Filmes de 2009 [comentários]

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

LULA, O FILHO DO BRASIL * *
[Idem, BRA, 2009]
Drama - 128 min
A incrível história de Lula se transforma num filme açucarado pelas mãos da família Barreto, além de parecer um resumo biográfico. O roteiro apenas segue, sem muita criatividade, a vida de Lula de maneira tendenciosa, focando pouco o contexto sócio-político do país. Fora seus méritos e deméritos narrativos, "Lula" é uma produção hipócrita por ser política e tentar mascarar a política por trás de si. Uma propaganda de luxo (foram 18 milhões gastos na realização) de um partido que sequer é mencionado durante toda a sua longa projeção. Certamente "Lula, o Filho do Brasil" ganharia uma nota melhor se fosse um filme aberto e, sobretudo, honesto consigo mesmo. [02.01.10 - cinema]

SEMPRE AO SEU LADO * * ½
[Hatchiko – A Dog’s Story, EUA, 2009]
Drama - 93 min
Pega carona com o sucesso de "Marley & Eu" este remake de um filme japonês de 1987, por sua vez inspirado numa história real e comovente, sob medida para forçar as lágrimas. Saudades de quando Beethoven era o Magnífico. [2010]

O PRIMEIRO MENTIROSO * * * *
[The Invention of Lying, EUA, 2009]
Comédia - 100 min
Ricky Gervais comprova seu talento criativo nesta sátira original e bem acabada das relações e dos próprios anseios humanos. A ideia de um mundo no qual todos são extremamente honestos e dizem tudo o que pensam permite cenas e diálogos inusitadíssimos, conduzidos por um humor inteligente e refinado. As alfinetadas no processo da fé cristã e na busca do par ideal para procriar são verdadeiras pérolas. Pena o título nacional passar longe de ser atrativo e fazer jus à obra. [2010]

TETRO * * * ½
[Idem, EUA/ARG/ESP/ITA, 2009]
Drama - 127 min
Francis Ford Coppola concebe uma pequena obra de arte personalíssima sobre uma família cheia de talentos e seus conflitos de ego. O tema do gênio no seio familiar norteia essa preciosa narrativa pessoal. Sim, Coppola vem de uma família produtora de talentos, desde seu pai, o músico Carmine Coppola, à sua filha, também cineasta, Sofia Coppola. Não nos esqueçamos de sua irmã Talia Shire e do sobrinho Nicholas Cage – este meio duvidoso. Longe das obras que o consagraram como um dos maiores realizadores do século XX, Coppola adota aqui uma narrativa intimista, captada em digital, alternando um belíssimo preto e branco com um colorido disfarçado de 16 mm [fizera algo parecido em “O Selvagem da Motocicleta”, com Matt Dilon]. O recurso nada original é claro em sua mensagem: o passado é mais forte que o presente quando há coisas não resolvidas. Mas a vida é feita de coisas não resolvidas, não? Seja como for, a modesta produção traz o sempre intenso [para o bem ou para o mal] Vincent Gallo como um aspirante a escritor em Bueno Aires cujo passado tortuoso volta para assombrar na pele de seu irmão mais novo, que, seguindo seus passos, também fugiu de casa. O pai é esse maestro autoritário [Klaus Maria Brandauer] que não aceita nenhum outro membro da família o ofuscando. Surpreendentemente, o filme se revela como uma sombria lavagem de roupa suja e acerto de contas familiar, fato mais comum do que se imagina. Gallo está no tom certo, e outra que chama a atenção é a espanhola Maribel Verdú. Achei Alden Ehrenreich, que faz o irmão do protagonista, fraquinho em diversas cenas que requeriam algo a mais. Francis Coppola demonstra uma liberdade criativa de quem nada deve ao cinema. Trata-se de um pós-Coppola ou do verdadeiro artista que já pagou todos os débitos com a trilogia “O Poderoso Chefão” e “Apocalipse Now”? O subtexto de seu filme nos permite tal digressão. O autor fala, grita, por meio de sua obra. Assim como ocorre com Woody Allen, o artista alcança um ponto no qual é quase perda de tempo julgar, classificar e/ou racionalizar seus trabalhos como bons ou ruins. O que cabe a nós é aproveitar a quem ainda nos fará muita falta. [29.01.12]

OS INQUILINOS * * *
[Idem, BRA, 2009]
Suspense – 103 min
Mesmo superestimando a tese, Sérgio Bianchi constrói boa tensão em cima da impotência nossa perante a violência. Os críticos apontam como um dos problemas do Cinema da Retomada no Brasil justamente essa defesa de tese como se o filme tivesse a obrigação de ser um trabalho acadêmico. Se se aborda a pobreza, colocam-se cenas debatendo a pobreza, mesmo que em nada contribuam para mover a narrativa. Aqui tais cenas ocorrem numa sala de aula, a tese é a classe média baixa e seu convívio com a violência. Lembre que o primeiro “Tropa de Elite” também usa o ambiente para discutir as relações de poder, sobretudo da polícia. Nem sempre são elementos inorgânicos, mas o enredo ainda funcionaria sem eles. De todo modo, há a sensação de que a história para quando o realizador necessita mastigar ao espectador o que ele quer dizer com seu filme. Pura insegurança. Na trama de Bianchi, a família do protagonista sai do sossego quando três marginais alugam a casa vizinha. Não só essa família, como o bairro inteiro parece afetado com os novos moradores. E por coercitividade social, talvez, ninguém arrisca escancarar o incômodo. Como o maior afetado é nosso protagonista [Marat Descartes], ele rompe a passividade coletiva, ainda que resulte ao final num sentimento de culpa. Bianchi quase faz de sua tese um estudo de personagem, o que de certo seria maravilhoso, mas opta por priorizar a mensagem ao invés da história. Quando iremos compreender o que significa cinema? A narrativa é boa, tem sacadas interessantes, porém não chega ao extremo, e cinema é extrapolar a própria premissa. Como é, infelizmente, comum, os temas surgem e são abandonados na mesma medida, além do desfile de atores conhecidos em pequenas participações que só distrai o movimento do roteiro. O sorriso que a esposa dá pela janela da cozinha ao marido se sentindo culpado pela morte do vizinho é outro incômodo para muitos críticos, pois arrisca subverter, sem embasamento, todo o discurso da obra. Como diz Sérgio Bianchi no apropriado subtítulo, os incomodados que se mudem. [26.01.13]
UM HOMEM QUALQUER * ½
[Idem, BRA, 2009]
Comédia - 90 min
Uma bagunça de ideias que se entrecruzam sem aprofundamento ou mesmo coerência narrativa nessa comédia dramática brazuca. Escrita e dirigida por Caio Vecchio, até arrisca levantar questões interessantes – nenhuma original –, mas são apenas jogadas ao vento por um plot sem estrutura e fraquinho. No elenco, Eriberto Leão, Nanda Costa, Carlos Vereza. [03.02.14]

AS COISAS IMPOSSÍVEIS DO AMOR * *
[Love and Other Impossible Pursuits, EUA, 2009]
Drama - 102 min
Don Roos coloca Natalie Portman para mostrar o quanto a vida pode ser difícil de ser compartilhada. Ainda mais se você não consegue a simpatia do enteado ou se sente culpada pela morte de seu bebê de três dias. Roos gosta de nos jogar em situações delicadas, como o fez em “O Oposto do Sexo” [1998] e “Mais que o Acaso” [2000], e encontra no livro da israelense Aylete Waldman [casada com o também escritor Michael Chabon, autor de “Garotos Incríveis”] um prato cheio. Portman faz uma personagem amarga, cuja infelicidade respinga com violência nas pessoas mais próximas. O filme é construído em cima das questões as quais a protagonista não consegue lidar. Não é uma experiência ruim, mas deixa um gosto agridoce. [05.09.14 – madrugada]

A ENSEADA * * * *
[The Cove, EUA, 2009]
Documentário - 92 min
Impossível não sentir asco de ser da mesma espécie dos que promovem a injustificada matança de golfinhos na baía de Taiji, no Japão. Muito menos não endossar a causa de Ric O’Barry, que virou ativista contra o cativeiro de golfinhos e baleias depois de praticamente ter popularizado a atividade ao trabalhar para o seriado de TV “Flipper”, nos anos 1960. Seu choque, e despertar de consciência, foi presenciar o suicídio de Cathy, um dos cinco golfinhos fêmeas “bico de garrafa” que faziam o protagonista da série. O nosso é testemunhar, por meio de equipamentos escondidos na fatídica enseada, o horror dos golfinhos sendo abatidos sem humanidade enquanto a água se converte num imenso mar de sangue. O diretor Louie Psihoyos realizou um documentário-denúncia que não deixa ninguém com um mínimo de sensibilidade indiferente à prática acobertada dos japoneses pelo próprio governo do país. Assim como o mais recente “Fúria Animal” [2013], trata-se de uma experiência revoltante sobre uma realidade que não pode continuar. [01.04.15]

SEDUÇÃO * *
[Cracks, GB/IRL/ESP/FRA/SUE, 2009]
Drama - 104 min
Mais parece uma mistura de "Sociedade dos Poetas Mortos" [1989] com "Assunto de Meninas" [2001] subvertendo os elementos de ambos. Jordan Scott, filha de Ridley, estreia na direção de longas com essa adaptação do romance escrito por Sheila Kohler. Não se trata de um filme ruim, apenas não sabe chegar ao nervo da história que pretende contar. A preocupação da diretora com as nunces psicológicas das personagens sabota a própria narrativa, não a deixa desenvolvê-la melhor. A britânica Juno Temple [“Desejo e Reparação”, 2007] e a espanhola María Valverde [“100 Escovadas Antes de Dormir”, 2005] puxam fácil o tapete da francesa Eva Green [“007 – Cassino Royale”, 2006]. A fotografia de John Mathieson é outro destaque numa sessão que, infelizmente, não vinga. [03.05.15 – Netflix]

DISTANTE NÓS VAMOS * * ½
[Away We Go, EUA/GB, 2009]
Drama/Comédia - 98 min
Sam Mendes dirige essa "dramédia" singela, doce, sobre um casal em busca do lugar perfeito para criar o primeiro filho que vai nascer. É um filme agradável feito para agradar – e muito dessa atmosfera se deve ao uso do “soft focus” pela fotografia de Ellen Kuras [“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, 2004] e ao texto do casal de escritores Dave Eggers e Vendela Vida. Não é sempre que nos deparamos com um road movie guiado pelo coração dos seus realizadores. [26.05.15 – Netflix, madrugada]


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