Lista de filmes 2016

FILMES 2016
FRANCISCO MONTEIRO JÚNIOR

302 filmes

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

Janeiro – 26 filmes

AS DIABÓLICAS * * * *
[Les diaboliques, FRA, 1955]
Suspense - 115 min
Clouzot brinca com a nossa expectativa, constrói um suspense elaborado, tenso, e um twist final de arrepiar até hoje. [01.01.16 – Luís Correia]

INVERNO DE SANGUE EM VENEZA * * * *
[Don't Look Now, GB/ITA, 1973]
Suspense/Terror - 106 min
O instigante labirinto psicológico/sobrenatural do britânico Nicolas Roeg, saído do conto de Daphne Du Maurier, ainda é uma experiência quase cinestésica. A estética é dada pela câmera livre, opressora até, e pela montagem que desconstrói os tempos e cria analogias [e raccords] fabulosas. [03.01.16]

CREED – NASCIDO PARA LUTAR * * * ½
[Creed, EUA, 2015]
Drama - 133 min
Embora a ótima narrativa de Ryan Coogley siga o filho de Apollo, feito com segurança por Michael B. Jordan, é o Rocky de Sylvester Stallone que preenche a tela com humanidade – e nostalgia. [04.01.15]

GIVE UP TOMORROW * * *
[Idem, EUA/GB, 2011]
Documentário - 95 min
Choca acompanhar todas as falhas e indulgências [para dizer o mínimo] da justiça filipina no controverso "caso Chiong". [05.01.16 – Netflix]

A GAROTA DINAMARQUESA * * ½
[The Danish Girl, GB/ALE/EUA, 2015]
Drama - 119 min
A única coisa que eclipsa a delicada caracterização de Eddie Redmayne é a maravilhosa performance de Alicia Vikander. Pena a adaptação do livro de David Ebershoff, dirigida pelo canhestro Tom Hooper e sua “estética Oscar”, não fornecer mais. Notórios, livro e filme, pela infidelidade para com os fatos, ironicamente é na dinâmica “adulterada” do casal central [e, infelizmente, menos na questão da transgeneridade] que faz a experiência ter seu atrativo dramático. [05.01.16]

ARABESQUE * *
[Idem, EUA, 1966]
Suspense - 105 min
Stanley Donen intenta realizar uma sátira aos filmes de espionagem, sobretudo a "Intriga Internacional" [1959], de Hitchcock. Porém se desequilibra entre o thriller estético e o humor bobo. Quase entrega uma paródia, com Gregory Peck e Sophia Loren apenas descendo o rio. E ocasionalmente se afogando. [06.01.16 – Telecine Cult]

O QUARTO DE JACK * * * *
[Room, IRL/CAN, 2015]
Drama - 117 min
Atuações fenomenais de Brie Larson e do garotinho Jacob Tremblay, este guiando a comovente – e, de diversas maneiras, difícil – narrativa com olhos lúdicos. Lenny Abrahamson [“Frank”, 2014] dirige, sem nunca perder o foco, o roteiro de Emma Donoghue, adaptado do seu próprio livro, no qual a descoberta do Mundo Fora do Quarto é acompanhada pelo fim da inocência. [09.01.15]

UM HOMEM ENTRE GIGANTES * * *
[Concussion, GB/AUS/EUA, 2015]
Drama - 123 min
Bela caracterização de Will Smith como o dr. Bennet Omalu, patologista forense que sacudiu o mundo dos esportes ao ligar a doença neurodegenerativa ETC [conhecida também como “síndrome do pugilista”] à violência praticada no futebol americano. [10.01.16]



A GRANDE APOSTA * * * *
[The Big Short, EUA, 2015]
Comedia/Drama - 130 min
Narrativa espertíssima de Adam McKay, serpenteando pelos antecedentes amorais do colapso financeiro de 2008. Adaptada por McKay e Charles Randolph do livro de Michael Lewis, a trama acompanha quatro núcleos de personagens que, não apenas preveem a crise econômica anos antes, como se articulam para se darem bem com ela. Muita crítica incisiva, referências [e autorreferências], quebra da quarta parede e uma ótima montagem, tudo para manter o espectador interessado até o desfecho, que, embora conhecido, ainda estarrece. Mesmo que, aqui e ali, ele possa se perder nos trâmites e jargões herméticos de Wall Street. [10.01.16/19.01.16 – Cinépolis Rio Poty]

STEVE JOBS * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 122 min
Incrível como o texto de Aaron Sorkin ["A Rede Social", 2010] dribla a própria estrutura fechada e explora todos os seus elementos narrativos e personagens. [10.01.16]

O HOMEM QUE CAIU NA TERRA * * *
[The Man Who Fell to Earth, GB, 1976]
Ficção - 139 min
Début do músico David Bowie como ator de fato, e protagonista, abusando do seu charme andrógino nesse cult [ainda] hermético. Dirigido por Nicholas Roeg, é uma adaptação personalíssima do livro de Walter Tevis, publicado em 1953, sobre um alienígena que vem ao planeta Terra em busca de água e termina fazendo fortuna. E mostrando que os seres humanos são, em sua própria casa, os verdadeiros alienígenas. [13.01.16]

ANOMALISA * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Animação - 90 min
Agora numa melancólica animação em stop motion, Charlie Kaufman – codiretor e autor do roteiro – lança mão de outra síndrome [a de Fregoli] para mostrar até que ponto pode chegar a solidão humana. [14.01.16 – madrugada]


WINTER ON FIRE * * * ½
[Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom, GBR/UKR/EUA, 2015]
Documentário - 98 min
Consegue nos fazer, espectadores revoltados, vivenciar os 93 dias, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014, da violenta repressão ao "Euromaidan" - movimento ultranacionalista iniciado por estudantes na Praça da Independência em Kiev contra o governo de Viktor Yanukovytch e a não adesão da Ucrânia à União Europeia. Evgeny Afineevsky, que é russo [e para a Rússia as manifestações ucranianas foram um golpe de Estado], entregou um registro cinematográfico pungente, brutal em diversos momentos. Difícil assistir sem se contorcer. [16.01.16 – madrugada, Netflix]

UMA VOZ NAS SOMBRAS * * * ½
[Lilies of the Field, EUA, 1963]
Drama - 91 min
A performance firme e sem apelações de Sidney Poitier, num fantástico equilíbrio o timing cômico e o dramático, o fez ser o primeiro ator negro a ganhar um Oscar. Mas o filme dirigido por Ralph Nelson consegue, ainda hoje, nos tocar além disso. [17.01.16]
O MENINO E O MUNDO * * * *
[Idem, BRA, 2013]
Animação - 80 min
O paulista Alê Abreu mistura técnicas de animação e nos leva a imergir nos traços artesanais das contradições sociais, provocadas pela exploração capitalista, numa jornada de [auto]descoberta lúdica e lírica. Uma deslumbrante, por vezes melancólica e sempre reflexiva, experiência sensorial. [18.01.16]

CAVALEIRO DE COPAS * * ½
[Knight of Cups, EUA, 2015]
Drama - 118 min
A jornada artística-existencial de Terrence Malick dessa vez filosofa em cima da fugacidade da fama e das paixões. [20.01.16]






A 5ª ONDA * ½
[The Fifth Wave, EUA, 2016]
Ficção - 112 min
Saído do livro [o primeiro de uma trilogia] escrito por Rick Yancey, parece uma espécie de primo pobre adolescente de "Independence Day" [1996] com aspirações a "Jogos Vorazes" [2012]. [21.01.16 – Cinemas Teresina, com Manel Talibã]

MARIA ENTRE AMIGOS * * *
[Idem, BRA, 2016]
Documentário - 54 min
Esse documentário musical é uma merecida celebração da vida e da musicalidade única de Maria da Inglaterra. [21.01.16 – Teatro 4 de Setembro]

REGRESSÃO * * ½
[Regression, ESP/CAN, 2015]
Suspense - 106 min
Amenábar capricha na atmosfera, porém se esquece de trabalhar melhor a narrativa em si e equilibrar seus elementos. [24.01.16]

99 HOMES * * *
[Idem, EUA, 2014]
Drama - 112 min
Um ótimo Michael Shannon vai mostrar a um esforçado Andrew Garfield o quão movediças podem ser os limites morais em tempos de desespero. [25.01.16 – madrugada, com Thiago]

PRESSÁGIOS DE UM CRIME *
[Solace, EUA, 2015]
Suspense - 101 min
Se o roteiro tinha algo que resultasse além de um suspense genérico com alguma pegada sobrenatural, o brasileiro Afonso Poyart [“2 Coelhos”, 2012], debutando em Hollywood, passou por cima. [26.01.16]





LABIRINTO – A MAGIA DO TEMPO * * *
[Labyrinth, GB/EUA, 1986]
Musical - 101 min
Nesse querido cult oitentista, Jim Henson dá total vazão à sua inventividade em conceber bonecos e cenários para desafiar os arquétipos do amadurecimento pré-adolescente. Personificados aqui por uma jovem Jennifer Connelly, o rei duende de David Bowie [que também compôs as canções do filme] e as impagáveis criaturas – Hoggle, Ludo, Didymus, entre outros – encontradas durante o percurso de [auto]descoberta pelo labirinto. [27.01.16]

BOI NEON * * * *
[Idem, BRA/URY/NLD, 2015]
Drama - 101 min
O pernambucano Gabriel Mascaro propõe uma suspensão [ele diria dilatação para acabar com a necessidade de categorizar] dos estereótipos, sobretudo os de gênero e suas representações – o que fica ainda mais marcante em virtude da ambientação escolhida [o universo das vaquejadas no nordeste brasileiro] –, com uma rara sensibilidade no cinema nacional. Com elenco super engajado, como Juliano Cazarré, Maeve Jenkings e a garotinha Alyne Santana, também transita por diferentes gêneros sem nunca perder o equilíbrio. [28.01.16 – Cinépolis Rio Poty]

PAI EM DOSE DUPLA * * ½
[Daddy’s Home, EUA, 2015]
Comédia - 96 min
Sessão inofensiva que "abraça" a família moderna e precisa exagerar no nonsense para garantir alguma risada. E, para o bem ou não, até consegue; geralmente no susto da situação. O elenco é acertado – Will Ferrell divide mais uma vez a cena com Mark Wahlberg, ambos “interpretando” as próprias personas – segura a empatia pelo enredo desnivelado. [29.01.16 – Cinemas Teresina]

TRUMBO – LISTA NEGRA * * *
[Trumbo, EUA, 2015]
Drama - 124 min
O que perde na narrativa chapada e didática, essa adaptação do livro de Bruce Cook ganha nas performances, sobretudo de Bryan Cranston. Assim como no recorte histórico do macarthismo assombrando a Hollywood dos anos 1950. Primeira incursão dramática do diretor Jay Roach [“Entrando numa Fria”, 2000], deixa uma dúvida se o escritor/roteirista foi uma figura mais interessante na vida real do que na ficção. [30.01.16]

STRAIGHT OUTTA COMPTON – A HISTÓRIA DO N.W.A. * * * ½
[Straight outta Compton, EUA, 2015]
Drama/Musical - 147 min

A harmonia das performances e a energia narrativa de F. Gary Gray ditam a batida da jornada do grupo que popularizou o Gangsta rap nos Estados Unidos na virada da década de 1980 para 1990. [31.01.16]

Fevereiro – 24 filmes

DHEEPAN – O REFÚGIO * * * ½
[Dheepan, FRA, 2015]
Drama - 115 min
O francês Jacques Audiard lança um curioso olhar sobre o tema da imigração, observando como laços afetivos [e familiares] vão se construindo entre os três personagens inicialmente estranhos.  Palma de Ouro no Festival de Cannes. [31.01.16]

BONE TOMAHAWK * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Western - 132 min
Surpreendente mistura de western com terror. Pode até não ser para qualquer estômago, mas a estreia cinematográfica do também escritor e músico S. Craig Zahler em tudo para virar cult. Além de fazer com que nos envolvamos com os personagens, a última meia hora é chocante. [02.02.16]

REZA A LENDA * *
[Idem, BRA, 2016]
Ação - 87 min
Neo-western – ou seria um nordestern? – de ação brazuca cheio de pretensões [boas, claro], mas nunca consistente, vigoroso ou mesmo interessante. O novo “Mad Max” do sertão? Há quem faça as correlações, com Sophie Charlotte sendo nossa Furiosa e Cauã Reymond... Definitivamente, é forçar a barra relacionar Humerto Martin [se esforçando para segurar os trejeitos faciais] com o vilão Imortant Joe. A verdade fica a centenas de quilômetros de distância. Ela se perde entre a estética carregada do debutante Homero Olivetto e o roteiro que não sabe ao certo como usar seus próprios elementos. [03.02.16 – Cinemas Teresina]

FÚRIA SELVAGEM * * *
[Man in the Wilderness, EUA, 1971]
Drama/Western - 105 min
Richard Harris incorpora a personificação da insistência do corpo e do espírito humano por permanecer vivo. [04.02.16 – madrugada]



CARTEL LAND * * * ½
[Idem, MEX/EUA, 2015]
Documentário - 101 min
Matthew Heineman adentra as entranhas do narcotráfico mexicano e observa as fronteiras morais daqueles que se erguem contra o domínio abusivo dos cartéis. [04.02.16]

45 ANOS * * * *
[45 Years, GB, 2015]
Drama - 95 min
Charlotte Rampling internaliza as entrelinhas da crise conjugal latente, e mesmo assim parece estar gritando no vácuo. [04.02.16]

MACBETH – AMBIÇÃO E GUERRA * * ½
[Macbeth, GB/FRA/EUA, 2015]
Drama - 113 min
O australiano Justin Kurzel faz da sua versão da "peça escocesa" de Shakespeare um exercício narrativo carregado de estilo.  [10.02.16]

DEADPOOL * * *
[Idem, EUA/CAN, 2016]
Aventura - 108 min
Acerta em cheio no humor [auto]debohado, cáustico – politicamente incorreto em toda a sua glória. Assim como na irreverentíssima metalinguagem, que dispara referências, tanto internas quanto externas, como uma metralhadora descontrolada. E, a cereja do cogumelo, em não cair no erro de se levar a sério. O estreante em longas Tim Miller entrega um “fan film” que funciona. E, surpresa, o roteiro da dupla Rhett Reese e Paul Wernick supera o plot enxuto com as gags e piadas inspiradíssimas catalisadas, mas nunca decantadas, pelo Mercenário Tagarela. [11.02.16 – Cinépolis Rio Poty/19.02.16 – Cinemas Teresina/02.05.16 – com Thiago]

WHAT HAPPENED, MISS SIMONE? * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 102 min
Todo o talento, a paixão, a fúria, e o forte engajamento pelos direitos civis dos negros nos anos 1960, da Alta Sacerdotisa do Soul. Liz Garbus nos aproxima, pelo menos o quanto pode, da essência de Nina Simone, sem hagiografismos. [13.02.16]

CINCO GRAÇAS * * * ½
[Mustang, FRA/ALE/TUR/QAT, 2015]
Drama - 97 min
A turca Deniz Gamze Ergüven concebe belo filme sobre um tema caro: a condição feminina numa sociedade retrógrada. [13.02.16]

GUERRA * * ½
[Krigen, DIN, 2015]
Drama - 110 min
O dinamarquês Tobias Lindholm nos faz refletir sobre o peso moral das escolhas feitas no campo de batalha e fora dele. [13.02.16]

O LOBO DO DESERTO * * *
[Theeb, ARE/QAT/JOR/GB, 2014]
Drama - 97 min
Uma absorvente jornada de amadurecimento durante a Revolta Árabe [1916-1918], em pleno declínio – dissolução – do Império Otomano. [14.02.16]

JOY – O NOME DO SUCESSO * *
[Joy, EUA, 2015]
Drama - 124 min
Supostamente tinha todos os elementos para ser uma sessão de cinema edificante – sobretudo por ser inspirada numa verdadeira história de busca pelo sucesso. Porém nunca alcança um tom narrativo equilibrado para tal. Termina dependendo do carisma de Jennifer Lawrence, que “se vira nos 30” diante da bagunça irreverente proposta por David O. Russell. [14.02.16 – Cinépolis Rio Poty]

UM DIA MUITO ESPECIAL * * * *
[Una giornata particolare, ITA/CAN, 1977]
Drama - 104 min
Incrível como Ettore Scola entremeia camadas políticas, sociais e sentimentais para fazer Marcello Mastroianni despertar Sophia Loren. [16.02.16]




LENDAS DO CRIME * * *
[Legend, GB/FRA/EUA, 2015]
Drama/Policial - 131 min
A dupla performance de Tom Hardy como os notórios, e violentos, irmãos Kray faz a diferença nesse "english gangster movie" dirigido por Brian Helgeland. [17.02.16]

O FIEL CAMAREIRO * * * ½
[The Dresser, GB, 1983]
Drama - 113 min
Peter Yates [direção] e Ronald Harwood [roteiro] nos levam aos bastidores do processo do ator teatral em plena guerra e da dedicação comovente do personagem feito por Tom Courtenay para com o de Albert Finney. Ambos em atuações primorosas. [21.02.16]

CHATÔ – O REI DO BRASIL * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama/Comédia - 105 min
Guilherme Fontes foge da cinebiografia careta. Entrega – finalmente – uma narrativa alegórica e com invejável fôlego. O imbróglio de duas décadas da produção perante o MinC a fez se tornar uma espécie de lenda urbana, o filme que consumiu dinheiro público e nunca seria lançado. Mas foi. E, ao contrário dos que torciam o nariz, possui qualidades sólidas. Sua pegada personalíssima e irreverente talvez espante o público adestrado ao cinema nacional quadrado comercializado nesse ínterim. A montagem entrecorta tempos,  mistura realidade e fantasia, num risco interessante. Marco Ricca faz um pastiche do magnata Assis Chateaubriand, mas é tão bom que compramos a abordagem sem problemas. Na mesma onda surfa o resto do elenco e, sim, funciona, até quando o personagem é fictício. O de Andrea Beltrão é exemplo disso. O tom adotado por Fontes justifica os excessos do filme, mesmo que deslize aqui e ali. Fez uma obra com reverberações atuais e ao mesmo tempo fora do seu tempo. E não estou me referindo ao passado. [22.02.16]

13 HORAS: OS SOLDADOS SECRETOS DE BENGHAZI * * ½
[13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi, EUA, 2016]
Ação - 144 min
Michael Bay se "sente em casa" tirando a política da equação [ou as controversas em torno da situação recriada] para focar na famigerada, e muito bem orquestrada, ação. [23.02.16 - Cinépolis Rio Poty]

CRIMES DE AUTOR * * ½
[Roman de Gare, FRA, 2007]
Drama/Suspense - 105 min
Lelouch traz uma ideia bem interessante, cutucando o lado B do universo literário. Só se esqueceu de trabalhar melhor a consistência da narrativa. [24.02.16]

O HOMEM DAS MULTIDÕES * * *
[Idem, BRA, 2013]
Drama - 95 min
O quadro 1:1 encarcera o apego dos personagens à solidão, mesmo com a carência afetiva/existencial e todo o caos urbano ao redor de ambos. Os cineastas Marcelo Gomes e Cao Guimarães se inspiraram no conto de Edgar Allan Poe, "O Homem da Multidão", para gerar uma obra cinestésica e mais absorvente do que se poderia esperar. Apesar da forma, o embrutecimento emocional do suposto romance é o maior ponto de estranhamento. [24.02.16 – Max Up]

HORAS DECISIVAS * * ½
[The Finest Hours, EUA, 2016]
Drama - 117 min
A despeito de ser inspirado num heróico salvamento verídico, é notório que a direção de Craig Gillespie tenta forçar nossa emoção. Para isso, lança mão de [quase] todas as armas do cinema de massa. O que fica de fato? A ideia de que aprender a quebrar o protocolo em favor da coisa certa – também do próprio crescimento pessoal – é um arco dramático tão eficiente quanto velho. E que já foi melhor usado. [25.02.16 – Cinépolis Rio Poty]

O TIGRE E O DRAGÃO: A ESPADA DO DESTINO * *
[Crouching Tiger, Hidden Dragon: Sword of Destiny, CHI, 2016]
Aventura - 100 min
Sequência tardia que até preserva a atmosfera wuxia [gênero originado na China que mistura fantasia e artes marciais] tão bem explorada no filme dirigido por Ang Lee 16 anos atrás. Contudo, não vai muito além das eficientes lutas coreografadas e de evocar nostalgia. De certo, é estranho agora os personagens – Michelle Yeoh retorna como Yu Shu Lien – falarem inglês, e o roteiro esquemático demais de John Fusco não ajuda. [27.02.16 – madrugada]

O PESO DO SILÊNCIO * * * *
[The Look of Silence, DIN/IDN/FIN/NOR/GB/ISR/FRA/EUA/ALE/NLD, 2014]
Documentário - 99 mim
Adota um recorte menor, mais pessoal e humanista que o de “O Ato de Matar” [2012], mas não menos devastador. [28.02.16]

DON'S PLUM * *
[Idem, EUA/DIN/SUE, 2001]
Drama - 86 min
Leonardo DiCaprio e Tobey Maguire até hoje querem esquecer que participaram desse retrato indie, mas sem muito talento, da juventude estadunidense perdida, chata e confusa dos anos 1990. [29.02.16]

Março – 24 filmes

OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR * * * ½
[Les parapluies de Cherbourg, FRA/ALE, 1964]
Musical - 87 min
O cineasta Jacques Demy e o compositor Michel Legrand cometeram um musical saboroso até hoje sobre a fugacidade da paixão adolescente. Bem como o amadurecimento do conceito de amor. Fotografia e direção de arte [hoje design de produção] primorosas no uso das cores. Levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e catapultou ao estrelado a [futura] "bela da tarde" Catherine Deneuve. [01.03.16]

A BRUXA * * *
[The Witch: A New England Folktale, EUA/GB/CAN/BRA, 2015]
Terror - 90 min
Debutando na direção de longas, Robert Eggers abre mão dos "jumpscares" [os sustos rasteiros com muletas sonoras] para investir na atmosfera tensa do terror psicológico familiar catalisado pelas introjeções religiosas. O roteiro, também de Eggers, tenta costurar a histeria do caça às bruxas iniciado no século XV com o desfacelamento da família, junto a uma discussão sobre os efeitos psicossociais da “culpa cristã”. Mas o forte mesmo é a emenda, a estética adotada, opressora – e a razão de aspecto 1:66 contribui para isso –, trabalhando o som como dupla antecipação temporal e a luz natural para nos manter desconfortáveis na poltrona. Tanto que qualquer motivo para uma risada nervosa é agarrado inconscientemente. Refresco perturbador num gênero há muito pasteurizado. [03.03.16 – Cinépolis Rio Poty]

FARSA DIABÓLICA * * *
[Seance on a Wet Afternoon, GB, 1964]
Suspense - 111 min
O britânico Bryan Forbes captura nossa atenção com essa trama elaborada que vagueia por diversas camadas. Adaptado, pelo próprio Forbes, do livro de Mark McShane, a relação entre os personagens feitos por Kim Stanley [indicada ao Oscar] e Richard Attenborough [também produtor do filme] é muito bem trabalhada. [06.03.16]

CINQUENTA TONS DE PRETO * ½
[Fifty Shades of Black, EUA, 2016]
Comédia - 92 min
Sim, o humor é apelativamente grosseiro. Porém, essa paródia até que não constrange tanto quanto sua fonte. [07.03.16 – Cinépolis Rio Poty]

A PRIMA DESEJADA * * ½
[La Cugina, ITA, 1974]
Comédia - 90 min
O italiano Aldo Lado dá uma de Tinto Brass com mais sensualidade, algum toque sensível e um humor mais ingênuo. Se é que se poder afirmar realmente isso numa comédia movida pelo sexo. Baseado no livro de Ercole Patti. [09.03.16]

KUNG FU PANDA 3 * * *
[Idem, EUA/CHI, 2016]
Animação - 95 min
O carismático Po tem de descobrir o que é ser um panda para se tornar o verdadeiro Dragão Guerreiro e derrotar uma vingativa ameaça sobrenatural. Ótimas filosofias sobre encontrar-se a si mesmo sem, necessariamente, estar sozinho no mundo. [10.03.16 – Cinépolis Rio Poty]

NO TE MUERAS SIN DECIRME ADÓNDE VAS * * ½
[Idem, ARG, 1995]
Drama - 125 min
Eliseo Subiela une o processo cinematográfico com uma narrativa espiritual, jogando com a criação do cinema, espíritos e reencarnação. De certo, a abordagem é sedutora. Há intenções muito interessantes, uma atmosfera meio “Ghost – Do Outro Lado da Vida” [1990] e camadas aptas à reflexão sobre o lado mágico, sonhador, proporcionado pelos filmes projetados na tela branca. Além do próprio sentido de nascer e morrer – e as “mortes” que temos em vida. Uma pena, portanto, que o entrelace dos temas nem sempre seja consistente. Fosse mais enxuto, quem sabe atingisse o alvo com impacto maior. [11.03.16]

A SENHORA DA VAN * * ½
[The Lady in the Van, GB, 2015]
Drama/Comédia - 104 min
Se o texto de Alan Bennett é a alma, a atuação de Maggie Smith é o coração dessa "dramédia" dirigida por Nicholas Hytner. [13.03.16]​

BOEING BOEING * * *
[Boeing, Boeing, EUA, 1965]
Comédia - 102 min]
Apesar dos tropeços, essa farsa vale pelo inacreditável fôlego narrativo e pela "química" entre Tony Curtis e Jerry Lewis. A única vez em que dividiram a tela juntos. Mesmo assim, Thelma Ritter puxa, vez ou outra, o tapete de ambos. [13.o3.16 – Telecine Cult]

A SANGUE FRIO * * * *
[In Cold Blood, EUA, 1967]
Suspense/Drama - 134 min
A adaptação do livro-relato de Truman Capote pelo cineasta Richard Brooks continua impecável em sua sobriedade. [14.03.16 – madrugada]

O JOVEM ADAM * * ½
[Young Adam, GB/FRA, 2003]
Drama - 98 min
David Mackenzie adapta o livro de Alexander Trocchi. Observa, sem tentar julgar, os caminhos morais tomados pelos personagens, deixando isso a cargo do espectador. O terço final reserva um quê dostoievskiano. [14.03.16]

À NOITE SONHAMOS * * *
[A Song to Remember, EUA, 1945]
Drama/Musical - 112 min
Sem muito apelo verossímil, Charles Vidor usa a breve vida de Frédéric Chopin para defender uma arte engajada, com propósitos e responsabilidades. Embora a atuação de Cornel Wilde seja lembrada até hoje, é o professor feito por Paul Muni o responsável pela espinhal dorsal da biografia, atrelada ao contexto em que a produção foi realizada, a Segunda Guerra Mundial. Por isso a forte pegada nacionalista em favor da Polônia, berço do gênio musical retratado. [15.03.16]

O ENIGMA DE OUTRO MUNDO * * *
[The Thing, EUA, 1982]
Ficção/Terror - 108 min
No seu western-sci fi cult por excelência, John Carpenter constrói muitíssimo bem a atmosfera de desconfiança entre os personagens e capricha no horror visual. Cortesia das criaturas criadas por Rob Bottin [numa era, felizmente, pré-CGI], que teve uma mãozinha não creditava do mestre Stan Winston. Remake tenso e personalíssimo de "O Monstro do Ártico" [1951], com score de Ennio Morricone e desfecho inusitado. Foi um injusto fracasso de bilheteria, alcançando a merecida salvação no home video. [16.03.16]​

DESAFIO DO ALÉM * * * ½
[The Hauting, GB/EUA, 1963]
Terror - 112 min
Robert Wise acerta na mansão como verdadeira protagonista, na atmosfera de medo e no declínio mental da personagem feita por Julie Harris. Baseado no livro de Shirley Jackson, um terror sobrenatural com pegada psicológica que até hoje consegue nos segurar diante da tela. Sobretudo em virtude da direção cinestésica de Wise, por vezes arrepiante. Embora sofra com a ausência de algumas informações para valorizar a narrativa direta e concisa. Exemplar do gênero favorito de Martin Scorsese [eu precisava mesmo mencionar isso?], sofreu aquele remake de 1999, “A Casa Amaldiçoada”, com Liam Neeson e Catherine Zeta-Jones. [17.03.16]

O EXPRESSO DE SHANGHAI * * *
[Shanghai Express, EUA, 1932]
Drama - 79 min
É Marlene Dietrich, obviamente, quem preenche os evocativos quadros de Josef von Sternberg, agora elaborando sobre amor vs. confiança. A fé na verdade do sentimento é o conflito central dos personagens. A narrativa concisa [até demais?] não esconde um ou outro tropeço, pouca consistência nas pinças e viradas dramáticas. Mas a atmosfera do trem no percuso Pequim-Shanghai, numa China encenada em plena guerra civil [ou algo próximo a isso] e a direção de arte, sem mencionar a fotografia vencedora do Oscar, se sobrepõem às fragilidades enquanto enredo. Terceira parceria, e de maior êxito comercial, entre diretor e atriz. [18.03.16]

SCARFACE – A VERGONHA DE UMA NAÇÃO * * * *
[Scarface, EUA, 1932]
Policial - 90 min
Clássico filme de gângster dirigido por Howard Hawks, mesmo hoje permanece poderosa a atuação de Paul Muni na pele de Tony Mont... ops, Camonte. Da mesma maneira, a narrativa violenta [com vários pontos, dizem, insprados na vida de Al Capone] e a personalidade ambiciosa e impulssiva do protagonista. [20.03.16]

ZOOTOPIA – ESSA CIDADE É O BICHO * * * ½
[Zootopia, EUA, 2016]
Animação - 108 min
Ótimas energia/atmosfera para abordar os sempre oportunos temas do preconceito versus inclusão social. E ainda conta com uma trama de mistério e investigação que, mesmo fácil de prevê, é divertida e absorvente. Uma sessão gratificante. [21.03.16 – Cinépolis Rio Poty/18.09.16 – com Lívia]

THE WHISPERERS * * *
[Idem, GB, 1967]
Drama/Suspense - 104 min
Apesar da mescla de gêneros e eixos dramáticos, é a comovente atuação de Edith Evans em cima da velhice e dos efeitos da solidão que torna tudo mais especial. Adaptado do livro de Robert Nicolson pelo cineasta Bryan Forbes, nunca chegou a ser oficialmente lançado no Brasil. Hum... [22.03.16]

BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA * * ½
[Batman v Superman: Dawn of Justice, EUA, 2016]
Aventura - 151 min
Por um lado, o primeiro crossover da DC entrega tudo o que promete no trailer. Por outro, não vai muito além disso. E, pelos céus desabados de Krypton, já estamos na era dos crossovers e universos cinematográficos! O que isso significa? O futuro vazio do cinema de massa começou de vez? Não deixa de promover uma perspectiva assustadoramente melancólica. É divertido, eu sei. Mas aonde vamos parar? Os ciclos ficam cada vez mais curtos e desinteressantes. Talvez eu esteja apenas sintomatizando a frustração com o novo Zack Snyder. A narrativa caminha, por vezes trôpega, entre ser uma sequência de "O Homem de Aço" [2013] e se assumir como uma ponte para "Liga da Justiça - Parte Um" [2017]. Então, há essa crise de identidade no roteiro de Chris Terrio e David S. Goyer. Acredito que Terrio tenha se ocupado das discussões mais "profundas" da premissa [a responsabilidade social dos heróis, como já mostrado há 12 anos em "Os Incríveis"] e Goyer cuidado de costurar a ação sem sair do universo DC. Os elementos até estão todos nos seus devidos lugares, mas nem sempre apresentam a consistência necessária. Como aquela comida que você sente ter faltado uma coisinha de nada, e que faz muita diferença para alcançar o quase lá. Você percebe o esforço em fundamentar as teses, só que as motivações e os entrelaces dos personagens pulam aos olhos de forma grosseira. Fizeram as escolhas mais fáceis, e a intenção épica de Snyder na primeira - e arrastada - metade não se sustenta na última. Ainda que a tensão nunca saia da pauta. [Por falar nisso, só eu achei Clark Kent um jornalista fraquinho?] O Lex Luthor-Coringa de Jesse Eisenberg quase é consumido pela própria afetação. Se for para falar de Ben Affleck como Batman, acredite, podia ter sido pior. Ele se contém para não estragar, embora corra o risco de ficar apagado. O Superman de Henry Cavill está ambíguo. Aliás, a subversão do conceito de moralidade dos super-heróis, até certo ponto, é um aspecto positivo, contribui com a abordagem. Quando o esperado quebra-pau começa é que o saldo flerta com o negativo. Inimigos sem causa passam a amigos apenas com um toque maternal [a ideia é acertada, tocante, faltou só convencer], e na luta mano a mano é a Mulher Maravilha de Gal Gadot quem rende os melhores suspiros. Quer dizer, os únicos. [24.03.16 – Cinemas Teresina]

HARAKIRI * * * *
[Seppuku, JAP, 1962]
Drama - 133 min
Clássico "jidaigeki" [filmes de época japoneses], usa o rito suicida dos samurais/ronins para descamar um envolvente drama sobre hipocrisia social e perda de valores durante o Período Edo [1603-1868] – também conhecida como a Idade da Paz Ininterrupta. Dirigido com rigoroso primor estético por Masaki Kobayashi a partir do livro de Yasuhiko Takiguchi, traz uma atuação avassaladora de Tatsuya Nakadai e imagens que reverberam um bom tempo por detrás da retina. Prêmio especial do júri no Festival de Cannes. [25.03.16]

MEU REI * * *
[Mon Roi, FRA, 2015]
Drama - 125 min
Após o ótimo "Polissia" [2011], Maïwenn se debruça sobre os efeitos particulares de um relacionamento autodestrutivo. Que fica ainda mais complicado quando há um filho perdido no meio da desgastante equação. A experiência assume ares de combustão espontânea graças à naturalidades das atuações de Vincent Cassel e Emmanuelle Bercot, que dividiu com Rooney Mara [essa por “Carol”, 2015] o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. [27.03.16]

O ENIGMA DO MAL * * ½
[The Entity, EUA, 1982]
Terror - 125 min
Tirando um deslize e outro, essa história verídica de um poltergeist psicossexual possui momentos bem “WTF..!” Ok, no mínimo antológicos. Alguns até chocantes, como quando a personagem feita por Barbara Hershey é estuprada por um fantasma na frente dos filhos. Adaptado do livro de Frank De Felitta pelo próprio, é dirigido por um Sidney J. Furie [“Superman IV – Em Busca da Paz”, 1987] cheio de estilo – leia-se: planos holandeses. [29.03.16]

A LUNETA DO TEMPO * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Drama/Musical - 99 min
O nordestern musical de Alceu Valença pode ter entraves pontuais, mas é cheio de lirismo e experimentação. A montagem não faz qualquer esforço para suavizar a narrativa episódica [muitos fade out/fade in em intervalos curtos]. Termina sendo o elo movediço dessa estreia cinematográfica do cantor/compositor; agora diretor/roteirista. Em compensação, a experiência cresce com a influência do cordel nos diálogos e na quebra da linearidade. Passada a estranheza inicial, somos consumidos pela proposta de misturar realidades da metade em diante. Em determinado momento, por exemplo, uma segunda geração de personagens reencena a mesma cena protagonizada por seus pais. Fiquei particularmente surpreso com a câmera solta, segura de si, quase quebrando paradigmas. Um pouquinho de cuidado formalístico e Valença teria feito mais do que uma obra personalíssima. Teria entregado um grande filme. [30.03.16 – Cinépolis Rio Poty]

LOLA, A FLOR PROIBIDA * * *
[Lola, ITA/FRA. 1961]
Drama - 87 min
A estreia em longas de Jacques Demy com os [des]encontros amorosos de Anouk Aimée e personagens sem grandes perspectivas na França pós-Segunda Guerra Mundial. Peça genuína da nouvelle vague, cheia de simbolismos e referências [o filme é dedicado ao alemão Max Ophüls]. O Roland Cassard de Marc Michel migraria para “O Guarda-Chuvas do Amor” [1964], enquanto a protagonista reapareceria oito anos depois. [31.03.16]

Abril – 27 filmes

DESAJUSTADOS * * * ½
[Fúsi, ISL/DIN, 2015]
Drama - 93 min
Na pele de Fúsi, Gunnar Jónsson é a grande alma gentil [e ingênua] dessa narrativa humana, singela, que, paradoxalmente, lida com temáticas fortes. Escrita e dirigida com uma ternura melancólica por Dagur Kári, em muitos aspectos nos remete ao clássico “Marty” [1955], com Ernset Borgnine e Betsy Blair, substitundo a atmosfera de insegurança do casal central por bullying e depressão – caso da Sjöfn feita pela atriz Ilmur Kristjánsdóttir. Ignore o desastroso título nacional, esse é um estudo de personagem cheio de camadas, muitíssimo bem intencionado, que foge do “happy end” romântico em direção a um desfecho mais do que honesto, de tocante significado. [01.04.16]

AREIAS ESCALDANTES * * ½
[Idem, BRA, 1985]
Comédia/Musical - 80 min
Ao som do pop/rock progressivo nacional da primeira metade dos anos 1980, essa comédia musical nonsense satiriza os grupos revolucionários em épocas ditatoriais. Encabeçados por Regina Casé, Diogo Vilela, Luis Fernando Guimarães e Cristina Aché, os terroristas assaltantes de bancos, que operam para a Entidade numa fictícia Kali “futurística” [o ano é 1990], decidem sequestrar o navio que leva um sheik. Mas são perseguidos pela Polícia de Elite. O controverso [hoje mais do que nunca] roqueiro Lobão, também diretor musical do filme, faz um policial que sobe de hierarquia. Outra participação curiosa traz a formação original dos Titãs. O diretor e corroteirista Francisco de Paula mescla referências de “Blade Runner – o Caçador de Androides” [1982] às produções do Monty Python, numa narrativa dominada pelo pastiche. Flertando com o cinema marginal – por isso a presença do cineasta Neville de Almeida –, teve seu lançamento no Brasil barrado pela ditadura, mas virou cult no circuito alternativo. [02.04.16 – Canal Brasil]

LA BONNE * *
[Idem, 1986]
Drama - 82 min
O erotismo de Salvatore Samperi comete cenas instigantes entre Florence Guérin e Trine Michelsen, num contexto de carência afetiva conjugal e alienação política. Mas poderia ter ido além disso, das questões pequeno-burguesas. Talvez se explorasse um despertar de consciência social, até para suprir as fragilidades do enredo, pontuado pelo score de Riz Ortolani. [03.04.16]

ZOOM * * ½
[Idem, BRA/CAN, 2015]
Comédia - 96 min
Pedro Morelli entrelaça gêneros e estilos num divertido exercício metacriativo, mas pouco consistente à medida que avança. [04.04.16 – Cinépolis Rio Poty]

CONFLITOS DO AMOR * * * ½
[La Ronde, FRA, 1950]
Drama - 89 min
O carrossel de [des]amores cínicos da controversa peça de Schnitzler adaptada pelo alemão Max Ophüls com mordaz metalinguagem. [05.04.16]

RICKI AND THE FLASH – DE VOLTA PARA CASA * *
[Ricki and the Flash, EUA, 2015]
Comédia/Drama - 101 min
Demme até encontra bons momentos espontâneos nessa dramédia musical, mas nem ele ou Meryl Streep salvam o roteiro rasteiro de Diablo Cody. No máximo, dão uma disfarçada. [05.04.16 – HBO]

SENTIMENTOS QUE CURAM * * *
[Infinitely Polar Bear, EUA, 2014]
Drama  - 90 min
Apoiada num ótimo Mark Ruffalo, a roteirista e diretora estreante Maya Forbes se arrisca ao tratar com carinho, e até mesmo otimismo, um tema tão difícil como o transtorno bipolar. Dando desconto por tratar-se de algo pessoal [é sobre o pai; a filha a interpreta], até que funciona muito bem. É honesto e comove sem ser melodramático. [05.04.16 – Telecine Pipoca]

RUA CLOVERFIELD, 10 * * *
[10 Cloverfield Lane, EUA, 2016]
Suspense/Ficção - 103 min
Dan Trachtenberg [bom se acostumar logo com o nome] injeta picos de tensão em cada simples elemento do enredo. Nesse "parente de sangue" do filme de 2008, o monstro humano é bem mais perturbador. E ele atende pelo nome de John Goodman. O resto – se funciona melhor dentro do bunker ou se o "parentesco" talvez não fizesse tanta falta – fica a critério da empolgação de cada um. De qualquer maneira, J. J. Abrams, produtor, nos dá um presente-surpresa com mais pontos altos. [07.04.16 – Cinemas Teresina]

INVASÃO A LONDRES * * ½
[London Has Fallen, EUA, 2016]
Ação - 100 min
É necessário desligar qualquer senso crítico para curtir o tom retrô [anos 1990] e as sequências de ação esforçadas do iraniano Babak Najafi. O esquemático roteiro é tão bobo e absurdo, sem falar no velho patriotismo estadunidense exarcebado, que desperta em nós uma divertida vontade de ver aquilo se desenrolar – a mesma sensação dos filmes-catástrofes da adolescência. E Gerard Buttler querendo ser uma mistura de John McClane com Jason Bourne? Vai virar mesmo franquia? Qual será o próximo país a “cair”? [10.04.16 – Cinemas Teresina]

THE WOLFPACK * * *
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 89 min
Uma experiência que nos faz atravessar vários sentimentos e sensações conflitantes entre si, dentro e fora do quadro. [12.04.16 – Netflix, Guabes]

O FILHO DE SAUL * * *
[Saul fia, HUN, 2015]
Drama - 107 min
O húngaro László Nemes nos lança, quase sem concessões, no meio da missão comovente e claustrofóbica do protagonista. Com uma razão de aspecto de 1:37 e pouquíssima profundidade de campo, trata-se de uma experiência absolutamente cinestésica. A narrative pega um viés da Segunda Guerra Mundial não muito explorado no cinema – o Sonderkommando – para trabalhar simbologias fortes. Quem sabe, as ambiguidades construídas puder ter sido melhor desenvolvidas. [12.04.16]

MENINO DO RIO * * ½
[Idem, BRA, 1982]
Drama - 104 min
O que fica bem marcado, além da atmosfera do enredo, é o retrato da geração saúde dos anos 1980 feito por Antônio Calmon. O elenco conta com os então jovens André de Biase, Cláudia Magno [falecida em 1994], Ricardo Graça Mello, Sérgio Mallandro, Cissa Guimarães, Evandro Mesquita e Cláudia Ohana. Calmon mesclou o argumento dos irmãos André e Tonico de Biase com suas próprias experiências [havia acabado de perder um amigo] e entregou para Bruno Barreto, que também produziu. As músicas do filme são assinadas por Lulu Santos [“De Repente, California”] e Guilherme Arantes [“Corpos de Verão”]. Ironicamente, não há a música de Caetano Veloso que inspirou o título. Foi um sucesso à época, com 3 milhões de espectadores, e gerou uma sequência, “Garota Dourada”, em 1984. [13.04.16 – Canal Brasil, madrugada]

MATAR OU CORRER * * *
[Idem, BRA, 1954]
Comédia/Western - 87 min
Última chanchada protagonizada pela impagável dupla Oscarito e Grande Otelo. O cineasta Carlos Manga, em seu segundo filme, brinca em cima do gênero western e, sobretudo, com o clássico de Fred Zinnemann, lançado apenas dois anos antes. Bom timing e momentos hilários. Ainda tem o eterno vilão do cinema nacional, José Lewgoy, como o bandoleiro Jesse Gordon. [13.04.16]

MENTE PARANÓICA *
[Killer Office, EUA, 1997]
Comédia/Suspense - 87 min
A intenção de Cindy Sherman em fazer uma comédia de humor negro resulta numa experiência tão, tão ruim que fica difícil esquecer. Mas a gente tenta. [13.04.16]

AVE, CÉSAR! * * *
[Hail, Caesar!, GB/EUA/JAP, 2016]
Comédia - 106 min
O lado B da Hollywood dos anos 1950 se funde [e se confunde] à sua própria magia atmosférica nessa deliciosa sátira dos irmãos Coen. Cheia de referências, a maioria delas mordazes, e autorreferências, a narrativa visita gêneros e histórias de bastidores, sempre tendo em mente o cinéfilo nostálgico. [14.04.16 – Cinépolis Rio Poty]

MOGLI – O MENINO LOBO * * *
[The Jungle Book, EUA, 2016]
Aventura – 105 min
Favreau faz uma arrebatadora live action da animação de 1967, mantendo certos elementos indispensáveis para nos remeter à Disney de outrora. Ao mesmo tempo, injeta ritmo, perigo e um tom sombrio para fisgar o público contemporâneo. Mesmo sendo feito 99% de efeitos visuais, há alma escondida entre os pixels: o Mogli feito pelo estreante Neel Sethi e sua relação com a natureza selvagem. As necessidades básicas da canção do urso Baloo numa embalagem over. [14.04.16 – Cinépolis Rio Poty]

A ILHA DOS MORTOS * * *
[Isle of the Dead, EUA, 1945]
Terror - 71 min
Mark Robson alcança momentos de arrepiar os pelos da nuca sem sacrificar o caráter psicológico da narrativa. Inspirado pela pintura de mesmo nome do simbolista suíço Arnold Böcklin, o roteiro de Ardel Wray consegue propor camadas e elementos [históricos e mitológicos] de forma concisa, e até dribla nossas expectativas da metade para o final. O elenco traz Boris Karloff num interessante personagem que trafega na zona cinzenta. [18.04.16]

LUA CAMBARÁ – NAS ESCADARIAS DO PALÁCIO * *
[Idem, BRA, 2002]
Drama - 94 min
A lenda cearense perde muito do seu assombro na narrativa pouco consistente, mas personalíssima, de Rosemberg Cariry. [19.04.16 – CineBrasilTV, madrugada]

EM NOME DA LEI * *
[Idem, BRA, 2016]
Policial - 115 min
Rezende entrega uma narrativa rasa, didática, cheia de elementos frouxos – os diálogos, o romance forçado, os flashbacks explicativos – e atuações dignas da mecânica televisiva. [21.04.16 – Cinema Teresina]

O CAÇADOR E A RAINHA DO GELO * *
[The Huntsman: Winter’s War, EUA, 2016]
Aventura - 114 min
Prequência e sequência ao mesmo tempo, um descarado caça-níqueis cuja estrutura "corre atrás do próprio rabo". [21.04.16 – Cinemas Teresina]

SARGENTO GETÚLIO * * * *
[Idem, BRA, 1983]
Drama - 85 min
O "'Apocalypse Now' do terceiro mundo", como bradou Luiz Carlos Barreto, conserva sua energia visceral, fiel ao livro de João Ubaldo Ribeiro [1941-2014], e um formidável Lima Duarte. É ele quem carrega a narrativa, adaptada por Hermanno Penna e Flávio Porto, com a colaboração do próprio autor, cheia dos contundentes monólogos advindos da obra original. Penna estreia na direção de longas com pegada firme e diferenciada, auxiliado pela “leveza” da câmera 16 mm e Walter Carvalho na fotografia, refletindo a gradativa loucura do protagonista avesso às mudanças de interesses políticos em pleno sertão brasileiro dos anos 1940. Destaca-se também pela qualidade da captação de som direto. Rodada em 1978, a produção passou cinco anos encalhada na Embrafilmes. Apesar do recorte histórico, revela-se uma experiência cinematográfica fundamentalmente atemporal. [22.04.16]

A MORTA-VIVA * * *
[I Walked with a Zombie, EUA, 1943]
Terror - 68 min
O zumbi místico pré-George Romero nesse terror atmosférico com a sugestiva direção do francês Jacques Tourneur. [23.04.16]

Ver – WITHE ZOMBIE / CAT PEOPLE [1942]

BAR ESPERANÇA (O ÚLTIMO QUE FECHA) * * * ½
[Idem, BRA, 1983]
Comédia/Drama - 118 min
Com ótimo roteiro, Hugo Carvana cria uma narrativa muito afetuosa sobre as crises artísticas e existenciais e como afetam os relacionamentos. Comédia dramática assumidamente etílica construída por momentos, alguns antológicos. Sente-se o carinho que a produção emana nos seus realizadores. O bar é um personagem à parte, o templo da amizade, da ciranda de ideias e [des]encontros. Há tiradas inspiradíssimas e equilíbrio entre os gêneros. Peça rara na cinematografia brasileira. [24.04.16]

Ver – VAI TRABALHAR VAGABUNDO [1973] / SE SEGURA, MALANDRO! [1978]

O TREM * * *
[The Train, FRA/ITA/EUA, 1964]
Guerra/Ação - 128 min
John Frankenheimer, substituindo Arthur Penn na direção, se vale de um elaborado roteiro [indicado ao Oscar] para manter a narrativa realista, sem deixar de lado a tensão absorvente. [25.04.16]

O ABRAÇO DA SERPENTE * * * *
[El Abrazo de la Serpiente, COL/VEN/ARG, 2015]
Drama - 124 min
O colombiano Ciro Guerra nos guia por uma densa jornada de iluminação, cheia de misticismo, aculturação e loucura, pela Amazônia do início do século XX. Fascinante. [28.04.16]

CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL * * *
[Captain America: Civil War, EUA, 2016]
Aventura - 147 min
Nesse "Vingadores 2.5", o esforço em equilibrar, diegeticamente, tantos personagens e os tons de cada um é a verdadeira atração principal. O mérito do desafio assumido e, entre erros e acertos, vencido pertence a duas duplas: os irmãos diretores Anthony e Joe Russo e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely. Óbvio que seria muito difícil não caírem nas armadilhas narrativo-estruturais: cenas enxutas, diálogos expositivos e reviravoltas fáceis de prever. Ainda mais tendo de introduzir dois novos heróis ao Universo Cinematográfico Marvel, o interessantíssimo Pantera Negra e o juvenil Homem-Aranha. Diante disso, até que o resultado se salva, com o desenvolvimento do enredo quase como um thriller de conspiração e as peças se posicionando no tabuleiro da maneira mais orgânica possível [as motivações para o racha da trupe são bem trabalhadas, na superfície e pegando carona nos filmes anteriores, em ambos os lados], embora a produção passe por cima do próprio conceito [trata-se mesmo de uma aventura do Capitão América? seria uma guerra civil sem a participação popular? filosofem aí...]. Vindos da comédia, os Russos capricham nas sequências de ação, injetando humor no entrevero [a palavra da semana, né?] entre os times formados pró e contra a supervisão das atividades dos Avengers pela ONU, quando todo mundo arranja alguém para brigar. Algumas participações são narrativamente descartáveis e praticamente inexistem cenas de respiro do enredo, é tudo espremido para caber no frame e conciso para manter a duração inferior a duas horas e meia. Em questão de minutos fazem-se as pazes e desfazem-se de novo. Mas, eu sei disso, é parte do jogo comercial: entregar um filme que automaticamente puxa outros tantos vindouros. A Marvel é estrategista nata. E nessa área, até agora, não há páreo. [28.04.16 – Cinemas Teresina]

AMIGOS PARA SEMPRE * * ½
[Four Friends, EUA, 1981]
Drama - 115 min
O roteiro semi-autobiográfico do iugoslavo Steve Tesich possui curvas dramáticas que podem soar forçadas, mas a direção de Arthur Penn injeta uma boa atmosfera nostálgica. [30.04.16 – madrugada]

Ver – O VENCEDOR [1979] / TESTEMUNHA FATAL [1981] / AMERICAN FLYERS [1985] / ELENI [1985]

Maio – 24 filmes

BIRD * * *
[Idem, EUA, 1988]
Drama/Musical - 161 min
A condução segura de Clint Eastwood, que deu uma guinada na carreira de diretor, e a performance soberba de Forest Whitaker, premiada em Cannes, como o saxofonista Charlie Parker [1920-1955] conseguem superar a estrutura labiríntica composta por flashbacks dentro de flashbacks do roteiro de Joel Oliansky. [01.05.16]

Ver – A COMPETIÇÃO [1980] / CORAÇÃO DE CAÇADOR [1990]

CRIMES DA ALMA * * *
[Crona di un Amore, ITA, 1950]
Drama/Suspense - 98 min
Em seu début na direção de longas metragens, Michelangelo Antonioni põe o próprio neorrealismo italiano como pano de fundo para flertar com o "film noir". Lucia Bosé, então com 19 anos, é o pivô de uma trama de crime e amor, ambos em sentidos morais, que vai se descascando aos poucos. De fato, um começo muito promissor. [02.05.16]

Ver – A MORTE DE UM CICLISTA [1955]

O RENASCIMENTO DO PARTO * * ½
[Idem, BRA, 2013]
Documentário – 90 min
À parte seu acabamento de forma e estrutura sofrível, suscita reflexões importantes – diria mesmo essenciais, quem sabe urgentes – acerca do paradoxo de [re]humanizar o processo de trazer um ser humano à vida. [03.05.16]

KRAMPUS – O TERROR DO NATAL * ½
[Krampus, EUA/NZE, 2015]
Terror - 98 min
Pesadelo natalino – e cinematográfico – inspirado num folclore austríaco tão antigo quanto o próprio Papai Noel. Credo! [04.05.16]

REAL BELEZA * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 97 min
Em tese, Jorge Furtado usa os elementos certos para relativizar o belo. Contudo, ao invés de elevar, a temperatura arrefece gradativamente. [04.05.16 – Canal Brasil]

IRMÃS DIABÓLICAS * * ½
[Sisters, EUA, 1973]
Suspense - 93 min
Primeiro exercício-homenagem de Brian De Palma a Hitchcock, compensa na estética o que não alcança no roteiro. [05.05.16]

COLONIA * * ½
[Idem, ALE/LUX/FRA, 2015]
Drama/Suspense - 110 min
Florian Gallenberger arrefece seu filme-denúncia com artifícios bobos e pouca ousadia, mas é um estalo para pesquisar sobre o enclave Colonia Dignidad, ao sul do Chile, fundada pelo ex-suboficial nazista Paul Schäfer em 1961. Um local de abusos sexuais, trabalhos forçados, sequestros, contrabando de armas, fabricação de gás venenoso. E o pior, tudo subvencionado pelo governo chileno por décadas. O recorte do enredo é o golpe militar de 1973, quando a Colonia foi usada como centro de tortura da Dina – Diretoria de Inteligência Nacional, a polícia secreta do país. A realidade, naturalmente, dá uma terrível rasteira na ficção. [09.05.16]

NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 106 min
Após um início escancaradamente esquemático, a narrativa de Roberto Berliner [“A Pessoa é para o que Nasce”, 2003] cresce e se solidifica em torno da arte como terapia e, o mais importante, da humanização do olhar para os internos de instituições manicomiais. Isso no Brasil da década de 1940! Glória Pires defende com sobriedade a figura da psiquiatra humanista Nise da Silveira [1905-1999], ajudada por um elenco irrepreensível. E é esse humanismo extemporâneo da personagem-título que torna o filme uma sessão comovente sem perder o equilíbrio. Há uma sinceridade nos frames que passa por cima das fraquezas cinemáticas. Como exemplo o primeiro encontro de um cliente, como Nise se referia aos pacientes, com a tela em branco, sob a “guarida” compassiva da médica, é de uma beleza simbólica que não precisa de palavras. Basta sentir. [10.05.16 – Cinépolis Rio Poty]

MÁRTIRES * * *
[Martyrs, FRA/CAN, 2008]
Terror - 99 min
Um gore-tese para quem tem estômago forte e bons nervos para processar todas as camadas de “iluminação” pelo sofrimento. Inspirado por “O Albergue” [2005], Pascal Laugier escreve/dirige um enredo aparentemente difícil de prever, com referências até mesmo a “Psicose” [1960], de Hitchcock. A narrativa não se apoia em jumpscares, mas na atmosfera de medo e loucura. Muda de forma radical na metade, quando o calvário experimentado por uma das personagens revela a verdadeira natureza temática da obra. E que natureza! A lógica, por mais absurda que possa parecer, é de um sadismo metafísico capaz de ficar ecoando nas mentes impressionáveis por algum tempo. [11.05.16]

SPECIAL CORRESPONDENTS * *
[Idem, GB/EUA/CAN, 2016]
Comédia - 100 min
A suposta sátira à antiética midiática se perde no humor bobo e um roteiro que mais parece o primeiro rascunho. Remake do francês “Envoyés trés spéciaux” [2009] para a Netflix, Rick Gervais é capaz coisas mais interessantes. [13.05.16]

PERMANÊNCIA * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 90 min
O forte aqui não é nem o texto em si, mas como o cineasta pernambucano Leonardo Lacca trabalha o intimismo narrativo por meio de um tom dramático comedido e dos tempos mortos. [14.05.16 – Telecine Cult]

ON THE ICE * * ½
[Idem, EUA, 2011]
Drama/Suspense - 96 min
Além de lançar luz sobre a comunidade inupiat [Alasca] dos dias de hoje, há ecos dostoievskianos permeando o enredo. [15.05.16 – Regina’s house]

A CAMAREIRA * * ½
[Das Zimmermädchen Lynn, ALE, 2014]
Drama - 86 min
O alemão Ingo Haeb observa o cotidiano/universo da protagonista sem apelar para grandes subterfúgios dramáticos. Controla bem o tempo narrativo e o que está fora do quadro, confiante na atuação de Vicky Krieps. [16.05.16]

Ver – ESSE LOUCO, LOUCO AMOR [1969]

A HISTÓRIA VERDADEIRA * * ½
[True Story, EUA, 2015]
Drama - 99 min
O jogo de palavras entre Jonah Hill e James Franco, em atuações interessantes, serve como um sutil [será?] guia dramático-narrativo. [16.05.16 – Telecine Premium]

ANGRY BIRDS: O FILME * * ½
[Angry Birds, FIN/EUA, 2016]
Animação - 97 min
A adaptação do popular game finlandês possui uma estrutura sofrível – flashbacks e devaneios interrompem o fluxo da narrativa com frequência –, compensada pelo humor vindo dos personagens. Deveriam ter investido mais nas referências cinematográficas [há uma ótima de “O Iluminado” [1980], por exemplo] para cativar a atenção dos adultos. [17.05.16 – Cinépolis Rio Poty]

X-MEN: APOCALIPSE * * *
[X-Men: Apocalypse, EUA, 2016]
Aventura/Ficção - 144 min
Singer é mais ambicioso em sua macroestrutura do que necessariamente indefectível numa observação cautelosa. Não é tão mirabolante quanto “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” [2014]; em compensação é mais redondo nos vieses dramáticos. A questão de um mutante original, confundido [por quem? por ele mesmo?] com um deus saído do Velho Testamento é atraente, possui apelo narrativo para um suposto fechamento da segunda trilogia. Fora a marca de ouro da série: a intolerância e o preconceito margeando a construção dos personagens e suas motivações. Magneto, por exemplo, tem um arco sofrido aqui, e que serve de gatilho para a complicação da crise. Outros também. Poderiam ter sido melhor trabalhados? Claro, sempre. Há muita coisa – comercial – em jogo, as cenas precisam avançar no modo expositivo e amarrar o que pede um nó. A presença ativa da personagem Moira entrega as indulgências da produção – ela não precisaria ir além da cena em que explica o vilão. Porém, o roteiro é esperto ao justificá-la romanticamente no final. Concessões para ampliar o público. Quem nunca? E o que pensar quando novamente uma única e elaboradíssima sequência com o ultraveloz Mercúrio se destaca mais do que o restante da produção? Contudo, o verdadeiro problema não se encontra no filme em si, e sim em sua posição cronológica dentro da franquia. Bryan Singer retornou sob o fardo da culpa por ter abandonado “X-Men: O Confronto” [2006] para cometer o condenado ao limbo “Superman – O Retorno” [2006], e desde então ficou obcecado em consertar o que quer que foi danificado. O filme anterior conseguiu juntar as duas versões do elenco [a nova advindo de “X-Men: Primeira Classe”, 2011], o que esse novo ignora por completo. Tanto que ninguém sabe em que realidade paralela Wolverine [cuja participação promete o tom do terceiro filme-solo] acordou no desfecho de “Futuro Esquecido” para encontrar a Jean Grey de Framke Janssen, rejuvenescida agora na pele de Sansa Star... desculpa, Sophie Turner. Essa “timeline resetada” é a coisa mais próxima dos quadrinhos que o cinema já fez, o que apenas legitima a piada feita por Deadpool sobre o quão confuso passou a ser acompanhar a série. A franquia “X-Men” comprova ser sólida mesmo depois de rearrumada. Porém, se pensarmos bem, essa arrumação da casa só fez ela ficar ainda mais bagunçada. E justo em sua pretensiosa macroestrutura. Em tempos pós-temporâneos, vai ver seja esse o charme da coisa. [19.05.16 – Cinépolis Rio Poty]

VIZINHOS 2 * *
[Neighbors 2: Sorority Rising, EUA, 2016]
Comédia - 92 min
Fora a vibe feminista, a anos-luz de ser bem trabalhada, e uma ou outra tirada engraçada [para quem não se converteu ainda ao politicamente correto], não há muito o que defender nessa sequência que, no mínimo, não está nem aí para os furos no roteiro. [20.05.16 – Cinemas Teresina]

VENTOS DA LIBERDADE * * *
[The Winds that Shekes the Barley, IRL/GB/ALE/ITA/ESP/FRA/BEL/SUE, 2006]
Drama - 127 min
A narrativa engajada de Ken Loach [direção] e Paul Laverty [roteiro] trafega pelo despertar ideológico [na Irlanda do Norte da década de 1920] e como isso une, mas também separa, as pessoas. O filme tenta conciliar contexto político, construção de personagem, cenas intimistas e concisão dramatúrgica, com resultado premiado com a Palma de Ouro em Cannes. [23.05.16]

KILL LIST * * ½
[Idem, GB, 2011]
Suspense/Terror - 92 min
Sem expor muito, ou dar respostas, a trama proposta por Ben Wheatley perpassa gêneros e referências para descamar um insuspeito "horror movie". O twist final pode mesmo deixar muita gente coçando a cabeça. [25.05.16]

JOGO DO DINHEIRO * * *
[Money Monster, EUA, 2016]
Suspense - 98 min
Como diretora, Jodie Foster explora bem as possibilidades dadas pelo roteiro esperto, equilibrando, de maneira até surpreendente, tensão e humor irônico. Apesar de um deslize inverossímil aqui e um exagero de dramaturgia ali, o resultado atmosférico funciona. Cria sintomática [mais uma] da crise financeira de 2008 nos Estados Unidos, quem sabe a narrativa amoleça na revelação do mistério – isso enquanto comentário mordaz à engrenagem de Wall Street, ainda a definir quem vive ou morre, e não apenas no sentido figurado. Mesmo assim, ancorado nas presenças carismáticas de George Clooney e Júlia Roberts [Jack O’Connell termina sendo o elo fraco entre eles] e nos meandros da espetacularização midiática sempre cara ao cinema, o filme incita uma dura, mas necessária, reflexão acerca do capitalismo especulativo perverso. [26.05.16 – Cinemas Teresina]

A ASSASSINA * * *
[Nie yin niang, TWN/CHI/HKG/FRA, 2015]
Drama - 105 min
A belíssima direção de Hsiao-Hsien Hou, premiada no Festival de Cannes, leva o gênero wuxia [de artes marciais] a um nível contemplativo, quase hermético em termos narrativos, exigindo do espectador uma entrega diferenciada. [30.05.16]

CALIFÓRNIA * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 85 min
Sobram honestidade, sensibilidade, nostalgia, e um soundtrack irretocável pinçando os anos 1970 e 1980, nessa saborosa estreia na ficção de Marina Person. Já vimos [centenas] de filmes sobre ritos de passagem antes – e continuaremos a vê-los; porém, a narrativa desse consegue uma dulcidão atmosférica, uma delicadeza e positividade no manejo dos temas [batidos, mas nem por isso menos relevantes], que justifica todo o nosso envolvimento emocional. Quem sabe a opção por uma metragem enxuta sacrifique coisas interessantes, como o pano de fundo sócio-político do Brasil de 1984 e um aprofundamento da relação da protagonista [Clara Gallo, ótima] com o tio que retorna dos Estados Unidos com AIDS [Caio Blat, melhor do que de costume]. Felizmente, Marina Person sabe usar as referências afetivas que selecionou, tanto as musicais quanto as cinematográficas [os filmes de John Hughes], para pincelar um retrato carinhoso de uma fase conturbada da juventude sob a ótica feminina – delimitada de forma clara pelas primeira e última cenas – e, consequentemente, da geração que conheceu tão bem. [30.05.16 – Canal Brasil]

ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO * *
[Alice Through the Looking Glass, EUA, 2016]
Aventura - 113 min
De certo há boas mensagens sobre o tempo e a família, mas essa sequência peca feio em estrutura e ritmo. [31.05.16 – Cinépolis Rio Poty]

TIRANDO O ATRASO * ½
[Dirty Grandpa, EUA, 2016]
Comédia - 109 min
É menos o humor rasteiro, posando de politicamente incorreto, e mais as indulgências narrativas [a falta de timing da direção e da montagem é gritante] que atestam o quanto não passa de um caça-níqueis despudorado. [31.05.16]

Junho – 22 filmes

WARCRAFT – O PRIMEIRO ENCONTRO DE DOIS MUNDOS * * ½
[Warcraft, EUA, 2016]
Aventura - 123 min
Um "fan film" assumido, a imersão no universo advindo do game online é fantástica, em termos de atmosfera, detalhes e personagens. Porém, as articulações da narrativa soam pouco consistentes, os desdobramentos dão a impressão de serem corridos, as motivações e surpresas antepostas sem muito grau de dificuldade. O que contrasta com a densidade [à la “Game of Thrones”?] sugerida pelo tom da produção. Duncan Jones já demonstrou ser um cineasta inteligente em “Lunar” [2009] e “Contra o Tempo” [2011], e até é justificável sua opção por um blockbuster absorvente, transformando Azeroth numa espécie de Terra-Média. Faltou apenas um enredo mais interessante e menos óbvio. Um dos acertos do filme é mostrar as razões para guerrear como diferenças fundamentalmente culturais – para os orcs, é a maneira natural do seu povo resolver os conflitos [o que pode servir como um espelho crítico para certas regiões do mundo real]. Por outro lado, não ajuda muita a consciente pretensão de ser o primeiro capítulo de uma provável franquia, e o subtítulo brazuca entrega a jogada, pois fica tudo no ar num desfecho fraquinho. Mesmo nunca tendo jogado o MMORPG lançado em 2004 [não me excomunguem, gamers], fui conferir com certa expectativa. Será que forem essas as peças faltantes? Hum... A adaptação cinematográfica aposta pesado, e se arrisca, no CGI, o que Jones tenta tirar proveito para catapultar o espectador nessa experiência imersiva. Os fades e fusões usados sem um timing melhorzinho são o que de imediato perigam causar um efeito contrário, sair de Azeroth direto para a sala de cinema. Ainda bem que retornar para a fantasia é apenas um empurrãozinho de nada. [02.06.16 – Cinépolis Rio Poty]

HAEMOO * * *
[Idem/Sea Fog, KOR, 2014]
Suspense - 111 min
Após o twist da metade, a narrativa de Sung-bo Shim, estreando na direção, subverte a si mesma e eleva o nível de tensão com habilidade notável. Produzido e coescrito por Joon-ho Bong [“Memórias de um Assassino”, 2003], foi inspirado num evento ocorrido em 2001. Trata-se de uma experiência que transita entre gêneros. [04.06.16]

A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Comédia - 76 min
Sem qualquer tipo de expectativa, até que possui uma premissa criativa para comentar a falta de ética jornalística – inventa-se um serial killer apelidado de Assassino dos Provérbios na “cidade mais pacífica do mundo [!]”. Além disso, essa estreia na ficção de Calvito Leal [“Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”, 2009] traz referências metalinguísticas que quase soam como um recheio extra. O roteiro absurdo tenta ser espertinho e entregar um humor “inteligente”, comparado a outras produções à la globochanchada, o que nem é grande vantagem assim. Porém, enquanto o tema requeria um texto mais astuto, satírico, ousado, esse não sai da superfície e desliza nos movimentos finais. As atuações são caricaturais, sem fugir à regra do que é fei[t]o no gênero dentro da cinematografia nacional contemporânea. Se há frescor no filme, é ser enxuto e, aqui e ali, cometer sacadas minimamente inspiradas. Algumas delas nos assassinatos proverbiais. Entenda isso como quiser. [05.06.16 – Telecine Premium]

O CANAL * * * ½
[The Canal, IRL/GB, 2014]
Terror - 93 min
O irlandês Ivan Kavanagh acerta ao optar pelo terror atmosférico, tendenciosamente psicológico, com resultado tenso e inquietante. Som e montagem muitíssimo bem orquestrados para assustar de modo genuíno sem a necessidade dos famigerados jumpscares. Não faltam cenas de gelar a espinha. [05.06.16]

A CASA DA NOITE ETERNA * * *
[The Legend of Hell House, GB, 1973]
Terror - 93 min
Além da aterrorizante atmosfera fantasmagórica, a produção ainda intenta propor um diálogo entre ciência e sobrenatural. Adaptado do livro de Richard Matheson pelo próprio, o roteiro se esforça para ser sóbrio mesmo escancarando sem sutileza todos os elementos do subgênero “casa mal-assombrada”, o que o levou a ser considerado por muitos um dos “filmes mais assustadores do século XX”. E isso apenas seis meses antes da estreia de outro dos “filmes mais assustadores de todos os tempos”, “O Exorcista” [1973]. Superlativos me cansam, dá-lhe aspas neles. Para o bem ou para o mal, trata-se de uma sessão que mexe com o espectador até hoje. Os clássicos valores poltergeists usados por Matheson foram inspirados pelas histórias macabras do ocultista Aleister Crowley e, principalmente, por “Desafio do Além” [1963], pérola dirigida por Robert Wise. O contraponto de crenças entre os personagens é um de seus pontos altos, deixa tudo bem estruturado e justifica o twist final, que, se causa espanto genuíno, também serve como elo credível para o diálogo proposto. A direção do britânico John Hough e seus estilosos enquadramentos de câmera realçados por lentes grande-angulares fazem os cineastas contemporâneos parecerem estudantes caretas. A trilha sonora, uma das primeiras a arriscar com música eletrônica, consegue trabalhar bem a dupla antecipação temporal pedida o tempo todo pela história de fantasmas atormentados. No elenco, embora Clive Revill faça as vezes de protagonista e Gayle Hunnicutt se favoreça da temática psicossexual, quem se destacam são Roddy McDowall [o impagável Peter Vincent de “A Hora do Espanto”, 1985] e Pamela Franklin, que debutou no cinema garotinha justamente numa obra-prima dos filmes de assombração em mansões, “Os Inocentes”, de 1961. Há uma promessa de remake pela Fox, a qual não tenho qualquer pressa em ver cumprida. [06.06.16]

À BEIRA MAR * *
[By the Sea, EUA/FRA, 2015]
Drama - 122 min
A narrativa bela e fria de Angelina Jolie Pitt emula o distanciamento do casal central [ela e Brad Pitt, “celebrando” os 10 anos como “Sr. e Sra. Smith”], mas falha miseravelmente ao buscar uma resolução catártica. [06.06.16]

MAIS FORTE QUE BOMBAS * * ½
[Louder Than Bombs, NOR/FRA/DIN/EUA, 2015]
Drama - 105 min
Em seu primeiro filme falado em inglês, o dinamarquês Joachim Trier [“Oslo, 31 de Agosto”, 2011] observa as camadas de incomunicabilidade geradas pelos não ditos e como cada um se apega à lembrança que lhe convém para justificar a própria dor. O simples anseio da verbalização da verdade ululante acerca da personagem de Isabelle Huppert é o que motiva o recorte dramático da narrativa intimista, revezada entre Gabriel Byrne, Jesse Eisenberg e o pouco conhecido [até agora] Devin Druid. Pena não trazer um desenvolvimento menos evidente, sem surpresas. Não é por ter encontrado o tom que Trier não poderia promover uma escansão. [07.06.16]

COMO SER SOLTEIRA * * ½
[How to be Single, EUA, 2016]
Comédia - 109 min
Eu já esperava [será?] que a propaganda fosse enganosa. O "busque a si mesmo" prometido termina tropeçando em "encontre alguém cedo ou tarde". [07.06.16 – com Lívia]

INVOCAÇÃO DO MAL 2 * * *
[The Conjuring 2, EUA, 2016]
Terror - 134 min
Ao mesmo tempo em que não se furta dos “jumpscares” – alguns bem forçados, outros bastante funcionais; todos narrativamente descartáveis [como as cenas de pavor sem eles comprovam] –, James Wan consegue trabalhar os personagens e a atmosfera. E, digo logo, equilibrar essa tríade num filme de terror contemporâneo passa longe de ser tarefa fácil. Retornando à cadeira de diretor, ocupada no primeiro “Invocação do Mal” [2013], e agora também colaborando no roteiro, Wan, ao contrário de muitos, possui uma caraterística importantíssima: sabe usar a câmera para potencializar a história, seja no “puro” terror ou em momentos emotivos. Dessa maneira, tanto manipula o espectador nos quesitos preparação, falso susto, “jumpscare” [estrutura básica do atual gênero], quanto o leva a se importar com os personagens, graças ao tempo que gasta com eles, aprofundando relações e sentimentos – e isso vale para o casal Ed e Lorraine Warren e para os membros da família Hodgson, fragilizados pela ausência do patriarca. O recorte agora é o caso que ficou conhecido como “poltergeist de Enfield”, Inglaterra, 1977, para onde vai o casal Warren [novamente Vera Formiga e Patrick Wilson] após o polêmico caso de Amityville, abordado no prólogo. Não temos as três palminhas do filme anterior ou a boneca Annabelle [esqueçam o spin-off de 2014]; agora a figura que deve mexer com o imaginário pós-sessão é o Homem Torto – The Crooked Man das chamadas rimas de berçário inglesas [nursery rhymes]. Se bem que gostaria de ter tido mais dele [outro spin-off caça-níqueis à vista? uma ceninha no final dá a dica...], quando se revela é um furacão: rápido vem, mais rápido vai. Mas são as interações entre Lorraine e Ed e como, mesmo sem querer a princípio, se deixam afetar com o calvário dos Hodgsons, sobretudo da menina Janet [Madison Wolfe], a possuída da vez, que fazem essa sequência driblar os artifícios que já vimos uma centenas de vezes de um subgênero desgastado. E claro, a habilidade do malaio James Wan [é ele quem vai dirigir “Aquaman” para a DC] para tornar a poltrona um refúgio vulnerável sem tentar reinventar a roda, e sim colar referências que ressoam com eficiência. Fora isso, ainda brinca com as expectativas falsas que planta sem o menor constrangimento. Está tão à vontade no terreno onde pisa que explora o design de produção com planos-sequências e ousa pôr para tocar músicas insuspeitas para o gênero, como “Can’t Help Falling in Love”, do Elvis, e “I Started a Joke”, dos Bee Gees, esta flertando com o pastiche à própria narrativa quando parece estar comentando com ironia [fina? nada sutil?] o circo midiático em torno do ocorrido e que hoje o considera um “hoax”. Assim como os demais casos paranormais investigados pelos Warrens. Seja qual for a verdade, os filmes de casas/mansões/fazendas/apartamentos mal assombrados são desses filões do cinema que podem até ser exorcizados, mas dificilmente serão eliminados. [09.06.16 – Cinemas Teresina]

TRUQUE DE MESTRE – O 2o ATO * * ½
[Now You See Me 2, EUA, 2016]
Ação/Suspense - 129 min
A intenção de entregar uma trama e twists mais elaborados míngua. Em contrapartida, a sessão compensa com o ótimo ritmo imposto por Jon M. Chu e o elenco entrosado. Essa sequência soa como um entrefilme, um prelúdio para o terceiro, o já anunciado ato final. Dessa forma, nenhuma resposta é dada às perguntas do primeiro, de 2013, as quais são apenas fomentadas, deixadas em aberto. Tudo se resume a um plot de vingança, mas que, obviamente, é parte de um truque maior. Fácil de prever o quadro geral sem precisar de tanto esforço assim. Lógico que aqui e ali a criatividade narrativa impera, mesmo sem causar o choque da surpresa. Absorvente sob medida para ser assistido com total descompromisso. [10.06.16 – Cinemas Teresina]

DESTINO ESPECIAL * * ½
[Midnight Special, EUA, 2016]
Suspense/Ficção - 112 min
Jeff Nichols é habilidoso ao manter o interesse do espectador pelo mistério. O qual, por outro lado, se revela nada particularmente impressionante, além de deixar todas as perguntas [sim, são muitas] pairando no ar. Com ecos de “A Montanha Enfeitiçada” [1975], só que num tom mais sério e urgente, trata-se de um eficiente exercício de gênero. Contudo, poderia ter sido bem mais do que isso. [11.06.16]

ORGULHO E PRECONCEITO E ZUMBIS * *
[Pride and Prejudice and Zombies, EUA/GB, 2016]
Comédia/Terror - 109 min
O que "surpreende" é a tentativa de um "tom sério" [sério?] a essa brincadeira com o clássico de Jane Austen. Quando, quem sabe, assumindo sem receios a paródia-pastiche resultasse em algo mais divertido. Baseado no livro escrito por Seth Grahame-Smith, que já tinha colocado Abraham Lincoln como um caçador de vampiros [se não viu a adaptação, que ele mesmo roteirizou, você é um sortudo], termina sendo uma comédia sem piadas e um terror sem clima. [12.06.16]

PRESERVATION * *
[Idem, EUA, 2014]
Suspense - 88 min
Se há alguma "tese" sobre os instintos de violência dos seres humanos na narrativa de Christopher Denham, ela se perde ao ser tratada com gritante superficialidade. [12.06.16]

ZERANDO A VIDA * ½
[The Do-Over, EUA, 2016]
Comédia - 108 min
Dentro das "expectativas" de um filme com Adam Sandler e David Spade, esse "cumpre" direitinho o que "promete". [13.06.16 – Netflix]

SEM RETORNO * * ½
[Self/Less, EUA, 2015]
Ficção/Suspense - 116 min
Com roteiro assinado pelos irmãos David e Álex Pastor, o cineasta Tarsem Singh [“A Cela”, 2000] converte o instigante "O Segundo Rosto" [1966], dirigido por John Frankenheimer, num thriller sci-fi cheio de concessões hollywoodianas. A premissa ainda soa mirabolante [cortesia do escritor David Ely] e dá espaço para discussões sobre ciêntica e ética. Porém, é narrativamente simplificada para atrair o maior número de espectadores, chegando até mesmo a ecoar elementos de “O 6o Dia” [2000], com Schwarzenegger. Produzido na esteira do sucesso de “Looper – Assassinos do Futuro” [2012], não atinge todo o seu potencial criativo. [13.06.16 – Netflix]

BOM DIA, TRISTEZA * * ½
[Bonjour Tristesse, EUA/GB, 1958]
Drama - 90 min
Ligeira impressão de que o cineasta Otto Preminger e o roteirista Arthur Laurents se perderam na tradução das entrelinhas sobre a melancolia e o tédio juvenis contidos no livro da francesa Françoise Sagan, publicado quatro anos antes. O tom do diálogo filme-livro realça mais as fraquezas da obra original [a autora tinha 17-18 anos quando a concebeu] do que a atmosfera que fez da mesma um grande sucesso editorial. Alguns personagens viram meros pastiches e caricaturas de si próprios, enquanto a tendência de explicar demais os movimentos e motivações do enredo soem frágeis, sob o aspecto narrativo. Logo no início, por exemplo, a música-título composta por George Auric e cantada em cena por Juliette Gréco, faz o [des]favor de resumir tudo o que ainda vamos ver. Em compensação, temos os flashbacks coloridos que caminham, podemos dizer, para o presente frio e monocromático; além de um desfecho emocionalmente aterrador. [14.06.16]

MAIS FORTE QUE O MUNDO * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 107 min
Poyart pesa a mão em seu estilo publicitário para compensar a narrativa biográfica – e burocrática. Não chega a ser, necessariamente, um pecado mortal. Há inúmeros precedentes na sétima arte dos anos 1980 [a popularização do videoclipe como formato estético-narrativo] para cá. Creio que depende muito da sensibilidade de quem assiste junto com o casamento entre abordagem e conteúdo. Mas é difícil escapar dos excessos, de todo jeito. Depois de “2 Coelhos” [2012] e, agora, da cinebriografia do lutador de MMA José Aldo, é quase lógico concluir que o santista Afonso Poyart é um pretenso Michael Bay brazuca. Exagero? Provavelmente. Mas basta conferir a abundância de slow motions [cuja transição a partir do frame rate normal é chamada de ramping], snorricams [alguns bem exibicionistas], dutch angles, cenários digitais, etc., para entender o que estou querendo dizer. Em contrapartida, o roteiro assinado pelo diretor e lapidado por Marcelo Rubens Paiva segue a linearidade quase num didatismo novelístico. E se digo quase é porque há um rápido “in media res” para dar o start e dois flashbacks no final para amarrar o espectro emocional. Que, apesar de tudo, termina diluído pelo constante abuso dessa estética cinestésica, embora aqui e ali funcione até bem. Existem sim bons elementos no filmes, o que não quer dizer que sejam originais ou vão além da eficiência. Como, por exemplo, o twist em relação ao personagem Fernandinho [Rômulo Neto], fácil de prever com um pouquinho de atenção. São artifícios usados por Poyart para se apropriar do enredo e transformá-lo num produto seu, com a sua pegada pop, enquanto parece tentar descobrir se faz um drama biográfico sobre se tornar a pessoa que você sonhou ser [o texto reitera isso sempre que pode] ou um filme de ação e luta acerca de administrar a fúria interior [alegoria trabalhada sem muita sutileza]. E nesse fogo cruzado de estética e referências [claro, já vimos essa história outras vezes], o elenco – José Loreto, Cléo Pires, Milhem Cortaz, Jackson Antunes – dança com relativo molejo ao ritmo do zunido dos jabs. Com estreia adiada em cinco meses por causa do fatídico UFC 194, no geral o filme está apto a inebriar os sentidos do público viciado em boas histórias de superação. A de José Aldo Júnior é uma delas. Faltou apenas menos distração do estilo autoadimirado. [20.06.16 – Cinépolis Rio Poty]

AS TARTARUGAS NINJA: FORA DAS SOMBRAS * * ½
[Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows, EUA, 2016]
Ação - 112 min
O apelo nostálgico da produção [os espectadores com mais de 30 anos vão curtir as referências] com frequência é engolido pelo abuso do CGI e o humor assumidamente bobo – o que, para o bem ou para o mal, faz parte do universo dos personagens. E até funciona. Não fosse a narrativa descompromissada, que não se leva a sério, seria mais difícil se deixar levar pela experiência. A forçada de barra vem mesmo com o terceiro ato à la “Os Vingadores” [2012]. Em compensação, há ritmo e carisma [digital] de sobra. [22.06.16 – Sala Macro XE, Cinépolis Rio Poty]

INDEPENDENCE DAY: O RESSURGIMENTO * * ½
[Independence Day: Resurgence, EUA, 2016]
Ficção - 119 min
Tenta retomar a atmosfera do original, mas sofre com o avanço dos efeitos digitais e, sobretudo, com o sinal dos tempos. Se há 20 anos [eu num Ballon Center com gente saindo pelo ladrão...] era um verdadeiro evento cinematográfico, com adaptação em quadrinhos e tudo, algo comum na época, hoje é “apenas” mais um blockbuster-em-3D-convertido-na-pós-propdução da semana. Se o filme de 1996 deu uma nova amplitude ao subgênero do filme-catástrofe, popular nos anos 1970, mesclando várias técnicas de efeitos especiais, agora o famigerado CGI [computer generated imagery] domina cada mísero frame. O textual perde cada vez mais importância para a cinestesia do espetáculo. Não que “Independence Day” fosse literato, mas era simples e absorvente – e divertidíssimo – com espontaneidade. Com o peso de duas décadas de sucesso, a narrativa da sequência [se tardia ou não, deixo para você resolver] brinca de se levar a sério, aglomera roteiristas, um plot mais “elaborado” e boas ideias que ora não são bem desenvolvidas e ora são sumariamente esquecidas ou maquiadas. No fim das contas, a narrativa em paralelo entrega subtramas que não fariam qualquer falta ao “logos” do enredo. Como exemplo, o barco com os pescadores russos e a jornada com crianças do personagem de Judd Hirsch. Por outro lado, é ótimo rever rostos conhecidos em papéis que os marcaram: Jeff Goldblum, Bill Pullman e Brent Spiner, o tresloucado dr. Okum, além de pequenas participações de Vivica A. Fox e Robert Loggia. Da nova geração, temos Liam Hemsworth, Jessie T. Usher, Maika Monroe e Nicholas Wright. Sem falar de Charlotte Gainsbourg entrando em Hollywood. Will Smith não quis participar. Ponto. [Para ele?] Goldblum assumindo o protagonismo do filme foi das melhores decisões de Emmerich e Dean Devlin. Como não notar a homenagem rápida [sutil? nem tanto.] que o ator faz ao seu personagem da franquia “Jurassic Park”? Impossível. Mas a necessidade da produção em ser “canônica” não reverbera no resultado final: além de repetir a estrutura e até mesmo cenas do primeiro filme, muito se dilui na falta de criatividade no lidar com uma nova invasão alienígena, e até “Star Wars” não escapa de, pela enésima vez, ser referenciado. Como eu já disse, até há resquícios de boas ideias, como o campo gravitacional da espaçonave substituir o canhão de laser nas sequências de destruição, mas que não são devidamente aproveitadas e ficam a anos-luz do impacto de se estar no cinema 20 anos atrás. Um “Independence Day 3” está sendo planejado para os próximos anos. Espero que também seja pensado. Caso o contrário, precisaremos esperar outras duas décadas para uma nova reinvenção dos filmes-catástrofes. [23.06.16 – Cinépolis Rio Poty]

ÁREA 51 * *
[Area 51, EUA, 2015]
Ficção - 91 min
Embora mexa com o nosso imaginário acerca dos mistérios que cercam a famosa base militar norte-americana no deserto de Nevada [com existência assumida oficialmente apenas em 1994], e seja particularmente tenso nos seus 30 minutos finais, esse novo "found footage" de Oren Peli – realizador do primeiro “Atividade Paranormal”, de 2007 – nunca convence enquanto narrativa. [26.06.16 – Sala de Vídeo/quarto provisório, madrugada]

PARA MINHA AMADA MORTA * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 113 min
Pela primeira vez assinando sozinho a direção e o roteiro de um longa metragem, Aly Muritiba trafega por caminhos tortuosos, num drama com atmosfera de suspense e foco nos personagens. Todo construído numa tensão latente [e os planos-sequência contribuem para isso], subverte as expectativas ao nunca explodir no thriller prenunciado. Ao invés disso, a investida é mais psicológica e existencial, com ecos de “Teorema” [1968], de Pasolini, mas com as motivações todas explicitadas. O título de trabalho, “O Homem que Matou a Minha Amada Morta”, resume de cara o leitmotìv de um filme com mais camadas do que a princípio aparenta. [27.06.16 – Sala de Vídeo/quarto provisório, madrugada]

PROCURANDO DORY * * *
[Finding Dory, EUA, 2016]
Animação - 97 min
Andrew Stanton, junto com o codiretor Angus MacLane, reencontra a atmosfera fascinante do primeiro filme. Não arrisca inovar, e certamente não acerta tanto quanto em “Procurando Nemo” 13 anos atrás [há pontos frouxos e decisões indulgentes, num olhar clínico]. Mesmo assim, consegue trabalhar bem elementos nostálgicos e contemporâneos na narrativa de personagens cativantes e entregar uma sessão submarina agradabilíssima. Dessas de sair do cinema agradecendo a Pixar por tornar o mundo, ao menos pelo tempo de duração da obra, um lugar melhor. [30.06.16 – Cinépolis Rio Poty] 

Julho – 23 filmes

SUBLIME *
[Idem, EUA, 2007]
Suspense - 113 min
Se existem boas ideias nesse filme para home video, elas são engolidas por um enredo pessimamente estruturado em flashbacks forçados. Além disso, o roteiro não consegue justificar narrativamente [não amarra os próprios laços de maneira convincente] sua desconfortável mensagem em relação ao erro médico e, sobretudo, ao estado de coma. Sobre o porquê do título ser “Sublime”, não faço a mínima ideia. [03.07.16 – HBO]

DECISÃO DE RISCO * * *
[Eyes in the Sky, GB/ZAF, 2015]
Suspense - 102 min
Sem perder a tensão, esmiuça os meandros burocráticos, políticos, éticos e psicológicos por trás de um ataque com drone. Embora Andrew Niccow já tenha refletido sobre o controverso tema em “Morte Limpa” [2014], foram o diretor Gavin Hood e o roteirista Guy Hibbert que mostraram como a sujeira se escancara no fato de ninguém querer assumir a responsabilidade pelos danos colaterais. Último papel de Alan Rickman. [03.07.16]

PORTA DOS FUNDOS: CONTRATO VITALÍCIO * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Comédia - 100 min
O primeiro longa do coletivo brasileiro de humor popular na internet aposta na sátira ao universo contemporâneo das celebridades e como isso distorce o próprio processo artístico/cinematográfico. Mesmo que comece bem melhor do que termina – não me refiro ao desfecho em si, mas como a história gradativamente vai se desgastando, exaurindo a piada –, já sai na frente de qualquer produto da globochanchada. O diretor Ian SBF e o ator/corroteirista Fábio Porchat não chegam a impressionar como fizeram em “Entre Abelhas” [2015], mas entregam uma comédia na qual a graça vem do absurdo da situação e das figuras que transitam por ela. O elenco inteiro do Porta dos Fundos, com a exceção daqueles que deixaram o grupo até pouco tempo atrás, consegue ser aproveitado, embora o filme sofra com o inchaço de personagens e estereótipos. Por outro lado, dá para se ter uma ideia do quanto Gregório Duvivier e o próprio Porchat são bons atores quando pisam em terreno conhecido. A velha e boa estrutura de apenas o protagonista parecer “normal” gera momentos hilários, do mais puro nonsense. A trupe não alcança a preciosidade de um Monty Python, mas não me surpreenderei caso um dia o Porta versão cinema diga, em alto e bom tom, ao que veio realmente. [05.07.16 – Cinemas Teresina]

OLMO E A GAIVOTA * * * *
[Idem/Olmo & the Seagull, DIN/BRA/FRA/POR/SWE, 2015]
Documentário/Drama - 82 min
Fascinante mergulho nos dilemas existenciais da protagonista durante o afastamento da peça em que atua [“A Gaivota”, de Tchekov] e o isolamento em casa por conta da gravidez de risco [verdadeira]. Nessa codireção entre a brasileira Petra Costa [do maravilhoso e triste “Elena”, 2012] e a dinamarquesa Lea Glob, os gêneros e formatos se misturam, e se perdem, numa discussão “sobretextual” acerca do próprio processo de construção narrativa. Onde termina a representação e começa a realidade? A montagem sugestiva e a presença dos atores Olivia Corsini e Serge Nicolai – estariam sendo espontâneos ou representando a si próprios? – provocam uma experiência imersiva, delicada e cheia de camadas com reflexões que confundem vida real e arte. Um filme raro e precioso. [07.07.16]

CAÇADORES DE EMOÇÃO – ALÉM DO LIMITE * *
[Point Break, EUA/ALE/CHI, 2015]
Ação - 114 min
Mantém a macroestrutura da premissa do original e os nomes dos principais personagens; até acrescenta uma filosofia ecológica [fictícia] aos terroristas praticantes de esportes radicais [o surf agora é coadjuvante]. Infelizmente, o remake escrito por Kurt Wimmer parece mais preocupado em promover adrenérgicas sequências de ação, e o diretor/fotógrafo Ericson Core carrega na estética “cinepublicitária”, do que em contar uma história minimamente convincente. Como resultado, estamos diante de um genérico "Triplo X" [2002] – que já soava genérico por si só, mas tinha lá seu charme à época. Passa longe de fazer jus ao ainda muito eficiente filme dirigido em 1991 por Kathryn Bigelow, com Patrick Swayze e Keanu Reeves no elenco. [09.07.16]

O NOVÍSSIMO TESTAMENTO * * * ½
[Le Tout Nouveau Testament, BEL, 2015]
Comédia/Drama - 115 min
O belga Jaco Van Dormael [“O Oitava Dia”, 1996] constrói uma fábula original com comentário mordaz em cima dos preceitos cristãos como regulamentadores da vida de cada pessoa. Sobretudo quando Deus é mostrado como um pai de família alcoólatra, autoritário e abusivo que fica diante do computador criando leis arbitrárias [e que conhecemos muito bem] apenas para o seu divertimento. Tão, ou mais, ranzinza que a representação de Antonio Fagundes em “Deus é Brasileiro” [2003], o que vive em Bruxelas certamente é mais cruel, como se o do Velho Testamento continuasse misantropo e entediado com a própria criação. Uma obra inspiradíssima, cheia de ótimas sacadas [o tempo de vida enviado para os celulares] e ocasionalmente genial [o toque na mão prostética é de uma ironia fina e devastadora], tinha plenas condições de ampliar a discussão para além da antítese destino/livre arbítrio. Contudo, só em não se acanhar ao substituir o gênero por trás do comando desse computador divino [é preciso relevar algumas indulgências do roteiro] já o torna cult e ousadamente atual. [09.07.16]

THEY LOOK LIKE PEOPLE * * *
[Idem, EUA, 2015]
Terror - 80 min
Um "terror" psicológico indie que não mascara a atmosfera de pista falsas, mas cujo arremate vem como um soco de fé na amizade. Estreando em longas, Perry Blackshear brinca com as nossas expectativas e realiza o tipo de filme que precisa ser visto com olhar sensível. [10.07.16]

HARDCORE – MISSÃO EXTREMA * * * ½
[Hardcore Henry, RUS/EUA, 2015]
Ação - 97 min
Em primeira pessoa a adrenalina é elevada à enésima potência numa experiência absolutamente cinestésica. Não é a primeira vez que a técnica da câmera subjetiva é usada na narrativa como um todo, tanto que há uma referência ao noir “A Dama do Lago” [1947], no qual vemos o protagonista apenas quando este se olha no espelho. Mas se naquele o cineasta Robert Montgomery se valia do recurso para aumentar a atmosfera de mistério do enredo do escritor Raymond Chandler, aqui o russo Ilya Naishuller prioriza a estética do videogame para imergir o espectador em pouco mais de 90 minutos de tirar o fôlego. Literalmente. Usando uma GoPro Hero3 [cuja lente grande angular distorce a imagem, e aí depende de quem não se incomoda com isso] acoplada numa capacete especial, o filme nos leva a vivenciá-lo na pele, e nas partes mecânicas, do ciborgue Henry, “interpretado” tanto pelos dublês [verdadeiros heróis] quanto pelo próprio diretor. Mesmo desmemoriado, ele não se furta de cumprir as missões que o personagem de Sharlto Copley, num tour de force de diversidade, lhe confia para derrotar o telecinético Akan e sua infinidade de capangas em vans personalizadas. Até a estrutura do roteiro, também de Naishuller, remete a um “first-person” game, comprovando que a intenção não é ser profundo ou filosófico – embora nada escape às mentes treinadas – mas divertir, sacudir, incitar o “como diabos fizeram isso?”, embora essa fase do puro encantamento não exista mais. Ilya Naishuller levou a técnica usada nos clipes “The Stampede” e “Bad Motherfucker”, da banda conterrânea de indie rock Biting Elbows, a uma escala maior, banhada em violência gráfica e num ritmo enérgico. Não chega a reinventar o cinema de ação, porém oferece uma refrescada nas possibilidades de um gênero no qual a criatividade anda a zero. [11.07.16]

A ERA DO GELO: O BIG BANG * * ½
[Ice Age: Collision Course, EUA, 2016]
Animação - 94 min
Nesse quinto filme da franquia [dizem que é o último, mas, hum, sei...], o esquilo Scrat pega as melhores referências a outros filmes de ficção, de “Gravidade” [2013] a “2001: Uma Odisseia no Espaço” [1968]. Os personagens continuam carismáticos o bastante para engolirmos mais uma aventura deles tentando sobreviver e se manter unidos. Temos tanto arcos paternais quanto de relacionamentos entre a conhecida trupe composta por Manny, Sid, Diego, Ellie, mais os que também retornam. Todavia, a tradução brasileira equivocada do subtítulo [que mal comercial acarretaria manter “Rota de Colisão”?] é um total desserviço ao público-alvo que ainda está aprendendo, ou vai, sobre o Big Bang como a principal teoria até agora da origem do Universo – e não da quase destruição do planeta Terra durante o período glacial. Fica parecendo que, no caso específico, o cinema não foi à escola. Difícil é saber se a aula foi gazeada de propósito ou por motivo de doença [mental?]. Melhor mesmo nem perguntar. [11.07.16 – Cinépolis Rio Poty]

OH BOY * * *
[Idem/A Coffe in Berlin, ALE, 2012]
Drama/Comédia - 85 min
Dramédia indie alemã ideal para quem não sabe qual caminho seguir na vida – ou deseja somente tomar um café simples. [12.07.16]

AMIZADES IMPROVÁVEIS * *
[The Fundamentals of Caring, EUA, 2016]
Drama - 97 min
Baseado no livro de Jonathan Evison, trata-se de um road movie feito de boas intenções [e apenas disso], escancaradamente esquemático e com atmosfera de telefilme. Apesar do carisma do elenco esforçado. [13.07.16 – Netflix]

OS OLHOS SEM ROSTO * * * ½
[Les Yeux sans Visage, FRA/ITA, 1960]
Terror - 91 min
A "fábula de angústia" de Georges Franju, baseado no livro escrito por Jean Redon, vai de referências expressionistas ao realismo perturbador com um insuspeitíssimo toque poético [melancólico?] em sua crítica à vaidade – independente da forma que ela assume [conhecimento, poder, beleza] – que só se evidencia nas alegorias do desfecho. Também há a boa utilização dos dois leitmotivs compostos por Maurice Jarré para as personagens de Alida Valli e Edith Scob, deixando sugestivamente o médico remoído e obcecado feito por Pierre Brasseur sem score. É fácil encontrar ecos dessa obra em filmes tão distantes [pelo visto, nem tanto assim] quanto “Halloween – A Noite do Terror” [1978], de John Carpenter, “A Outra Face” [1997], de John Woo, e “A Pele que Habito” [2011], de Pedro Almodóvar. [14.07.16]

CAÇA-FANTASMAS * * *
[Ghostbusters, EUA, 2016]
Comédia - 116 min
O humor esperto flerta [melhor dizer: “tira onda”] com elementos do original sem nunca pretender ser apenas uma cópia feminina do mesmo. A narrativa comandada por Paul Feig [“Missão Madrinha de Casamento”, 2011] possui atmosfera própria, discute a questão de gênero sem ser afetada e conta com um quarteto de protagonistas com ótima química – Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Leslie Jones e Kate McKinnon. O 3D se vale do formato letterbox para fazer os efeitos visuais extravasarem o quadro. Para os nostálgicos, as referências e participações especiais indiscutivelmente conferem um sabor extra, com gags muito perspicazes. Apesar da covardia da distribuidora Sony em retirar o “As” do título nacional, esse reboot funciona. [14.07.16 – Cinemas Teresina]

DEMOLITION * * *
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 101 min
Dirigido pelo canadense Jean-Marc Vallée, Jake Gyllenhaal atravessa a narrativa de luto e suas metáforas [algumas bem óbvias, é verdade] para tomar consciência do embotamento afetivo que o anestesia. O roteiro de Bryan Sipe até desliza aqui e ali, porém não chega a derrapar de vez em atalhos bobos. [17.07.16]

A FAMÍLIA BÉLIER * * *
[La Famile Bélier, FRA/BEL, 2014]
Comédia/Musical - 106 min
O tema requentado [seguir seu talento ou permanecer em casa ajudando a família] ganha tempero extra com a pegada simples e honesta de Eric Lartigau e as atuações de um elenco afinadíssimo. Sobretudo os que não falam ou cantam, já que os familiares da protagonista são todos surdos-mudos – Karin Viard e François Damiens roubam suas cenas, enquanto Luca Gelberg possui real deficiência auditiva e também tem bela desenvoltura. Quem conduz a narrativa é Louane Emera, um dos destaques da versão francesa do The Voice em 2013. A cena na qual interpreta “Je Vole”, de Michel Sardou, traduzindo para os pais na linguagem de sinais, é de fazer as lágrimas saltarem dos olhos. Uma comédia dramática musical que lida com temas delicados [os pais não conseguirem ouvir a bela voz da filha aspirante a cantora], porém evitando o coitadismo e o melodrama. Ao invés disso, opta por deixar congelado um grande sorriso, tanto no último frame quanto em nós, ainda secando o choro. Parafraseando Hitchcock, “a good cry”. Ops, acho que eu deveria ter colocado isso em francês, não? [17.07.16]

EXTRAORDINARY TALES * * *
[Idem, LUX/BEL/ESP/EUA, 2013]
Animação - 73 min
O espanhol Raul Garcia explora diferentes estilos de desenho nessa antologia atmosférica com cinco contos de Edgar Allan Poe: “A Queda da Casa de Usher”, “O Coração Delator” [difícil não comparar com a versão de Ted Parmelee, de 1953], “Os Fatos do Caso do Sr. Valdemar”, “O Poço e o Pêndulo” e “A Máscara da Morte Rubra”. Contando com narradores do naipe de Sir. Christopher Lee, Bela Lugosi [uma gravação em áudio antiga], Julian Sands, Guillermo del Toro, além de uma participação do cineasta Roger Corman, de certo é uma delícia macabra para os fãs do autor. O ponto fraco fica nos interlúdios, nas conversas entre Poe/Corvo e a Morte acerca da obcessão dele com ela. Mas, no geral, trata-se de uma homenagem digna à fonte de inspiração. [17.07.16]

FORÇA DIABÓLICA * * ½
[The Tingler, EUA, 1959]
Terror - 82 min
William Castle convoca os espectadores a gritarem por suas vidas nesse terror B com o astro do gênero Vincent Price e cheio de artimanhas [gimmicks] metalinguísticas. A fala “The tingler are in theater!” era a deixa para a audiência da época se preparar para o “percepto” – não a definição de Deleuze, mas um mecanismo que “estimulava” o grito fazendo algumas poltronas darem choque. Fora isso, e a cena com o sangue vermelho-vivo [o filme é p&b] na banheira, impossível não perceber a visão amarga do casamento contida no roteiro de Robb White. [19.07.16]

A LENDA DE TARZAN * * ½
[The Legend of Tarzan, EUA, 2016]
Aventura - 110 min
O personagem criado por Edgar Rice Burroughs relido, e turbinado, numa aventura romântica boba meio “O Último dos Moicanos” [1991] e que apela para atalhos simplistas, esquemáticos. E nem estou me referindo ao excesso de flashbacks na primeira metade do filme, dirigido por David Yates com toda a pretensão de ser pop. Menos. [21.07.16 – Cinemas Riverside]

DOIS CARAS LEGAIS * * *
[The Nice Guys, EUA, 2016]
Comédia/Policial - 116 min
Verdadeiro "delight movie", cuja narrativa experta de Shane Black brinca em cima do noir e conta com a ótima dinâmica dos protagonistas feitos por Russell Crowe e Ryan Gosling [mais a garota Angourie Rice]. Sem falar na atmosfera do final dos anos 1970 e no timing preciso de um humor politicamente incorreto e suas gags puxando referências inusitadas. Mas a maior diversão é mesmo ver os dois astros desconstruindo, de forma talentosa, suas próprias personas cinematográficas. [22.07.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]

BATMAN: A PIADA MORTAL * * ½
[Batman: The Killing Joke, EUA, 2016]
Animação - 77 min
A clássica "one-shot" de Alan Moore/Brian Bolland [1988] adaptada com ganhos e perdas numa animação que bem poderia empolgar mais caso não ficasse tão presa à estrutura da HQ. Sobretudo depois do longo prólogo adicionado focando no “relacionamento” entre Batman e Bárbara/Batgirl. A intenção – fora extender a duração, uma vez que a história original é curtinha, característica do formato “one-shot” – é até justificável do ponto de vista dramático por conta do que acontece com Bárbara, mas não ecoa com mais contundência. Em contrapartida, o roteiro de Brian Azzarello explora as cenas sem se distanciar da obra de Moore [como de se esperar, ele não permitiu ser creditado]. Os flashbacks são ainda mais dispensáveis aqui do que nos quadrinhos. O problema é que a HQ se justifica melhor justamente por ser curta, e cujo impacto reside em seu ambíguo desfecho com a tal piada mortal, algo que fica um tanto diluído após pouco mais de uma hora. Talvez indulgente? Bem, se o Coringa [voz de Mark “Luke Skywalker” Hamill] quer provar ao Batman [o veterano Kevin Conroy] que um dia ruim pode levar alguém à loucura, que esse dia fosse escavado e exposto em toda a sua insanidade. Como o Palhaço do Crime realmente faria. [24.07.16]

UMA NOVA AMIGA * * *
[Une Nouvelle Amie, FRA, 2014]
Drama - 108 min
Ozon conquista a credibilidade do espectador quando presta atenção nos detalhes e no psicológico dos personagens. Mesmo arriscando, baseado no livro de Ruth Rendell, ao misturar a temática do luto com a transgeneridade. [26.07.16 – Telecine Cult]

JULIETA * * ½
[Idem, ESP, 2016]
Drama - 99 min
Um Almodóvar assumidamente melodramático, sem humor evidente, mas sensível aos seus personagens desencontrados pela culpa e pelos não ditos. Inspirado em três contos da canadense Alice Munro [do livro “Fugitiva”], como sempre o universo feminino é a zona de conforto do cineasta, que se apoia nas ótimas atuações – principalmente de Emma Suárez e Adriana Ugarte, que se revezam no papel-título. Há uma sublime transição entre elas. Lamentável alguns movimentos da narrativa serem sofridos, talvez até mesmo quase novelísticos. O uso da bela trilha de Alberto Iglesias acerta de um lado e força do outro, e o mesmo vale para a fotografia de Jean-Claude Larrie. O problema mais evidente é a falta de uma maior combustão nas complexas relações que a obra constrói tão bem. É como se Pedro Almodóvar tivesse optado por contornar a verdadeira história, confiando na sua atmosfera que todos aprendemos a gostar. [27.07.16 – Cinemas Teresina]

O BOM GIGANTE AMIGO * * ½
[The BFG, GB/CAN/EUA, 2016]
Aventura - 117 min
Spielberg investe numa atmosfera dickensiana para dar vida ao mundo mágico de Roald Dahl. Porém se deixa afetar pela própria inocência da narrativa. Roteirizado pela mesma Melissa Mathison de “E.T. – O Extraterrestre” [1982], e falecida enquanto o filme se encontrava em pós-produção, é daquelas produções de fantasia que pede absoluta crença do espectador na descrença para relevar as indulgências da premissa. A primeira metade é plástica [pelos efeitos visuais] e sonolenta, até porque demora muito a assumir uma trama de fato. Quando isso acontece, o diálogo com o público melhora graças ao pastiche da sequência no Palácio de Buckingham [sim, tudo se passa em Londres; Dickens, lembra?]. Mas aí já não temos certeza do verdadeiro tom do filme de um Steven Spielberg afetuoso com o matéria e os personagens – os digitais, principalmente, como o carismático personagem-título feito por Mark Rylance. Só faltou o senso autocrítico e o talento apurado que lhe proporcionaram tantas obras maravilhosas num passado cada vez mais longínquo. [28.07.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]

Agosto – 27 filmes

JASON BOURNE * * *
[Idem, EUA, 2016]
Ação/Suspense - 123 min
Graças à direção de Paul Greengrass e ao modo como Matt Damon se apropriou do protagonista é, sim, uma experiência excitante – mesmo com todo o déjà vu temático e estrutural da narrativa. Na busca pela manutenção da identidade da série, esse retorno do personagem-título após nove anos [!!!] se reserva o direito de repetir elementos que já vimos nos filmes anteriores, incluindo movimentos dramáticos que se tornam antecipáveis ao espectador atento. Fora o clichê de começar num flashback-resumo para mostrar Bourne preenchendo seu vazio existencial em rinhas humanas. Por tudo isso chega a impressionar como o filme em si funciona tão bem, nos segura na poltrona com um enredo-desculpa que nem se esforça em inovar, mas investe numa montagem de ritmo e tensão impossíveis de passar batidos. O curioso [no bom – e curioso – sentido] é que o roteiro é coassinado por Christopher Rouse, justamente o montador do filme [e de “A Supremacia Bourne”, 2004, e “O Ultimato Bourne”, 2007], ao lado Greengrass. Se pormos Damon como “hors concours”, o destaque do elenco é Alicia Vikander e seu eterno cabelo preso, substituindo Julia Stiles e trabalhando bem as facetas ambíguas de sua personagem. A câmera inquieta e “chicotada” de Paul Greengrass segue mais acertada do que nunca, sobretudo nas sequências de luta e perseguição, nas quais não perde o controle do espaço diegético, ou seja, nunca são confusas. Por falar em perseguições, a última delas, em Las Vegas, é uma coisa, viu? Haja veículo estraçalhado! Jason Bourne, cria do escritor Robert Ludlum, comprova ser um personagem icônico, com ou sem amnésia. Talvez ainda tenha fôlego para mais [do mesmo?]. Devo confessar não saber até agora se ele de fato é o grande espião/assassino da CIA tão alardeado. Contudo em quesito de contraespionagem, para chegar a quem o deseja eliminado, é o melhor. [01.08.16 – Cinépolis Rio Poty]

CHAMAS DA VINGANÇA * ½
[Firestarter, EUA, 1984]
Suspense/Terror - 114 min
Definitivamente não é das melhores adaptações de um livro de Stephen King – no caso, “A Incendiária”, publicado em edição limitada quatro anos antes. E nem parece se esforçar para ser. Não bastasse a premissa genérica em cima da temática poderes mentais [requentada de obras melhores do autor, como “Carrie” e “O Iluminado”], o desenrolar da história comandada por um sofrido Mark L. Lester é cheia de momentos absurdamente risíveis. Para o público atual, trata-se de uma das referências contidas na série do momento, “Stranger Things” [2016]. Tirando isso, é só decepção. [02.08.16]

ESQUADRÃO SUICIDA * *
[Suicide Squad, EUA, 2016]
Ação - 123 min
Triste constatar como, no fim das contas, trataram um material tão promissor [para o filão dos filmes de super-heróis] com tanta indulgência. Eu mesmo era um dos que torciam para a reunião dos vilões assumindo o protagonismo trouxesse a brisa boa que o Universo Estendido DC precisava. Mas assim que notei, logo nos primeiros minutos, a trapalhada burocrática da montagem na apresentação, numa só tacada, da premissa e dos personagens, vi que o caminho seria outro. Primeiro, não conseguem explicar de maneira sensata o porquê de fazer um time de força-tarefa com os piores e mais instáveis sujeitos do mundo. Nos quadrinhos provavelmente a ideia funcione melhor, já que no cinema faltou uma melhor argumentação que não fosse “quem deteria o Superman se ele arrancasse o teto da Casa Branca?” Fora isso, não se desenvolve em momento algum uma história interessante, com camadas e reviravoltas – apenas ganchos para deixar a coisa em movimento e personagens presos em suas características. É possível que toda a turbulência nos bastidores em relação ao tom do filme [leve ou pesado, sério ou engraçado] e a pressão notória sofrida pelo diretor e roteirista David Ayer tenham grande parcela de culpa. Geralmente têm. Se você for atento, até dá para perceber quais takes foram regravados/adicionados para explorar o humor da narrativa. E o pior é que, se os isolarmos do restante, eles dialogam bem com o público, pois não há muito além a ser oferecido. Nenhuma grande sequência de ação, plot twist, direção criativa ou mesmo um pastiche do gênero bem construído. As más línguas [elas são ótimas, não?] dão conta de que deram sinal verde para a primeira versão do roteiro, escrito em um mês e meio, e tocaram a produção para cumprir os famigerados prazos. Apesar disso tudo, não achei o filme um desastre total irremediável. Os momentos divertidos se salvam, junto com a interação explosiva dos anti-heróis. Claro, poderia ser melhor. Mil vezes até! Porém, não vamos ser gratuitamente cruéis. Existe um bom filme ali, cheio de bons elementos e pegada pop; somente está escondido em algum conjunto de takes e cenas que ficou na sala de montagem. A Arlequina [ou Harley Quinn] de Margot Robbie é, disparada, a melhor coisa do filme, espirituosíssima de um jeito lunático e inconsequente. São delas as tiradas mais “precisas”. E o mais frustrante? Sinceramente, não saberia dizer se é a caracterização de Jared Leto como o Coringa ou como o usaram na narrativa, sem qualquer impacto orgânico dentro da história. Leto é um ator talentoso, e você nota o quanto se envolveu dentro da “roupa” do Palhaço do Crime cujas piadas [existem?] são sérias demais. Simplesmente não souberam trabalhar o personagem, que em cena é só mais um coadjuvante com potencial subjugado pelo filme. E nem a referência/brincadeira, no final, a um momento-chave de “Batman – O Cavaleiro das Trevas” [2008] dá uma levantada nessa figura que tanto merecia. Repito: não é um filme ruim, tem seus momentos. Um feeling anárquico pulsa de algum lugar não especificado. É preciso assisti-lo como um produto autêntico, experimental, suicida ao seu próprio modo. Corre seus riscos e, acertados ou não, paga por todos eles. [04.08.16 – Cinépolis Rio Poty]

BRIDGEND * * ½
[Idem, DIN, 2015]
Drama - 109 min
Jeppe Ronde opta, na sua estreia em longas metragens, por alimentar ainda mais o mistério em torno da onda de suicídios na cidade-título no País de Gales. No elenco, os fãs de “Game of Thrones” devem reconhecer Hannah Murray, intérprete de Gilly na série. Tão atmosférico quanto “Picnic na Montanha Misteriosa”, dirigido pelo australiano Peter Weir em 1975. [06.08.16]

BATMAN: ASSALTO EM ARKHAM * * ½
[Batman: Assault on Arkham, EUA, 2014]
Animação - 76 min
O Esquadrão Suicida numa missão bem mais interessante, e melhor desenvolvida [incluindo aí a dificuldade dos instáveis membros de trabalhar em equipe], que a do recente filme de David Ayer. Até ajuda a entender mais o estilo e estrutura que ele tentou dar ao controverso longa. De quebra, ainda traz diversas referências cinematográficas. Ao Universo DC, claro. [07.08.16 – madrugada]

BATMAN vs SUPERMAN: EDIÇÃO DEFINITIVA * * *
[Batman v Superman: Ultimate Edition, EUA, 2016]
Aventura - 183 min
E não é que Zack Snyder consegue melhorar a narrativa, trabalhando mais o contexto, a fluidez das subtramas e a motivação dos personagens? Os problemas mais visíveis continuam importunando – arrisco dizer que Batman declarar-se para Martha Kent como amigo de seu filho, logo após a briga dos dois, é a pior derrapada do roteiro, falso como um diamante de vidro. Por outro lado, a história fica menos confusa, há espaço para os momentos introspectivos [de ambos], para entendermos as nuanças e respiro para saborearmos um ou outro diálogo de Chris Terrio. O ruído de comunicação entre os dois heróis tem mais tempo para ser explorado, bem como as pontas se conectam com mais clareza. Não há o substancial aumento da violência, como prometido, é uma montagem preocupada com o equilíbrio da história e seus elementos dramáticos. O que, para mim, já conta muito. Assim como fizera em “Watchmen” [2009], sua “versão do diretor” resulta mais bem acabada, redonda, mesmo sem promover nenhuma mudança radical ao que tínhamos visto. Está longe de ser um grande filme [ainda falta mais ação], mas sem o peso da expectativa se torna mais fácil curtir todos os pontos positivos sem afetação. Isso eu deixo para o Lex Luthor de Jesse Eisenberg. [07.08.16]

D'ARDENNEN * * ½
[Idem, BEL, 2015]
Drama/Suspensse - 96 min
O ponto de partida não é novo. Mesmo assim, o belga Robin Pront constrói bem a tensão paulatina para o ótimo ato final. [08.08.16]

NEGÓCIO DAS ARÁBIAS * * *
[A Hologram for the King, GB/FRA/ALE/EUA/MEX, 2016]
Drama/Comédia - 98 min
Na fascinante viagem cultural que o filme muitíssimo bem dirigido por Tom Tykwer promove é a jornada interna do personagem de Tom Hanks que serve de guia. Adaptado do livro de Dave Eggers, a estrutura provavelmente soe puída, e de fato é, sobretudo quando a própria se escancara no desfecho de recomeço, de [re]encontro com algum sentido [re]confortante para a vida. Porém, o cineasta alemão, também assinando o roteiro, injeta camadas tanto existenciais quanto geopolíticas e um humor espertíssimo que se aliam com o carisma irresistível de Hanks. O resultado parece tão honesto que até perdoamos seus ligeiros deslizes. [09.08.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]

UM ESPIÃO E MEIO * * ½
[Central Intelligence, EUA, 2016]
Comédia - 109 min
É a química divertidíssima entre Dwayne Johnson e Kevin Hart, mais do que a história ou suas mensagens, que vale a pena dar uma conferida bem descompromissada. Nesse aspecto, por mais que o carisma do ex-The Rock o faça um gigante gentil aceitável, é a persona de Hart que domina a tela, com timing cômico acima da média. A câmera quer o tempo inteiro espiá-lo e sorrir. Já Johnson se esforça, mas a própria construção do personagem, vítima de bullying e fã de “Gatinhas e Gatões” [1984], às vezes provoca algumas estranhezas momentâneas com seu comportamento um tanto errático demais. Proposital? Bem capaz. Até porque não saber se ele é herói ou vilão é o que há de mais elaborado no enredo. Porém, isso poderia ter sido melhor trabalhado para a temática trauma/superação não parecer tão forçada, destoante, como se houvesse outro filme tentando emergir ali. Faltou um movimento mais orgânico, que não precisasse derrapar para o panfletário escancarado [termo forte, talvez] no final. Ao mesmo tempo que a direção de Rawson Marshall Thurber [“Uma Família do Bagulho”, 2013] explora a dinâmica dos dois atores sem medo – por um bom tempo são apenas eles interagindo –, se esquece de prestar atenção à trama que precisa ser desenvolvida, passando direto por cima de detalhes que acarretam indulgência narrativa. Como comédia de ação é diversão garantida, sendo veículo para uma dupla inusitada. Por outro lado há a tentativa louvável mas canhestra de focar nos personagens e suas questões. O primeiro terço promissor termina perdendo para um esquema fácil, raso, que visa o gol ao invés do jogo, apesar das boas referências lançadas no meio do campo e cenas com gags hilárias. Um pouquinho mais de risco e não seria uma bela bola na trave. [Essa sessão foi uma cortesia do aplicativo motootáxi.] [11.08.16 – Cinépolis Rio Poty]

ATÉ O FIM * * *
[All the Way, EUA, 2016]
Drama - 132 min
Já premiada no teatro, a atuação de Bryan Cranston como o controverso presidente Lyndon B. Johnson é magnética e cheia de camadas que vão além da mera hagiografia. Adaptado pelo autor da peça ganhadora de dois Tony Awards, Robert Schenkkan, cobre a fase “presidente acidental” [ele assumiu após o assassinado de Kennedy em 1963] e sua batalha política pela Lei dos Direitos Civis de 1964. Com Steven Spielberg na produção executiva, esse preciso telefilme da HBO é dirigido por Jay Roach, que já tinha arrancado do eterno Walter White outra interessante performance em “Trumbo – Lista Negra” [2015]. [13.08.16]

SALA VERDE * * ½
[Green Room, EUA, 2015]
Suspense - 96 min
Jeremy Saulnier faz um insuspeitíssimo "slasher movie" que, mesmo autolimitado, desenvolve bem o roteiro e seus personagens. [14.08.16]

O VENTO SERÁ TUA HERANÇA * * * *
[Inherit the Wind, EUA, 1960]
Drama - 128 min
A contundente narrativa de Stanley Kramer sobre o controverso "Julgamento do Macaco" de 1925, o primeiro a ser transmitido pelo rádio, ainda ecoa e provoca reflexões precisas do embate criacionismo versus darwinismo. Levado ao tribunal, veja só! Tão inusitado hoje, 91 anos depois, quanto deve ter sido à época. Ou não? Ao que parece, essa é uma questão delicada para muitos estadunidenses, sobretudo os criacionistas, e o roteiro de Nedrick Young e Harold Jacob Smith, adaptando a peça de 1955, alterna os pontos de vistas e observa de perto ambos os lados. Embora claramente o liberalismo de Kramer não se furta de tomar partido. Nessa batalha judicial importantíssima para a abertura de uma educação progressista – naquele ano estava em vigor em sete dos Estados Unidos [o Cinturão Bíblico] o Buttler Act, lei que proíbia o ensino da teoria evolucionista propagada por Charles Darwin em seu livro “A Origem das Espécies, de 1859 – só faltou porem Deus como testemunha. E de certo modo o colocaram. O mais forte é perceber como a interpretação literal da Bíblia engessa o pensamento dos fanáticos religiosos perante dados científicos, chegando mesmo a promover o medo e o ódio. Atualíssimo, não? Fora o fato da introjeção religiosa acarretar certo comodismo e alienação, algo pontuado pelo uso da canção protestante “[Gimme that] Old-Time Religion”, de 1873: “Me dê aquela antiga religião/Ela é boa o suficiente para mim.” É como se qualquer pensamento novo fosse automaticamente execrado apenas por ser algo... novo. Diferente. Com sutileza [nem tanto] o filme defende um meio-termo, uma leitura que apazígue religião e ciência a partir das lacunas deixadas por aquela. No elenco, esse confronto é encarnado por Spencer Tracy e Fredric March. Difícil apontar o melhor. Mas a surpresa é termos Gene Kelly se destacando como coadjuvante fora dos musicais, sua zona de conforto. A direção de Kramer equilibra a qualidade do texto entre cenas intensas e outras com um humor natural, inspirado, sem apelo. Eles sabiam fazer clássicos sem parecer que sofreram para dá-los à luz. Ainda mais com um tema sem qualquer sinal de ficar datado. [14.08.16]

O CLÃ * * *
[El Clan, ARG/ESP, 2015]
Drama/Suspense - 109 min
Trapero transforma o surreal caso real dos Puccio numa crônica familiar dark amparada pelo contexto sócio-político da época na Argentina – a transição da ditadura para a democracia. [15.08.16 – Cinemas Teresina]

TRADERS * * ½
[Idem, IRL, 2015]
Suspense - 90 min
Essa fábula sombria da crise econômica irlandesa funciona, com premissa absurda, mas atraente, que parece um improvável cruzamento de "Clube da Luta" [1999] com "A Grande Aposta" [2015]. [16.08.16]

BEN-HUR * ½
[Idem, EUA, 2016]
Drama - 124 min
Com atuações inexpressivas e narrativa simplificada ao extremo [o que não a impede de contar com buracos gigantescos], esse remake do remake – a magnífica versão de 1959 é a terceira baseada no livro de Lew Wallace – nunca justifica, pelo menos artisticamente, a própria existência. [17.08.16 – Cinemas Teresina, pré-estreia e inauguração das novas salas/sistema de som surround Dolby Atmos]

QUANDO AS LUZES SE APAGAM * *
[Lights Out, EUA, 2016]
Terror - 81 min
Sandberg deixa o interessante conceito do seu curta metragem de 2013 [viralizado na internet] ir cena a cena se transformando num terror genérico com artifícios que descredibilizam as próprias regras criadas, além de parecer completamente apoiado em jumpscares. A ideia do medo ser construído a partir do que se esconde no véu da escuridão de certo traz ar fresco a um gênero que adora atrelar o susto à revelação visual do que-quer-que-seja. Indo em direção aos atalhos fáceis, o roteiro [curiosamente não escrito pelo diretor, autor do texto original] desenvolve um enredo fraquinho que não consegue fugir de um monte de diálogos expositivos que explicam – e se repetem – demais sem amarrar nada. Há até bons momentos, humor e uma tensão trabalhada, mas que caem na vala comum das produções que apenas dão ao público o que o mesmo já espera ver. O sueco David F. Sandberg provavelmente tenha talento, porém se deixou corromper logo em seu primeiro longa. E isso nunca é um bom sinal. [18.08.16 – Cinemas Teresina]

JANIS: LITTLE GIRL BLUE * * *
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 105 min
Amy Berg proporciona um contato intimista com a “Rainha do Rock and Roll” ao construir uma narrativa muito afetuosa sobre a curta trajetória da artista e, mais ainda, da pessoa por trás. [19.08.16]

A ONDA * * ½
[Bolgen, NOR, 2015]
Drama/Ação - 105 min
O norueguês Uthaug arma com eficiência o evento-catástrofe do filme. Depois sofre um pouco para mantê-lo interessante. [20.08.16]

DISQUE BUTTERFIELD 8 * * *
[Butterfield 8, EUA, 1960]
Drama - 108 min
Tinha todos os elementos dramáticos para ser um filme melhor, porém a personagem de Elizabeth Taylor e a atmosfera da narrativa dirigida por Daniel Mann compensam. Parece um “Bonequinha de Luxo” [que seria lançado no ano seguinte] mais amargo. [21.08.16]

LEVIATÃ * * *
[Leviafan, RUS, 2014]
Drama - 140 min
Zvyagintsev opta por trilhas lúgubres, e pessimistas, intertextualizadas com o Livro de Jó, para denunciar o estado sócio-político da Rússia contemporânea. Por isso foi tão controverso dentro do próprio país – não passa, de fato, uma boa imagem de como funcionam as coisas por lá. Em todo caso, não fica em cima do muro e ainda nos instiga à reflexão sombria de um mundo sem heróis. [22.08.16 – Telecine Cut]

TÚMULO DOS VAGALUMES * * * *
[Hotaru no Haka, JAP, 1988]
Animação - 89 min
Uma das experiências mais tristes e dilacerantes em cima da 2a Guerra Mundial pelo ponto de vista japonês. Mesmo assim, ainda há poesia envolvendo o horror de maneira lúdica, tocante. Adaptada do livro semiautobiográfico de Akiyuki Nosaka com absurda sensibilidade por Isao Takahata, uma animação do Studio Ghibli [dirigido pelo mestre Hayao Miyazaki] ecoando o neorrealismo italiano e impossível de apagar da memória. Passe o tempo que for. [23.08.16]

13 FANTASMAS * *
[13 Ghosts, EUA, 1960]
Terror - 82 min
Tire da equação o gimmick do Illusion-O de Castle e o que fica é uma premissa-desculpa com potencial não explorado. [23.08.16]

CAFÉ SOCIETY * * *
[Idem, EUA, 2016]
Comédia/Romance - 98 min
Allen nos leva a Hollywood e, claro, Nova York dos anos 1930 com um esmero técnico e visual que compensa o desenvolvimento do enredo em si. Muito se deve à belíssima fotografia de Vittorio Storaro que, em harmonia com o design de produção e o figurino, chega a ser transcendental – em direção ao passado. Inclusive, utilizando recursos da época retratada, como o soft focus. Um presente para que quer desopilar do presente. Filme à moda antiga, uma espécie em vias de entrar em extinção. Mas não somente a isso se deve a saborosa atmosfera que a produção evoca. Enquanto o roteirista Woody Allen não traz grandes arroubos narrativos [recicla suas próprias piadas e observações cínicas, com referências cinéfilas dessa vez], o diretor Woody Allen é quem se destaca numa mise-en-scène madura, objetiva, que potencializa os elementos disponíveis. Até mesmo quando o romance é açucarado. A oposição das paletas de cores e suas temperaturas entre Los Angeles e Nova York deixam claro onde estão os verdadeiros interesses para o cineasta de 80 anos e 47 filmes para o cinema. E aqui são quase dois em um, apesar das subtramas apenas “encherem linguiça”. Em sua defesa, Allen não precisa provar mais nada a ninguém; faz filmes por que gosta do processo, e se diverte com isso. Tanto que ele próprio empresta a voz à narração literária de sua crônica de época. Ainda tira proveito da fase interessante de Kristen Stewart como pivô do triângulo amoroso com Steve Carell e Jesse Eisenberg, este longe da afetação vista em “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” [2016]. De todos, o que me surpreendeu foi não ter reconhecido Corey Stoll. Maquiagem pesada, hein? Se Woody Allen produz compulsivamente para enganar a morte, como a partida de xadrez em “O Sétimo Selo” [1957] de Bergman, que o xeque-mate custe a ser dado. [25.08.16 – Cinemas Teresina]

VER – The Woman in Red [1935]

A AGENDA * * *
[L’Emploi du Temps, FRA, 2001]
Drama - 129 min
Nesse estudo de personagem emocionalmente frio inspirado em história real, Cantet acompanha o protagonista na construção de sua amoralidade e de seu embotamento, os quais desabam numa avassaladora crise de consciência. [26.08.16]

ÁGUAS RASAS * * *
[The Shallows, EUA, 2016]
Suspense - 85 min
Enquanto o roteiro assinado por Anthony Jaswinski consegue desenvolver bem uma premissa mínima, a direção do espanhol Jaume Collet-Serra nos permite pouquíssimo tempo sem tensão. E que tensão! Nesse quesito, o filme cumpre o que promete. Por outro lado, é preciso relevar a rasura [trocadilho infame?] da jornada emocional da protagonista – o epílogo novelístico é absolutamente descartável – e os rampings com cara de vídeo publicitário para uma competição de surf. O que o tubarão branco não faz, Blake Lively certamente compensa. [26.08.16 – Cinemas Teresina]

OS DELINQUENTES * *
[The Delinquents, EUA, 1957]
Drama - 72 min
A estreia de Robert Altman em longas possui deslizes dramáticos gritantes e ainda força no moralismo panfletário. Sobretudo com as narrações que abrem e fecham o filme, adicionadas pela United Artists sem o consentimento de Altman. Não sei se ausência delas faria tanta diferença assim. Aproveitando o sucesso de filmes como “Juventude Transviada” [1955], e outros que retratavam o mesmo tema, trata-se de uma narrativa problemática de um cineasta que, felizmente, faria uma bela carreira. [28.08.16 – Telecine Cult]

PETS – A VIDA SECRETA DOS BICHOS * * ½
[The Secret Life of Pets, JAP/EUA, 2016]
Animação - 87 min
O enredo é tão somente o gatilho para saborear as referências cinematográficas e um atraente outono policromático em Manhattan. O uso das cores pelos diretores Chris Renaud e Yarrow Cheney desafia a imagem do amarelo avermelhado das folhas secas caindo das árvores para tornar vibrante e plástica a jornada dos heróis por prédios, becos, avenidas e esgotos. Os filmes citados hipertextualmente garantem o interesse do público que é criança há mais tempo – de clássicos como “Quanto Mais Quente Melhor” [1959] e “Os Pássaros” [1963], passando por “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado” [1975], “Grease – Nos Tempos da Brilhantina” [1978] e “Alien – O Oitavo Passageiro” [1979], até “O Fugitivo” [1993] e o próprio “Minions” [2015], da mesma produtora. Entre outros bem mais insuspeitos, como “O Silêncio dos Inocentes” [1991] e “O Mundo Perdido – Jurassic Park” [1997]. Sem falar na referência temática e estrutural mais escancarada de todas, o insight narrativo, “Toy Story – Um Mundo de Aventuras” [1995]. Bom ritmo e um humor destacado que talvez merecessem um desenvolvimento mais original. Não seria custoso tentar. Seria? [30.08.16 – Cinemas Teresina]

Setembro – 25 filmes

JOVENS, LOUCOS E MAIS REBELDES * * ½
[Everybody Wants Some!!, EUA, 2016]
Comédia - 117 min
Autoproclamada uma "sequência espiritual" do filme de 1993 – no original, “Dazed and Confused” –, traz todos os elementos da observação de Linklater dos ritos de passagem na cultura estadunidense. Não importa a época retratada [no caso aqui, início dos anos 1980], o cineasta é hábil ao construir espontaneidade nas cenas, com diálogos fluídos e referências a cada instante. [02.09.16 – madrugada]

STAR TREK: SEM FRONTEIRAS * * ½
[Star Trek Beyond, EUA, 2016]
Ficção - 122 min
Justin Lin, assumindo a cadeira de diretor deixada vaga por J. J. Abrams, injeta ritmo e ação sem se preocupar com os freios. Por outro lado, há essa impressão de ser o filme mais episódico do reboot da franquia até agora. Ironicamente, há um comentário nesse sentido no comecinho feito por Kirk. Referia-se à série de TV, mas casou perfeitamente com a nova aventura da tripulação do USS Enterprise. Que coisa, não? [05.09.16 – Cinemas Riverside]

VICTORIA * * *
[Idem, ALE, 2015]
Drama/Suspense - 138 min
Num único plano-sequência de pouco mais de duas horas, o alemão Sebastian Schipper elabora estudo de personagem e exercício narrativo. O resultado pode não impactar em termos de dramaturgia do enredo, mas sua execução é fascinante e explorada em camadas diferentes. Além de nos lançar diretamente para dentro da situação, a câmera operada pelo norueguês Sturla Brandth Grovlen atende ao psicológico dos personagens. Sobretudo a partir da metade da história, quando todos – incluindo o espectador – são testados no limite. A tensão vivenciada chega a ser palpável. Esse realismo estético do take contínuo ora encontra barreira em algum movimento que soa artifício [como quando o carro não pega] e ora escancara uma perfeita execução de logística da produção. Esse é o tipo de filme em que a feitura, por mais orgânica que seja construída, deixando até mesmo os atores improvisarem [o roteiro continha apenas 12 páginas descritivas], dificilmente permanece numa esfera mais inconsciente de quem assiste. É, queira ou não, meta em cada frame. O “tour de force” da câmera que não “descansa” e do elenco nesse teatro ao ar livre segue o percurso inteiro brilhando em néon. Por isso é formidável que Schipper consiga nosso envolvimento emocional com a protagonista-título feita pela espanhola Laia Costa. Se alguém arrisca transcender a linguística eletrizante da obra, é ela. [06.09.16 – Telecine Cult]

THE SEA OF TREES *
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 110 min
Além de insossa, com elementos descartáveis [o flashback paralelo] e previsíveis [o personagem de Ken Watanabe], a narrativa dirigida de forma irregular por Gus Van Sant não acrescenta à temática nada particularmente memorável. O texto de Chris Sparling parece se apoiar na fama da floresta japonesa Aokigahara, o segundo lugar do mundo em ocorrências de suicídios, para tocar apenas na superficialidade do que poderia ser uma interessante discussão existencial do luto e do vazio. Se é que buscava algo próximo a isso. Nem Matthew McConaughey se esforça para amenizar a canastrice da sua atuação, num drama que é, em si, a própria definição de vazio. [07.09.16]

AQUARIUS * * * *
[Idem, BRA/FRA, 2016]
Drama - 142 min
É Sonia Braga a força motriz, e unificadora, das várias camadas da narrativa sobre tudo o que [ainda] resiste em nós. Para o bem ou para o mal. No caso de Kleber Mendonça Filho é uma cômoda com gavetas que, passe o tempo que for, sempre vai lembrar os encontros com o amante – ainda que a sobrinha-neta exalte, ingenuamente, outros feitos de uma vida aparentemente plena, sobrevivente [como muitos, não ilesa] da ditadura militar. Ou a paisagem urbana antiga agonizando perante o avanço da arquitetura capitalista. Ou ainda uma viúva que insiste em não ceder para a construtora com o amargo nome de Bonfim – bom fim para quem mesmo? – o apartamento onde teceu tantas lembranças. A partir do embate memória versus o tempo necessário para algo ser destruído em definitivo, o cineasta pernambucano constrói uma obra de cara mais acessível que a anterior, “O Som ao Redor” [2012], mas igualmente imersiva. Dessa vez o tempo fílmico não impõe, e sim seduz para a imersão no estudo de Clara, a heroína clássica da resistência contra o desenfreado tráfego da perda de todo tato e bom senso humanistas. Mesmo assim, a personagem não é nenhum pouco conservadora, e seu resistir é afetivo o suficiente para compreendê-la como a única moradora de um “prédio fantasma”, como a filha interpretada por Maeves Jinkings solta durante uma discussão familiar. Num Brasil em ebulição constante, parece a metáfora sobre que país está surgindo e se ele está sendo pensado com consciência coletiva. Apesar de plantar referências e simbolismos como um artesão perspicaz, o diretor-roteirista não entrega a questão com facilidade; a própria Clara é paradoxal, pinta a fachada do prédio e ignora que os outros ex-moradores a esperam para poder fechar esse capítulo. Sonia Braga se entrega sem vaidades e dá ao filme uma alma, uma performance que brota do olhar, enquanto Mendonça Filho cria uma atmosfera do prosaico que vai revelando seus pontos de tensão nos detalhes mais mínimos. Assim como em sua instigante estreia no comando de longas, ele não se intimida ao fazer uma leitura do Brasil pós-temporâneo, por mais que as palavras que encontre sejam garranchos. Sintomas das raízes de pensamento que continuam a alimentar noções culturais distorcidas de segregação social, preconceito disfarçado e meritocracia por procuração parental. Afinal, “quem não é Cavalcante, é cavalgado”. Com uma seleção musical que é um deleite à parte, sem esquecer de mover organicamente a história, o filme dá uma deslizada evitável na maneira como o roteiro articula sua resolução “deus ex machina” em três cenas. Por outro lado, tirando toda a polêmica política em que vem se envolvendo desde a exibição em Cannes, é uma obra que vai na contramão do que está sendo produzido no cinema nacional, de sensibilidade rara. Sobretudo quando apoiada numa protagonista forte, palpável e convicta de si como pouquíssimas vezes vimos por aqui. Uma protagonista que, embora atordoada com a sordidez ao seu redor, não hesita em desafiar a infestação de cupins que ameaça roer o que há de mais precioso no ser humano atual: a capacidade, cada vez mais rara, de se indignar com o estado das coisas sem baixar a cabeça. [08.09.16 – Cinemas Teresina]

UMA LOURA POR UM MILHÃO * * * ½
[The Fortune Cookie, EUA, 1966]
Comédia - 121 min
Primeiro encontro da dupla Jack Lemmon e Walter Matthau, numa esperta sátira sobre a ganância do mestre Billy Wilder. Divido em capítulos, a sintonia dos atores só rivaliza com os diálogos lubitschianos de Wilder e I.A.L. Diamond. Não é dos melhores filmes do versátil cineasta, mas diverte sem ofender nossa inteligência. O inescrupuloso advogado feito por Matthau lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Além de um ataque cardíaco durante as filmagens. [10.09.16]

TRUMAN * * *
[Idem, ESP/ARG, 2015]
Drama/Comédia - 108 min
Cesc Gay se vale da narrativa sincera, e das atuações de Ricardo Darín e Javier Cámara, para tornar o processo da morte um tema leve. Ainda que flerte aqui e ali com o melodrama, consegue extrair de nós emoções sem forçá-las. [11.09.16 – Cinemas Teresina, Sessão Cinéfilos]

PRINCESA MONONOKE * * * ½
[Mononoke-hime, JAP, 1997]
Animação - 134 min
Hayao Miyazaki nos leva a uma aventura mágica e fascinante pela mitologia japonesa dos milenares seres habitantes das florestas. [12.09.16 – madrugada]

SR. HOLMES * * *
[Mr. Holmes, GB/EUA, 2015]
Drama - 104 min
O comovente Sherlock de Ian McKellen em seu caso mais difícil: os deslizes da memória no resgate da própria história. [12.09.16]

O HOMEM NAS TREVAS * * ½
[Don’t Breathe, EUA, 2016]
Terror - 88 min
Alvarez explora o fiapo de premissa com todo recurso atmosférico de que dispõe. O resultado é que a tensão engole o enredo em si – junto com seus esquemas óbvios. Se funciona? Claro, você vai se manter inquieto na poltrona durante a maior parte da narrativa. Só não repare nos pormenores de um roteiro que, em relação aos personagens e suas motivações ora caricaturais ora grotescas sem qualquer elaboração, esqueceu-se de convencer. [12.09.16 – Cinemas Teresina]

CÃES DE GUERRA * * *
[War Dogs, EUA, 2016]
Comédia - 115 min
Há várias formas de leitura [e crítica à falta de “organização licitatória” da Guerra ao Terror da era Bush] nessa comédia, baseada numa inacreditável história real, na qual o cineasta Todd Philips mimetiza Martin Scorsese. Ou seria Adam McKay, do recente “A Grande Aposta” [2015]? Brian De Palma, de “Scarface” [1983], mencionadíssmo durante o filme, de certo não é. Por via das dúvidas, melhor focar nos meandros do roteiro extraído do artigo de Guy Lawson [Rolling Stones, março de 2011] e na química entre os ótimos Jonah Hill e Miles Teller. [13.09.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]

NERVE – UM MUNDO SEM REGRAS * *
[Nerve, EUA/HKG, 2016]
Suspense - 96 min
Baseada no livro de Jeanne Ryan, que tivesse pelo menos mais ousadia essa distopia teen da contemporaneidade online que parece cruzar "Vidas em Jogo" [1997] com "Jogos Vorazes" [2008]. [14.09.16 – Cinemas Teresina]

DESCULPE O TRANSTORNO * *
[Idem, BRA, 2016]
Comédia/Romance - 94 min
Tivesse um timing menos indigesto [até se compreende a intenção, mas não colou] e/ou uma narrativa mais inspirada o título não pareceria ser dirigido a nós no seu mais triste sentido. [16.09.16 – Cinemas Teresina]

NOSSO FIEL TRAIDOR * * ½
[Our Kind of Traitor, GB/FRA, 2016]
Suspense - 108 min
O plot extraído do livro de John le Carré é, como de praxe, interessante e focado nos personagens. Talvez tenha faltado apenas um tempero narrativo por parte da adaptação feita pelo iraniano Hossein Amini e da direção de Susanna White [18.09.16].

SEXY E MARGINAL * * ½
[Boxcar Bertha, EUA, 1972]
Drama - 88 min
Em início de carreira, Martin Scorsese exercita o gênero exploitation para retratar a atmosfera de personagens [reais] que descarrilaram [aos olhos da lei] durante a Grande Depressão de 1929. [18.09.16]

ARQ * * *
[Idem, EUA, 2016]
Ficção - 88 min
A estrutura em loop não é nenhuma novidade. Todavia, a narrativa consegue ser engenhosa dentro dos limites autoimpostos. [19.09.16 – Netflix]

O FANTÁSTICO SR. RAPOSO * * *
[Fantastic Mr. Fox, EUA, 2009]
Animação - 87 min
Wes Anderson se apropria, no bom sentido, da obra de Roald Dahl para mais um exercício estético-narrativo – dessa vez em stop motion. [20.09.16 – madrugada, Netflix]

SANGUE RUIM * * ½
[Mauvais Sang, FRA/SUI, 1986]
Drama/Suspense - 114 min
Leos Carax subverte o gênero "heist movie" em prol de um personalíssimo neo-noir sobre o choque dos sentimentos. [20.o9.16]

À PROCURA DE MR. GOODBAR * * *
[Looking for Mr. Goodbar, EUA, 1977]
Drama - 136 min
Richard Brooks acompanha, quase sem desviar o olhar [melhor: a câmera], a jornada autodestrutiva da personagem de Diane Keaton. Talvez arrisque fazer uma concessão ao justificar o comportamento da jovem professora, inspirada numa pessoa real, Roseann Quinn, com um trauma de infância. Fora isso, o filme é uma experiência que, 40 anos depois, continua forte e – pior – atual. Ao adaptar o livro de Judith Rossner, Brooks [“À Sangue Frio”, 1967] faz um estudo de personagem que termina refletindo anseios e vazios bem comuns da juventude. Seja qual for a época. [21.09.16]

ALAN PARTRIDGE: ALPHA PAPA * * ½
[Idem, GB/FRA, 2013]
Comédia - 90 min
Steve Coogan leva seu famoso, e incompetente, apresentador de rádio/TV para o cinema pela primeira vez com o distinto humor britânico nonsense. [22.09.16]

SETE HOMENS E UM DESTINO * * *
[The Magnificent Seven, EUA, 2016]
Western - 132 min
Um remake do remake pode ser uma experiência suficientemente boa e até refrescante? Antoine Fuqua prova que sim. Ao mesmo tempo em que refaz os passos do ótimo western dirigido por John Sturges em 1960, não esquece a fonte original: o [esse sim] magnífico “Os Sete Samurais” [1954], do mestre Akira Kurosawa. O espectador mais atento vai pinçar os diálogos do filme estadunidense, mas também perceberá a atmosfera do japonês no contexto do pós-Guerra Civil Americana dessa nova versão. Afinal, soldados sem uma guerra para lutar são como ronins – samurais sem um mestre para servir. O roteiro de Richard Wenk e Nic Pizzolatto [a mente por trás da série “True Detective”] depura o cenário do Velho Oeste, diversificando os personagens e dando um upgrade em suas motivações, algumas bem esquemáticas. Claro, esbarramos em clichês, heróis que se sacrificam, jornada do herói com resolução que o próprio Vogler criticaria. Por outro lado, a qualidade do texto [lembremos que é um remake] e a dinâmica e interação do grupo formado chegam a ser saborosos. De fato, a  narrativa nos deixa conviver com eles. As reviravoltas das obras anteriores são “simplificadas” numa sequência de caos e tiroteio de quase uma hora [mais?]. O lado bom é que Fuqua consegue manejar seus eixos sem grandes derrapadas. O outro lado é que ficamos querendo uns 30 minutinhos a mais de história, mesmo já tendo atravessado 132. Sem sentir. Sinal de que a estrutura mítica do enredo, lá de Kurosawa, funciona tão bem quanto na década de 1950. E a cereja do bolo, além de atualizar o western num potencial blockbuster, é ouvir o indefectível tema de Elmer Bernstein nos créditos finais. Se todo remake fosse assim. [22.09.16 – Cinemas Teresina]

CHICO: ARTISTA BRASILEIRO * * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Documentário/Musical - 116 min
Miguel Faria Jr. consegue entrevistar o homem por trás do galardoado compositor e escritor, com toda a espontaneidade a qual o próprio se permite. Peca na estrutura já usada, mas ganha pelo conteúdo e a pegada intimista. [23.09.16 – Canal Brasil]

NUM LAGO DOURADO * * * ½
[On Golden Pond, GB/EUA, 1981]
Drama - 108 min
Da comovente atuação de Henry Fonda e Katharine Hepburn, ganhadores do Oscar de ator e atriz, à delicadeza do [também premiado] texto de Ernest Thompson, sob a sensível condução de Mark Rydell – essa confluência resulta num caloroso quadro da velhice, e todo o espectro que a envolve. Sobretudo, é um filme sobre o amor e o companheirismo, como se confundem numa relação de pura verdade e doação. Com uma atmosfera de espírito nostálgico, a narrativa pode até flertar de perto com o melodrama, mas dribla as próprias armadilhas com um humor tangencial. Ora consegue mais ora menos. O que fica é a visão otimista dessa fase final da vida, mesmo com os sempre presentes ruídos geracionais em cima dos não ditos familiares e a sombra constante do inevitável destino humano. Nada que a poética cinematográfica não resolva para o deleite do espectador apto a se emocionar. E com razão. São poucos os enredos que tratam a temática, tudo de positivo e negativo em seu perímetro, com uma leveza acolhedora. É isso o que a adaptação da peça, do próprio Thompson, faz: nos acolhe e nos oferece uma referência para a estrada pela qual todos seguimos. [26.09.16]

CEGONHAS * * * ½
[Storks, EUA, 2016]
Animação - 87 min
Nicholas Stoller, aventurando-se na animação pela primeira vez, e o codiretor Doug Sweetland [do curta “Presto”, 2008] entregam uma sessão com mais risos, emoções e reflexões acerca da dinâmica familiar, nos seus diferentes sentidos, do que a princípio se poderia esperar. [28.09.16 – Cinépolis Rio Poty]

O LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES * * ½
[Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children, GB/BEL/EUA, 2016]
Aventura - 127 min
Se a adaptação do livro de Ransom Riggs parecia uma "mão na luva" para a estética imaginativa de Tim Burton – de fato, os elementos estão todos lá –, a narrativa em si não acompanha todo esse potencial. Não por conta das alterações feitas pelo roteiro de Jane Goldman. Pelo contrário, são escolhas que funcionam bem. Na verdade, o filme se passa por uma competente sessão de escapismo e fascínio sem maiores tropeços a olho nu, sobretudo na primeira metade, na qual é o cineasta que reina na condução, e no encantamento, do olhar do espectador. A atmosfera do livro, nessa mesma parte, é mais misteriosa por conta das fotografias [defendidas como reais] que permeiam suas páginas. No filme, isso se transfere para a magia e o deslumbre do audiovisual, ampliados pelo uso dos efeitos práticos. Quando esse deslumbramento passa, ficam visíveis os detalhes que poderiam ter sido melhor explorados. Ou que simplesmente passaram por cima. Como se a questão do ritmo e da duração fossem mais importantes que a história a ser contada. E é engraçado, porque o terceiro ato do filme, que muitos consideram seu calcanhar de Aquiles, é de longe mais vibrante e elaborado que o do livro. Há, inclusive, uma divertidíssima homenagem ao mestre Ray Harryhausen e seu exército de esqueletos de “Jasão e o Velo de Ouro” [1963]. Mesmo assim, livro e filme ficam devendo no sentido de poderem ter ido além do que mostram em termos de personagens [embora todos, com exceção do caricato vilão de Samuel L. Jackson, estejam bem caracterizados], relação entre eles, plot twists, os ínfimos componentes dramatúrgicos que compõem toda estrutura mítica. Destorcendo as palavras, eu tinha a leve esperança de ficar mais empolgado com o novo Tim Burton. Foi por pouco. [30.09.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]

Outubro – 25 filmes

MEU AMIGO, O DRAGÃO * * *
[Pete’s Dragon, EUA, 2016]
Aventura - 103 min
David Lowery reimagina o filme de 1977, que misturava live action com animação tradicional, como uma anacrônica – por isso mesmo muito bem-vinda – celebração do que é cândido e mágico no audiovisual. Embora se possa acusar a narrativa de ser pueril demais, os elementos costurados por Lowery resultam numa atmosfera tão atraente, diria até mesmo tocante, em meio ao cinismo apocalíptico das produções contemporâneas. Além de explorar o clima de folclore [ponte direta para a nossa imaginação], usa a seleção musical à moda antiga num risco acertado para nos fazer submergir na experiência. Apoia-se, ainda, num elenco carismático e em um dragão 3D com a alma transbordando pelos pixels. Uma fantasia que resgata o otimismo que muitas vezes achamos démodé assumir. Um filme Disney como há muito não se via, para todos aqueles que não têm idade. [03.10.16 – Cinemas Teresina]

GÊNIOS DO CRIME * * ½
[Masterminds, EUA, 2016]
Comédia - 94 min
Jared Hess, de “Napoleon Dynamite” [2004] e “Nacho Libre” [2006], até tenta impor seu estilo de fazer comédia, com personagens idiotas num enredo absurdo – e inspirado num ousadíssimo assalto verídico ocorrido em 1997 na Carolina do Norte. Sim, boa parte das piadas funciona, a persona bem explorada de cada membro do elenco ajuda. Mas a produção se permite a algumas indulgências narrativas que tornam o resultado um pouco aquém do próprio potencial. [04.10.16 – Cinemas Teresina]

A FLORESTA QUE SE MOVE * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Suspense - 99 min
Vinicius Coimbra relê Shakespeare numa atmosfera psicológica a qual, um pouquinho menos afetada e superficial, por vezes inconsistente em relação aos personagens de Gabriel Braga Nunes e Ana Paula Arósio, resultaria no nível da pretensão que almeja. [04.10.16 – Telecine Premium]

O AMULETO * ½
[Idem, BRA, 2015]
Terror - 80 min
Jeferson De tenta fazer um terror-exercício carregado de atmosfera e com narrativa fragmentada. Mas é ruim de dar pena. [05.10.16 – Telecine Action]

FESTA DA SALSICHA * * *
[Sausage Party, EUA, 2016]
Animação - 89 min
Por trás do humor grosseiro – apesar de ser uma animação com comidas falantes, não assista ao lado de alguém com a qual deseja evitar qualquer tipo de constrangimento –, existe uma ácida reflexão acerca das introjeções e do fanatismo religiosos. Entre as centenas de “fucks” proferidos com a naturalidade de um adolescente tardio com larica constante e as gags escancaradamente sexuais, pipocam insuspeitas referências filosóficas [como a Caverna de Platão], metafísicas e cinematográficas – de “Táxi Driver” [1976] e “O Resgate do Soldado Ryan” [1998] a “O Exterminador do Futuro: O Julgamento Final” [1991] e “Ratatouille” [2007], esta é particularmente desconfortável. Há outras, todas hilárias. O que amarra tudo é o questionamento de Deus [no caso aqui, deuses famintos e cruéis] e da promessa do paraíso eterno no Grande Além. Embalado no típico senso de humor de Seth Rogen, coautor da premissa e do roteiro, e sua trupe, obviamente não é uma diversão que vá agradar a todo espectador. Baixando a guarda, porém, há de se reconhecer a “criatividade” dessa subversão do tradicional modelo Disney-Pixar [e os pastiches disso também se encontram em diversos detalhes] e de como seus temas podem ser depurados numa discussão aprofundada. Sério? Estou mesmo dizendo isso? Seja por um lado ou pelo outro, acho improvável termos ainda este ano um filme mainstream mais ultrajante, engraçado ou terrivelmente estúpido. Vai depender do tamanho da seu vazio estomacal... ops, existencial. [06.10.16 – Cinépolis Rio Poty]

ASSASSINATO SOB CUSTÓDIA * * *
[A Dry White Season, EUA, 1989]
Drama - 97 min
O despertar [tardio] do personagem de Donald Sutherland leva a um contundente filme-denúncia ao regime do apartheid. Ainda vigente na África do Sul à estreia da produção. A martinicana Euzhan Palcy, que também coadaptou o livro de André P. Brink, foi a primeira mulher negra a dirigir um lançamento hollywoodiano. Sua dedicação foi tanta que tirou da aposentadoria autoimposta Marlon Brando, cuja pequena participação lhe rendeu uma indicação ao Oscar ator coadjuvante. Mesmo mais de 20 anos após o fim do estado de total segregação racial sul-africana, o meandros do enredo ainda são eficientes em provocar incômodo. [08.10.16]

O CAÇADOR * * *
[Chugyeogja, KOR, 2008]
Suspense - 120 min
Em seu début como realizador de longas, o sul-coreano Hong-jin Na literalmente nos amarra à frenética trama com um eficiente tom de urgência e uma boa dose de violência. Fora isso, trabalha os personagens e as interrelações que os vão modificando ao longa da narrativa inspirada num serial killer real, Yoo Young-chul. O mais interessante é o fato de, mesmo com tanta correria, o filme discutir como a burocracia do sistema policial termina por provocar mais tragédia – quando deveria extingui-la. [09.10.16]

MILES AHEAD * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 101 min
Don Cheadle [aka Máquina de Guerra dos filmes da Marvel] parte para sua primeira experiência na realização de maneira arriscada: sendo o trompetista de jazz Miles Davis [1926-1991] numa narrativa ficcional. Com pinceladas biográficas, claro. Embora a opção esteja longe da unanimidade e falte depuração técnica [comum a diretores estreantes], podemos perceber o esforço de Cheadle tanto na atuação quanto na fluência, sempre delicada, dos flashbacks paralelos. A única coisa que sai ilesa do filme com Davis como protagonista é sua música. [09.10.16]

HERANÇA DE SANGUE * * ½
[Blood Father, FRA, 2016]
Ação - 88 min
Bom ver Mel Gibson à vontade num ligeiro filme de ação, cuja melhor qualidade da narrativa é o arco da relação de seu personagem com a filha. O que passa longe de ser algo que nunca vimos antes – mas o que mesmo nunca vimos antes? – ou muito menos supre o enredo genérico do livro de Peter Craig, que o próprio adapta ao lado de Andrea Berloff. Mas a direção objetiva de Jean-François Richet e a persona do eterno Martin Riggs garantem a sessão descompromissada. [10.10.16]

DEMÔNIO DE NEON * *
[The Neon Demon, FRA/DIN/EUA, 2016]
Suspense/Terror - 118 min
A estética é metalinguistica: sob a maquiagem de beleza plástica habita a feiúra de uma narrativa superficial. [10.10.16]

HUNT FOR THE WILDERPEOPLE * * *
[Idem, NZE, 2016]
Aventura - 101 min
Waititi [“O Que Fazemos nas Sombras”, 2014] acerta no tom atmosférico e na dinâmica entre os personagens de Sam Neill e da revelação Julian Dennison. O Rick Baker deste último já uma dessas figuras impagáveis. Tendo como base o livro “Wild Pork and Watercress”, de Barry Crump [1935-1996], uma surpresa calorosa e com muito a ensinar acerca das diferenças que nos aproximam uns dos outros. [12.10.16]

UM ESTADO DE LIBERDADE * * ½
[Free State of Jones, EUA, 2016]
Drama/Guerra - 140 min
O interessante recorte histórico da Guerra Civil Americana é prejudicado pelo didatismo quase escolar e por subplots em desequilíbrio narrativo. Matthew McConaughey faz sua parte na pele do controverso Newton Knight [1837-1922], que liderou o Estado de resistência que dá título ao filme. Todavia, o cineasta Gary Ross se atropela aqui e ali para contemplar um enredo complexo que, com um pouquinho mais de cuidado, teria dado um grande épico. Soa como um passeio no qual o motorista parece apressado para completar o percurso ao invés de nos deixar vivenciar a jornada de perto. [12.10.16]

INFERNO * * ½
[Idem, EUA, 2016]
Suspense - 121 min
O roteiro é uma peneira, deixa passar twists óbvios e clichês narrativos. Prova que seu forte é não levar-se a sério. [13.10.16 – Cinemas Teresina]

O SILÊNCIO DO CÉU * * * ½
[Era el Cielo, BRA/URU, 2016]
Drama/Suspense - 102 min
Sem qualquer zona de conforto, segue a culpa crescer nas entranhas dos não ditos e alastrar-se na própria atmosfera da narrativa. [13.10.16 – Cinemas Teresina]

UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA * * * ½
[En duva satt på en gren och funderade på tillvaron, SUE/ALE/NOR/FRA/DIN, 2014]
Comédia/Drama - 101 min
O sueco Roy Andersson fecha sua trilogia existencial – formada também por “Canções do Segundo Andar” [2000] e “Vocês, os Vivos” [2007] – observando o absurdo dia a dia do ser humano. [16.10.16 – Cinemas Teresina, Sessão Cinéfilos]

NOITE DO TERROR * * *
[Black Christmas, CAN, 1974]
Terror - 98 min
Popularizou os elementos do gênero slasher que dominariam as produções do final da década de 1970, começando “Halloween” [1978] de John Carpenter, e a seguinte, como “Sexta-Feira 13” [1980], “A Morte Convida para Dançar” [1980], “Dia dos Namorados Macabros” [1981], a lista é grande. Até serem recauchutados nos 1990 pela série "Pânico", de Wes Craven. Com direção de Bob Clark [“Porky’s – A Casa do Amor e do Riso”, 1981] cheia de referências e recursos, como o Ponto de Vista do assassino, para potencializar o roteiro nem sempre convincente, mas com algumas sacadas muito interessantes, de Roy Moore, não foi um sucesso quando lançado. Com o tempo, porém, adquiriu status de cult. Ainda mais com uma forte pegada feminista ganhando destaque. [16.10.16]

DOUTOR ESTRANHO * * ½
[Doctor Strange: The Sorcerer Supreme, EUA, 2007]
Animação - 76 min
Dá um gostinho ligeiro, mas até eficiente, do potencial do Mago Supremo e da atmosfera mística no seu entorno. [17.10.16]

DESIERTO * * ½
[Idem, MEX/FRA, 2015]
Drama/Suspense - 88 min
Jonás Cuarón tem bons elementos políticos e de gênero para trabalhar. Tivesse equilibrado ambos e se questionado mais [em cima da entrada ilegal – e arriscada – de mexicanos nos Estados Unidos], que ótimo filme teria entregado. [19.10.16]

O CONTADOR * * *
[The Accountant, EUA, 2016]
Suspense - 128 min
A interessantíssima atuação de Ben Affleck como o inusitado protagonista evidencia mais ainda a direção segura de Gavin O'Connor. E quem diria que um dia eu elogiaria o canastrão [ops, ex-canastrão] Affleck em consecutivas boas escolhas – listo o Batman? – como ator? Imagino a devastadora autoanálise que deve ter feito para se reinventar artisticamente. Qualquer porão mental no qual tenha entrado fez a pena valer. Nem me refiro à sua irrepreensível, até agora, carreira como realizador. Quando ele se apropria de um personagem sorumbático ou com algum grau de embotamento afetivo, o casting é acertado. Aqui, o seu “Jason Bourne autista” pode mesmo ser absurdo, mas periga render uma das melhores performances do ano. A primeira metade da trama assinada por Bill Dubuque é absolutamente empolgante. Enquanto alimenta a pergunta “quem é esse cara?”, o filme caminha entre os grandes. Quando se dedica a respondê-la, a queda é tão matematicamente gradativa que irrita. Muito. O desfecho força a barra com deduções ora frágeis ora inesperadas como ver um prego e, por algum devaneio, pisar nele. Nada tem a ver com o filmaço que parecíamos assistir. Nesse momento, o acerto da escalação de Ben Affleck faz a diferença. Assim como as conquistas de O’Connor ao lidar com temas delicados sem transformá-las em mero pastiche. A janela como recorte natural a “enclausurar” o herói em sua condição atesta a qualidade da regência. Num suspense de ação, termos esses tipos de camadas já é algo a celebrar. [20.10.16 – Cinemas Teresina]

O SHAOLIN DO SERTÃO * * *
[Idem, BRA, 2016]
Comédia - 100 min
Solidifica a comédia cearense capitaneada por Halder Gomes. Uma sessão hilária que se passa na mesma atmosfera afetiva de “Cine Holliúdy” [2012] e transpira o amor de todos os envolvidos. [20.10.16 – Cinemas Teresina]

O MESTRE DOS GÊNIOS * * *
[Genius, GB/ EUA, 2016]
Drama - 104 min
Uma narrativa que tenta fazer jus à importância do editor literário, em vários níveis, é muito bem-vinda. Mesmo que haja eslizes e escolhas questionáveis nesse recorte da relação entre Max Perkins [Firth] e o histriônico Thomas Wolf de Jude Law. [23.10.16 – Cinemas Teresina]

SOBRE ONTEM À NOITE... * * ½
[About Last  Night..., EUA, 1986]
Romance - 113 min
Os então jovens Demi Moore e Rob Lowe num romance yuppie sobre expectativas e dificuldades dos relacionamentos sérios. Foi a estreia no cinema do diretor Edward Zwick, a partir da adaptação da peça de David Mamet, “Sexual Perversity in Chicago”, de 1974. Apesar de todo carisma e sensualidade do casal de atores egresso de “A Primeira Noite do Resto das Nossas Vidas” [1985], é Jim Belushi, repetindo seu personagem do palco, quem rouba cada cena em que aparece. O melhor mesmo, porém, é a atmosfera nostálgica que o filme passa. [24.10.16 – Max Up, madrugada]

A 13a EMENDA * * * *
[13th, EUA, 2016]
Documentário - 101 min
A cineasta Ava DuVernay [“Selma – A Luta pela Igualdade”, 2014] é incisiva ao partir de brechas na constituição e da indústria prisional, sem aspas mesmo, para mostrar que a escravidão racial ainda existe nos Estados Unidos. E isso 150 anos depois de sua abolição oficial. Provavelmente seja o filme-denúncia mais importante e corajoso da recente filmografia do século XXI. Mexe nas feridas-tabus das questões de cor/raça sem receio da consequente, e necessária, dor. Que seu eco faça jus à incômoda realidade descortinada. [25.10.16 – Netflix]

CAPITÃO FANTÁSTICO * * * *
[Captain Fantastic, EUA, 2016]
Drama - 119 min
O diretor/roteirista Matt Ross torna o espectador um membro dessa família utópica em sua road trip particular de ideologia versus realidade. Afora a projeção do sonho hippie da década de 1960, o cineasta não se furta de mostrar que, pelo menos na formatação cultural do mundo pós-temporâneo, as brechas no paraíso são suficientes para destruí-lo. É o que Viggo Mortensen, em ótima atuação, vai encarar ao levar os seis filhos para salvar a mãe suicida de um enterro cristão. A narrativa escapa das armadilhas melodramáticas ao defender sua atmosfera libertária com humor equilibrado, e o roteiro é uma pérola mesmo com estrutura convencional. No fim das contas, o que fica é a experiência paternal que justifica as concessões feitas. Ainda que o olhar vago [melancólico? resignado?] do pai esteja mirando o horizonte ideológico que, por algum tempo, parecia absolutamente possível. [26.10.16]

A GAROTA NO TREM * *
[The Girl on the Train, EUA, 2016]
Suspense - 112 min
Como acontece no livro-fenômeno da britânica Paula Hawkins, essa adaptação insossa sofre com a estrutura em teia que apenas tenta distrair o espectador do desfecho vulgar. Além de incongruências quanto ao tom – ora é uma narrativa de mistério, suspense psicológico, drama de superação –, a direção de Tate Taylor se mostra ainda mais insegura quando se entrega aos excessos para construir alguma atmosfera; os constantes slows irritam mais do que os enquadramentos elaborados a entregar o jogo antes do tempo. E olha que a influência declarada vem de Hitchcock. Como assim? Algo deve ter se perdido nas entrelinhas. Até mesmo a postura feminista que uns defendem é algo questionável diante dos arcos dramáticos rasos, não satisfatórios. A melhor sacada do livro/filme [o insight da protagonista, aqui no corpo choroso de Emily Blunt, sobre sua própria percepção de si] não passa de uma anedota para passar de um ato a outro. E o que abstrair do texto quando 90% dos diálogos é pura exposição? Triste ver bons elementos serem apenas largados durante o trajeto. O que sobra é um plot-artifício prenhe de piruetas, mas nenhum coração pulsando. [29.10.16 – Cine Roxy Gonzaga, Santos-SP]

Novembro – 32 filmes

TROLLS * * ½
[Idem, EUA, 2016]
Animação - 98 min
A DreamWorks coloca os bonecos dinamarqueses [com visual, digamos, mais simpático] numa matizada animação musical a respeito do real sentido da felicidade. Assim como, numa leitura – quem sabe? – “adulta”, a obsessão em buscá-la, a todo custo. [01.11.16 – Cinemas Teresina]

S. DARKO *
[Idem, EUA, 2009]
Suspense - 103 min
A sequência do cult de 2001 de Richard Kelly, que desafirma qualquer envolvimento com esta produção, não faz justiça nem à própria imbecilidade, ainda mais sendo sendo tão rasteiro e desencontrado. Se há maiores qualidades aqui, soterraram nas intenções capitalistas. Mesmo com a atriz que interpretou a Samantha do original, Daveigh Chase, não por menos foi lançado direto em home vídeo. [02.11.16]

DOUTOR ESTRANHO * * * ½
[Doctor Strange, EUA, 2016]
Aventura - 115 min
O universo do protagonista parece mais fascinante do que explora a narrativa de Scott Derrickson. Ainda assim, que viagem! Particularmente, tenho atração por essa temática mística de projeção astral, dimensões paralelas, multiverso. Qual ser humano, em sua jornada existencial, não se questiona acerca de um mundo invisível atuando numa frequência diferente? Que outra produção conseguiria misturar magia, filosofia oriental e física quântica sem soar um delírio desconexo? O Universo Cinematográfico Marvel já atingiu o nível de suspensão da descrença no qual nos permite embarcar de cara em conceitos como os trabalhados aqui e ter um envolvimento emocional significativo. Expandir a consciência leva o arrogante neurocirurgião ferido de Benedict Cumberbatch a retomar sua humanidade enquanto descobre as infinitas possibilidades diante de si. Não por acaso “alguém” surge gargalhando com a leitura do livro de Huxley, “As Portas da Percepção”. É escorregar olhando para a casca de banana adjetivar as sequências que ocorrem na “dimensão espelhada” como lisérgicas, mas não há definição mais direta. Quando a premissa oferece algo assim, o maior obstáculo para os roteiristas é sua própria criatividade limitada. Pelo quê? Pela fórmula Marvel que vem dado certo, os ritos estruturais e o humor a cada oportunidade. Não é ruim, mas eu queria ver mais riscos sendo corridos. Como o olhar propositalmente vago durante todo o filme da Anciã feita por Tilda Swinton. Talvez um duelo de corpos astrais fosse mais tenso do que divertido, sobretudo quando o corpo físico está no centro cirúrgico na iminência da morte. Mas entendo o apelo comercial menos incerto num filme de 165 milhões de dólares. Se o público não rir e inflar a bilheteria, os produtores choram. Triste mesmo é aquela sensação de que o desfecho poderia ter ido além. Potencial tem de sobra. Sobra para as cenas extras e as futuras aparições de um personagem não muito popular nos quadrinhos e que agora tem a chance de mostrar-se, quem sabe com o seu conjunto melhor explorado, o mais interessante dentre os que já tiveram sua vez. [02.11.16 – Cinemas Teresina, pré-estreia]

O BURACO DA AGULHA * * *
[Eye of the Needle, GB, 1981]
Suspense - 108 min
A adaptação do best seller de Ken Follett está longe do equilíbrio ideal, mas segura bem sua energia e tensão. Sobretudo nos 30 minutos finais que se passam na ilha. Esse foi o filme que levou George Lucas a convidar o britânico Richard Marquand para dirigir “O Retorno de Jedi”, de 1983. Donald Sutherland e Kate Nelligan já haviam contracenado antes num telefilme, “Bethune” [1977], e até que fazem um par cheio de sensualidade. Tivessem trabalhado mais a questão do desejo e da culpa entre os dois teriam solidificado um grande filme. [03.11.16]

CINEMA NOVO * * * *
[Idem, BRA, 2016]
Documentário - 90 min
Mais do que uma investigação-homenagem, busca em sua própria construção narrativa assimilar a essência estética e espiritual do movimento cinematográfico brasileiro nascido do inconformismo de um grupo de cineastas, e aspirantes a, dos anos 1950. Só por isso já seria uma sessão fascinante, sobretudo para verdadeiros cinéfilos, estudiosos e profissionais do audiovisual. Mas o documentário dirigido por Eryk Rocha transcende o “filme de montagem” que é para, no meu mais profundo pensamento positivo, inspirar novos realizadores, picar novos estudiosos e iluminar novos cinéfilos. Filho de Glauber, um dos expoentes daquela geração, Eryk deixa transparecer afeto e curiosidade genuínos pelos personagens reais – dos mais aos menos lembrados. Escapa do didatismo e da estrutura careta ao deixar as obras e seus autores darem o tom, guiarem o espectador pelo zeitgeist que provocou a revolução artística, a quebra de rupturas nem sempre bem aceita ou mesmo digerida. O engraçado, num sentido tragicômico, é o Novo ecoar também as queixas daquele tempo, ainda as mesmas para quem agoniza perante a realidade sócio-política e quer dizer alguma coisa por meio do seu processo criativo. Seja ele qual for. Repito: que as vozes do passado desafiem os inconformados de hoje a reinventarem a “câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Ou o contrário, por que não? Enquanto houver angústia, haverá arte engajada. E o Novo nunca ficará velho. [03.11.16 – Cinemas Teresina]

O ESCARAVELHO DO DIABO * *
[Idem, BRA, 2016]
Suspense - 90 min
Focado num público específico e cheio de boas intenções, esse thriller teen não atinge o próprio potencial. Mesmo com elenco carismático. Mesmo tendo como base a popular obra da mineira Lúcia Macado de Almeida, publicada pela primeira vez em 1953. O que já era infanto-juvenil não precisava ter uma adaptação tão – ou mais, quem sabe? – infanto assim. Ou precisava? [04.11.16 – Telecine Premium]

MR. CHURCH * * *
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 105 min
Entre erros e acertos, a atmosfera que o veterano Bruce Beresford alcança a partir do roteiro de Susan McMartin exala uma sinceridade a ponto de nos tocar com insuspeita atuação dramática de Eddie Murphy. [06.11.16]

SUSPIRIA * * *
[Idem, ITA, 1977]
Terror - 98 min
A primeira das “Três Mães” – no caso, Mater Suspiriorum, uma das damas do sofrimento – de Dario Argento destaca sua atmosfera pela paleta de cores, o score que punge [da banda de rock progressivo Goblin] e, claro, o gore. Uma das mais lembradas obras do cineasta italiano e cult quase instantâneo. [09.11.16]

PEQUENO SEGREDO * * ½
[Idem, BRA/NZL, 2016]
Drama - 107 min
Dirigido pelo coração de David Schurmann, pede que o espectador não se incomode com a tentativa rasa de emocioná-lo. Mas é difícil não se contorcer um pouco durante a projeção. A premissa é claramente mais forte do que o produto lapido pelo canhestro melodrama; oscila entre narrativas paralelas óbvias e diálogos escritos por “softwares de teledramaturgia”. Belo de corpo e alma, se suja com clichês ultrapassados e mal uso das suas preciosidades técnicas. Não é um filme ruim, longe disso. Contudo, nos obriga a baixar nossas exigências para permitir que um velho modelo estrutural se conecte conosco. Se há aqui um elemento-motor inquestionável a pairar sobre suas indulgências cinematográficas é a sinceridade afetiva que transborda cada bordo do frame. É uma linda homenagem de Schurmann à própria família – notável por ter sido a primeira a velejar em volta do globo. A melhor parte são as rápidas imagens de arquivo que precedem os créditos finais. Quando isso acontece, é porque há uma grande história escondida ali. Em algum lugar. Um pequeno segredo que não nos é permitido descobrir. [10.11.16 – Cinemas Teresina]

HORIZONTE PROFUNDO – DESASTRE NO GOLFO * * *
[Deepwater Horizon, HKG/EUA, 2016]
Drama/Ação - 107 min
Não inova em estrutura, mas é tanto um filme-catástrofe muito bem realizado quanto um filme-denúncia do trágico evento ocorrido em abril de 2010 – e sempre atento aos personagens, o que ajuda na conexão emocional com o espectador. [11.11.16 – Cinemas Teresina]

THE ONES BELOW * * ½
[Idem, GB, 2015]
Suspense - 87 min
A estreia na direção de David Farr, roteirista de “Hannah” [2011] e da minissérie “The Night Manager” [2016], ganha quando flerta com Polanski – tem toda a atmosfera de “O Bebê de Rosemary” [1968] – e o suspense psicológico, mesmo o twist final sendo o esperado. [11.11.16]

BARRAVENTO * * *
[Idem, BRA, 1962]
Drama - 78 min
Glauber Rocha, nessa sua estreia como diretor de longas – substituinto o até então amigo Luiz Paulino dos Santos – entrelaça crítica social e misticismo religioso num pungente confronto dialético hegeliano, aufhebung. Pré-Cinema Novo, mas já com elementos os quais aprofundaria no movimento e no decorrer de sua carreira. [12.11.16 – Casa da Cultura|Curso Pela Lente]

O FIO DA SUSPEITA * *
[Jagged Edge, EUA, 1985]
Suspense - 108 min
A superestimada trama do roteiro de Joe Eszterhas [“Instinto Selvagem”, 1992] nunca se afasta do óbvio, mesmo quando ensaia – e deveria – nos surpreender. [13.11.16 – madrugada]

KUBO E AS CORDAS MÁGICAS * * * ½
[Kubo and the Two Strings, EUA, 2016]
Animação - 101 min
A quarta animação em stop motion da Laika homenageia a mitologia japonesa e a própria contação de histórias. [13.11.16]

A CRIADA * * * ½
[Ah-Ga-Ssi, KOR, 2016]
Drama/Suspense - 139 min
Com notável elegância, Park Chan-wook brinca com as percepções do espectador sobre os personagens e a trama em si. [13.11.16]

NO FIM DO TÚNEL * * *
[Al final del túnel, ARG/ESP, 2016]
Suspense - 120 min
Nesse suspense escrito e dirigido pelo argentino Rodrigo Grande, são as camadas e os artifícios da trama, entre ótimos e forçados, que seguram até o fim a tensão do espectador. O enredo ensaia subverter os elementos do “heist movie”, inclusive com um protagonista [Leonardo Sbaraglia] sem intenções tão certinhas. Tudo envolto na atmosfera claustrofóbica de ambientes internos durante a maior parte da projeção. [14.11.16 – Cinemas Teresina]

MUITO MAIS QUE UM CRIME * * * ½
[Music Box, EUA, 1989]
Drama - 120 min
A personagem de Jessica Lange trilha um tortuoso percurso de revelações. E a narrativa precisa de Costa-Gavras leva o espectador junto. O roteiro de Joe Eszterhas é um de seus raros acertos. Sobretudo quando lembramos que o trabalho anterior dele foi o fraquinho “Atraiçoados” [1988], também dirigido pelo cineasta grego. Ambos vão soltando as informações aos poucos, ganhando nossa atenção com um drama-situação delicado de digerir. Ao final não precisam de twists para nos convencer estarmos diante de um grande filme. [16.11.16]

BLIND * * *
[Idem, NED, 2007]
Drama/Romance - 98 min
A holandesa Tamar van den Dop cria uma experiência quase sensorial, cujas camadas de leitura se desfolham aos poucos. [17.11.16 – madrugada]

O VINGADOR INVISÍVEL * * *
[And Then There Where None, EUA, 1945]
Suspense - 97 min
Em seu exílio nos Esrados Unidos, o francês René Clair realiza a primeira – e talvez a mais celebrada – adaptação do famoso enredo de Agatha Christie, “O Caso dos Dez Negrinhos/Indiozinhos” [1939], equilibrando a atmosfera de mistério com o humor bem dosado. [17.11.16]

ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM * * *
[Fantastic Beasts and Where to Find Them, GB/EUA, 2016]
Aventura - 133 min
Demora a esclarecer o recorte da trama, assombrado pela própria nostalgia. Quando deslancha, converte-se numa beleza escapista com ritmo frenético. Isso depois de nos cansar com um primeiro ato inchado, atrapalhado, em busca de um enredo. É – e será – um tanto delicado dissociar essa nova série de cinco filmes dos oito da franquia “Harry Potter” [2001-2011]. Até porque traz na direção o mesmo David Yates dos quatro últimos e a autora J. K. Rowling assinando o roteiro, que nos leva para sete décadas antes do nascimento do jovem bruxo. Dessa forma, a identidade estética e atmosférica se mantém como marca indelével. Fora isso, transferir a ação para a Nova York de 1926 dá a deixa para mexerem no tom, nas cores e nas temáticas a serem trabalhadas. Se antes acompanhávamos três crianças/adolescentes flertando com o perigo na Escola de Hogwarts, agora temos um quarteto adulto na Big Apple pré-Grande Depressão. Esse senso histórico ancora a magia na realidade, é preciso deixar os “nomajs” [não mais “muggles/trouxas”] alienados da existência de bruxos/bruxas coexistindo quase lado a lado. Então somos apresentados ao Newt Scamander de Eddie Redmayne, cujo propósito de aportar na América com uma mala cheia dos animais fantásticos do título termina sendo uma mera desculpa-gatilho para que a narrativa aconteça. Há outros pequenos furos e esquemas óbvios na estrutura de Rowling que a gente releva para não irritar os fãs mais fervorosos. Só eles reagem às mais sutis e insuspeitas referências. Aliado a um 3D que salta na nossa cara, o terço final faz o filme crescer em ação e envolvimento emocional. Se há algo que atesta a força desse primeiro capítulo é o afeto que Rowling demonstra por seus personagens. Está em cada movimento, diálogo e, sobretudo, nas hesitações. Mesmo embarcando nas indulgências típicas, David Yates entende isso. E, por tabela, nós também. [17.11.16 – Cinemas Teresina]

SANGUE DE PANTERA * * *
[Cat People, EUA, 1942]
Terror - 73 min
Como é sua marca [e até por conta do baixo orçamento imposto pela RKO ao produtor iniciante Val Lewton], Jacques Tourneur investe na sugestão do horror nesse conto acerca da repressão sexual feminina. [20.11.16]

AO SEU LADO * * * ½
[At Li Layla, ISR, 2014]
Drama – 86 min
Por trás da história simples, tocante, há questões complexas de laços afetivos e um desfecho que permanece em nós. [20.11.16]

ELLE * * * *
[Idem, FRA/ALE/BEL, 2016]
Drama - 130 min
Paul Verhoeven vai descamando a nada unidimensional personagem de Isabelle Huppert e nos guiando por caminhos sinuosos. O resultado transita entre diferentes gêneros, sempre inquietantes e quase nunca óbvios. Como se fosse apenas pelos desvios abruptos que tudo encontrasse o seu lugar certo. [20.11.16]

DEPOIS DE HORAS * * *
[After Hours, EUA, 1985]
Comédia - 93 min
Scorsese aproveita o roteiro-TCC de Joseph Minion para arriscar uma espécie de anti-“Taxi Driver” [1976] nessa comédia de erros frenética, com humor negro nosense que força aqui e ali, mas funciona – e bem. Muito se deve à câmera vigorosa do cineasta, premiado pela direção no Festival de Cannes, e ao carismático elenco com Griffin Dunne [“Um Lobisomem Americano em Londres”, 1981] liderando. [21.11.16]

ALOYS * * *
[Idem, SUI/FRA, 2016]
Drama - 91 min
O suíço Tobias Nölle acerta na atmosfera sorumbática que envolve seu protagonista e como ele, feito por Georg Friedrich, transcende o próprio estado de solidão. Estado esse que, de tão perpetuado pela rotina, é difícil de quebrar. E é curioso como as duas “solidões” do filme [a outra é Tilde von Overback] encontram no lúdico a maneira de romper tal condição. A poesia narrativa em tons melancólicos pode não ser o programa ideal para todos, mas é belamente construída. Para os seres solitários, apegar-se à fantasia e evitar a realidade é um impulso mais forte e confortável do que simplesmente abrir a porta. [24.11.16]

ELIS * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama/Musical - 110 min
Se Andréia Horta faz de sua performance uma homenagem sincera, a narrativa dura de Hugo Prata carece de personalidade. Não, o filme não diz quem foi Elis Regina, para muitos a melhor cantora da dita MPB. Nenhuma cinebiografia vai dizer quem era de verdade o seu objeto de estudo. Nem a verdadeira Elis talvez soubesse quem era. O que os melhores exemplos do gênero fazem é lançar um olhar sobre a essência e os rastros deixados, ficcionalizá-los num enredo universal da pessoa por trás da persona. Não somente reiterar a persona em si. O que parece uma constante nesse filão [tardio] do cinema brasileiro. Anedotas do Wikipedia postas no frame. Os bastidores sofridos da montagem ecoam na projeção, mesmo que a personagem-título seja hipnotizante o suficiente para pairar acima dos defeitos do filme sobre sua vida. Mesmo que a trilha sonora por si só já valha o ingresso. Um filme, contudo, não se resume ao soundtrack. Claro que, ali e aqui, esbarramos numa cena bem escrita, numa câmera bem colocada, numa atmosfera bem passada. Mas no geral tudo aquilo o que não está nem no espaço invisível entre os cortes assombra o que se elegeu para compor as quase duas horas da intensa jornada humana da “Pimentinha”. Suas contradições estão lá porque são impossíveis de serem ignoradas ou transformadas num pano de fundo. Como fizeram com o momento histórico pelo qual passava o país. O engraçado é que a atuação de Horta cresce quando tenta humanizar a protagonista, esquecer quem ela deveria ser, torná-la frágil, insegura, imperfeita como qualquer outra pessoa. Acreditamos mais nisso do que na suposta semelhança dela com a Elis real ou quando a mimetiza no palco, em controversas sequências de playback. Por sua vez, a estrutura nunca transgride a própria caretice, a progressão de cenas/diálogos meramente simbólicos, a fôrma de cinema da Globo Filmes: para o público que quer tudo tão elementar e mastigado que nem sabe mais qual seria o gosto se fosse feito de outra fórma. Elis foi muito mais labiríntica do que a cinebriografia sobre ela. Que não é ruim, longe dessa afirmação, por favor. Apenas foi para o lado oposto à essência de sua personagem. [24.11.16 – Cinépolis Rio Poty]

JACK REACHER: SEM RETORNO * *
[Jack Reacher: Never Go Back, CHI/EUA, 2016]
Ação/Suspense - 118 min
Tudo é um genérico de si mesmo nessa segunda incursão do personagem de Lee Child no cinema. Até Cruise se imita. E uma imitação bem carrancuda, por vezes machista. Isso porque o diretor Edward Zwick insiste em inflar a “trama” com uma guerra de gêneros para justificar a tensão sexual entre o protagonista e a major feita por Cobie Smulders – a melhor coisa do filme. Tensão essa que implode, é deixada de lado em prol de uma ação sem brilho mas violenta. O roteiro é uma colagem, a seis mãos, de cenas, gags e diálogos que já devemos ter visto uma centenas de vezes. No mínimo. Desafio qualquer pessoa a encontrar um elemento dramático, ou uma curva de enredo, que não pareça ter sido tirado de outro filme. Dessa vez incluíram uma suposta filha, cortesia do livro de Child, pelo simples fato de que o apelo com o público seria maior. Só que a “família” formada resulta num artifício frouxo demais para ser considerado credível enquanto Tom Cruise, assinando a produção pela primeira sem Paula Wagner [que ficou na executiva], desfere socos, chutes e tiros – não esqueçamos o mau humor – no modo autômato. Mesmo modo que o espectador precisa ficar para engolir a seco tamanha cara de pau. [25.11.16 – Cinemas Teresina]

A CHEGADA * * * * ½
[Arrival, EUA, 2016]
Ficção - 116 min
Esmiuça as implicações semânticas numa comunicação interplanetária, o ruído entre nós mesmos e como devemos abraçar o destino. Invasões alienígenas e primeiros contatos passam anos-luz de serem premissas originais no cinema. A “dirty sci-fi” sob a condução de Denis Villeneuve tem consciência disso desde o prólogo-resumo da relação de Amy Adams com a filha. O roteiro de Eric Heisserer parte do conto de Ted Chiang, “Historia de sua Vida”, publicado em 1998, para operar a narrativa em três camadas: a da ficção científica enquanto gênero na busca por compreender o propósito e a linguagem dos chamados heptápodes, uma mais sócio-política relativa à comunicação, e diferenças, dos seres humanos enquanto espécie e uma filosófica, digamos, bem nietzschiana que nos leva a um mergulho na própria condição humana. A primeira é a responsável pela estrutura primária do filme, preocupada com os detalhes da operação e em ser o mais realista possível. Traz com elas ecos/referências a obras como “Independence Day” [1996], “Contatos Imediatos do 3o Grau” [1977] e “Solaris” [1972]. O tom orgânico nem nos faz desconfiar que podem estar ali como uma distração, pistas falsas para pegar de surpresa o cinéfilo mais atento. Tanto a montagem quanto o trabalho com o som são cruciais para a nossa imersão. E que imersão! Mas Villeneuve, que atualmente realiza a sequência de “Blade Runner – o Caçador de Androides” [1982], é um carpinteiro astuto; usa as convenções do gênero para discutir questões mais relevantes e que extrapolam a ficção: somos uma espécie dividida, plural, não apenas no idioma como também nos interesses econômicos, políticos, etc. Embora a ação principal transcorra em território estadunidense, há naves, ou “conchas”, estacionadas em outros países e cada um possui sua independência no trato com os visitantes. O problema levantado é este: num episódio de invasão do planeta, não há um representante único a falar em nome da humanidade. E é justamente daí que vem a tensão que nós e os personagens experimentamos. Em momento algum se sente que o perigo está nos aliens-polvos. Se o mundo chega a ficar na iminência de uma destruição, a origem está em nossa incapacidade de nos comunicarmos e unirmos de maneira pacífica. A corrida contra o tempo é uma corrida contra nossa desunião face a um desafio em comum. Só isso já diferencia esse de outros filmes com a mesma premissa. A lista, sabemos, é enorme como a obsessão que alimentamos pelo tema. Então Villeneuve, Heisserer e Chiang vão além no momento de revelar para onde as pistas realmente apontavam desde o início. Somente quando o prólogo é ressignificado e as convenções narrativas subvertidas despertamos para o verdadeiro sentido da obra, que assume sua veia teleológica ao encenar o que Nietzche chama de “amor fati”. Amor ao destino. Amor à fatalidade de cada um, seja ela qual for. A aceitação plena da condição humana, aqui representada pela personagem de Amy Adams e sua perda. O conto de Ted Chiang desde a primeira página discorre em cima de como lidamos com o inevitável. A adaptação cinematográfica é mais manhosa ao jogar para o final o peso conferido à protagonista pela resolução do imbróglio. De certa maneira remete ao desfecho de “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” [2004], o “Ok” tão natural dado pelos esquecidos Kate Winslet e Jim Carrey mesmo ambos sabendo o rumo que tomará aquela relação. Aqui o destino a ser amado é mais doloroso e sem a possibilidade de, consciente do mesmo, provocar uma mudança qualquer. Quem assistiu a “Incêndios” [2010] sabe que o cineasta canadense não tem pena do espectador em matéria de twist tortuoso, aquele que custa a sair dos pensamentos. O adjetivo não chega a caber no recente caso. Ainda assim, é um soco não nas vísceras mas na crise existencial que teimamos em ter diante do fato de que um dia todos iremos perder alguém que amamos. O impacto pode até nos fazer relevar algumas escorregadas da produção, como certos links forçados, elementos que são deixados de lado, a demora para o personagem de Jeremy Renner mostrar serviço, ou mesmo esquecer a natureza da visita espacial, a troca de sintaxes para um pedido de ajuda que só virá em três mil anos [o porquê dessa lacuna abre espaço a tantas outras perguntas]. Na verdade, numa simplificação cínica, a trama toda é um artifício para elaborar essa velha discussão do livre arbítrio versus destino, algo que Chiang “aprofunda” no conto. No filme isso é uma mera faísca acesa deliberadamente para fazê-lo permanecer com a gente. O que não chega a esmaecer o cintilar da experiência tão bem arquitetada. Se é possível acusar a heroína de transcender a própria humanidade, pelo conceito nietzchiano, ao aceitar o fado com tamanha gratitude, é porque estamos tão presos ao nosso próprio medo egoísta do sofrimento que não conseguimos aproveitar todas as coisas belas que cada instante oferece. Independente de qual será o resultado. E, acredite, só há um. [26.11.16 – Cinemas Teresina]

FOME * * *
[Idem, BRA, 2015]
sDrama - 90 min
Cristiano Burlan brinca com a fronteira entre ficção e documentário e usa Jean-Claude Bernardet para corroborar seu filme-tese. No qual a realização e o objeto em si [a falsa condescendência para com os moradores de rua] também se confundem num assumido mea culpa. As contradições permeiam cada elemento do filme, a começar pelo belo preto e branco da câmera em steadycam [ou num slize, que seja], quase embelezando uma realidade feia, a marginalidade e a invisibilidade social. E quando isso é uma opção pessoal? De fato, não é uma obra de simples digestão. Várias camadas vão sendo colocadas/improvisadas ao longo da narrativa. Por um ou outro viés Burlan consegue instigar o incômodo, e ainda ser autor de sua própria câmera. Algo nem tão comum como pensamos. [27.11.16 – Cinemas Teresina|Sessão Cinéfilos]

PHANTOM BOY * * ½
[Idem, FRA/BEL, 2015]
Animação - 85 min
A dupla Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol, de "Um Gato em Paris" [2010], realiza outra animação 2D old-school, dessa vez investindo numa atmosfera metafísica. A ação agora é numa Nova York tão neo-noir quanto a produção anterior, onde o garoto doente Léo consegue passear com sua alma fora do corpo enquanto ajuda o policial Alex e a jornalista Mary a capturar um terrorista com o rosto quebrado. Não deixa de ser uma fantasia que mexe com o nosso imaginário. Revela-se um enredo de super-herói, bebido em “Ghost – Do Outro Lado da Vida” [1990], em que o estilo do traço é um charme à parte. [29.11.16]

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO * * ½
[The Birth of a Nation, EUA, 2016]
Drama - 120 min
Se é válida a tentativa de Nate Parker em dialogar com a obra homônima de D. W. Griffiths [1915], tal pretensão não reverbera na narrativa de altos e baixos. O realizador de longas estreante se esmera tanto em encenar a história de Nat Turner e sua rebelião contra o sistema de escravidão 30 anos antes do início da Guerra Civil Americana que desliza nos elementos que tornariam sua encenação menos artificiosa. Também protagonista e autor do roteiro, opta por uma estrutura dramática puída, arrastada, e passa por cima de detalhes na [falta de] construção credível da relação entre certos personagens e seus antagonismos. Ficam devendo a catarse a princípio esperada. Sem falar nas pistas falsas que deixa de lado. O filme passa toda a crueldade dos escravocratas e o sentimento de injustiça dos negros perante sua submissão. Nesse aspecto, impossível não se revoltar junto com Turner e justificar seu levante. Chamá-lo de brutal seria abrandar a violência, ainda mais perversa, cometida pelos brancos. Todavia, enquanto um “12 Anos de Escravidão” [2013] atinge uma força cinematográfica pela própria mise-en-scène, Parker se contenta com a obsessão pelo personagem e sua história, dando vazão a alegorias e a como – e esta é uma analogia delicada que a projeção nos leva a construir – a religião é usada para legitimar atos de terrorismo. Ao dividir opiniões, encontra ressonância no clássico de Griffiths, que de forma clara é pró-Klu Klux Klan. Não à toa, põe negros pintados de branco [D. W., como sabem, fez o contrário], ainda que possa haver ruídos nessa resposta tardia. A questão é que o “O Nascimento de uma Nação” de 100 anos atrás supera, como linguagem cinematográfica, suas falhas de percepção. O mesmo não pode ser dito desse espelho invertido. [29.11.16 – Cinemas Teresina]

A BESTA HUMANA * * * ½
[La Bête Humaine, FRA, 1938]
Drama/Suspense - 101 min

Simone Simon é a catalisadora do "desejo capaz de matar" na premente adaptação de Émile Zola realizada por Jean Renoir. O cineasta francês, que também assina o roteiro, lança mão de uma câmera elegante e afiada para se apropriar da atmosfera noir e construir sentimentos complexos nos personagens – os masculinos feitos pelo astro Jean Gabin e o belga Fernand Ledoux. E isso faz com que o enredo, mesmo com elementos reconhecíveis do gênero, nunca soe óbvio. Sobretudo na construção do triângulo amoroso e para a vala que a infelicidade dela, a femme fatale clássica, conduz a todos. A narrativa joga o tempo todo com o espectador por meio da ambiguidade plantada de maneira sagaz. Com raccords bem costurados e um som que nos lança sem desvios no universo das locomotivas, a produção consegue instigar até o última frame. Que não podia deixar de ser mais amargo. [30.11.16]

Dezembro – 26 filmes

MÃE SÓ HÁ UMA * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 82 min
Muylaert opta por se desvencilhar dos caminhos óbvios, mesmo que isso sacrifique um pouco o seu foco narrativo. Ou, quem sabe, tenha faltado mais tempo e esperteza para que o filme exalasse o impacto que fica preso na garganta, querendo sair, berrar. Mas, para a cineasta, seria desaguar no lugar-comum, deixar o esquema da estrutura tirar do espectador a oportunidade de construir seu próprio filme. Minha tendência é admirar o que ela tenta fazer. Pegar um tema primário e descamá-lo para tratar algo diferente que está ali de maneira subjacente, não intrínseca. A questão é que alguma coisa se perde pelo caminho, pois as duas histórias entrelaçadas [a ressignificação traumática de lar/família e a busca flutuante por uma identidade de gênero/sexo ou algo fora de uma única caracterização] são atraentes na mesma intensidade e mereciam, cada uma, um olhar mais penetrante. Ao trafegar por essas duas abordagens temáticas na atmosfera escolhida, a pungência de ambas se dilui. Se para alguns tal opção reitera a concisão da cinedramaturgia e realça os eventos sutis em frente à câmera, para outros frustra a falta de uma elaboração consistente em cima das temáticas tratadas. Em diversos pontos, a responsável por “Que Horas Ela Volta?” [2015], aqui referenciado, acerta ao arriscar quebrar o paradigma que se esperaria. Em outros, fica a dever. Colocar Daniela Nefussi para fazer as duas mães, a sequestradora e a biológica, talvez seja a melhor sacada de Anna Muylaert em relação ao simbolismo do título, também sujeito a diferentes formas de pensar. Fora isso, o filme se contenta com o arco dramático entre os irmãos para dar ao desfecho aberto e abrupto algum senso de resolução. No caso, o início do verdadeiro caminho a ser trilhado. [01.12.16 – Cinemas Teresina]

PUPPE * * ½
[Idem, ALE, 2013]
Drama - 89 min
A estreia de Sebastian Kutzli na direção de longas nos guia pelos detalhes e pela atmosfera nos Alpes, mesmo que precise assumir [ou ignorar] elementos frouxos do roteiro. Marie Amsler usou sua experiência como professora em acampamentos para tecer essa história de fugas e buscas por segundas chances. Tudo sob a ótima da juventude feminina, abandona e/ou delinquência. Nada muito aprofundado, mas as atuações inserem uma camada realista. E vai bem até a narrativa tentar a costura com um thriller que só traz quebra de tom e ligações forçadas. O título original, “boneca” em alemão, guarda em si diversas conotações. [03.12.16]

EU MATEI LÚCIO FLÁVIO... * * *
[Idem, BRA, 1979]
Policial - 97 min
A persona do cafajeste carismático de Jece Valadão é uma luva para o papel de Mariel Moryscötte [Mariscot na vida real] nessa crônica-resposta ao filme de Babenco, “Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia” [1977]. Com direção de Antônio Calmon, mostra o outro lado, o dos policiais, e sobretudo a criação do Esquadrão Le Cocq, espécie de tropa de elite com cartão verde para limpar sem muita diplomacia as ruas do Rio de Janeiro da bandidagem. Tanto que terminou ganhando fama com a alcunha de Esquadrão da Morte. E Mariscot foi um dos seus mais intempestivos membros. Sua obsessão em capturar o Lúcio Flávio de Paulo Ramos é a espinha dorsal de um roteiro elipsado, sem muito preocupação em ser didático. Também há a relação do protagonista com a prostituta viciada em heroína de Monique Lafond que confere ao filme sua melancólica atmosfera. A produção com Reginaldo Farias é melhor enquanto cinema de gênero e denúncia da midiatização, beirando o romântico, da figura do criminoso na época. Contudo, os méritos dessa inversão de perspectiva, como o curioso uso da trilha sonora que atribui diversos sentidos em certas sequências e o próprio apelo do anti-herói [vilão?], não o deixam passar batido, afora qualquer incômodo ao seu tom reacionário e assertivo, a começar pelo título. Na realidade, foi outro le cocquiano, Guilherme Godinho Ferreira, o Sivuca, que, ao se lançar político no início da década de 1990, propagou o bordão até hoje controverso “Bandido bom é bandido morto”. Esses precursores do capitão Nascimento... [05.12.16 – Canal Brasil|madrugada]

QUE ESTRANHO CHAMAR-SE FEDERICO * * *
[Che Strano Chiamarsi Federico, ITA, 2013]
Drama - 97 min
O tributo de Ettore Scola à carreira do amigo Federico Fellini também se desdobra no processo lúdico do cinema. O filme oscila por entre os elementos do docudrama para desfiar as memórias de Scola, no que terminou sendo seu último trabalho, com a ajuda das filhas Paola e Silvia no roteiro. Como se não fosse o bastante imprimir o afeto em cada frame, ainda colocou os netos Tommaso e Giacomo Lazotti como os jovens Fellini e Scola. À parte toda essa atmosfera familiar-nostálgica, ainda tece uma costura refinadíssima entre encenação e realidade, adicionando fotografias e imagens de arquivos com organicidade e colocando o narrador para derrubar a quarta parede nas cenas recriadas com atores. Assim, pode fazer o grande Maestro fugir do próprio velório para ficar contemplando, em paz, o imaginário que nos deixou como legado de sua genialidade. [05.12.16 – Telecine Cult]

O FILHO ETERNO * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 82 min
A adaptação da busca sesga de Cristovão Tezza pelo sentido da paternidade é um incômodo emocional quase retumbo. Claro que, na superfície de um humanismo hipócrita, rechaçar o comportamento do personagem [dramático, sim] de Marcos Veras é se refastelar na própria zona de conforto. Mas ao mesmo tempo a narrativa nos provoca com sua sinceridade cruel, como se soubesse que, numa camada não assumida, entendemos sua rejeição ao filho com Síndrome de Down. E nos debatemos em culpa por causa disso. Nada contra, seja no livro ou no filme, colocar o receptor da mensagem em lugares lamacentos, que o testam justo na natureza humana mais enraizada: o egoísmo da felicidade e a frustração quando o plano tem outros planos. Gosto do risco de um protagonista com o qual é delicado se identificar. E ter um humorista com cara de sujeito inofensivo no papel é a grande jogada do casting. Se foi a melhor escolha, quem poderia dizer? Mas ajuda na jornada de ressignificar os sentimentos de pai e aceitar o que o caminho trouxe. Esse é o sentido da obra, que opta por não facilitar qualquer empatia rasteira nessa relação. Até certa parte. A direção de Paulo Machline equilibra atores com Down, como Pedro Vinícius, com performances comoventes como a de Débora Falabella. É dela o texto que mais parece saído de um momento verdadeiro, de uma descoberta irrefreável. A cargo de Leonardo Levis, o roteiro, contudo, termina se arrefecendo em dois pontos: a estrutura cujo paralelo futebolístico com importantes derrotas do Brasil nos faz antecipar a jogada final e já cair nesse final, como se antecipando-o, logo após o mais importante ponto de virada. O qual, por mais bem intencionado que seja como peça dramatúrgica, soa como um clichezinho novelesco a imacular o que estava indo numa direção, digamos, menos óbvia. Ao menos não chega a resolver o fosso familiar cavado cena a cena. Tezza partiu de elementos autobiográficos para despir as relações parentais do sagrado altruísmo em direção ao que pulsa por si mesmo, o amor sem floreios condescendentes. Não fossem as concessões e os deslizes, o filme retumbaria com mais gravidade da porta do cinema para fora. [06.12.16 – Cinépolis Rio Poty]

A CONFISSÃO * * * *
[L’Aveu, FRA/ITA, 1970]
Drama - 130 min
A atuação de Yves Montand é tão visceral quanto a pegada enérgica de Costa-Gavras mostrando como subverter a dialética para arrancar a “verdade” que se deseja. O roteiro de Jorge Semprún reconstrói, a partir do livro de Lise e Artur London, a prisão e tortura desse último, então vice-ministro das Relações Exteriores da República da Checoslováquia, para que confesse uma falsa colaboração com o imperialismo estadunidense. Nesse calvário, vale da privação do sono à lógica sofista para arremeter o preso ao erro, muitas vezes sem nem mesmo ele se dar conta. O cineasta, que já havia denunciado as ditaduras de direita, causou polêmica ao mostrar que regimes autoritários de esquerda também podem ser – e são – cruéis e injustos. E qual totalitarismo estatal não o é, em algum nível? Somos lançados na pele do protagonista, desafiados a sentir revolta a cada cena, a cada diálogo [pos diretor e roteirista nos mantém lúcidos o percurso inteiro], e ainda sermos “presenteados” com as cartas marcadas do que foi chamado de Julgamentos de Prada, em 1952. Um pesadelo que perdura na tela com o mesmo vigor de quase 50 anos atrás. Mais atual do que nunca? Um grito corajoso contra qualquer governo que prive os cidadãos da liberdade. Em todas as suas formas. [07.12.16]

CREEPY * * ½
[Kurîpî: Itsuwari no rinjin, JAP, 2016]
Suspense - 130 min
A trama justifica o título e há mais subtextos do que se pode perceber a princípio. Por outro lado, nem tudo convence. Sim, Kiyoshi Kurosawa busca a tensão pela atmosfera e os sustos pelas reviravoltas. E como transpira a estrutura do enredo com a própria claustrofobia! Pesa o meio e demora a se libertar para o arranque final. O personagem de Teruyuki Kagawa é óbvio desde a primeira aparição, deixando o caminho livre para a narrativa explorar a sordidez de sua natureza e da forte dependência que cria nas vítimas. Não é um suspense psicológico para engolir sem estar preparado. O pior [ou o melhor] é que nunca estamos. Assim como o casal feito por Hidetoshi Nishijima e Yûko Takeuchi, cujo cotidiano na nova vizinhança logo vai descer ao inferno. De onde ninguém retorna, se retorna, da mesma forma. O que incomoda são as típicas coincidências dos subplots, cortesias do livro de Yutaka Maekawa, escarando os artifícios. Fora um ou outro exagero no tom, nos diálogos com tradução novelesca, informações que se repetem e como o psicopata aliena todo mundo e os leva a atos horrendos sem uma elaboração mais crível do ponto de vista dramático. A concisão cinematográfica tem desses detalhes. Talvez seja apenas eu sendo mais clínico [chato, bem capaz] do que deveria. A crítica em geral tem elogiado essa montanha-russa de sensações. Quem sabe numa próxima visita eu me permita fazer o loop com os braços erguidos. [08.12.16 – Cinemas Teresina]

ALMAS REENCARNADAS * * *
[Rinne, JAP, 2005]
Terror - 96 min
Shimizu explora os diversos níveis da premissa, inclusive com metalinguagem. Ao evitar “jump scares”, oferta calafrios. Takashi Shimizu estava entre as refilmagens de “O Grito” [2002] e sua sequência quando realizou esse trabalho em cima da temática reencarnação com ecos de “O Iluminado” [1980]. Colocar a protagonista como uma atriz que fará o papel de uma menininha que foi assassinada pelo pai, junto a outras dez vítimas, é um bom jeito de fisgar a atenção do espectador logo no primeiro terço da história. Sobretudo quem se deixa seduzir pela estrutura do filme dentro filme, mostrando os bastidores de uma produção. A sequência de eventos entrelaça realidade objetiva, subjetiva e encenada, e às vezes não parece linear. Também não arredonda todas as pontas, e aí vai de cada um gostar ou sentir que há um furo ou outro. Tendo a ficar dividido, mas prefiro assim do que comida em lata. Óbvio que o filme termine evocando elementos-fetiches do terror japonês, cabelos cobrindo o rosto, espíritos vingativos, são coisas atraentes demais por lá. Como são o sexo e a violência por aqui. O que se sobressai é a maneira como o filme consegue usar tais artifícios e exposições para desviar nosso olhar da pequena surpresa no final. O instante da revelação em si [na verdade um pouco antes] talvez pudesse ter sido mais sutil, a montagem paralela teria dado conta sozinha. Um deslize, contudo, que não mancha tanto assim a carpintaria total. Ou pelo menos sua intenção. [10.12.16]

O MISTÉRIO DE GOD'S POCKET * * *
[God’s Pocket, EUA, 2014]
Drama - 89 min
Um retrato atmosférico da classe trabalhadora do subúrbio estadunidense que vagueia por entre a melancolia e a violência banal, institucionalizada. O inexplicável título nacional conduz o espectador ao erro nesse que seria um dos últimos trabalhos de Philip Seymour Hoffman. Estreia na direção de longas do ator John Slattery [o Howard Stark do Universo Cinematográfico Marvel], trata-se de um olhar voltado para os personagens que habitam esse bairro, God’s Pocket, e suas relações de pertencimento. O enredo, adaptado do livro escrito por Peter Dexter nos anos 1980, gira em torno dos preparativos para o velório do enteado de Hoffman. Apenas um pretexto para descamar histórias paralelas sobre os impulsos humanos de solidão e como isso reverbera, de alguma maneira, no coletivo. De duração enxuta, traz bons diálogos e atuações “cansadas”, num sentido dramático que casa com a passarela na qual os personagens se esbarram. Um filme para ser sentido. [11.12.16]

SNOWDEN: HERÓI OU TRAIDOR * * * *
[Snowden, FRA/ALE/EUA, 2016]
Drama - 135 min
Oliver Stone mira sua narrativa de investigação sobre o despertar do ex-analista da NSA para expor uma “verdade inconveniente”. Eufemismo máximo, por isso as aspas. Depois de Richard Boyle, Ron Kovic, Jim Morrison, Kennedy, Nixon, Bush, Fidel Castro, Hugo Chávez, sem falar nos roteiros sobre Billy Hayes, Evita, entre outros, agora é Edward Snowden a figurar na lista de pessoas reais e nada unânimes retratadas pelo cineasta de uma maneira ou de outra. Snowden revelou ao mundo em 2013 a sistemática vigilância eletrônica do governo dos Estados Unidos em cima de... todo mundo, qualquer pessoa com “vida online”. Já rendeu um documentário premiado, “Citzenfour” [2014] – são os bastidores desse que dão o estalo aqui, a pergunta inicial do jornalista Glenn Greenwald [Zachary Quinto] refeita pela documentarista Laura Poitras [Melissa Leo], o que de cara diferencia a natureza do trabalho de cada um – e debates acerca dos limites éticos da segurança nacional. Hoje é um apátrido vivendo em asilo político na Rússia. O cerne do filme é mostrar, em ritmo de thriller de espionagem, a transformação paulatina de um Snowden patriota efusivo rumo à crise ética-moral que o fez trair o próprio país. E isso a narrativa constrói, de uma forma muita precisa, entre planos de câmera que vão se rendendo à paranoia orwelliana, inclusive há uma cena de videoconferência que remete a “1984”, e a caracterização modulada de Joseph Gordon-Levitt. Nossa atenção se divide na emulação do ator, na energia de um Stone em seus melhores dias e no modo como a vigilância em massa se processa e gera consequências na percepção do cotidiano, do que seria trivial acabar sendo uma prova contra nós mesmos. Privacidade? Esqueça, como também alertou a série “Black Mirror”. É difícil escrever sobre tudo isso sem olhar para a webcam do laptop e não pensar que alguém, se assim o quiser, pode me assistir neste exato instante, quase num metamomento digno de um Kafka-Orwell. Preciso abstrair para terminar o texto e sair logo da frente do computador. Volto ao filme. Se há problemas estruturais, é nunca questionar as boas e ingênuas intenções do protagonista, que sacrifica a vida pessoal por um sentimento altruísta e desinteressado. Faz-se necessário que Stone insira uma doença e conflitos com a namorada [Shailene Woodley] para que saibamos que Edward Snowden é um ser humano, não um herói mitológico, um fugitivo da Caverna de Platão. Também coautor do roteiro, o diretor deixa claro logo nos primeiros segundos que iremos assistir a uma “dramatização dos eventos”, algo que será justificado no desfecho. Quando, num movimento de câmera elegante, Gordon-Levitt cede lugar ao verdadeiro Snowden e o filme brinca com o docudrama. O fato de não estranharmos, no sentido negativo, essa transmutação vem da montagem já ter inserido o sujeito de forma sutil pouco antes e da confiança de Oliver Stone na performance do seu ator principal. Uma ousadia que comprova os méritos da obra mais politizada do diretor em anos. [11.12.16]

CANÇÃO DA VOLTA * *
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 98 min
Fora alguns deslizes da direção iniciante de Gustavo Rosa de Moura, o filme vai bem enquanto é consciente da espinhosa temática inicial, o olhar para o desarranjo familiar após a tentativa de suicídio da mãe/esposa. Quando deixa isso de lado, com uma subtrama de ciúme do marido e outras questões que nunca ficam claras, a narrativa se perde quase por completo. Até esse ponto de virada radical, e que se revela inconsistente, trata-se de um promissor estudo do desconforto, focado mais no personagem de João Miguel. A atmosfera escura, carregada, tenta elaborar a depressão de Marina Person e como os membros da família são afetados. Mas nunca escarafuncha além do psicologismo superficial. Moura ainda é um diretor pesado e vários de seus planos de conjunto aberto revelam um elenco atarantado, fake, tentando não descuidar da marcação e em manter o tom preso numa nota baixa. É, de fato, uma mise-en-scène sofrível. Sua opção de impor uma trama desvia nossa atenção, como um truque de mágica barato. E que não leva a nenhum lugar. João Miguel vai na onda emocional de seu personagem e Francisco Miguez muda de postura de uma hora para a outra. Marina Person, por sua vez, se esforça para passar substância, mas mostra apenas a casca vazia, o nível mais propagandeado da doença que acomete mente e alma ao mesmo tempo. E Moura não resiste à alegoria da família perguntando por ela em voice over sobre os cômodos desabitados até de mobília. Tivesse ao menos continuado nessa linha, poderia ter desaguado num banho de mar [sempre esse clichê] mais catártico. [12.12.16 – Cinemas Teresina]

O BEBÊ DE BRIDGET JONES * * ½
[Bridget Jones’s Baby, IRL/GB/FRA/EUA, 2016]     
Comédia romântica - 123 min
Não espere que a protagonista por fim amadurecerá com a expectativa de ser mãe. E essa é a graça aqui. O terceiro filme da série traz de volta a diretora Sharon Maguire, de “O Diário de Bridget Jones” [2001], o que significa a manutenção da atmosfera com a qual o público se encantou há 15 anos. Como sempre, a criadora da personagem, Helen Fielding, coassina o roteiro ao lado, dessa vez, de Dan Mazer e Emma Thompson, responsável pela lapidada final. Como sempre também, começa com Jones a lamentar sua idade e solteirice – ao som, claro, de “All by Myself” – até mudar a música, fazer novas resoluções em seu diário/ipad só para se ver na trincheira entre dois pretendentes, qualquer um pode ser o pai do seu futuro bebê. Nada de originalidade no pós-apocalipse criativo, eu sei, mas o texto contorna isso com boas piadas e mostrando que Bridget continua mestra na arte de passar vergonha a si mesma. Ao invés do Daniel Cleaver de Hugh Grant, Mr. Darcy [Firth] disputa com o americano Jack, feito por Patrick Dempsey – hoje mais conhecido pelo papel na série “Grey’s Anatomy” do que, no meu tempo, “Namorada de Aluguel” [1987] ou “Loverboy – Garoto de Programa” [1989]. O tempo é uma coisa, hein? Que o diga Renée Zellweger, antes “dream date” e agora difícil de saber se é ela mesmo depois de tanta cirurgia facial. Ainda bem que Bridget Jones nos dá uma mãozinha ao manter sua essência. Faltou estar num filme com desfecho corajoso. [13.12.16 – com Lívia]

O SEU JEITO DE ANDAR * *
[Barefoot, EUA, 2014]
Comédia romântica - 89 min
Por mais que simpatizemos com os personagens e o romance tenha apelo, o roteiro se atropela do meio para o fim. Chega a parecer o rascunho de uma boa ideia. Mas não é. Trata-se do remake de “Barfuss” [2005], comédia romântica alemã dirigida por Til Schweiger. Inclusive, o roteirista Stephen Zotnowski é o autor do argumento original. Algo se perdeu na tradução. O primeiro ato cativa, sobretudo por ter Evan Rachel Wood no elenco. Os outros dois soam apressados, numa indulgência para chegar logo ao desfecho. Por quê? Só faz com que a química dela com Scott Speedman nem consiga se desenvolver sem ocultar os artifícios do gênero. O diretor Andrew Fleming conhece o terreno onde está pisando. Tanto que a atmosfera ajuda, e muito. Não é suficiente, porém. [14.12.16]

ROGUE ONE – UMA HISTÓRIA STAR WARS * * *
[Rogue One, EUA, 2016]
Ficção - 134 min
O despertar aqui é de ordem política, a qual com frequência deriva da transformação pessoal que leva alguém a abraçar o sacrifício em prol de uma causa coletiva. Esse subtexto, a atuação no processo político-revolucionário e o impulso que deve emanar de cada um, está embutido no arco dramático de Jyn Erso, a protagonista feita por Felicity Jones nesse primeiro, e bem resolvido, spin-off da saga criada por George Lucas. Uma saga com essência politizada, repare. Não à toa, o filme com direção de Gareth Edwards [“Monstros”, 2010] está sendo percebido como o mais adulto da franquia até agora. Ao contrário dos episódios oficiais, esse pode levar suas ações às últimas consequências. Inclusive, como muitos também já apontaram, consegue ressignificar todo o Episódio IV, o “Star Wars” original de 1977, dando-lhe peso referente e ao mesmo tempo espírito de ressaca. Edwards não apenas se desprende do cânone gramático-visual, como a ausência das transições em cortina, o resumo inicial à la “space opera”, mas brinca com isso de forma esperta. Basta ver o primeiro plano do filme e seu movimento contrário ao que estamos acostumados. A brincadeira prossegue em momentos pontuais. Por conta disso, assume mais riscos do que as outras produções. A maneira como o score de Michael Giacchino “dialoga” com os temas de John Williams é um exemplo. Se a princípio possa haver estranheza e desconfiança sobre ser um derivado autêntico dessa “galáxia muito, muito distante”, tais sensações são minadas no decorrer da projeção. As referências plantadas ancoram a produção na linha cronológica sem grandes tropeços, e não vou estragar as delícias para quem não assistiu. Por outro lado, ouso dizer que a participação de Darth Vader não é uma mera homenagem como se poderia esperar. Embora apareça pouco – o vilão é mesmo o Orson Krennic de Ben Mendelsohn –, tem a presença marcada com toda a pompa que merece. Além disso, protagoniza a cena que faz com que os esforços da Aliança Rebelde em roubar os projetos da Estrela da Morte deixem de ser uma mera linha introdutória para se converterem quase numa tragédia grega. Trata-se de um filme que cresce aos poucos, até o ponto em que nos importamos com toda a trupe, do Cassian Andor de Diego Luna ao androide K-2SO, o alívio cômico que faz as vezes de C-3PO ao reverso. São esses personagens que extrapolam a estrutura de “heist movie” e nos ensinam o sentido do altruísmo heroico. E como isso, antes um detalhe narrativo, parece renovar uma história que está sendo contada há quatro décadas. [15.12.16 – Cinemas Teresina]

SULLY – O HERÓI DO RIO HUDSON * * *
[Sully, EUA, 2016]
Drama - 96 min
Pegando a deixa do personagem-título, Clint Eastwood não perde o foco do fator humano por trás de uma façanha da aviação. Em 15 de janeiro de 2009, o voo comercial US Airways 1549 foi atingido por um grupo de gansos-do-canadá logo após decolar do LaGuardia, em Nova York, e teve que fazer um pouso forçado... nas águas do rio Hudson. O roteiro de Todd Komarnicki entrecorta o feito em si, sob vários pontos de vista, com as investigações acerca se o comandante [Tom Hanks] tomou a atitude mais acertada e alguns flashbacks da juventude do protagonista. Necessário dizer a não necessidade desses últimos? Não no resultado final do filme, em termos dramáticos. O ponto alto é o questionamento, a desconstrução do ato nas dúvidas do próprio Sully enquanto buscam uma resposta. E que resposta? Não é suficiente o sujeito ter salvado a vida de 155 pessoas, fora aquelas que tombariam caso o avião caísse por entre os prédios nova-iorquinos? Embora, ao final, o cineasta escancare uma abordagem propagandística do “milagre do Hudson” para garantir o diálogo com o público de lá e deixe de discutir a fundo uma infinidade de assuntos, gosto da busca por uma direção sem floreios, um intimismo narrativo voltado aos personagens. Dá espaço para Hanks entregar uma performance que quase se pode apalpar, mesmo se você achá-lo um tanto arrogante em sua maneira de se impor. É o risco da contradição que o ator assume. E não é a coisa mais difícil do mundo deixar-se convencer por Tom Hanks e suas escolhas. Não mais do que acreditar no que aconteceu naquele 15 de janeiro. [16.12.16 – Cinemas Teresina]

PERFEITA É A MÃE! * * ½
[Bad Moms, EUA, 2016]
Comédia - 100 min
Bom ter duas coisas em mente: senso de humor não é pecado e rotina de mãe enlouquece qualquer um. Inclusive ela. Claro que a dupla Jon Lucas e Scott Moore exagera, seguindo a atual cartilha da comédia estadunidense, a ofensiva de apelo adolescente. O resultado, por incrível que pareça, não soa ruim. Isso se o espectador filtrar os pontos mais ou menos inspirados da narrativa e achar válida a essência da produção. Dá para rir refletindo que a maternidade representa e apresenta na sociedade pós-temporânea. [19.12.16 – madrugada]

SING – QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA * * *
[Sing, EUA/GB, 2016]
Animação - 108 min
Com uma seleção musical que atira para todos os gostos e arcos dramáticos que edificam, seria difícil algo sair errado. Sem falar nas referências, do teatro ao cinema, passando pela televisão. Garth Jennings [“O Guia do Mochileiro das Galáxias”, 2005] é feliz na estrutura que consegue fazer de todos os personagens protagonistas do enredo e trabalhar cada um. Simpatizamos com todos, mesmo aqueles que não são os melhores exemplos de caráter. A narrativa de câmera tem um dinamismo que conecta as histórias e colabora para o ritmo-timing. As crianças crescidas vão pescar camadas de leitura insuspeitas para uma animação. Ah, sim, há cenas-gags-piadas que transcendem a diferença de idades. O palco-tela contagia, nesse que, por trás de tudo, é um ode ao trabalho do produtor. E dos talentos que ele descobre. Cante! [20.12.16 – Cinemas Teresina]

ABLUKA * * ½
[Idem, FRA/QAT/TUR, 2015]
Drama - 115 min
Nessa distopia turca, o diretor/roteirista Emin Alper sustenta nosso interesse ao mexer na percepção cronológica da narrativa e do que seria ou não real. Para nós e para os personagens. Dois irmãos que se reencontram numa Istambul assolada por terroristas e cachorros doentes após um deles ser solto mais cedo da prisão para servir como espião do governo. Alper, em seu segundo filme, nos conduz por camadas sutis de desejo, solidão e família que desaguam num viés psicológico. Talvez muitas perguntas fiquem no ar, mas dá para sentir a segurança de algo sério sendo contado. Vai depender de quem assiste. [21.12.16]

SIERANEVADA * * * ½
[Idem, ROU/FRA/BIH/CRO/MK, 2016]
Drama/Comédia - 173 min
Cristi Puiu aponta sua “narrativa do cotidiano” para o microcosmo familiar, com um ritmo de imersão e uma câmera que observa os personagens por trás de molduras naturais. Carros, assentos, escadas e, sobretudo, portas abertas, semiabertas e entreabertas. À espera do padre para a celebração de morte do patriarca, entram, saem, conversam sobre terrorismo, política, religião, ideologia e os problemas dos membros da família. Cebola essa que, pouco a pouco, é descascada, no velho pensamento “família boa é a do vizinho”. Todas são iguais, eu digo, prestes a implodir se formos desatentos. Família é drama e alegria, um ensaio da sociedade. A Romênia ainda lida com os ecos do regime de Nicolae Ceausescu [1965-1989] e, no cinema, a Nova Onda Romena não está livre deles tampouco. A geração atual é sempre, de uma ou outra forma, uma resposta a anterior. Os paralelos podem, ou não, ser encontrados tanto em chaves dramáticas quanto na postura geral da narrativa. Essa é longa, verdade, mas nunca chega a cansar se você olha para o trivial buscando o épico do absurdo no comportamento humano. [22.12.16 – Cinemas Teresina]

MORRENDO DE MEDO * * *
[Scared Stiff, EUA, 1953]
Comédia/Musical - 108 min
O próprio George Marshall refilma seu "O Castelo Sinistro" [1940], e a dupla Dean Martin/Jerry Lewis dança e canta com Carmen Miranda. No que seria o último filme da “pequena notável”, falecida em 1955. Ela, inclusive, faz uma introdução dos protagonistas em português e Lewis se traveste dela para “Mamãe, Eu Quero” com a vitrola enganchando a todo instante. Apesar da fonte, o filme se desenvolve [enrola?] mais no percurso até o suposto castelo assombrado em Cuba, todas as trapalhadas da jornada, colocando as melhores tiradas, como de hábito, na boca de Lewis. E não pisque na participação “esquelética” de outra dupla: Bing Crosby e Bob Hope. Retribuindo nada menos que um favor. [25.12.16 – Telecine Cult]

BACALAUREAT * * *
[Idem, ROU/FRA/BEL, 2016]
Drama - 122 min
Mungiu flerta com o moralismo, e escapa dele, ao estudar como um ato desonesto se alastra, sai do controle – mesmo bem intencionado. E afeta todos os que estão mais próximos. Afeta, inclusive, o próprio caráter, a percepção dele? A atuação de Adrian Titieni lança mão de nuances que tornam difícil julgar seu personagem sem o impulso de tentar entendê-lo ou apenas rejeitar suas motivações. O romeno por trás de “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” [2007] faz uma narrativa-espelho que, queiramos ou não, vai além de uma simples diluição ética; desfia um novelo mais emaranhado da própria sociedade [não por acaso denuncia os médicos que recebem por fora], do oportunismo do dar-se bem. Sobretudo quando esse atalho imoral encontra justificativa numa tragédia, como ser atacada, quase estuprada, um dia antes dos exames finais da vida escolar. Cujas notas são cruciais, lá, para garantir a bolsa de estudos conquistada para a faculdade. O tema é provocativo porque, num ou noutro momento da vida, já nos pegamos em situações similares, nas quais perdemos o conceito monocromático da “coisa certa”. Cristian Mungiu trabalha o enredo em gradações: o que a princípio parece um pedido sensato leva a outros favores até mesmo criminosos. Passo a passo, o protagonista atravessa zonas cinzentas, até o ponto do total comprometimento. Sem usar trilha sonora até os créditos finais, o cineasta dividiu com Olivier Assayas o prêmio de direção no último Festival de Cannes. [25.12.16]

AMERICAN HONEY * * *
[Idem, GB/EUA, 2016]
Drama - 163 min
Um road movie pela "América profunda" e seus sonhos longínquos, muitas vezes – e cada vez mais – difíceis de alcançar. Sejam simples e/ou bucólicos. A busca interna, o “coming to age”, exige concessões a si mesmo. Andrea Arnold nos transforma em passageiros dessa jornada, sem que isso implique termos personagens palatáveis como companhia. Pelo contrário. São críveis, portanto com falhas e contradições. Ora divertidos, frágeis, patéticos. O “american way of life”, sobretudo o das cidades pequenas, escancaram seus pontos-gatilhos. [27.12.16]

BO * *
[Idem, BEL, 2010]
Drama - 89 min
O belga Hans Herbots apenas raspa a superfície emocional do que prenunciamos acerca do arco dramático da jovem protagonista. [28.12.16 – madrugada|pré-viagem Bahia]

A TORTURA DO MEDO * * * *
[Peeping Tom, GB, 1960]
Suspense - 101 min
Powell entrelaça o próprio processo cinematográfico ao estudo quase psicanalítico do protagonista. O roteiro de Leo Marks adota a perspectiva do psicopata feito pelo alemão Karlheinz Böhm para elaborar trauma infantil, expressão do medo [que o título nacional entrega] e voyeurismo [que o título original sugere]. Sem o parceiro Emeric Pressburger – eles se alcunhavam The Archers –, Michael Powell discute esses temas, principalmente o último, no papel do cineasta, de sua busca ao enquadrar, iluminar e mover a câmera. Coisas que orquestra aqui com precisão hitchcockiana. Isso na mesma época em que Hitch dava ao mundo “Psicose” [1960]. Muitos colocam ambos os filmes numa análise de contrabalanço. Se é uma resposta, que pergunta precisa alguém deve ter feito! Vale ainda com estudo de direção e fotografia, cada movimento existe para revelar uma nova informação. Fincher é o maior discípulo atual desse método. Afora a atmosfera mantida a cálculo matemático, pela primeira vez populariza a câmera subjetiva como ponto de vista do assassino. Através de sua 8mm e seu tripé mortal perfurando camadas que vão além do gênero e da metalinguagem proposta. Filmes não são cults à toa. [28.12.16 – Salvador-BA|resort IberoStar]

EIS OS DELÍRIOS DO MUNDO CONECTADO * * * ½
[Lo and Behold, Reveries of the Connected World, EUA, 2016]
Documentário - 98 min
Herzog busca, reflete, se espanta com as maravilhas e, sobretudo, os pesadelos do mundo pós-advento da internet. [30.12.16 – Salvador-BA|resort IberoStar]

DEPOIS DA TEMPESTADE * * * ½
[Umi yori mo mada fukaku, JAP, 2016]
Drama - 118 min
Koreeda constrói uma atmosfera honesta para mostrar um protagonista em busca de algo que já [se] perdeu. | shoshimingeki filmes [31.12.16 – Salvador-BA|resort IberoStar]

Curtas – 23

PAPER WORLD * * *
[Idem, HUN, 2013]
3 min
Bastam três minutos para um microcosmo de papel mostrar que todas as coisas, as boas e as más, estão conectadas. [12.01.16]

WORLD OF TOMORROW * * *
[Idem, EUA, 2015]
16 min
Em seu primeiro curta de animação feito digitalmente, Don Hertzfeldt compartilha um vislumbre frio do futuro. [14.01.16]

THE PRESENT * * * ½
[Idem, ALE, 2015]
4 min
Jacob Frey mira, e acerta, nos insensíveis corações desprevenidos nessa curtíssima narrativa sobre auto-aceitação. [01.02.16]

12 CIGARROS & UMA BALADA INACABADA * * ½
[Idem, BRA/PI, 2016]
25 min
A angústia de quem deseja "chegar lá" pela arte impressa tanto no conteúdo quanto na própria feitura do curta. [18.02.16 – Casa da Cultura]​

SAILOR * * ½
[Idem, BRA, 2014]
 min
O natalense Victor Ciríaco usa a figura arquetípica do marinheiro para abordar a fugacidade das relações contemporâneas. [19.03.16 – Canal Brasil]

ALGUM LUGAR NO RECREIO * * *
[Idem, BRA, 2014]
23 min
Caroline Fioratti usa o microcosmo do intervalo no colégio para expor o não pertencimento típico juvenil. Além de quebrar certos paradigmas. [02.04.16 – Canal Brasil]

CRÔNICAS DO MEU SILÊNCIO * * * ½
[Idem, BRA, 2015]
9 min
A excelente sacada de Beatriz Pessoa nos coloca na vivência mais íntima da violência contra a mulher [a alma quebrada, o desencontro que fica dela com o mundo à sua volta], obrigando o olhar a um cruel imaginário diegético do machismo nosso de cada dia – infelizmente muito real. [29.05.16 – YouTube]

PIPER – DESCOBRINDO O MUNDO * * *
[Piper, EUA, 2016]
6 min
Alan Barillaro mostra que derrotar o medo traz a conquista da independência nesse curta de animação com um fotorrealismo em 3D impressionante. [30.06.16 – Cinépolis Rio Poty]

DEIXA A CHUVA CAIR * * *
[Idem/Let’s the Rain Falls, BRA, 2016]
26 min
Juscelino Ribeiro Jr. confere uma pegada pop e incisiva para mostrar o rap de Preto Kedé e seu trio A Irmandade como válvula de expressão e, sobretudo, instrumento de transformação da realidade. [06.07.16 – Teatro 4 de Setembro, Abertura Parada de Cinema]

SARAH: MENINA DE OURO * * *
[Idem, BRA, 2016]
26 min
Embora com foco na figura da judoca campeã olímpica [até por ter sido feito para a ESPN], há uma tentativa de olhar de perto a pessoa por trás. [10.07.16 – ESPN]

ESTÁTUAS VIVAS * * ½
[Idem, BRA, 2013]
14 min
Tentativa poética de mostrar o processo por trás do estatuísmo e de que maneira essa arte de rua reverbera nas pessoas. [27.07.16 – Canal Brasil]

THE LAUGHING MAN * * *
[Idem, EUA, 2016]
20 min
Os irmãos Hallivis concebem uma sombria visão, de fãs assumidos, em cima dos personagens Coringa e Arlequina. [07.08.16 – YouTube]

DOCEAMARGO * *
[Idem, BRA, 2009]
16 min
É perceptível que a ideia do curta escrito e dirigido por Rafael Primot é mais atraente do que o resultado-título. [22.08.16 – Canal Arte 1]

MINIONS JARDINEIROS * * ½
[Mower Minions, EUA, 2016]
4 min
Uma divertida desculpa de quatro minutos apoiada no carisma das criaturinhas amarelas e suas já idiossincráticas gags. [30.08.16 – Cinemas Teresina]

SO MUCH FOR SO LITTLE * * ½
[Idem, EUA, 1949]
10 min
Chuck Jones, num curta-doc animado primeiro ganhador do Oscar, é incisivo e panfletário em prol do healthcare USA pós-Segunda Guerra. [25.09.16 – YouTube]

THE MASTER! * * ½
[Idem, EUA, 2016]
 min
A divertida sacada do curta Lego é a estrutura como trailer o tempo todo interrompido por um inusitado personagem. [28.09.16 – Cinépolis Rio Poty]

O ASSASSINADOR * * ½
[Idem, BRA, 2016]
12 min
AJosé faz uma versão personalíssima e autorreferente da lenda-maldição piauiense de Crispim "Cabeça de Cuia". [28.09.16 – YouTube]

QUANDO PAREI DE ME PREOCUPAR COM CANALHAS * * *
[Idem, BRA, 2015]
15 min
Com texto esperto, coloca Matheus Nachtergaele a personificar a atual crise política se transformando em angústia existencial. [08.10.16 – Casa da Cultura]

BORROWED TIME * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
7 min
Um curta animado com atmosfera adulta, carregada, melancólica, trazendo as lembranças e a culpa como temáticas. [21.10.16 – YouTube]

A DANÇA DOS ESQUELETOS * * *
[The Skeleton Dance, EUA, 1929]
6 min
Com trilha arranjada por Carl Stalling [mais lembrado pelos desenhos da “Looney Tunes”], é o próprio Walt Disney quem dirige o primeiro – e “macabro” – dos 75 curtas animados musicais da série Silly Symphonies [1929-1939]. [02.11.16 – YouTube]

O DUPLO * * * ½
[Idem, BRA, 2012]
25 min
O mito do Doppelgänger é o mote para Juliana Rojas exercitar/subverter os elementos de horror no realismo fantástico. [07.11.16 – Canal Brasil, madrugada]

OS HERÓIS DE SANJAY * * *
[Sanjay’s Super Team, EUA, 2015]
7 min
Patel experimenta, em curta, um diálogo lúdico entre os mitos da religião hindu e a atual febre dos super-heróis. [25.12.16 – Telecine Premium]

THE CRUSH * * ½
[Idem, IRL, 2010]
15 min
A frustração do primeiro amor leva o jovem protagonista, filho do diretor/roteirista Michael Creagh, às últimas consequências nesse curta irlandês indicado ao Oscar. [31.12.16 – YouTube, Salvador|IberoStar]

Séries – 20 temporadas

MAKING A MURDERER * * * *
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
Essa série documental de Moira Demos e Laura Ricciardi denuncia, de forma desconcertante, as falhas e vulnerabilidades corruptivas do sistema judiciário estadunidense. Acompanhando de perto o impressionante caso de Steven Avery, a narrativa nos obriga a sairmos da indiferença perante a terrível condução do processo no mínimo tendencioso. Além de testemunhar como os erros da justiça cega [em seu pior sentido] podem destruir todos os envolvidos, direta ou indiretamente. [07-08.01.15 – Netflix]

MR. ROBOT – 1ª temporada * * ½
[Mr. Robot – Season One, EUA, 2015]
10 episódios
Os ecos de "Clube da Luta" [1999], tanto temáticos quanto estruturais, atravessam os 10 episódios dessa série sobre terrorismo cibernético. [19-24.01.16]

THE JINX: THE LIFE AND DEATHS OF ROBERT DURST * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
279 min [6 capítulos]
Quase é possível criar empatia com a falta de sorte de Robert Durst. Os desdobramentos dessa minissérie documental dirigida por Andrew Jarecki são chocantes. [20-21.02.16]

HOUSE OF CARDS – 4a temporada * * * *
[House of Cards – Season Four, EUA, 2016]
13 episódios
Da metade para o final é quase impossível tomar fôlego. Provavelmente a temporada mais empolgante desde a primeira. Embora haja ecos dramáticos e tenha a crise conjugal como espinha dorsal, tudo se justifica a partir do sexto episódio. E daí para frente, a narrativa só surpreende, caprichando nas artimanhas políticas e no viés do jornalismo investigativo. Fora o fato de Kevin Spacey e Robin Wright, que dirige quatro episódios, estarem tão à vontade na pele de seus personagens a ponto de parecerem feitos sob medida. Se quando separados o estrago é notório, juntos então... Mesmo com o cerco se fechando, são capazes de cruzar limites [e eles existem?] para segurar o poder. [06-08.03.16 – Netflix]

DEMOLIDOR – 2a temporada * * ½
[Daredevil – Season Two, EUA, 2016]
13 episódios
Melhora em relação à primeira temporada, mas, ao tentar amarrar todos os elementos, o nó não fica tão firme assim. [19/26-27/31.03.16 – Netflix]

VINYL – 1a temporada * * *
[Vinyl – Season One, EUA, 2016]
10 episódios
T01E01 – Martin Scorsese injeta todas as substâncias, boas e más, do rock'n'roll dos anos 1970 nesse piloto de [quase] duas horas. [15.02.16 – HBO, madrugada]
T01E02 – O texto cheio de referências assinado por Terence Winter e a seleção musical produzida por Mick Jagger são os pontos altos. [21.02.16 – HBO]
T01E03 – Nem sempre lapidar demais, anulando toda a essência crua, torna a coisa mais atrativa – seja artística ou comercialmente. [29.02.16 – HBO]
T01E04 – Colocar Lester Grimes como "agente" da banda de Kip Stevens talvez tenha sido o movimento mais forçado do enredo até agora. [06.03.16 – HBO]
T01E05 – A qualidade da produção tenta disfarçar o quanto os roteiros dos episódios parecem arrastados. A serie se move lentamente. [15.03.16 – HBO Plus]
T01E06 – Modo rock'n'roll on: Richie Finestra surtado, Devon nua, David Bowie centrado, Andy Warhol mimado... A atmosfera é ótima. [22.03.16 – HBO Plus]
T01E07 – Obcecado com o número 18, Finestra vai a Las Vegas só para ser derrubado por um Elvis decadente e perder tudo o que não podia. [27.03.16 – HBO]
T01E08 – O pot-pourri aula de Grimes vale mais do que Devon jogando um "mereré" em cima de John Lennon e May "the lost weekend" Pang. [03.04.16 – HBO]
T01E09 – Para Richie Finestra, a pressão vem de todas as direções com força total. E sem ao menos uma "carreirinha" para desopilar. [11.04.16 – HBO]
T01E10 – Um desfecho redondinho com roteiro de Winter, apelando para alguns clichês rockers, mas mantendo bem o espírito setentista. [18.04.16 – HBO]

BETTER CALL SAUL – 2a temporada * * *
[Better Call Saul - Season 2, EUA, 2016]
10 episódios
T02E01 – Começa tão logo de onde parou na temporada anterior. Jimmy, com crise existencial, flerta com seu lado "ensaboado". [16.02.16 – Netflix]
T02E02 – A ética e a moral vão se afrouxando para o pré-Saul Goodman. Mas quem rouba a cena é Banks com o seu icônico Ehrmantraut. [24.02.16 – Netflix]
T02E03 – Jimmy até deseja agir 100% correto, por um ou dois segundos. A referência a "Crepúsculo dos Deuses" é excelente. [01.03.16 – Netflix, Guabes]
T02E04 – Desculpa, Jimmy. Você pode ser um personagem divertidíssimo, mas competir com Mike Ehrmantraut é ser nocauteado fácil. [11.03.16 – Netflix]
T02E05 – Para todos os méritos, um episódio centrado na Kim Wexler feita por Rhea Seehorn. Merece. Pior nunca do que tarde. [19.03.16 – Netflix]
T02E06 – À parte a ótima introdução, Jimmy parece mais coadjuvante da própria série do que nunca nesse episódio burocrático. [25.03.16 – Netflix]
T02E07 – E então Jimmy resolve tomar a atitude mas estúpida e sábia de todas: ser ele mesmo? Isso, meu amigo, ninguém paga. [03.04.16 – Netflix]
T02E08 – Nos bastidores da advocacia, o poder nunca será inocente. É um puxando o tapete do outro sem o menor constrangimento. [09.04.16 – Netflix, madrugada]
T02E09 – As ações de Jimmy e Mike podem ter suas motivações justificáveis, mas ambas se cruzam nas consequências extremas. [21.04.16 – Netflix]
T02E10 – Ah, a consciência e suas recaídas! Nenhum dos protagonistas escapam desse ótimo cliffhanger pra próxima temporada. [21.04.16 – Netflix]

GAME OF THRONES – 6a temporada * * * *
[Game of Thrones – Season Six, EUA, 2016]
10 episódios
T06E01 – Acompanhando a morte do Lorde Comandante da Patrulha da Noite, a atmosfera lúgubre domina nosso retorno a Westeros. [24.04.16 – HBO]
T06E02 – Entre mortes e ressurreições, difícil é comprar o "pico do estirão" de Bran Stark e não saborear as tiradas de Tyrion. [01.05.16 – HBO]
T06E03 – O retorno de Jon Snow de certo instiga questões sobre o seu período de não existência e quem retornou mesmo de lá. [08.05.16 – HBO]
T06E04 – Há reencontros e guerras tramadas. Mas somente Khaleesi demonstra na prática porque é mesmo fogo. Sem se queimar. [15.05.16 – HBO, com Manel]
T06E05 – Hodor. Difícil não se comover com a ressignificação do nome e todas as conexões metafísicas, e afetivas, que evoca. [22.05.16 – HBO]
T06E06 – Na ressaca do episódio anterior, aproveita para movimentar alguns núcleos mornos, como a desconfortável volta ao lar de Samwell Tarly. [29.05.16 – HBO]
T06E07 – Nesse trailer do próximo episódio, o Cão de Caça ressurge, Jon tenta arregimentar seu exército e mais um Stark é esfaqueado. [05.06.16 – HBO]
T06E08 – Bastam uma sequência de perseguição e uma referência a "The Godfather" para animar mais do que a aguardada escolha de Cersei. [12.06.16 – HBO]
T06E09 – Por mais que o episódio da claustrofóbica Batalha dos Bastardos seja excitante, não se pode dizer que surpreenda de fato. [20.06.16 – HBO]
T06E10 – Ótima direção de Miguel Sapochnik, da tensão absurda da sequência inicial à beleza do corte que revela a origem de Jon Snow. [26.06.16 – HBO]

STRANGER THINGS – 1a temporada * * *
[Stranger Things – Season One, EUA, 2016]
8 episódios
A atmosfera anos 1980 é saborosa em seu recheio de referências nostálgicas. O enredo, porém, funciona melhor enquanto sabemos pouco sobre o que se trata. A série criada pelos irmãos Matt e Ross Duffer bebe nas fontes corretas [Spielberg, Stephen King...] e consegue segurar nosso interesse ao transitar entre o terror e a ficção científica. Por outro lado, os interessantes [hum...] conceitos apresentados nunca parecem atingir todo o potencial prometido. Além disso, o mistério, mesmo driblando as expectativas, não chega a surpreender de fato – sofrendo do mal de ter que deixar a[s] explicação[ões] para a[s] próxima[s] temporada[s]. Em contrapartida, é ótimo uma produção que homenageia a década oitentista ter Winona Ryder e Matthew Modine no elenco. Cujo verdadeiro destaque é a garota Millie Bobby Brown. [15-16.07.16 – Netflix]

AMERICAN CRIME HISTORY: THE PEOPLE v. O.J. SIMPSON * * * *
[Idem, EUA, 2016]
10 episódios
Eu particularmente não me lembrava de todos os surreais pormenores reencenados nessa excitante narrativa seriada da dupla Scott Alexander e Larry Karaszewski. Se há muito de ficção aqui, é brilhantemente escrita. Se tudo durante o “julgamento do século” foi como mostrado, é estarrecedor. Ressuscitando Cuba Gooding Jr. e John Travolta com excelentes performances [na verdade, o elenco inteiro está magnífico], trata-se de uma das melhores séries de temporada fechada [antologia] do ano. [30.07.26-03.08.16]

NARCOS – temporada 2 * * *
[Narcos – Season 2, EUA, 2016]
10 episódios
Enquanto a narrativa assume sua urgência, com uma queda aqui e ali, Moura “desaparece” ainda mais na pele de Escobar. [07/08-14.09.16 – Netflix]

LUKE CAGE – 1a temporada * * ½
[Luke Cage – Season One, EUA, 2016]
13 episódios
O protagonista em si parece bem mais interessante do que a narrativa absorvente, e arrastada, na qual fica preso. [03-08.10.16 – Netflix]

BLACK MIRROR – 2a temporada * * * *
[Black Mirror – Season Two, GB, 2013]
4 episódios
Charliie Brooker concebe mais quatro contos geniais e perturbadores sobre a sombria simbiose homem-tecnologia. [25-26.10.16 – Netflix]

BLACK MIRROR – 3a temporada * * * *
[Black Mirror – Season Three, GB, 2016]
6 episódios
Os episódios 1, 3 e 4 são daqueles capazes de reverberar pelo nosso imaginário de fantasias e medos por dias. [06-07.11.16 – Netflix]

3% – 1a temporada * * ½
[Idem, BRA, 2016]
8 episódios [capítulos]
A distopia meritocrática criada por Pedro Aguilera até tem uma premissa absorvente – mistura de “A Ilha” [2005] com “Jogos Vorazes” [2012]? –, mas no percurso fica devendo. Muito. Primeira série brasileira da Netflix, o roteiro consegue reciclar uma ou outra ideia acertada, que ajuda a encher os oito episódios [chamam de capítulos]. Quando não comete diálogos indefensáveis, furos de lógica, links frouxos e reviravoltas nem um poucos originais. Sem falar no abuso que nos presenteia da palavra Processo. A direção [direções], de César Charlone e outros três egressos da versão websérie de 2009, é ainda mais afetada, apela demais para “dutch angles” e quase torna a narrativa um pastiche do gênero. Em termos de design visual, alguns planos de maquete são muito perceptíveis. De resto, a maioria das cenas são internas, com limitado espaço para respiro ou técnicas de câmera melhores. Do elenco que conta com Bianca Comparato e João Miguel no topo dos créditos, o destaque termina sendo Rodolfo Valente, cujo arco do personagem Rafael é o mais atraente. E então chega-se numa resolução cheia de finais, todos com a onipresença de João Miguel e nenhum empolgante. Iniciativa com pretensões melhores do que a encomenda entregue. [28.11.16 – Netflix]

A HISTÓRIA DE DEUS – 1a temporada * * *
[The Story of God with Morgan Freeman, EUA, 2016]
6 episódios
Morgan Freeman, o Todo-Poderoso no cinema, busca a presença divina nas culturas, religiões, ciência, história, psicologia, entre outras áreas. Sempre tentando compreender o que move a fé das pessoas. Embora não chegue a aprofundar todos os temas que aborda, é esclarecedor em diversas partes e um ponto de partida para uma pesquisa multifacetada. [...28.11.16]

MAGNÍFICA 70 – 2a temporada * * ½
[Idem, BRA, 2016]
10 episódios
T02E01 – O que esperar de uma temporada que já começa com uma atmosfera densa e subvertendo a dinâmica dos personagens? Gostei. [02.10.16 – HBO]
T02E02 – Sofre queda atmosférica em prol de uma sequência de exposições [como no longo flashback] para preencher as lacunas. [09.10.16 – HBO]
T02E03 – Nem todas as estratégias dramáticas soam convincentes, sobretudo quando vêm em flashbacks. Mas é mantido o fôlego. [16.10.16 – HBO]
T02E04 – É notório [notável?] como a série teme os riscos de assumir o flashback como uma espécie de “leitmotiv narrativo”. [23.10.16 – HBO]
T02E05 – Há coisas ótimas, mas também muita afetação dramatúrgica, na equipe de cinema mais disfuncional do cin... ops, da TV. [01.11.16 – HBO]
T02E06 – Mais do que nunca, é o domínio do plot sobre os personagens que dita a atmosfera. E o plano-artifício segue diretinho. [06.11.16 – HBO]
T02E07 – É magnífico quando conseguem um entrelace orgânico da trama com o próprio processo cinematográfico. O melhor episódio da temporada? [13.11.16 – HBO]
T02E08 – Dessa vez, a estrutura narrativa parece nos levar a uma falsa vitória das subtramas da série. Que promete durar pouco. [20.11.16 – HBO]
T02E09 – Fica difícil levar a sério esse episódio que tenta arrumar a casa quando os diálogos expositivos forçam a paciência. [27.11.16 – HBO]
T02E10 – Um abrupto final de temporada mais amargo, melancólico e aberto que da outra vez. Passeia entre o belo e o artificioso. [04.12.16 – HBO]

WESTWORLD – 1a temporada * * * *
[Westworld – Season 1, EUA, 2016]
10 episódios
T01E01 – A premissa do filme escrito/dirigido por Michael Crichton em 1973 adquire contornos filosóficos-existenciais pelas mãos do casal Jonathan e Lisa Joy Nolan. [02.10.16 – HBO]
T01E02 – As lembranças e os sonhos parecem ser os primeiros passos para os robôs se tornarem autoconscientes. Após isso, o caos. [09.10.16 – HBO]
T01E03 – A progressão da narrativa, elaborando a senciência dos anfitriões, levanta algumas questões e desdobramentos sombrios. [16.10.16 – HBO]
T01E04 – Os showrunners são hábeis em, dentro das próprias regras, adicionar uma camada de misticismo à “realidade” dos anfitriões. [23.10.16 – HBO]
T01E05 – Brinca com papéis, funções e arquétipos, narrativos e coletivos, para instigar as reais questões que começam a aflorar. [31.10.16 – HBO]
T01E06 – Maeve saindo da Caverna de Platão, anfitriões “fantasmas”, a mitologia do labirinto e uma conspiração entre os humanos. [06.11.16 – HBO]
T01E07 – O “truque de perspectiva” revela um mundo fora da caverna mais infectado do que o suposto “despertar” dos anfitriões. [13.11.16 – HBO]
T01E08 – Ao tempo que Bernard está mais preso ao seu e Dolores “perde-se” buscando-o, Maeve consegue “controlar” o próprio destino. [20.11.16 – HBO]
T01E09 – Saber demais sobre si mesmo pode levar a lugares que não se quer ir. E quanta elegância narrativa nessas veredas tortuosas. [27.11.16 – HBO]
T01E10 – Todas as suposições se realizam, afinal de contas. O que não tira o brilho das engenhosas artimanhas e suas metáforas. [04.12.16 – HBO]

THE OA – 1a temporada * * ½
[The OA – Season One, EUA, 2016]
8 episódios
Toma rumos de tamanha indulgência narrativa que, pouco a pouco, dilui todo o potencial dos seus temas metafísicos. [16 e 17.12.16 – Netflix]

CRISIS IN SIX SCENES – 1a temporada * * *
[Crisis in Six Scenes – Season One, EUA, 2016]
6 episódios
Está longe do preciosismo, mas as tiradas [sempre] compensam. Assim como a atmosfera dos anos 1960 [repare na brincadeira fonética do título] e toda a sua ebulição política. Para quem sabe saborear a pegada de Woody Allen. Seu lado menos inspirado ainda é melhor do que a média. Até mesmo quando, por razões dantescas, escala Miley Cyrus. [30.12.16 – Salvador|resort IberoStar]

Abandonadas

GOTHAM – 2a temporada
[Gotham – Season Two, EUA, 2016]
11 episódios
T02E12 – Honestamente, não sei [ainda] o que achar desse Mr. Freeze. A mid season promete ter mais vilões do que heróis. Vamos ver... [14.03.16 – Warner Channel]
T02E13 – A impressão [pista falsa?] é que é Hugo Strange quem vai articular essa "ascensão dos vilões", mote proposto pela temporada. [21.03.16 – Warner Channel]
T02E14 – Se esse for mesmo o episódio no qual Bruce encarou o assassino dos seus pais, bem, um impacto textual não teria sido mal. [28.03.16 – Warner Channel]
T02E15 – Bruce apanha como homem, Nygma esquematiza para "derrubar a casa" de Gordon e um "curado" Cobblepot conhece papai Pee-wee. [04.04.16 – Warner Channel]
T02E16 – Alternando entre a "vida na prisão" de Gordon e a "vida em família" de Cobblepot, a série está cada vez mais se enfraquecendo. [17.04.16 – Warner Channel]

PREACHER – 1a temporada
[Preacher – Season One, EUA, 2016]
10 episódios
T01E01 – Já no episódio-piloto, Seth Rogen e Evan Goldberg equilibram [tentam] gore, humor negro e personagens bizarros como Cassidy e Cara de Cu. [23.05.16]
T01E02 – Os showrunners não se encabulam em misturar neo-western com violência gráfica. Custer começa a descobrir o dom adquirido. [12.06.16]

Revistos – 35 filmes

OS OITOS ODIADOS [2015] * * * ½
[12.01.16 – Cinemas Teresina]

SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS [2015] * * * * ½
[26.01.16 – Cinépolis Rio Poty]

SOBRE MENINOS E LOBOS [2003] * * * ½
[03.02.16 – madrugada]

JANELA INDISCRETA [1954] * * * * *
[09.02.16 – Telecine Cult]

O REGRESSO [2015] * * * ½
[10.02.16 – Cinemas Teresina]

SEVEN – OS SETE CRIMES CAPITAIS [1995] * * * * *
[11.03.16 – madrugada]

PERDIDO EM MARTE [2015] * * *
[15.03.16 – Casa do Thiago]

O HOMEM DE AÇO [2013] * * ½
[24.03.16]

CLOVERFIELD – MONSTRO [2008] * * * ½
[07.04.16 – madrugada]

OS GAROTOS PERDIDOS [1987] * * *
[11.04.16 – madrugada]

DEU A LOUCA NOS MONSTROS [1987] * * ½
[03.05.16]
Por conta de uma conversa sábado com um amigo revi agorinha DEU A LOUCA NOS MONSTROS (1987), pela primeira vez com áudio e formato de tela originais. Continua uma brincadeira muito divertida com cinco monstros clássicos da Universal, numa narrativa enxuta à la OS GOONIES. Tirando o aspecto nostálgico, é preciso relevar os gigantescos furos do roteiro de Shane Black (Máquina Mortífera), que são escancarados. Por outro lado, é ótimo sacar agora todas as referências (há várias) aos originais. E o melhor: as criaturas criadas pelo mestre Stan Winston ainda dão de pau no CGI de hoje. Um autêntico terrir que parece mais acertado na nossa memória afetiva. Mas vale a pena ser revisitado após tanto tempo. Filme de terror com a atmosfera dos anos 70/80 funcionam muito bem. [por WhatsApp]

INDEPENDENCE DAY [1996] * * *
[22.06.16 – madrugada]

PROCURANDO NEMO [2003] * * * *
[30.06.16]

CAÇADORES DE EMOÇÃO [1991] * * *
[09.07.16 – folga, manhã de sábado]

OS CAÇA-FANTASMAS [1984] * * * ½
[13.07.16]

OS CAÇA-FANTASMAS 2 [1989] * * ½
[14.07.16 – Netflix]

OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS [1954] * * *
[26.07.16 – Telecine Cult]

RISCO TOTAL [1993] * * ½
[24.08.16]

JUVENUDE [2015] * * * ½
[28.08.16 – Cinemas Teresina|Sessão Cinéfilos]

REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL [1940] * * * *
[04.09.16 – Cinemas Teresina|Sessão Cinéfilos]

SETE HOMENS E UM DESTINO [1960] * * * *
[20.09.16]

NASCIDO EM 4 DE JULHO [1989] * * * ½
[23.09.16 – Telecine Cult]

ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO – VERSÃO DO DIRETOR [1979] * * * *
[02.10.16 – madrugada]

ALIENS, O RESGATE – VERSÃO DO DIRETOR [1986] * * * *
[02.10.16]

ALIEN3 – VERSÃO DO DIRETOR [1992] * * ½
[02.10.16]

ALIEN – A RESSURREIÇÃO [1997] * *
[02.10.16]

O SEGREDO DO ABISMO – UNCUT VERSION [1989/1993] * * *
[10.10.16]

PROMETHEUS [2012] * * ½
[11.10.16]

SE MEU APARTAMENTO FALASSE [1960] * * * * *
[12.10.16]

GAROTOS INCRÍVEIS [2000] * * * *
[14.10.16]

MORTE SOBRE O NILO [1978] * * *
[18.10.16]

DONNIE DARKO – DIRECTOR’S CULT [2001/2004] * * *
[02.11.16]

COVA RASA [1994] * * * *
[19.11.16 – Casa da Cultura|Curso Pela Lente]

OS SUSPEITOS [1995] * * * * *
[26.11.16 – Casa da Cultura|Curso Pela Lente]

BLOW-UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO [1966] * * * *
[08.12.16 – Cinemas Teresina]

Técnicas/estilos

. Ramping
mudança no frame rate, alterando a velocidade normal para câmera lenta.

. Deep focus photography
Alfred Hitchcock and cinematographer George Barnes used a technique known as "deep focus photography" in this film. This is one of the few films to use that technique before Cidadão Kane (1941). Hitchcock had also used it in his film Downhill (1927).

. The Kubrick stare
the scariest expression in the movies.

. Trompe-l'oeil
técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão ótica que faz com que formas de duas dimensões aparentem possuir três dimensões. Provém de uma expressão em língua francesa que significa "engana o olho" e é usada principalmente em pintura ou arquitetura.

Mumblecore 
obras do cinema independente norte-americano que apostam pesadamente nos diálogos e no improviso – daí o “mumble”, ou “resmungo”.

. Manic Pixie Dream Girl 
expressão usada para descrever personagens femininas unidimensionais que habitualmente têm modos alegres e/ou divertidos (mesmo quando tristes), se comportam de forma artificial, vivem arcos superficiais e existem para ajudar seus interesses românticos a lidar com seus problemas pessoais.

. Meet Cute
convenção de comédias românticas que envolve encenar o primeiro encontro do casal principal de forma engraçadinha através de um desentendimento, uma coincidência, um acidente ou algo do gênero.

. Matte Painting
cenário/fundo pintado em perspectiva/profundidade de campo.

RESUMO DE 2016

302 longas inéditos
35 revistos
20 temporadas de séries

23 curtas

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