cocaína na Colômbia dos anos 1980.
Todavia, se preocupa em explicar demais e cinematizar de menos. Ótimo para uns,
cansativo para outros. Até porque são tantos personagens disputando espaço e
atenção em 10 episódios de 45 a 55 minutos cada. Padilha dirige os dois
primeiros, que estabelecem com eficiência o tom e o estilo, para em seguida, na
função de produtor, distribuir os demais entre o mexicano Guillermo Navarro, o
colombiano Andrés Baiz e o brasileiro Fernando Coimbra. O diretor do suspense
brazuca “O Lobo Atrás da Porta” [2013] se destaca no comando dos episódios 7 e
8, se não me engano. Como se poderia esperar, Wagner Moura defende o
controverso Escobar sem pestanejar [ou o contrário, em virtude de seu tique de
piscar demais], mesmo falando em espanhol. Bom ou ruim na dicção, deixo para os
especialistas discutirem. O que não se questiona é sua dedicação e entrega. Tanto
que sua caracterização rivaliza quase em pé de igualdade com as fotografias
reais e imagens de arquivo de El Patrón inseridas na dramatização, de maneira
muito segura, precisamos reconhecer. Também temos Boyd Holbrook, Pedro Pascal,
Juan Pablo Raba, Ana de la Reguera e Joanna Christie em personagens que vão
crescendo ao longo dessa temporada com ecos de “Os Bons Companheiros” [1990] e
“Fogo Contra Fogo” [1995]. De certo, está longe de ser a grande série esperada.
Há problemas, começa bem melhor do que seu aparente gancho para a Season Two,
mas não tira a força de ser um documento quase íntimo de um dos mais audaciosos
psicopatas do final do século XX. Ainda que seja tão bem humanizado por seu
talentosíssimo intérprete. Não se engane: Com Pablo Emilio Escobar Gaviria era
“plata o plomo”. Sem discussão. [28-30.08.15 – Netflix]
HANNIBAL – 3ª temporada * * ½
[Idem, EUA, 2015]
13 episódios
Por fim, chega-se à
trama do livro de Thomas Harris, "Dragão Vermelho" [terceira
adaptação], sem maior apelo. [02.09.15]
SCREAM – 1ª temporada * ½
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
Nem o apelo
nostálgico da franquia "Pânico" salva essa atualização canhestra, com
twists óbvios e sem gritos. [02-04.10.15 – Netflix]
JESSICA JONES – 1ª temporada * * ½
[Jessica Jones -
Season One, EUA, 2015]
13 episódios
Duas coisas se
destacam: a heroína ser politicamente incorreta e a obsessão do vilão Kilgrave
por ela. [20-21.11.15 – Netflix]
THE LEFTOVERS – 2ª temporada * * *
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
T02E01 – Há um
enigmático prólogo e a mudança da ação para a cidade de Miracle, onde ninguém
desapareceu. Pelo menos até... [05.10.15 – madrugada]
T02E02 – Um
episódio-flashback com informações novas, velhos personagens e outro ponto de
vista do episódio anterior. [11.10.15]
T02E03 – Os ex-Remanescentes
Culpados também precisam vender uma promessa para dar sentido aos seus [poucos]
seguidores. [18.10.15]
T02E04 – O mote
dessa segunda temporada parece ter sido dito aqui: "Não existem milagres
em Miracle." Será mesmo? Hum... [25.10.15]
T02E05 – Se existem
mesmo milagres em Miracle, eles levam a caminhos bizarros e tortuosos. Que o
diga Christopher Eccleston. [01.11.15]
T02E06 – A pressão
desse episódio desaba toda, e sem dó, sobre a personagem de Carrie Coon. Que
cena, a dela com Regina King. [08.11.15]
T02E07 – Agora é
Justin Theroux quem sente a mão pesada da narrativa e nos leva ao desfecho de
episódio mais chocante da série. [15.11.15]
T02E08 – Theroux
descobre o quão estranha pode ser a missão para livrar-se de um encosto. Com
referências a "O Poderoso Chefão". [23.11.15 – madrugada]
T02E09 – Para
variar, uma mudança de núcleo. Voltamos à personagem de Liv Tyler e a
descobrimos envolvida no sumiço das meninas. [30.11.15 – madrugada]
T02E10 – O desfecho
da temporada faz jus à [boa] estranheza da narrativa. Destroça famílias ao
mesmo tempo que reúne outras. [06.12.15 – madrugada]
GOTHAM – 2ª temporada * * ½
[Idem, EUA, 2015]
22 episódios
T02E01 – A
temporada já começa com altos e [mais] baixos, e traz uma espécie de
"esquadrão suicida". Isso confere, HQs maníacos? [20.10.15]
T02E02 – The
Maniax, liderado pelo pré-Coringa, toca o fogo na cidade; ao passo que o núcleo
do pré-Batman continua chatinho demais. [24.10.15]
T02E03 – Já se
livraram da versão teen do Coringa de Heath Ledger? Cameron Monaghan até que
[se es]forçou [n]a gargalhada, mas... [26.10.15]
T02E04 – Emtre
assassinatos e a criação de uma força-tarefa, há o clima de romance rondando o
pré-Charada e o pré-Batman tapado. [31.10.15]
T02E05 – Revela a
motivação incendiária de Theo Galavan e sua relação de ódio com os Waynes.
Mas... alguém notou a ausência de Bruce? [06.11.15]
T02E06 – Um
episódio que exercita, em diferentes camadas, o caduco [lúcido?] clichê
"quem brinca com fogo, termina se queimando". [08.11.15]
T02E07 – Pinguim em
fúria, Nygma cada vez mais surtado, Bruce abestalhado como sempre e Gordon
enfim percebe o óbvio sobre Galavan. [15.11.15]
T02E08 – Assim como
soa incoerente a veloz ascensão de Galavan, sua suposta queda é um terrível
atestado de mediocridade narrativa. [23.11.15]
T02E09 – Gordon
acuado por assassinos profissionais enquanto Nygma quer conselhos do Pinguim e
o ajuda a sair da depressão. Rise... [29.11.15]
T02E10 – O destaque
não é Bruce firme pela primeira vez ou o twist óbvio de Galavan, é a pontaria
certeira de Tabitha com a faca. [06.12.15]
T02E11 – Todos se
unem para salvar a vida do Filho de Gotham. Gordon cruza a linha de vez. E o
epílogo dá o gostinho do que vem. [13.12.15]
ZÉ DO CAIXÃO – 1ª temporada * * ½
[Idem, BRA, 2015]
6 episódios
T01E01 – Começa nos
bastidores de "A Sina do Aventureiro" [1958]. Difícil dizer quando
Matheus Nachtergaele mimetiza e quando homenageia Mojica. [18.11.15]
T01E02 –
Testemunhamos o nascimento do icônico, e fúnebre, personagem-título para o
clássico "À Meia-Noite Levarei Sua Alma" [1964]. Sobe um degrau.
[20.11.15]
T01E03 – Uma das
coisas bacanas da série é a tentativa de recriar cenas dos filmes de Mojica,
aqui "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver" [1966]. [29.11.15]
T01E04 – Mojica tem
que lidar com a popularidade de seu alter ego, mas termina "despertando a
besta" para a situação política do país em 1969. [06.12.15]
T01E05 – Além de
fazer um filme com socialite assassina confessa, o "inculto" cineasta
se arrisca na política. Nachtergaele está cada vez melhor. [13.12.15]
T01E06 – A maior
impressão que fica, fora o notável esforço de Nachtergaele, é o potencial da
série não ter sido devidamente explorado. [18.12.15]
FARGO – 2ª temporada * * * ½
[Fargo – Season 2,
EUA, 2015]
10 episódios
T02E01 – Noah
Hawley inicia muito bem uma trama que promete ser mais enrolada [no bom
sentido, claro] que a da temporada anterior. [15.12.15]
T02E02 – Como não
saborear [trocadilho infame?] a referência ao filme dos Coen na cena de Jesse
Plemons moendo o pé de Kieran Culkin? [16.12.15]
T02E03 – Patrick
Wilson cutuca as onças de perto. O casal Jesse Plemons e Kirsten Dunst tenta
"dar um jeitinho" no carro arrebentado. [18.12.15]
T02E04 – Se o índio
feito por Zahn McClarnon usa suas habilidades para rastrear Kieran Culkin,
Wilson mata a charada apenas na dedução. [21.12.15 - madrugada]
T02E05 – A guerra
entre os clãs começou a, oficialmente, contabilizar corpos, e nem o "sonho
americano" de Plemons escapa do fogo. [23.12.15]
T02E06 – Estrutura
toda a tensão em torno de três cercos na mesma noite. Quase parece evocar um
neo-western em determinados momentos. [25.12.15]
T02E07 – Em meio à
guerra por território e ao fogo cruzado, a narrativa ainda encontra espaço para
o rancor das relações familiares. [26.12.15]
T02E08 – Um
episódio inspirado em torno do "esperto plano" do casal Plemons e
Dunst, esta, ao que parece, surtada em sua "revelação". [27.12.15]
T02E09 – O
sangrento Massacre de Sioux Falls executado em grande estilo – e ainda com
inusitados elementos vindos de fora do planeta. [27.12.15]
T02E10 – Noah
Hawley opta por um desfecho na atmosfera da fonte original. E ainda reserva uma
surpresinha a quem não atenta aos detalhes. [30.12.15 – Guabes]
ASH vs EVIL DEAD – 1ª temporada
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
T01E01 – Sam Raimi
se [e nos] diverte no comando do episódio-piloto, sem medo de exagerar no gore
gráfico e no humor negro. [15.11.15]
T01E02 – O ponto
alto da série é a completa falta de compromisso em se levar a sério. Os planos
de câmera são irreverentes. [18.11.15]
T01E03 – Ash tem a
"brilhante" ideia de invocar um demônio "fraquinho" para
obter "informações". Preciso de mais aspas? [23.11.15]
T01E04 – El Jefe
vai ao encontro de El Brujo viajar na ayahuasca, mas a surpresa mesmo é a mão
amputada de Ash aparecer. [29.11.15]
T01E05 – O herói
vai deixando um rastro de sangue por onde passa, ao passo em que é seguido pela
própria mão putrefata. [06.11.15]
T01E06 – Parece que
revisitaremos o cenário do filme original daqui alguns episódios. Não sem muito
gore antes disso. [14.12.15]
T01E07 – A estrutura
já não consegue esconder o fato de arrastar a premissa simples, que talvez
funcionasse melhor num longa. [24.12.15]
T01E08 – Os ecos do
filme original sem dúvida fazem o episódio crescer. Mas vão além, e até
conseguem umas sacadas bacanas. [27.12.15]
T01E09 – Destruir o
Necromonicon não é das tarefas mais simples. Ainda mais quando é revelado seu
suposto autor. Ou autora. [03.01.16]
T01E10 – Na season
finale, a cabana literalmente ganha vida – enquanto nosso insensato herói luta
contra a sedução de um "acordo". [05.01.16]
Pilotos
BALLERS
[Idem, EUA, 2015]
T01E01 – Dwayne
Johnson encabeça essa série meia-boca [pelo piloto] que acompanha a rotina dos
atletas pós-aposentadoria do futebol. [21.06.15]
THE BRINK
[Idem, EUA, 2015]
T01E01 – Jay Roach
["Austin Powers"] dirige o piloto dessa sátira política e acerta o
timing do texto experto dos irmãos Benabib. [22.06.15 - madrugada]
FEAR THE WALKING DEAD
[Idem, EUA, 2015]
T01E01 – Piloto sem
graça, na abordagem e no tom. Pelo visto, não trará nenhuma novidade à
desgastada temática zumbi. [24.08.15 – AMC]
Revistos
APOCALYPSE NOW REDUX * * * * *
[Idem, EUA,
1979/2001]
Drama/Guerra - 202
min
Em meio a Guerra do
Vietnã, capitão do exército norte-americano recebe a missão de adentrar o
Camboja e matar um renomado coronel, também norte-americano, que aparentemente
enlouqueceu na floresta e se transformou em uma espécie de deus para um grupo
de nativos. Assisti a “Apocalypse Now”, adaptação personalíssima de “O Coração
das Trevas” [Joseph Conrad, 1902], pela primeira vez em meados de 1996, com
então 13 anos de idade, e na época não gostei muito do filme. Achei-o chato e
sem muito atrativo. Assisti a “Apocalypse Now” cedo demais. Agora, assistindo
ao filme reeditado e ampliado em quase uma hora, não há como não cultuar o
resultado obtido, uma verdadeira obra-prima do cinema. Não tenha dúvida:
“Redux” veio sepultar de vez a versão anterior. A odisseia do cap. Willard
[talvez a melhor atuação de Martin Sheen] dentro de uma guerra claramente
estúpida e sem sentido ficou ainda mais fascinante. Com mais tempo, entramos e
compreendemos melhor a narrativa psicológica de Coppola, a gradativa fascinação
de Willard pelo coronel Kurtz [Marlon Brando] e o entranhamento nos cantos
obscuros do ser humano à medida que a guerra vai perdendo o controle e,
sobretudo, o sentido. “Redux” é muito mais denso e intenso que a antiga versão.
A premiada fotografia de Vittorio Storaro está deslumbrante, até mesmo nas
cenas mais escuras do final, assim como Coppola entrega uma direção magnífica,
recheada de sequências antológicas, como o ataque de helicópteros ao som de “A
Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner. São cerca de quatorze
cenas/sequências adicionadas, todas originais, que ficaram de fora na época.
Com isso, o filme ganhou outras conotações, ficou mais lindo e poético. Ganhou
mulheres também, como a parte em que o grupo que conduz Willard a seu destino
transa com as coelhinhas da Playboy, presas em um acampamento por falta de
gasolina. A sequência da plantação francesa vem somar com as ideologias que
permeiam a história, mostra a Willard uma nova visão da guerra. Brando aparece
em uma cena inédita, que nos permite, em conjunto com as outras, ter uma visão
mais completa da personalidade complexa e conflitante de seu personagem. Todos
sabem do verdadeiro inferno que foi rodar “Apocalypse Now” [desastres naturais,
o enfarto de Martin Sheen, a loucura do diretor, a obesidade de Brando, etc.] e
essa versão veio fazer jus a tudo isso. Coppola afirma nunca ter pensado em um
final alternativo; o original já é sombrio e simbólico o suficiente. O
horror... o horror... [27.10.02/17.02.15]
A NOVIÇA REBELDE * * * *
[The Sound of Music, EUA, 1965]
Musical - 174 min
Eu já havia
esquecido o quanto é adorável esse musical dirigido por Robert Wise, com Julie
Andrews e Christopher Plummer. Nada melhor do que aproveitar o aniversário de
50 anos da estreia do filme [2 de março] para revê-lo e corrigir tal lapso. Imperdoável.
Até porque, meio século depois, a produção continua saborosa, encantando
antigos e novos apreciadores. Venceu a prova do tempo. Daqui 50 anos será visto
com encanto semelhante, provavelmente com mais nostalgia de um tempo que eles
[os humanos do futuro] não viveram. A sensacional abertura ultrapassa montanhas
e mais montanhas para encontrar Andrews cantando “The Sound of Music”, numa
época em que drones eram pura ficção científica. O título nacional entrega a
primeira parte da história de Maria, uma austríaca que registrou em livro seu
envolvimento com os Von Trapp e a descoberta do dom musical da família. Isso
pré-Segunda Guerra Mundial. Houveram outras versões antes, porém nenhuma se compara
ao êxito dessa adaptação da peça musical de Howard Lindsay e Russel Crouse, por
sua vez baseada no livro da verdadeira ex-noviça. Se atualizarmos as contas, é
a terceira maior bilheteria do cinema estadunidense. Ganhou 5 Oscars, incluindo
filme e direção. A real família Von Trapp tinha quatro filhos, aumentados para
sete por conta das notas musicais. Cada criança uma nota? Só sei que a canção
“Do Re Mi” consegue sintetizar a teoria musical com didatismo e criatividade.
Do lado dos adultos, Plummer e Andrews não transparecem a melhor das químicas,
mas isso não atrapalha muito. Se bem que um tempero extra não faria mal nenhum.
Wise, em seu segundo musical [o primeiro foi “Amor, Sublime Amor”, de 1961], dirige
com rigoroso formalismo, aproveitando ao máximo a fotografia de Ted D. McCord e
o design de produção de Boris Leven. Musical é timing e marcação, o que às
vezes não transcende a forte impressão de ensaio. Realizado fora da época de
ouro do gênero em Hollywood, o filme é um dos últimos musicais cinematográficos
a apostar na inocência e no otimismo. Julie Andrews relutou em aceitar o papel
por causa da babá que acabara de fazer em “Mary Poppins” [1964], achava ambos
muito parecidos. Não é dos meus musicais favoritos, devo admitir. Contudo, é o
que menos importa diante da enorme popularidade conquistada nos últimos 50
anos. Algo que certamente se repetirá nos próximos 50. A bela homenagem feita
por Lady Gaga na última cerimônia do Oscar é prova disso. Pelo menos agora eu lembro
o motivo de ter marcado tanto a minha infância. É uma experiência impossível de
perder e não passar dias cantarolando as canções de Richard Rodgers e Oscar
Hammerstein II. [04.03.15 – madrugada]
BOND, JAMES BOND
007 Contra o
Satânico Dr. No. [1962] * * *
Moscou Contra 007
[1963] * * * *
007 Contra
Goldfinger [1964] * * * *
Com 007 Só se Vive
Duas Vezes [1967] * * *
007 – A Serviço
Secreto de Sua Majestade [1969] * * *
007 – Os Diamantes
São Eternos [1971] * * *
Com 007 Viva e
Deixe Morrer [1973] * * *
007 Contra o Homem
com a Pistola de Ouro [1974] * * *
007 – O Espião que
Me Amava [1977] * * *
007 Contra o
Foguete da Morte [1979] * * *
007 – Somente para
Seus Olhos [1981] * * *
007 Contra
Octopussy [1983] * * *
007 – Na Mira dos
Assassinos [1985] * * *
007 Contra
Goldeneye [1995] * * *
007 – O Amanhã
Nunca Morre [1997] * * *
007 – O Mundo não é
o Bastante [1999] * * *
007 – Um Novo Dia
para Morrer [2002] * * *
007 Cassino Royale
[2006] * * * *
007 Quantum of
Solace [2008] * * *
007 – Operação
Skyfall [2012] * * * *
007 Contra Spectre
[2015] * * *
007 - Nunca Mais
Outra Vez [1983] * * *
..........
STAR WARS
Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma [1999] * * * | 08.11.15
Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones [2002] * * * ½ | 15.11.15
Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith [2005] * * * ½ | 22.11.15
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança [1977] * * * ½ | 29.11.15
Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca [1980] * * * ½ | 06.12.15
Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi [1983] * * * | 13.12.15
Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força [2015] * * * ½ | 17.12.15
MELHORES, PIORES E AFINS DE 2015
30 de dezembro de 2015
Será preciso esclarecer que as
listas abaixo não são [nunca são] definitivas? Que se referem mais à data
[sempre] de sua publicação? Que certamente mudarão daqui um mês ou um ano,
quando, quem sabe, terei assistido aos filmes que [supostamente] ainda tenho
que assistir para compilar listas mais, digamos, apuradas. Fora o fato de
serem, via de regra, inteiramente subjetivas.
É na hora de pensar nessas
famigeradas listas que todo mundo aguarda só para poder discutir, discordar,
propor a sua, que sinto o quanto estou [estamos] distantes dos bons centros de
exibição. De pouco adianta a chegada de novas salas de cinema se a programação
mantém um cardápio pobre, quase padronizado, como se apenas tivesse aqui gado
da mesma raça. Infelizmente, é assim que ainda somos tratados, marcados,
ferrados.
Sei que, em tempos de internet
[houve/haverá outro tempo?], ninguém precisa mais se sentir preso ao
[des]tratamento imposto por sei lá qual deus/demônio do mercado. Contudo, ainda
espero o dia no qual todos terão acesso [legal, se assim for] aos produtos
culturais que brotam dos mais diversos cantos do mundo. Enquanto amanhã
houver... Por que não?
Vamos às listas de hoje.
Feliz ano novo!...
- OS MELHORES
BEST OF ENEMIES
[Idem, EUA - Documentário]
CAROL
[Idem, GB/EUA - Romance]
DIVERTIDA MENTE
[Inside Out, EUA - Animação]
EX MACHINA – INSTINTO ARTIFICIAL
[Idem, GB - Ficção]
MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA
[Mad Max: Fury Road, EUA/AUS -
Ficção]
OS OITO ODIADOS
[The Hateful Eight, EUA - Western]
QUE HORAS ELA VOLTA?
[Idem, BRA - Drama]
O REGRESSO
[The Revenant, EUA - Western]
SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS
[Spotlight, EUA - Drama]
A VERDADE SOBRE MARLON BRANDO
[Listen to Me Marlon, GB -
Documentário]
. Menção honrosa:
SICARIO – TERRA DE NINGUÉM
[Sicario, EUA - Policial]
- OS PIORES
BATA ANTES DE ENTRAR
[Knock Knock, EUA - Suspense]
CINQUENTA TONS DE CINZA
[Fifty Shades of Grey, EUA/GB -
Romance]
COMO SOBREVIVER A UM ATAQUE ZUMBI
[Scouts Guide to the Zombie
Apocalypse - Comédia]
HACKER
[Blackhat, EUA - Suspense]
MORTDECAI – A ARTE DA TRAPAÇA
[Mortdecai, GB/EUA - Comédia]
POLTERGEIST – O FENÔMENO
[Poltergeist, EUA - Terror]
QUARTETO FANTÁSTICO
[Fantastic Four, EUA - Aventura]
RENASCIDA DO INFERNO
[The Lazarus Effect, EUA - Terror]
O ÚLTIMO CAÇADOR DE BRUXAS
[The Last Witch Hunter, EUA -
Ação/Terror]
VICTOR FRANKENSTEIN
[Idem, EUA - Aventura]
Outros:
O AGENTE DA U.N.C.L.E.
AMERICAN ULTRA – ARMADOS E
ALUCINADOS
BELAS E PERSEGUIDAS
O CONTO DOS CONTOS
LUGARES ESCUROS
NOCAUTE
OLHOS DA JUSTIÇA
PIXELS
THE RIDICULOUS 6
A VISITA
- OS MARRONS
OS 33
[The 33, EUA/CHL - Drama]
O DESTINO DE JÚPITER
[Jupiter Ascending, EUA - Ficção]
A ESPIÃ QUE SABIA DE MENOS
[Spy, EUA - Comédia]
O EXTERMINADOR DO FUTURO: GÊNESIS
[Terminator: Genisys, EUA - Ficção]
LOVE
[Idem, FRA/BEL - Romance]
MINIONS
[Idem, EUA - Animação]
NO CORAÇÃO DO MAR
[In the Heart of the Sea, EUA -
Aventura/Drama]
O PRESENTE
[The Gift, AUS/EUA - Suspense]
A SÉRIE DIVERGENTE: INSURGENTE
[Insurgent, EUA - Aventura]
TERREMOTO – A FALHA DE SAN ANDREAS
[San Andreas, EUA - Ação]
- AS SURPRESAS
BEASTS OF NO NATION
[Idem, EUA, 2015 - Drama/Guerra]
ENTRE ABELHAS
[Idem, BRA - Drama/Comédia]
EU, VOCÊ E A GAROTA QUE VAI MORRER
[Me and Earl and the Dying Girl, EUA
- Drama/Comédia]
O FIM DA TURNÊ
[The End of the Tour, EUA - Drama]
HOMEM-FORMIGA
[Ant-Man, EUA - Aventura]
JURASSIC WORLD – O MUNDO DOS
DINOSSAUROS
[Jurassic World, EUA/CHI - Aventura]
THE LOBSTER
[Idem, IRL/GB/GRC/FRA/NLD/EUA -
Drama]
PERDIDO EM MARTE
[The Martian, EUA - Ficção]
SCHNEIDER VS. BAX
[Idem, NLD - Suspense]
TOMORROWLAND – O LUGAR ONDE NADA É
IMPOSSÍVEL
[Tomorrowland, EUA/ESP - Ficção]
- REBARBA DE 2014
. MELHORES
ALIVE INSIDE
[Idem, EUA - Documentário]
BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA
IGNORÂNCIA)
[Birdman: or (The Unexpected Virtue
of Ignorance), EUA/CAN - Comédia/Drama]
BRANCO SAI, PRETO FICA
[Idem, BRA - Ficção]
CÁSSIA ELLER
[Idem, BRA - Documentário]
CITIZENFOUR
[Idem, ALE/EUA - Documentário]
A GANGUE
[Plemya, UKR/HOL - Drama]
A HISTÓRIA DA ETERNIDADE
[Idem, BRA - Drama]
MOMMY
[Idem, CAN - Drama]
SELMA – UMA LUTA PELA IGUALDADE
[Selma, EUA - Drama]
WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO
[Whiplash, EUA - Drama]
Outros:
CORRENTE DO MAL
[It Follows, EUA - Terror]
DEUS BRANCO
[Fehèr Isten, HUN/ALE/SUE - Drama]
LA ISLA MÍNIMA
[Idem, ESP - Suspense]
PARA SEMPRE ALICE
[Still Alice, EUA - Drama]
RELATOS SELVAGENS
[Relatos Salvajes, ARG/ESP -
Comédia/Drama]
STARRY EYES
[Idem, EUA/BEL - Terror]
. PIORES
ANTES DE DORMIR *
[Before I Go to Sleep, GB/FRA/SUE -
Suspense]
CAMINHOS DA FLORESTA
[Into the Woods, EUA/GB - Musical]
A CONVOCAÇÃO
[The Calling, EUA/CAN - Suspense]
JÚLIO SUMIU
[Idem, BRA - Comédia]
RIO PERDIDO
[Lost River, EUA - Drama]
O SÉTIMO FILHO
[Seventh Son, EUA/GB/CAN/CHI -
Aventura]
UNITED PASSIONS
[Idem, FRA - Drama]
CLÁSSICOS
AS CANÇÕES * * * * *
[Idem, BRA - 2011 - Documentário]
A FONTE DA DONZELA * * * *
[Jungfrukällan, SUE, 1960 - Drama]
A ENSEADA * * * *
[The Cove, EUA, 2009 - Documentário]
A EMBRIAGUEZ DO SUCESSO * * * *
[Sweet Smell of Success, EUA, 1957 -
Drama]
ALEMANHA, ANO ZERO * * * *
[Germania Anno Zero, ITA/FRA/ALE,
1948 - Drama]
O ESPÍRITO DA COLMEIA * * * *
[El Espíritu de la Colmena, ESP,
1973 - Drama]
DEAR ZACHARY: A LETTER TO A SON
ABOUT HIS FATHER * * * *
[Idem, EUA, 2008 - Documentrio]
O ESPELHO * * * *
[Zerkalo, URSS, 1975 - Drama]
FAUSTO * * * *
[Faust: Eine deutsche Volkssage,
ALE, 1926 - Terror]
AURORA * * * * *
[Sunrise: A Song of Two Humans, EUA,
1927 - Drama/Romance]
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