FILMES
2016
FRANCISCO
MONTEIRO JÚNIOR
302 filmes
Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *
Janeiro – 26 filmes
AS
DIABÓLICAS * * * *
[Les diaboliques,
FRA, 1955]
Suspense - 115 min
Clouzot brinca com
a nossa expectativa, constrói um suspense elaborado, tenso, e um twist final de
arrepiar até hoje. [01.01.16 – Luís Correia]
INVERNO DE SANGUE EM VENEZA * * * *
[Don't Look Now,
GB/ITA, 1973]
Suspense/Terror -
106 min
O instigante
labirinto psicológico/sobrenatural do britânico Nicolas Roeg, saído do conto de
Daphne Du Maurier, ainda é uma experiência quase cinestésica. A estética é dada
pela câmera livre, opressora até, e pela montagem que desconstrói os tempos e
cria analogias [e raccords] fabulosas. [03.01.16]
CREED – NASCIDO PARA LUTAR * * * ½
[Creed, EUA, 2015]
Drama - 133 min
Embora a ótima
narrativa de Ryan Coogley siga o filho de Apollo, feito com segurança por
Michael B. Jordan, é o Rocky de Sylvester Stallone que preenche a tela com
humanidade – e nostalgia. [04.01.15]
GIVE UP TOMORROW * * *
[Idem, EUA/GB,
2011]
Documentário - 95
min
Choca acompanhar
todas as falhas e indulgências [para dizer o mínimo] da justiça filipina no
controverso "caso Chiong". [05.01.16 – Netflix]
A GAROTA DINAMARQUESA * * ½
[The Danish Girl,
GB/ALE/EUA, 2015]
Drama - 119 min
A única coisa que
eclipsa a delicada caracterização de Eddie Redmayne é a maravilhosa performance
de Alicia Vikander. Pena a adaptação do livro de David Ebershoff, dirigida pelo
canhestro Tom Hooper e sua “estética Oscar”, não fornecer mais. Notórios, livro
e filme, pela infidelidade para com os fatos, ironicamente é na dinâmica
“adulterada” do casal central [e, infelizmente, menos na questão da transgeneridade]
que faz a experiência ter seu atrativo dramático. [05.01.16]
ARABESQUE
* *
[Idem, EUA, 1966]
Suspense - 105 min
Stanley Donen
intenta realizar uma sátira aos filmes de espionagem, sobretudo a "Intriga
Internacional" [1959], de Hitchcock. Porém se desequilibra entre o
thriller estético e o humor bobo. Quase entrega uma paródia, com Gregory Peck e
Sophia Loren apenas descendo o rio. E ocasionalmente se afogando. [06.01.16 –
Telecine Cult]
O QUARTO DE JACK * * * *
[Room, IRL/CAN,
2015]
Drama - 117 min
Atuações fenomenais
de Brie Larson e do garotinho Jacob Tremblay, este guiando a comovente – e, de
diversas maneiras, difícil – narrativa com olhos lúdicos. Lenny Abrahamson [“Frank”,
2014] dirige, sem nunca perder o foco, o roteiro de Emma Donoghue, adaptado do
seu próprio livro, no qual a descoberta do Mundo Fora do Quarto é acompanhada
pelo fim da inocência. [09.01.15]
UM HOMEM ENTRE GIGANTES * * *
[Concussion,
GB/AUS/EUA, 2015]
Drama - 123 min
Bela caracterização
de Will Smith como o dr. Bennet Omalu, patologista forense que sacudiu o mundo
dos esportes ao ligar a doença neurodegenerativa ETC [conhecida também como
“síndrome do pugilista”] à violência praticada no futebol americano. [10.01.16]
A GRANDE APOSTA * * * *
[The Big Short,
EUA, 2015]
Comedia/Drama - 130
min
Narrativa
espertíssima de Adam McKay, serpenteando pelos antecedentes amorais do colapso
financeiro de 2008. Adaptada por McKay e Charles Randolph do livro de Michael
Lewis, a trama acompanha quatro núcleos de personagens que, não apenas preveem
a crise econômica anos antes, como se articulam para se darem bem com ela.
Muita crítica incisiva, referências [e autorreferências], quebra da quarta
parede e uma ótima montagem, tudo para manter o espectador interessado até o
desfecho, que, embora conhecido, ainda estarrece. Mesmo que, aqui e ali, ele
possa se perder nos trâmites e jargões herméticos de Wall Street.
[10.01.16/19.01.16 – Cinépolis Rio Poty]
STEVE JOBS
* * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 122 min
Incrível como o
texto de Aaron Sorkin ["A Rede Social", 2010] dribla a própria
estrutura fechada e explora todos os seus elementos narrativos e personagens.
[10.01.16]
O HOMEM QUE CAIU NA TERRA * * *
[The Man Who Fell
to Earth, GB, 1976]
Ficção - 139 min
Début do músico
David Bowie como ator de fato, e protagonista, abusando do seu charme andrógino
nesse cult [ainda] hermético. Dirigido por Nicholas Roeg, é uma adaptação
personalíssima do livro de Walter Tevis, publicado em 1953, sobre um alienígena
que vem ao planeta Terra em busca de água e termina fazendo fortuna. E
mostrando que os seres humanos são, em sua própria casa, os verdadeiros
alienígenas. [13.01.16]
ANOMALISA
* * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Animação - 90 min
Agora numa
melancólica animação em stop motion, Charlie Kaufman – codiretor e autor do
roteiro – lança mão de outra síndrome [a de Fregoli] para mostrar até que ponto
pode chegar a solidão humana. [14.01.16 – madrugada]
WINTER ON FIRE * * * ½
[Winter on Fire:
Ukraine’s Fight for Freedom, GBR/UKR/EUA, 2015]
Documentário - 98
min
Consegue nos fazer,
espectadores revoltados, vivenciar os 93 dias, entre novembro de 2013 e
fevereiro de 2014, da violenta repressão ao "Euromaidan" - movimento
ultranacionalista iniciado por estudantes na Praça da Independência em Kiev
contra o governo de Viktor Yanukovytch e a não adesão da Ucrânia à União
Europeia. Evgeny Afineevsky, que é russo [e para a Rússia as manifestações
ucranianas foram um golpe de Estado], entregou um registro cinematográfico
pungente, brutal em diversos momentos. Difícil assistir sem se contorcer.
[16.01.16 – madrugada, Netflix]
UMA VOZ NAS SOMBRAS * * * ½
[Lilies of the
Field, EUA, 1963]
Drama - 91 min
A performance firme
e sem apelações de Sidney Poitier, num fantástico equilíbrio o timing cômico e
o dramático, o fez ser o primeiro ator negro a ganhar um Oscar. Mas o filme
dirigido por Ralph Nelson consegue, ainda hoje, nos tocar além disso.
[17.01.16]
O MENINO E O MUNDO * * * *
[Idem, BRA, 2013]
Animação - 80 min
O paulista Alê
Abreu mistura técnicas de animação e nos leva a imergir nos traços artesanais
das contradições sociais, provocadas pela exploração capitalista, numa jornada
de [auto]descoberta lúdica e lírica. Uma deslumbrante, por vezes melancólica e
sempre reflexiva, experiência sensorial. [18.01.16]
CAVALEIRO DE COPAS * * ½
[Knight of Cups,
EUA, 2015]
Drama - 118 min
A jornada
artística-existencial de Terrence Malick dessa vez filosofa em cima da
fugacidade da fama e das paixões. [20.01.16]
A 5ª ONDA
* ½
[The Fifth Wave,
EUA, 2016]
Ficção - 112 min
Saído do livro [o
primeiro de uma trilogia] escrito por Rick Yancey, parece uma espécie de primo
pobre adolescente de "Independence Day" [1996] com aspirações a
"Jogos Vorazes" [2012]. [21.01.16 – Cinemas Teresina, com Manel
Talibã]
MARIA ENTRE AMIGOS * * *
[Idem, BRA, 2016]
Documentário - 54
min
Esse documentário
musical é uma merecida celebração da vida e da musicalidade única de Maria da
Inglaterra. [21.01.16 – Teatro 4 de Setembro]
REGRESSÃO
* * ½
[Regression, ESP/CAN,
2015]
Suspense - 106 min
Amenábar capricha
na atmosfera, porém se esquece de trabalhar melhor a narrativa em si e
equilibrar seus elementos. [24.01.16]
99 HOMES
* * *
[Idem, EUA, 2014]
Drama - 112 min
Um ótimo Michael
Shannon vai mostrar a um esforçado Andrew Garfield o quão movediças podem ser os
limites morais em tempos de desespero. [25.01.16 – madrugada, com Thiago]
PRESSÁGIOS DE UM CRIME *
[Solace, EUA, 2015]
Suspense - 101 min
Se o roteiro tinha
algo que resultasse além de um suspense genérico com alguma pegada
sobrenatural, o brasileiro Afonso Poyart [“2 Coelhos”, 2012], debutando em
Hollywood, passou por cima. [26.01.16]
LABIRINTO – A MAGIA DO TEMPO * * *
[Labyrinth, GB/EUA,
1986]
Musical - 101 min
Nesse querido cult
oitentista, Jim Henson dá total vazão à sua inventividade em conceber bonecos e
cenários para desafiar os arquétipos do amadurecimento pré-adolescente.
Personificados aqui por uma jovem Jennifer Connelly, o rei duende de David
Bowie [que também compôs as canções do filme] e as impagáveis criaturas –
Hoggle, Ludo, Didymus, entre outros – encontradas durante o percurso de
[auto]descoberta pelo labirinto. [27.01.16]
BOI NEON
* * * *
[Idem, BRA/URY/NLD,
2015]
Drama - 101 min
O pernambucano
Gabriel Mascaro propõe uma suspensão [ele diria dilatação para acabar com a
necessidade de categorizar] dos estereótipos, sobretudo os de gênero e suas
representações – o que fica ainda mais marcante em virtude da ambientação
escolhida [o universo das vaquejadas no nordeste brasileiro] –, com uma rara
sensibilidade no cinema nacional. Com elenco super engajado, como Juliano
Cazarré, Maeve Jenkings e a garotinha Alyne Santana, também transita por
diferentes gêneros sem nunca perder o equilíbrio. [28.01.16 – Cinépolis Rio
Poty]
PAI EM DOSE DUPLA * * ½
[Daddy’s Home, EUA,
2015]
Comédia - 96 min
Sessão inofensiva
que "abraça" a família moderna e precisa exagerar no nonsense para
garantir alguma risada. E, para o bem ou não, até consegue; geralmente no susto
da situação. O elenco é acertado – Will Ferrell divide mais uma vez a cena com Mark
Wahlberg, ambos “interpretando” as próprias personas – segura a empatia pelo
enredo desnivelado. [29.01.16 – Cinemas Teresina]
TRUMBO – LISTA NEGRA * * *
[Trumbo, EUA, 2015]
Drama - 124 min
O que perde na
narrativa chapada e didática, essa adaptação do livro de Bruce Cook ganha nas
performances, sobretudo de Bryan Cranston. Assim como no recorte histórico do
macarthismo assombrando a Hollywood dos anos 1950. Primeira incursão dramática
do diretor Jay Roach [“Entrando numa Fria”, 2000], deixa uma dúvida se o escritor/roteirista
foi uma figura mais interessante na vida real do que na ficção. [30.01.16]
STRAIGHT OUTTA COMPTON – A HISTÓRIA DO N.W.A. * * * ½
[Straight outta
Compton, EUA, 2015]
Drama/Musical - 147
min
A harmonia das
performances e a energia narrativa de F. Gary Gray ditam a batida da jornada do
grupo que popularizou o Gangsta rap nos Estados Unidos na virada da década de
1980 para 1990. [31.01.16]
Fevereiro – 24
filmes
DHEEPAN – O REFÚGIO * * * ½
[Dheepan,
FRA, 2015]
Drama
- 115 min
O
francês Jacques Audiard lança um curioso olhar sobre o tema da imigração,
observando como laços afetivos [e familiares] vão se construindo entre os três
personagens inicialmente estranhos.
Palma de Ouro no Festival de Cannes. [31.01.16]
BONE TOMAHAWK * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Western - 132 min
Surpreendente mistura de western com terror.
Pode até não ser para qualquer estômago, mas a estreia cinematográfica do
também escritor e músico S. Craig Zahler em tudo para virar cult. Além de fazer
com que nos envolvamos com os personagens, a última meia hora é chocante. [02.02.16]
REZA A LENDA * *
[Idem,
BRA, 2016]
Ação
- 87 min
Neo-western
– ou seria um nordestern? – de ação brazuca cheio de pretensões [boas, claro],
mas nunca consistente, vigoroso ou mesmo interessante. O novo “Mad Max” do
sertão? Há quem faça as correlações, com Sophie Charlotte
sendo nossa Furiosa e Cauã Reymond... Definitivamente, é forçar a barra
relacionar Humerto Martin [se esforçando para segurar os trejeitos faciais] com
o vilão Imortant Joe. A verdade fica a centenas de quilômetros de distância. Ela
se perde entre a estética carregada do debutante Homero Olivetto e o roteiro
que não sabe ao certo como usar seus próprios elementos. [03.02.16 – Cinemas
Teresina]
FÚRIA SELVAGEM * * *
[Man
in the Wilderness, EUA, 1971]
Drama/Western
- 105 min
Richard
Harris incorpora a personificação da insistência do corpo e do espírito humano
por permanecer vivo. [04.02.16 – madrugada]
CARTEL
LAND * * * ½
[Idem,
MEX/EUA, 2015]
Documentário
- 101 min
Matthew
Heineman adentra as entranhas do narcotráfico mexicano e observa as fronteiras
morais daqueles que se erguem contra o domínio abusivo dos cartéis. [04.02.16]
45
ANOS * * * *
[45
Years, GB, 2015]
Drama
- 95 min
Charlotte
Rampling internaliza as entrelinhas da crise conjugal latente, e mesmo assim
parece estar gritando no vácuo. [04.02.16]
MACBETH – AMBIÇÃO E GUERRA * * ½
[Macbeth,
GB/FRA/EUA, 2015]
Drama
- 113 min
O
australiano Justin Kurzel faz da sua versão da "peça escocesa" de
Shakespeare um exercício narrativo carregado de estilo. [10.02.16]
DEADPOOL * * *
[Idem,
EUA/CAN, 2016]
Aventura
- 108 min
Acerta
em cheio no humor [auto]debohado, cáustico – politicamente incorreto em toda a
sua glória. Assim como na irreverentíssima metalinguagem, que dispara
referências, tanto internas quanto externas, como uma metralhadora
descontrolada. E, a cereja do cogumelo, em não cair no erro de se levar a
sério. O estreante em longas Tim Miller entrega um “fan film” que funciona. E,
surpresa, o roteiro da dupla Rhett Reese e Paul Wernick supera o plot enxuto
com as gags e piadas inspiradíssimas catalisadas, mas nunca decantadas, pelo
Mercenário Tagarela. [11.02.16 – Cinépolis Rio Poty/19.02.16 – Cinemas Teresina/02.05.16
– com Thiago]
WHAT HAPPENED, MISS
SIMONE? *
* * ½
[Idem,
EUA, 2015]
Documentário
- 102 min
Todo
o talento, a paixão, a fúria, e o forte engajamento pelos direitos civis dos
negros nos anos 1960, da Alta Sacerdotisa do Soul. Liz Garbus nos aproxima,
pelo menos o quanto pode, da essência de Nina Simone, sem hagiografismos. [13.02.16]
CINCO GRAÇAS * * * ½
[Mustang,
FRA/ALE/TUR/QAT, 2015]
Drama
- 97 min
A
turca Deniz Gamze Ergüven concebe belo filme sobre um tema caro: a condição
feminina numa sociedade retrógrada. [13.02.16]
GUERRA * * ½
[Krigen,
DIN, 2015]
Drama
- 110 min
O
dinamarquês Tobias Lindholm nos faz refletir sobre o peso moral das escolhas
feitas no campo de batalha e fora dele. [13.02.16]
O LOBO DO DESERTO * * *
[Theeb,
ARE/QAT/JOR/GB, 2014]
Drama
- 97 min
Uma
absorvente jornada de amadurecimento durante a Revolta Árabe [1916-1918], em
pleno declínio – dissolução – do Império Otomano. [14.02.16]
JOY – O NOME DO
SUCESSO *
*
[Joy,
EUA, 2015]
Drama
- 124 min
Supostamente
tinha todos os elementos para ser uma sessão de cinema edificante – sobretudo
por ser inspirada numa verdadeira história de busca pelo sucesso. Porém
nunca alcança um tom narrativo equilibrado para tal. Termina dependendo do carisma
de Jennifer Lawrence, que “se vira nos 30” diante da bagunça irreverente
proposta por David O. Russell. [14.02.16 – Cinépolis Rio
Poty]
UM DIA MUITO ESPECIAL * * * *
[Una giornata particolare, ITA/CAN, 1977]
Drama - 104 min
Incrível como Ettore Scola entremeia camadas políticas,
sociais e sentimentais para fazer Marcello Mastroianni despertar Sophia Loren.
[16.02.16]
LENDAS DO CRIME * * *
[Legend, GB/FRA/EUA, 2015]
Drama/Policial - 131 min
A dupla performance de Tom Hardy como os
notórios, e violentos, irmãos Kray faz a diferença nesse "english gangster
movie" dirigido por Brian Helgeland. [17.02.16]
O FIEL CAMAREIRO * * * ½
[The
Dresser, GB, 1983]
Drama
- 113 min
Peter
Yates [direção] e Ronald Harwood [roteiro] nos levam aos bastidores do processo
do ator teatral em plena guerra e da dedicação comovente do personagem feito
por Tom Courtenay para com o de Albert Finney. Ambos em atuações primorosas.
[21.02.16]
CHATÔ – O REI DO BRASIL * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama/Comédia - 105 min
Guilherme Fontes foge da cinebiografia careta.
Entrega – finalmente – uma narrativa alegórica e com invejável fôlego. O
imbróglio de duas décadas da produção perante o MinC a fez se tornar uma
espécie de lenda urbana, o filme que consumiu dinheiro público e nunca seria
lançado. Mas foi. E, ao contrário dos que torciam o nariz, possui qualidades
sólidas. Sua pegada personalíssima e irreverente talvez espante o público
adestrado ao cinema nacional quadrado comercializado nesse ínterim. A montagem
entrecorta tempos, mistura realidade e
fantasia, num risco interessante. Marco Ricca faz um pastiche do magnata Assis
Chateaubriand, mas é tão bom que compramos a abordagem sem problemas. Na mesma
onda surfa o resto do elenco e, sim, funciona, até quando o personagem é
fictício. O de Andrea Beltrão é exemplo disso. O tom adotado por Fontes
justifica os excessos do filme, mesmo que deslize aqui e ali. Fez uma obra com
reverberações atuais e ao mesmo tempo fora do seu tempo. E não estou me
referindo ao passado. [22.02.16]
13 HORAS: OS SOLDADOS SECRETOS DE
BENGHAZI * * ½
[13 Hours: The Secret
Soldiers of Benghazi, EUA, 2016]
Ação - 144 min
Michael Bay se
"sente em casa" tirando a política da equação [ou as controversas em
torno da situação recriada] para focar na famigerada, e muito bem orquestrada,
ação. [23.02.16 - Cinépolis Rio Poty]
CRIMES DE AUTOR * * ½
[Roman de Gare, FRA,
2007]
Drama/Suspense - 105
min
Lelouch traz uma
ideia bem interessante, cutucando o lado B do universo literário. Só se
esqueceu de trabalhar melhor a consistência da narrativa. [24.02.16]
O HOMEM DAS MULTIDÕES * * *
[Idem, BRA, 2013]
Drama - 95 min
O quadro 1:1
encarcera o apego dos personagens à solidão, mesmo com a carência
afetiva/existencial e todo o caos urbano ao redor de ambos. Os cineastas
Marcelo Gomes e Cao Guimarães se inspiraram no conto de Edgar Allan Poe,
"O Homem da Multidão", para gerar uma obra cinestésica e mais
absorvente do que se poderia esperar. Apesar da forma, o embrutecimento
emocional do suposto romance é o maior ponto de estranhamento. [24.02.16 – Max
Up]
HORAS DECISIVAS * * ½
[The Finest Hours,
EUA, 2016]
Drama - 117 min
A despeito de ser
inspirado num heróico salvamento verídico, é notório que a direção de Craig
Gillespie tenta forçar nossa emoção. Para isso, lança mão de [quase] todas as
armas do cinema de massa. O que fica de fato? A ideia de que aprender a quebrar
o protocolo em favor da coisa certa – também do próprio crescimento pessoal – é
um arco dramático tão eficiente quanto velho. E que já foi melhor usado.
[25.02.16 – Cinépolis Rio Poty]
O TIGRE E O DRAGÃO: A ESPADA DO DESTINO * *
[Crouching Tiger, Hidden Dragon: Sword of Destiny, CHI,
2016]
Aventura
- 100 min
Sequência
tardia que até preserva a atmosfera wuxia [gênero originado na China que
mistura fantasia e artes marciais] tão bem explorada no filme dirigido por Ang
Lee 16 anos atrás. Contudo, não vai muito além das eficientes lutas
coreografadas e de evocar nostalgia. De certo, é estranho agora os personagens
– Michelle Yeoh retorna como Yu Shu Lien – falarem inglês, e o roteiro
esquemático demais de John Fusco não ajuda. [27.02.16 – madrugada]
O PESO DO SILÊNCIO * * * *
[The Look of
Silence, DIN/IDN/FIN/NOR/GB/ISR/FRA/EUA/ALE/NLD, 2014]
Documentário - 99
mim
Adota um recorte
menor, mais pessoal e humanista que o de “O Ato de Matar” [2012], mas não menos
devastador. [28.02.16]
DON'S PLUM
* *
[Idem, EUA/DIN/SUE,
2001]
Drama - 86 min
Leonardo DiCaprio e
Tobey Maguire até hoje querem esquecer que participaram desse retrato indie,
mas sem muito talento, da juventude estadunidense perdida, chata e confusa dos
anos 1990. [29.02.16]
Março – 24
filmes
OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR * * * ½
[Les parapluies de Cherbourg, FRA/ALE, 1964]
Musical - 87 min
O cineasta Jacques Demy e o compositor Michel
Legrand cometeram um musical saboroso até hoje sobre a fugacidade da paixão
adolescente. Bem como o amadurecimento do conceito de amor. Fotografia e
direção de arte [hoje design de produção] primorosas no uso das cores. Levou a
Palma de Ouro no Festival de Cannes e catapultou ao estrelado a [futura]
"bela da tarde" Catherine Deneuve. [01.03.16]
A BRUXA
* * *
[The Witch: A New
England Folktale, EUA/GB/CAN/BRA, 2015]
Terror - 90 min
Debutando na
direção de longas, Robert Eggers abre mão dos "jumpscares" [os sustos
rasteiros com muletas sonoras] para investir na atmosfera tensa do terror
psicológico familiar catalisado pelas introjeções religiosas. O roteiro, também
de Eggers, tenta costurar a histeria do caça às bruxas iniciado no século XV
com o desfacelamento da família, junto a uma discussão sobre os efeitos psicossociais
da “culpa cristã”. Mas o forte mesmo é a emenda, a estética adotada,
opressora – e a razão de aspecto 1:66 contribui para isso –, trabalhando o som como
dupla antecipação temporal e a luz natural para nos manter desconfortáveis na
poltrona. Tanto que qualquer motivo para uma risada nervosa é agarrado
inconscientemente. Refresco perturbador num gênero há muito pasteurizado.
[03.03.16 – Cinépolis Rio Poty]
FARSA DIABÓLICA * * *
[Seance on a Wet
Afternoon, GB, 1964]
Suspense - 111 min
O britânico Bryan
Forbes captura nossa atenção com essa trama elaborada que vagueia por diversas
camadas. Adaptado, pelo próprio Forbes, do livro de Mark McShane, a relação
entre os personagens feitos por Kim Stanley [indicada ao Oscar] e Richard
Attenborough [também produtor do filme] é muito bem trabalhada. [06.03.16]
CINQUENTA TONS DE PRETO * ½
[Fifty Shades of
Black, EUA, 2016]
Comédia - 92 min
Sim, o humor é
apelativamente grosseiro. Porém, essa paródia até que não constrange tanto
quanto sua fonte. [07.03.16 – Cinépolis Rio Poty]
A PRIMA DESEJADA * * ½
[La
Cugina, ITA, 1974]
Comédia
- 90 min
O
italiano Aldo Lado dá uma de Tinto Brass com mais sensualidade, algum toque
sensível e um humor mais ingênuo. Se é que se poder afirmar realmente isso numa
comédia movida pelo sexo. Baseado no livro de Ercole Patti. [09.03.16]
KUNG FU PANDA 3 * * *
[Idem,
EUA/CHI, 2016]
Animação
- 95 min
O
carismático Po tem de descobrir o que é ser um panda para se tornar o
verdadeiro Dragão Guerreiro e derrotar uma vingativa ameaça sobrenatural.
Ótimas filosofias sobre encontrar-se a si mesmo sem, necessariamente, estar
sozinho no mundo. [10.03.16 – Cinépolis Rio Poty]
NO TE MUERAS SIN DECIRME ADÓNDE VAS * * ½
[Idem, ARG, 1995]
Drama - 125 min
Eliseo Subiela une
o processo cinematográfico com uma narrativa espiritual, jogando com a criação
do cinema, espíritos e reencarnação. De certo, a abordagem é sedutora. Há
intenções muito interessantes, uma atmosfera meio “Ghost – Do Outro Lado da
Vida” [1990] e camadas aptas à reflexão sobre o lado mágico, sonhador,
proporcionado pelos filmes projetados na tela branca. Além do próprio
sentido de nascer e morrer – e as “mortes” que temos em vida. Uma pena,
portanto, que o entrelace dos temas nem sempre seja consistente. Fosse mais
enxuto, quem sabe atingisse o alvo com impacto maior. [11.03.16]
A SENHORA DA VAN * * ½
[The Lady in the Van, GB, 2015]
Drama/Comédia - 104 min
Se o texto de Alan Bennett é a alma, a atuação
de Maggie Smith é o coração dessa "dramédia" dirigida por Nicholas
Hytner. [13.03.16]
BOEING BOEING * * *
[Boeing, Boeing,
EUA, 1965]
Comédia - 102 min]
Apesar dos
tropeços, essa farsa vale pelo inacreditável fôlego narrativo e pela
"química" entre Tony Curtis e Jerry Lewis. A única vez em que
dividiram a tela juntos. Mesmo assim, Thelma Ritter puxa, vez ou outra, o tapete
de ambos. [13.o3.16 – Telecine Cult]
A SANGUE FRIO * * * *
[In Cold Blood,
EUA, 1967]
Suspense/Drama -
134 min
A adaptação do
livro-relato de Truman Capote pelo cineasta Richard Brooks continua impecável
em sua sobriedade. [14.03.16 – madrugada]
O JOVEM ADAM * * ½
[Young Adam,
GB/FRA, 2003]
Drama - 98 min
David Mackenzie
adapta o livro de Alexander Trocchi. Observa, sem tentar julgar, os caminhos
morais tomados pelos personagens, deixando isso a cargo do espectador. O terço
final reserva um quê dostoievskiano. [14.03.16]
À NOITE SONHAMOS * * *
[A Song to
Remember, EUA, 1945]
Drama/Musical - 112
min
Sem muito apelo
verossímil, Charles Vidor usa a breve vida de Frédéric Chopin para defender uma
arte engajada, com propósitos e responsabilidades. Embora a atuação de Cornel
Wilde seja lembrada até hoje, é o professor feito por Paul Muni o responsável
pela espinhal dorsal da biografia, atrelada ao contexto em que a produção foi
realizada, a Segunda Guerra Mundial. Por isso a forte pegada nacionalista em
favor da Polônia, berço do gênio musical retratado. [15.03.16]
O ENIGMA DE OUTRO MUNDO * * *
[The Thing, EUA, 1982]
Ficção/Terror - 108 min
No seu western-sci fi cult por excelência,
John Carpenter constrói muitíssimo bem a atmosfera de desconfiança entre os personagens
e capricha no horror visual. Cortesia das criaturas criadas por Rob Bottin
[numa era, felizmente, pré-CGI], que teve uma mãozinha não creditava do mestre
Stan Winston. Remake tenso e personalíssimo de "O Monstro do Ártico"
[1951], com score de Ennio Morricone e desfecho inusitado. Foi um injusto
fracasso de bilheteria, alcançando a merecida salvação no home video.
[16.03.16]
DESAFIO DO ALÉM * * * ½
[The Hauting,
GB/EUA, 1963]
Terror - 112 min
Robert Wise acerta
na mansão como verdadeira protagonista, na atmosfera de medo e no declínio
mental da personagem feita por Julie Harris. Baseado no livro de Shirley
Jackson, um terror sobrenatural com pegada psicológica que até hoje consegue
nos segurar diante da tela. Sobretudo em virtude da direção cinestésica de
Wise, por vezes arrepiante. Embora sofra com a ausência de algumas informações
para valorizar a narrativa direta e concisa. Exemplar do gênero favorito
de Martin Scorsese [eu precisava mesmo mencionar isso?], sofreu aquele remake
de 1999, “A Casa Amaldiçoada”, com Liam Neeson e Catherine Zeta-Jones.
[17.03.16]
O EXPRESSO DE SHANGHAI * * *
[Shanghai Express,
EUA, 1932]
Drama - 79 min
É Marlene Dietrich,
obviamente, quem preenche os evocativos quadros de Josef von Sternberg, agora
elaborando sobre amor vs. confiança. A fé na verdade do sentimento é o conflito
central dos personagens. A narrativa concisa [até demais?] não esconde um ou
outro tropeço, pouca consistência nas pinças e viradas dramáticas. Mas a
atmosfera do trem no percuso Pequim-Shanghai, numa China encenada em plena
guerra civil [ou algo próximo a isso] e a direção de arte, sem mencionar a
fotografia vencedora do Oscar, se sobrepõem às fragilidades enquanto enredo.
Terceira parceria, e de maior êxito comercial, entre diretor e atriz.
[18.03.16]
SCARFACE – A VERGONHA DE UMA NAÇÃO * * * *
[Scarface, EUA, 1932]
Policial - 90 min
Clássico filme de gângster dirigido por Howard Hawks, mesmo
hoje permanece poderosa a atuação de Paul Muni na pele de Tony Mont... ops,
Camonte. Da mesma maneira, a narrativa violenta [com vários pontos, dizem,
insprados na vida de Al Capone] e a personalidade ambiciosa e impulssiva do
protagonista. [20.03.16]
ZOOTOPIA – ESSA CIDADE É O BICHO * * * ½
[Zootopia, EUA, 2016]
Animação - 108 min
Ótimas energia/atmosfera para abordar os sempre oportunos
temas do preconceito versus inclusão social. E ainda conta com uma trama de
mistério e investigação que, mesmo fácil de prevê, é divertida e absorvente.
Uma sessão gratificante. [21.03.16 – Cinépolis Rio Poty/18.09.16 – com Lívia]
THE WHISPERERS * * *
[Idem, GB, 1967]
Drama/Suspense -
104 min
Apesar da mescla de
gêneros e eixos dramáticos, é a comovente atuação de Edith Evans em cima da
velhice e dos efeitos da solidão que torna tudo mais especial. Adaptado do
livro de Robert Nicolson pelo cineasta Bryan Forbes, nunca chegou a ser
oficialmente lançado no Brasil. Hum... [22.03.16]
BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA * * ½
[Batman v Superman: Dawn of
Justice, EUA, 2016]
Aventura - 151 min
Por um lado, o primeiro crossover da DC entrega
tudo o que promete no trailer. Por outro, não vai muito além disso. E, pelos
céus desabados de Krypton, já estamos na era dos crossovers e universos
cinematográficos! O que isso significa? O futuro vazio do cinema de massa
começou de vez? Não deixa de promover uma perspectiva assustadoramente
melancólica. É divertido, eu sei. Mas aonde vamos parar? Os ciclos ficam cada
vez mais curtos e desinteressantes. Talvez eu esteja apenas sintomatizando a
frustração com o novo Zack Snyder. A narrativa caminha, por vezes trôpega,
entre ser uma sequência de "O Homem de Aço" [2013] e se assumir como
uma ponte para "Liga da Justiça - Parte Um" [2017]. Então, há essa
crise de identidade no roteiro de Chris Terrio e David S. Goyer. Acredito que
Terrio tenha se ocupado das discussões mais "profundas" da premissa
[a responsabilidade social dos heróis, como já mostrado há 12 anos em "Os
Incríveis"] e Goyer cuidado de costurar a ação sem sair do universo DC. Os
elementos até estão todos nos seus devidos lugares, mas nem sempre apresentam a
consistência necessária. Como aquela comida que você sente ter faltado uma
coisinha de nada, e que faz muita diferença para alcançar o quase lá. Você
percebe o esforço em fundamentar as teses, só que as motivações e os entrelaces
dos personagens pulam aos olhos de forma grosseira. Fizeram as escolhas mais
fáceis, e a intenção épica de Snyder na primeira - e arrastada - metade não se
sustenta na última. Ainda que a tensão nunca saia da pauta. [Por falar nisso,
só eu achei Clark Kent um jornalista fraquinho?] O Lex Luthor-Coringa de Jesse
Eisenberg quase é consumido pela própria afetação. Se for para falar de Ben
Affleck como Batman, acredite, podia ter sido pior. Ele se contém para não
estragar, embora corra o risco de ficar apagado. O Superman de Henry Cavill
está ambíguo. Aliás, a subversão do conceito de moralidade dos super-heróis,
até certo ponto, é um aspecto positivo, contribui com a abordagem. Quando o
esperado quebra-pau começa é que o saldo flerta com o negativo. Inimigos sem
causa passam a amigos apenas com um toque maternal [a ideia é acertada,
tocante, faltou só convencer], e na luta mano a mano é a Mulher Maravilha de
Gal Gadot quem rende os melhores suspiros. Quer dizer, os únicos. [24.03.16 –
Cinemas Teresina]
HARAKIRI
* * * *
[Seppuku, JAP,
1962]
Drama - 133 min
Clássico
"jidaigeki" [filmes de época japoneses], usa o rito suicida dos
samurais/ronins para descamar um envolvente drama sobre hipocrisia social e
perda de valores durante o Período Edo [1603-1868] – também conhecida como a
Idade da Paz Ininterrupta. Dirigido com rigoroso primor estético por Masaki
Kobayashi a partir do livro de Yasuhiko Takiguchi, traz uma atuação
avassaladora de Tatsuya Nakadai e imagens que reverberam um bom tempo por
detrás da retina. Prêmio especial do júri no Festival de Cannes. [25.03.16]
MEU REI
* * *
[Mon Roi, FRA,
2015]
Drama - 125 min
Após o ótimo
"Polissia" [2011], Maïwenn se debruça sobre os efeitos particulares
de um relacionamento autodestrutivo. Que fica ainda mais complicado quando há um
filho perdido no meio da desgastante equação. A experiência assume ares de
combustão espontânea graças à naturalidades das atuações de Vincent Cassel e
Emmanuelle Bercot, que dividiu com Rooney Mara [essa por “Carol”, 2015] o
prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. [27.03.16]
O ENIGMA DO MAL * * ½
[The Entity, EUA,
1982]
Terror - 125 min
Tirando um deslize
e outro, essa história verídica de um poltergeist psicossexual possui momentos
bem “WTF..!” Ok, no mínimo antológicos. Alguns até chocantes, como quando a
personagem feita por Barbara Hershey é estuprada por um fantasma na frente dos
filhos. Adaptado do livro de Frank De Felitta pelo próprio, é dirigido por um
Sidney J. Furie [“Superman IV – Em Busca da Paz”, 1987] cheio de estilo –
leia-se: planos holandeses. [29.03.16]
A LUNETA DO TEMPO * * ½
[Idem, BRA, 2014]
Drama/Musical - 99
min
O nordestern
musical de Alceu Valença pode ter entraves pontuais, mas é cheio de lirismo e
experimentação. A montagem não faz qualquer esforço para suavizar a narrativa
episódica [muitos fade out/fade in em intervalos curtos]. Termina sendo o elo
movediço dessa estreia cinematográfica do cantor/compositor; agora
diretor/roteirista. Em compensação, a experiência cresce com a influência do
cordel nos diálogos e na quebra da linearidade. Passada a estranheza inicial,
somos consumidos pela proposta de misturar realidades da metade em diante. Em
determinado momento, por exemplo, uma segunda geração de personagens reencena a
mesma cena protagonizada por seus pais. Fiquei particularmente surpreso com a
câmera solta, segura de si, quase quebrando paradigmas. Um pouquinho de cuidado
formalístico e Valença teria feito mais do que uma obra personalíssima. Teria
entregado um grande filme. [30.03.16 – Cinépolis Rio Poty]
LOLA, A FLOR PROIBIDA * * *
[Lola, ITA/FRA.
1961]
Drama - 87 min
A estreia em longas
de Jacques Demy com os [des]encontros amorosos de Anouk Aimée e personagens sem
grandes perspectivas na França pós-Segunda Guerra Mundial. Peça genuína da
nouvelle vague, cheia de simbolismos e referências [o filme é dedicado ao
alemão Max Ophüls]. O Roland Cassard de Marc Michel migraria para “O
Guarda-Chuvas do Amor” [1964], enquanto a protagonista reapareceria oito anos
depois. [31.03.16]
Abril – 27
filmes
DESAJUSTADOS * * * ½
[Fúsi, ISL/DIN,
2015]
Drama - 93 min
Na pele de Fúsi, Gunnar
Jónsson é a grande alma gentil [e ingênua] dessa narrativa humana, singela, que,
paradoxalmente, lida com temáticas fortes. Escrita e dirigida com uma ternura
melancólica por Dagur Kári, em muitos aspectos nos remete ao clássico “Marty”
[1955], com Ernset Borgnine e Betsy Blair, substitundo a atmosfera de
insegurança do casal central por bullying e depressão – caso da Sjöfn feita
pela atriz Ilmur Kristjánsdóttir. Ignore o desastroso título nacional, esse é
um estudo de personagem cheio de camadas, muitíssimo bem intencionado, que foge
do “happy end” romântico em direção a um desfecho mais do que honesto, de
tocante significado. [01.04.16]
AREIAS ESCALDANTES * * ½
[Idem, BRA, 1985]
Comédia/Musical -
80 min
Ao som do pop/rock
progressivo nacional da primeira metade dos anos 1980, essa comédia musical
nonsense satiriza os grupos revolucionários em épocas ditatoriais. Encabeçados
por Regina Casé, Diogo Vilela, Luis Fernando Guimarães e Cristina Aché, os
terroristas assaltantes de bancos, que operam para a Entidade numa fictícia
Kali “futurística” [o ano é 1990], decidem sequestrar o navio que leva um
sheik. Mas são perseguidos pela Polícia de Elite. O controverso [hoje mais
do que nunca] roqueiro Lobão, também diretor musical do filme, faz um policial
que sobe de hierarquia. Outra participação curiosa traz a formação original dos
Titãs. O diretor e corroteirista Francisco de Paula mescla referências de
“Blade Runner – o Caçador de Androides” [1982] às produções do Monty Python,
numa narrativa dominada pelo pastiche. Flertando com o cinema marginal – por
isso a presença do cineasta Neville de Almeida –, teve seu lançamento no Brasil
barrado pela ditadura, mas virou cult no circuito alternativo. [02.04.16 –
Canal Brasil]
LA BONNE
* *
[Idem, 1986]
Drama - 82 min
O erotismo de
Salvatore Samperi comete cenas instigantes entre Florence Guérin e Trine
Michelsen, num contexto de carência afetiva conjugal e alienação política. Mas
poderia ter ido além disso, das questões pequeno-burguesas. Talvez se explorasse
um despertar de consciência social, até para suprir as fragilidades do enredo,
pontuado pelo score de Riz Ortolani. [03.04.16]
ZOOM *
* ½
[Idem, BRA/CAN, 2015]
Comédia - 96 min
Pedro Morelli
entrelaça gêneros e estilos num divertido exercício metacriativo, mas pouco
consistente à medida que avança. [04.04.16 – Cinépolis Rio Poty]
CONFLITOS DO AMOR * * * ½
[La Ronde, FRA,
1950]
Drama - 89 min
O carrossel de [des]amores
cínicos da controversa peça de Schnitzler adaptada pelo alemão Max Ophüls com
mordaz metalinguagem. [05.04.16]
RICKI AND THE FLASH – DE VOLTA PARA CASA * *
[Ricki and the
Flash, EUA, 2015]
Comédia/Drama - 101
min
Demme até encontra
bons momentos espontâneos nessa dramédia musical, mas nem ele ou Meryl Streep
salvam o roteiro rasteiro de Diablo Cody. No máximo, dão uma disfarçada.
[05.04.16 – HBO]
SENTIMENTOS QUE CURAM * * *
[Infinitely Polar
Bear, EUA, 2014]
Drama - 90 min
Apoiada num ótimo
Mark Ruffalo, a roteirista e diretora estreante Maya Forbes se arrisca ao
tratar com carinho, e até mesmo otimismo, um tema tão difícil como o transtorno
bipolar. Dando desconto por tratar-se de algo pessoal [é sobre o pai; a filha a
interpreta], até que funciona muito bem. É honesto e comove sem ser
melodramático. [05.04.16 – Telecine Pipoca]
RUA CLOVERFIELD, 10 * * *
[10 Cloverfield Lane, EUA, 2016]
Suspense/Ficção - 103 min
Dan Trachtenberg [bom se acostumar logo com o
nome] injeta picos de tensão em cada simples elemento do enredo. Nesse
"parente de sangue" do filme de 2008, o monstro humano é bem mais
perturbador. E ele atende pelo nome de John Goodman. O resto – se funciona
melhor dentro do bunker ou se o "parentesco" talvez não fizesse tanta
falta – fica a critério da empolgação de cada um. De qualquer maneira, J. J.
Abrams, produtor, nos dá um presente-surpresa com mais pontos altos. [07.04.16
– Cinemas Teresina]
INVASÃO A LONDRES * * ½
[London Has Fallen,
EUA, 2016]
Ação - 100 min
É necessário
desligar qualquer senso crítico para curtir o tom retrô [anos 1990] e as
sequências de ação esforçadas do iraniano Babak Najafi. O esquemático roteiro é
tão bobo e absurdo, sem falar no velho patriotismo estadunidense exarcebado,
que desperta em nós uma divertida vontade de ver aquilo se desenrolar – a mesma
sensação dos filmes-catástrofes da adolescência. E Gerard Buttler querendo ser
uma mistura de John McClane com Jason Bourne? Vai virar mesmo franquia? Qual
será o próximo país a “cair”? [10.04.16 – Cinemas Teresina]
THE WOLFPACK * * *
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 89
min
Uma experiência que
nos faz atravessar vários sentimentos e sensações conflitantes entre si, dentro
e fora do quadro. [12.04.16 – Netflix, Guabes]
O FILHO DE SAUL * * *
[Saul
fia, HUN, 2015]
Drama
- 107 min
O
húngaro László Nemes nos lança, quase sem concessões, no meio da missão
comovente e claustrofóbica do protagonista. Com uma razão de aspecto de 1:37 e
pouquíssima profundidade de campo, trata-se de uma experiência absolutamente
cinestésica. A narrative pega um viés da Segunda Guerra Mundial não muito
explorado no cinema – o Sonderkommando – para trabalhar simbologias fortes.
Quem sabe, as ambiguidades construídas puder ter sido melhor desenvolvidas.
[12.04.16]
MENINO DO RIO * * ½
[Idem, BRA, 1982]
Drama - 104 min
O que fica bem
marcado, além da atmosfera do enredo, é o retrato da geração saúde dos anos
1980 feito por Antônio Calmon. O elenco conta com os então jovens André de
Biase, Cláudia Magno [falecida em 1994], Ricardo Graça Mello, Sérgio Mallandro,
Cissa Guimarães, Evandro Mesquita e Cláudia Ohana. Calmon mesclou o argumento dos
irmãos André e Tonico de Biase com suas próprias experiências [havia acabado de
perder um amigo] e entregou para Bruno Barreto, que também produziu. As músicas
do filme são assinadas por Lulu Santos [“De Repente, California”] e Guilherme
Arantes [“Corpos de Verão”]. Ironicamente, não há a música de Caetano Veloso
que inspirou o título. Foi um sucesso à época, com 3 milhões de
espectadores, e gerou uma sequência, “Garota Dourada”, em 1984. [13.04.16 –
Canal Brasil, madrugada]
MATAR OU CORRER * * *
[Idem, BRA, 1954]
Comédia/Western -
87 min
Última chanchada
protagonizada pela impagável dupla Oscarito e Grande Otelo. O cineasta Carlos
Manga, em seu segundo filme, brinca em cima do gênero western e, sobretudo, com
o clássico de Fred Zinnemann, lançado apenas dois anos antes. Bom timing e
momentos hilários. Ainda tem o eterno vilão do cinema nacional, José Lewgoy,
como o bandoleiro Jesse Gordon. [13.04.16]
MENTE PARANÓICA *
[Killer Office,
EUA, 1997]
Comédia/Suspense -
87 min
A intenção de Cindy
Sherman em fazer uma comédia de humor negro resulta numa experiência tão, tão
ruim que fica difícil esquecer. Mas a gente tenta. [13.04.16]
AVE, CÉSAR! * * *
[Hail, Caesar!,
GB/EUA/JAP, 2016]
Comédia - 106 min
O lado B da
Hollywood dos anos 1950 se funde [e se confunde] à sua própria magia
atmosférica nessa deliciosa sátira dos irmãos Coen. Cheia de referências, a
maioria delas mordazes, e autorreferências, a narrativa visita gêneros e histórias
de bastidores, sempre tendo em mente o cinéfilo nostálgico. [14.04.16 –
Cinépolis Rio Poty]
MOGLI – O MENINO LOBO * * *
[The Jungle Book,
EUA, 2016]
Aventura – 105 min
Favreau faz uma
arrebatadora live action da animação de 1967, mantendo certos elementos
indispensáveis para nos remeter à Disney de outrora. Ao mesmo tempo, injeta
ritmo, perigo e um tom sombrio para fisgar o público contemporâneo. Mesmo sendo
feito 99% de efeitos visuais, há alma escondida entre os pixels: o Mogli feito
pelo estreante Neel Sethi e sua relação com a natureza selvagem. As
necessidades básicas da canção do urso Baloo numa embalagem over. [14.04.16 –
Cinépolis Rio Poty]
A ILHA DOS MORTOS * * *
[Isle of the Dead,
EUA, 1945]
Terror - 71 min
Mark Robson alcança
momentos de arrepiar os pelos da nuca sem sacrificar o caráter psicológico da
narrativa. Inspirado pela pintura de mesmo nome do simbolista suíço Arnold
Böcklin, o roteiro de Ardel Wray consegue propor camadas e elementos
[históricos e mitológicos] de forma concisa, e até dribla nossas expectativas
da metade para o final. O elenco traz Boris Karloff num interessante personagem
que trafega na zona cinzenta. [18.04.16]
LUA CAMBARÁ – NAS ESCADARIAS DO PALÁCIO * *
[Idem, BRA, 2002]
Drama - 94 min
A lenda cearense
perde muito do seu assombro na narrativa pouco consistente, mas personalíssima,
de Rosemberg Cariry. [19.04.16 – CineBrasilTV, madrugada]
EM NOME DA LEI * *
[Idem, BRA, 2016]
Policial - 115 min
Rezende entrega uma
narrativa rasa, didática, cheia de elementos frouxos – os diálogos, o romance
forçado, os flashbacks explicativos – e atuações dignas da mecânica televisiva.
[21.04.16 – Cinema Teresina]
O CAÇADOR E A RAINHA DO GELO * *
[The Huntsman:
Winter’s War, EUA, 2016]
Aventura - 114 min
Prequência e
sequência ao mesmo tempo, um descarado caça-níqueis cuja estrutura "corre
atrás do próprio rabo". [21.04.16 – Cinemas Teresina]
SARGENTO GETÚLIO * * * *
[Idem, BRA, 1983]
Drama - 85 min
O "'Apocalypse
Now' do terceiro mundo", como bradou Luiz Carlos Barreto, conserva sua
energia visceral, fiel ao livro de João Ubaldo Ribeiro [1941-2014], e um
formidável Lima Duarte. É ele quem carrega a narrativa, adaptada por Hermanno
Penna e Flávio Porto, com a colaboração do próprio autor, cheia dos
contundentes monólogos advindos da obra original. Penna estreia na direção de
longas com pegada firme e diferenciada, auxiliado pela “leveza” da câmera 16 mm
e Walter Carvalho na fotografia, refletindo a gradativa loucura do protagonista
avesso às mudanças de interesses políticos em pleno sertão brasileiro dos anos
1940. Destaca-se também pela qualidade da captação de som direto. Rodada em 1978,
a produção passou cinco anos encalhada na Embrafilmes. Apesar do recorte
histórico, revela-se uma experiência cinematográfica fundamentalmente
atemporal. [22.04.16]
A MORTA-VIVA * * *
[I Walked with a
Zombie, EUA, 1943]
Terror - 68 min
O zumbi místico
pré-George Romero nesse terror atmosférico com a sugestiva direção do francês
Jacques Tourneur. [23.04.16]
Ver – WITHE ZOMBIE
/ CAT PEOPLE [1942]
BAR ESPERANÇA (O ÚLTIMO QUE FECHA) * * * ½
[Idem, BRA, 1983]
Comédia/Drama - 118
min
Com ótimo roteiro,
Hugo Carvana cria uma narrativa muito afetuosa sobre as crises artísticas e
existenciais e como afetam os relacionamentos. Comédia dramática assumidamente
etílica construída por momentos, alguns antológicos. Sente-se o carinho que a
produção emana nos seus realizadores. O bar é um personagem à parte, o templo
da amizade, da ciranda de ideias e [des]encontros. Há tiradas inspiradíssimas e
equilíbrio entre os gêneros. Peça rara na cinematografia brasileira. [24.04.16]
Ver – VAI TRABALHAR
VAGABUNDO [1973] / SE SEGURA, MALANDRO! [1978]
O TREM
* * *
[The Train,
FRA/ITA/EUA, 1964]
Guerra/Ação - 128
min
John Frankenheimer,
substituindo Arthur Penn na direção, se vale de um elaborado roteiro [indicado
ao Oscar] para manter a narrativa realista, sem deixar de lado a tensão
absorvente. [25.04.16]
O ABRAÇO DA SERPENTE * * * *
[El Abrazo de la
Serpiente, COL/VEN/ARG, 2015]
Drama - 124 min
O colombiano Ciro
Guerra nos guia por uma densa jornada de iluminação, cheia de misticismo,
aculturação e loucura, pela Amazônia do início do século XX. Fascinante. [28.04.16]
CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL * * *
[Captain America:
Civil War, EUA, 2016]
Aventura - 147 min
Nesse "Vingadores
2.5", o esforço em equilibrar, diegeticamente, tantos personagens e os
tons de cada um é a verdadeira atração principal. O mérito do desafio assumido
e, entre erros e acertos, vencido pertence a duas duplas: os irmãos diretores
Anthony e Joe Russo e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely.
Óbvio que seria muito difícil não caírem nas armadilhas narrativo-estruturais:
cenas enxutas, diálogos expositivos e reviravoltas fáceis de prever. Ainda mais
tendo de introduzir dois novos heróis ao Universo Cinematográfico Marvel, o
interessantíssimo Pantera Negra e o juvenil Homem-Aranha. Diante disso, até que
o resultado se salva, com o desenvolvimento do enredo quase como um thriller de
conspiração e as peças se posicionando no tabuleiro da maneira mais orgânica
possível [as motivações para o racha da trupe são bem trabalhadas, na
superfície e pegando carona nos filmes anteriores, em ambos os lados], embora a
produção passe por cima do próprio conceito [trata-se mesmo de uma aventura do
Capitão América? seria uma guerra civil sem a participação popular? filosofem
aí...]. Vindos da comédia, os Russos capricham nas sequências de ação,
injetando humor no entrevero [a palavra da semana, né?] entre os times formados
pró e contra a supervisão das atividades dos Avengers pela ONU, quando todo
mundo arranja alguém para brigar. Algumas participações são narrativamente
descartáveis e praticamente inexistem cenas de respiro do enredo, é tudo
espremido para caber no frame e conciso para manter a duração inferior a duas
horas e meia. Em questão de minutos fazem-se as pazes e desfazem-se de novo.
Mas, eu sei disso, é parte do jogo comercial: entregar um filme que
automaticamente puxa outros tantos vindouros. A Marvel é estrategista nata. E
nessa área, até agora, não há páreo. [28.04.16 – Cinemas Teresina]
AMIGOS PARA SEMPRE * * ½
[Four Friends, EUA,
1981]
Drama - 115 min
O roteiro
semi-autobiográfico do iugoslavo Steve Tesich possui curvas dramáticas que
podem soar forçadas, mas a direção de Arthur Penn injeta uma boa atmosfera
nostálgica. [30.04.16 – madrugada]
Ver – O VENCEDOR
[1979] / TESTEMUNHA FATAL [1981] / AMERICAN FLYERS [1985] / ELENI [1985]
Maio – 24 filmes
BIRD *
* *
[Idem, EUA, 1988]
Drama/Musical - 161
min
A condução segura
de Clint Eastwood, que deu uma guinada na carreira de diretor, e a performance
soberba de Forest Whitaker, premiada em Cannes, como o saxofonista Charlie
Parker [1920-1955] conseguem superar a estrutura labiríntica composta por
flashbacks dentro de flashbacks do roteiro de Joel Oliansky. [01.05.16]
Ver – A COMPETIÇÃO
[1980] / CORAÇÃO DE CAÇADOR [1990]
CRIMES DA ALMA * * *
[Crona di un Amore,
ITA, 1950]
Drama/Suspense - 98
min
Em seu début na
direção de longas metragens, Michelangelo Antonioni põe o próprio neorrealismo
italiano como pano de fundo para flertar com o "film noir". Lucia
Bosé, então com 19 anos, é o pivô de uma trama de crime e amor, ambos em
sentidos morais, que vai se descascando aos poucos. De fato, um começo muito
promissor. [02.05.16]
Ver – A MORTE DE UM
CICLISTA [1955]
O RENASCIMENTO DO PARTO * * ½
[Idem, BRA, 2013]
Documentário – 90
min
À parte seu
acabamento de forma e estrutura sofrível, suscita reflexões importantes – diria
mesmo essenciais, quem sabe urgentes – acerca do paradoxo de [re]humanizar o
processo de trazer um ser humano à vida. [03.05.16]
KRAMPUS – O TERROR DO NATAL * ½
[Krampus, EUA/NZE,
2015]
Terror - 98 min
Pesadelo natalino –
e cinematográfico – inspirado num folclore austríaco tão antigo quanto o
próprio Papai Noel. Credo! [04.05.16]
REAL BELEZA * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 97 min
Em tese, Jorge
Furtado usa os elementos certos para relativizar o belo. Contudo, ao invés de
elevar, a temperatura arrefece gradativamente. [04.05.16 – Canal Brasil]
IRMÃS DIABÓLICAS * * ½
[Sisters, EUA,
1973]
Suspense - 93 min
Primeiro
exercício-homenagem de Brian De Palma a Hitchcock, compensa na estética o que
não alcança no roteiro. [05.05.16]
COLONIA
* * ½
[Idem, ALE/LUX/FRA,
2015]
Drama/Suspense -
110 min
Florian
Gallenberger arrefece seu filme-denúncia com artifícios bobos e pouca ousadia,
mas é um estalo para pesquisar sobre o enclave Colonia Dignidad, ao sul do
Chile, fundada pelo ex-suboficial nazista Paul Schäfer em 1961. Um local de
abusos sexuais, trabalhos forçados, sequestros, contrabando de armas,
fabricação de gás venenoso. E o pior, tudo subvencionado pelo governo chileno
por décadas. O recorte do enredo é o golpe militar de 1973, quando a Colonia
foi usada como centro de tortura da Dina – Diretoria de Inteligência Nacional,
a polícia secreta do país. A realidade, naturalmente, dá uma terrível rasteira
na ficção. [09.05.16]
NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 106 min
Após um início
escancaradamente esquemático, a narrativa de Roberto Berliner [“A Pessoa é para
o que Nasce”, 2003] cresce e se solidifica em torno da arte como terapia e, o
mais importante, da humanização do olhar para os internos de instituições
manicomiais. Isso no Brasil da década de 1940! Glória Pires defende com
sobriedade a figura da psiquiatra humanista Nise da Silveira [1905-1999],
ajudada por um elenco irrepreensível. E é esse humanismo extemporâneo da
personagem-título que torna o filme uma sessão comovente sem perder o
equilíbrio. Há uma sinceridade nos frames que passa por cima das fraquezas
cinemáticas. Como exemplo o primeiro encontro de um cliente, como Nise se
referia aos pacientes, com a tela em branco, sob a “guarida” compassiva da
médica, é de uma beleza simbólica que não precisa de palavras. Basta sentir. [10.05.16
– Cinépolis Rio Poty]
MÁRTIRES
* * *
[Martyrs, FRA/CAN,
2008]
Terror - 99 min
Um gore-tese para
quem tem estômago forte e bons nervos para processar todas as camadas de “iluminação”
pelo sofrimento. Inspirado por “O Albergue” [2005], Pascal Laugier
escreve/dirige um enredo aparentemente difícil de prever, com referências até
mesmo a “Psicose” [1960], de Hitchcock. A narrativa não se apoia em jumpscares,
mas na atmosfera de medo e loucura. Muda de forma radical na metade, quando o
calvário experimentado por uma das personagens revela a verdadeira natureza temática
da obra. E que natureza! A lógica, por mais absurda que possa parecer, é de um
sadismo metafísico capaz de ficar ecoando nas mentes impressionáveis por algum
tempo. [11.05.16]
SPECIAL CORRESPONDENTS * *
[Idem, GB/EUA/CAN,
2016]
Comédia - 100 min
A suposta sátira à
antiética midiática se perde no humor bobo e um roteiro que mais parece o
primeiro rascunho. Remake do francês “Envoyés trés spéciaux” [2009] para a
Netflix, Rick Gervais é capaz coisas mais interessantes. [13.05.16]
PERMANÊNCIA * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 90 min
O forte aqui não é
nem o texto em si, mas como o cineasta pernambucano Leonardo Lacca trabalha o
intimismo narrativo por meio de um tom dramático comedido e dos tempos mortos. [14.05.16
– Telecine Cult]
ON THE ICE
* * ½
[Idem, EUA, 2011]
Drama/Suspense - 96
min
Além de lançar luz
sobre a comunidade inupiat [Alasca] dos dias de hoje, há ecos dostoievskianos
permeando o enredo. [15.05.16 – Regina’s house]
A CAMAREIRA * * ½
[Das Zimmermädchen Lynn, ALE,
2014]
Drama - 86 min
O alemão Ingo Haeb
observa o cotidiano/universo da protagonista sem apelar para grandes
subterfúgios dramáticos. Controla bem o tempo narrativo e o que está fora do
quadro, confiante na atuação de Vicky Krieps. [16.05.16]
Ver – ESSE LOUCO,
LOUCO AMOR [1969]
A HISTÓRIA VERDADEIRA * * ½
[True Story, EUA,
2015]
Drama - 99 min
O jogo de palavras
entre Jonah Hill e James Franco, em atuações interessantes, serve como um sutil
[será?] guia dramático-narrativo. [16.05.16 – Telecine Premium]
ANGRY BIRDS: O FILME * * ½
[Angry Birds,
FIN/EUA, 2016]
Animação - 97 min
A adaptação do
popular game finlandês possui uma estrutura sofrível – flashbacks e devaneios
interrompem o fluxo da narrativa com frequência –, compensada pelo humor vindo
dos personagens. Deveriam ter investido mais nas referências cinematográficas
[há uma ótima de “O Iluminado” [1980], por exemplo] para cativar a atenção dos
adultos. [17.05.16 – Cinépolis Rio Poty]
X-MEN: APOCALIPSE * * *
[X-Men: Apocalypse,
EUA, 2016]
Aventura/Ficção -
144 min
Singer é mais
ambicioso em sua macroestrutura do que necessariamente indefectível numa
observação cautelosa. Não é tão mirabolante quanto “X-Men: Dias de um Futuro
Esquecido” [2014]; em compensação é mais redondo nos vieses dramáticos. A
questão de um mutante original, confundido [por quem? por ele mesmo?] com um
deus saído do Velho Testamento é atraente, possui apelo narrativo para um
suposto fechamento da segunda trilogia. Fora a marca de ouro da série: a
intolerância e o preconceito margeando a construção dos personagens e suas
motivações. Magneto, por exemplo, tem um arco sofrido aqui, e que serve de
gatilho para a complicação da crise. Outros também. Poderiam ter sido melhor
trabalhados? Claro, sempre. Há muita coisa – comercial – em jogo, as cenas
precisam avançar no modo expositivo e amarrar o que pede um nó. A presença
ativa da personagem Moira entrega as indulgências da produção – ela não
precisaria ir além da cena em que explica o vilão. Porém, o roteiro é esperto
ao justificá-la romanticamente no final. Concessões para ampliar o público.
Quem nunca? E o que pensar quando novamente uma única e elaboradíssima
sequência com o ultraveloz Mercúrio se destaca mais do que o restante da
produção? Contudo, o verdadeiro problema não se encontra no filme em si, e sim
em sua posição cronológica dentro da franquia. Bryan Singer retornou sob o
fardo da culpa por ter abandonado “X-Men: O Confronto” [2006] para cometer o condenado
ao limbo “Superman – O Retorno” [2006], e desde então ficou obcecado em
consertar o que quer que foi danificado. O filme anterior conseguiu juntar as
duas versões do elenco [a nova advindo de “X-Men: Primeira Classe”, 2011], o
que esse novo ignora por completo. Tanto que ninguém sabe em que realidade paralela
Wolverine [cuja participação promete o tom do terceiro filme-solo] acordou no
desfecho de “Futuro Esquecido” para encontrar a Jean Grey de Framke Janssen,
rejuvenescida agora na pele de Sansa Star... desculpa, Sophie Turner. Essa
“timeline resetada” é a coisa mais próxima dos quadrinhos que o cinema já fez,
o que apenas legitima a piada feita por Deadpool sobre o quão confuso passou a
ser acompanhar a série. A franquia “X-Men” comprova ser sólida mesmo depois de
rearrumada. Porém, se pensarmos bem, essa arrumação da casa só fez ela ficar
ainda mais bagunçada. E justo em sua pretensiosa macroestrutura. Em tempos
pós-temporâneos, vai ver seja esse o charme da coisa. [19.05.16 – Cinépolis Rio
Poty]
VIZINHOS 2
* *
[Neighbors 2: Sorority Rising, EUA, 2016]
Comédia - 92 min
Fora a vibe
feminista, a anos-luz de ser bem trabalhada, e uma ou outra tirada engraçada
[para quem não se converteu ainda ao politicamente correto], não há muito o que
defender nessa sequência que, no mínimo, não está nem aí para os furos no
roteiro. [20.05.16 – Cinemas Teresina]
VENTOS DA LIBERDADE * * *
[The Winds that
Shekes the Barley, IRL/GB/ALE/ITA/ESP/FRA/BEL/SUE, 2006]
Drama - 127 min
A narrativa
engajada de Ken Loach [direção] e Paul Laverty [roteiro] trafega pelo despertar
ideológico [na Irlanda do Norte da década de 1920] e como isso une, mas também
separa, as pessoas. O filme tenta conciliar contexto político, construção de
personagem, cenas intimistas e concisão dramatúrgica, com resultado premiado
com a Palma de Ouro em Cannes. [23.05.16]
KILL LIST
* * ½
[Idem, GB, 2011]
Suspense/Terror - 92
min
Sem expor muito, ou
dar respostas, a trama proposta por Ben Wheatley perpassa gêneros e referências
para descamar um insuspeito "horror movie". O twist final pode mesmo
deixar muita gente coçando a cabeça. [25.05.16]
JOGO DO DINHEIRO * * *
[Money Monster,
EUA, 2016]
Suspense - 98 min
Como diretora,
Jodie Foster explora bem as possibilidades dadas pelo roteiro esperto,
equilibrando, de maneira até surpreendente, tensão e humor irônico. Apesar de
um deslize inverossímil aqui e um exagero de dramaturgia ali, o resultado
atmosférico funciona. Cria sintomática [mais uma] da crise financeira de 2008
nos Estados Unidos, quem sabe a narrativa amoleça na revelação do mistério –
isso enquanto comentário mordaz à engrenagem de Wall Street, ainda a definir
quem vive ou morre, e não apenas no sentido figurado. Mesmo assim, ancorado nas
presenças carismáticas de George Clooney e Júlia Roberts [Jack O’Connell
termina sendo o elo fraco entre eles] e nos meandros da espetacularização
midiática sempre cara ao cinema, o filme incita uma dura, mas necessária,
reflexão acerca do capitalismo especulativo perverso. [26.05.16 – Cinemas
Teresina]
A ASSASSINA * * *
[Nie yin niang,
TWN/CHI/HKG/FRA, 2015]
Drama - 105 min
A belíssima direção
de Hsiao-Hsien Hou, premiada no Festival de Cannes, leva o gênero wuxia [de
artes marciais] a um nível contemplativo, quase hermético em termos narrativos,
exigindo do espectador uma entrega diferenciada. [30.05.16]
CALIFÓRNIA
* * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 85 min
Sobram honestidade,
sensibilidade, nostalgia, e um soundtrack irretocável pinçando os anos 1970 e
1980, nessa saborosa estreia na ficção de Marina Person. Já vimos [centenas] de
filmes sobre ritos de passagem antes – e continuaremos a vê-los; porém, a
narrativa desse consegue uma dulcidão atmosférica, uma delicadeza e
positividade no manejo dos temas [batidos, mas nem por isso menos relevantes],
que justifica todo o nosso envolvimento emocional. Quem sabe a opção por uma
metragem enxuta sacrifique coisas interessantes, como o pano de fundo
sócio-político do Brasil de 1984 e um aprofundamento da relação da protagonista
[Clara Gallo, ótima] com o tio que retorna dos Estados Unidos com AIDS [Caio
Blat, melhor do que de costume]. Felizmente, Marina Person sabe usar as
referências afetivas que selecionou, tanto as musicais quanto as
cinematográficas [os filmes de John Hughes], para pincelar um retrato carinhoso
de uma fase conturbada da juventude sob a ótica feminina – delimitada de forma
clara pelas primeira e última cenas – e, consequentemente, da geração que
conheceu tão bem. [30.05.16 – Canal Brasil]
ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO * *
[Alice Through the
Looking Glass, EUA, 2016]
Aventura - 113 min
De certo há boas
mensagens sobre o tempo e a família, mas essa sequência peca feio em estrutura
e ritmo. [31.05.16 – Cinépolis Rio Poty]
TIRANDO O ATRASO * ½
[Dirty Grandpa,
EUA, 2016]
Comédia - 109 min
É menos o humor
rasteiro, posando de politicamente incorreto, e mais as indulgências narrativas
[a falta de timing da direção e da montagem é gritante] que atestam o quanto
não passa de um caça-níqueis despudorado. [31.05.16]
Junho – 22
filmes
WARCRAFT – O PRIMEIRO ENCONTRO DE DOIS MUNDOS * * ½
[Warcraft, EUA,
2016]
Aventura - 123 min
Um "fan
film" assumido, a imersão no universo advindo do game online é fantástica,
em termos de atmosfera, detalhes e personagens. Porém, as articulações da
narrativa soam pouco consistentes, os desdobramentos dão a impressão de serem
corridos, as motivações e surpresas antepostas sem muito grau de dificuldade. O
que contrasta com a densidade [à la “Game of Thrones”?] sugerida pelo tom da
produção. Duncan Jones já demonstrou ser um cineasta inteligente em “Lunar”
[2009] e “Contra o Tempo” [2011], e até é justificável sua opção por um
blockbuster absorvente, transformando Azeroth numa espécie de Terra-Média.
Faltou apenas um enredo mais interessante e menos óbvio. Um dos acertos do
filme é mostrar as razões para guerrear como diferenças fundamentalmente
culturais – para os orcs, é a maneira natural do seu povo resolver os conflitos
[o que pode servir como um espelho crítico para certas regiões do mundo real]. Por
outro lado, não ajuda muita a consciente pretensão de ser o primeiro capítulo
de uma provável franquia, e o subtítulo brazuca entrega a jogada, pois fica
tudo no ar num desfecho fraquinho. Mesmo nunca tendo jogado o MMORPG lançado em
2004 [não me excomunguem, gamers], fui conferir com certa expectativa. Será que
forem essas as peças faltantes? Hum... A adaptação cinematográfica aposta
pesado, e se arrisca, no CGI, o que Jones tenta tirar proveito para catapultar
o espectador nessa experiência imersiva. Os fades e fusões usados sem um timing
melhorzinho são o que de imediato perigam causar um efeito contrário, sair de
Azeroth direto para a sala de cinema. Ainda bem que retornar para a fantasia é
apenas um empurrãozinho de nada. [02.06.16 – Cinépolis Rio Poty]
HAEMOO
* * *
[Idem/Sea Fog, KOR,
2014]
Suspense - 111 min
Após o twist da
metade, a narrativa de Sung-bo Shim, estreando na direção, subverte a si mesma
e eleva o nível de tensão com habilidade notável. Produzido e coescrito por Joon-ho
Bong [“Memórias de um Assassino”, 2003], foi inspirado num evento ocorrido em
2001. Trata-se de uma experiência que transita entre gêneros. [04.06.16]
A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Comédia - 76 min
Sem qualquer tipo
de expectativa, até que possui uma premissa criativa para comentar a falta de
ética jornalística – inventa-se um serial killer apelidado de Assassino dos
Provérbios na “cidade mais pacífica do mundo [!]”. Além disso, essa estreia na
ficção de Calvito Leal [“Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”, 2009] traz
referências metalinguísticas que quase soam como um recheio extra. O roteiro
absurdo tenta ser espertinho e entregar um humor “inteligente”, comparado a
outras produções à la globochanchada, o que nem é grande vantagem assim. Porém,
enquanto o tema requeria um texto mais astuto, satírico, ousado, esse não sai
da superfície e desliza nos movimentos finais. As atuações são caricaturais,
sem fugir à regra do que é fei[t]o no gênero dentro da cinematografia nacional
contemporânea. Se há frescor no filme, é ser enxuto e, aqui e ali, cometer sacadas
minimamente inspiradas. Algumas delas nos assassinatos proverbiais. Entenda
isso como quiser. [05.06.16 – Telecine Premium]
O CANAL
* * * ½
[The Canal, IRL/GB,
2014]
Terror - 93 min
O irlandês Ivan
Kavanagh acerta ao optar pelo terror atmosférico, tendenciosamente psicológico,
com resultado tenso e inquietante. Som e montagem muitíssimo bem orquestrados
para assustar de modo genuíno sem a necessidade dos famigerados jumpscares. Não
faltam cenas de gelar a espinha. [05.06.16]
A CASA DA NOITE ETERNA * * *
[The Legend of Hell
House, GB, 1973]
Terror - 93 min
Além da
aterrorizante atmosfera fantasmagórica, a produção ainda intenta propor um diálogo
entre ciência e sobrenatural. Adaptado do livro de Richard Matheson pelo próprio,
o roteiro se esforça para ser sóbrio mesmo escancarando sem sutileza todos os elementos
do subgênero “casa mal-assombrada”, o que o levou a ser considerado por muitos
um dos “filmes mais assustadores do século XX”. E isso apenas seis meses antes da
estreia de outro dos “filmes mais assustadores de todos os tempos”, “O
Exorcista” [1973]. Superlativos me cansam, dá-lhe aspas neles. Para o bem ou
para o mal, trata-se de uma sessão que mexe com o espectador até hoje. Os
clássicos valores poltergeists usados por Matheson foram inspirados pelas
histórias macabras do ocultista Aleister Crowley e, principalmente, por
“Desafio do Além” [1963], pérola dirigida por Robert Wise. O contraponto de
crenças entre os personagens é um de seus pontos altos, deixa tudo bem
estruturado e justifica o twist final, que, se causa espanto genuíno, também serve
como elo credível para o diálogo proposto. A direção do britânico John Hough e seus
estilosos enquadramentos de câmera realçados por lentes grande-angulares fazem
os cineastas contemporâneos parecerem estudantes caretas. A trilha sonora, uma
das primeiras a arriscar com música eletrônica, consegue trabalhar bem a dupla antecipação
temporal pedida o tempo todo pela história de fantasmas atormentados. No elenco,
embora Clive Revill faça as vezes de protagonista e Gayle Hunnicutt se favoreça
da temática psicossexual, quem se destacam são Roddy McDowall [o impagável
Peter Vincent de “A Hora do Espanto”, 1985] e Pamela Franklin, que debutou no
cinema garotinha justamente numa obra-prima dos filmes de assombração em
mansões, “Os Inocentes”, de 1961. Há uma promessa de remake pela Fox, a qual
não tenho qualquer pressa em ver cumprida. [06.06.16]
À BEIRA MAR * *
[By the Sea,
EUA/FRA, 2015]
Drama - 122 min
A narrativa bela e
fria de Angelina Jolie Pitt emula o distanciamento do casal central [ela e Brad
Pitt, “celebrando” os 10 anos como “Sr. e Sra. Smith”], mas falha
miseravelmente ao buscar uma resolução catártica. [06.06.16]
MAIS FORTE QUE BOMBAS * * ½
[Louder Than Bombs,
NOR/FRA/DIN/EUA, 2015]
Drama - 105 min
Em seu primeiro
filme falado em inglês, o dinamarquês Joachim Trier [“Oslo, 31 de Agosto”,
2011] observa as camadas de incomunicabilidade geradas pelos não ditos e como
cada um se apega à lembrança que lhe convém para justificar a própria dor. O
simples anseio da verbalização da verdade ululante acerca da personagem de
Isabelle Huppert é o que motiva o recorte dramático da narrativa intimista,
revezada entre Gabriel Byrne, Jesse Eisenberg e o pouco conhecido [até agora] Devin
Druid. Pena não trazer um desenvolvimento menos evidente, sem surpresas. Não é
por ter encontrado o tom que Trier não poderia promover uma escansão.
[07.06.16]
COMO SER SOLTEIRA * * ½
[How to be Single,
EUA, 2016]
Comédia - 109 min
Eu já esperava
[será?] que a propaganda fosse enganosa. O "busque a si mesmo"
prometido termina tropeçando em "encontre alguém cedo ou tarde". [07.06.16
– com Lívia]
INVOCAÇÃO DO MAL 2 * * *
[The Conjuring 2,
EUA, 2016]
Terror - 134 min
Ao mesmo tempo em que não se furta dos “jumpscares” – alguns
bem forçados, outros bastante funcionais; todos narrativamente descartáveis
[como as cenas de pavor sem eles comprovam] –, James Wan consegue trabalhar os
personagens e a atmosfera. E, digo logo, equilibrar essa tríade num filme de
terror contemporâneo passa longe de ser tarefa fácil. Retornando à cadeira de
diretor, ocupada no primeiro “Invocação do Mal” [2013], e agora também
colaborando no roteiro, Wan, ao contrário de muitos, possui uma caraterística
importantíssima: sabe usar a câmera para potencializar a história, seja no
“puro” terror ou em momentos emotivos. Dessa maneira, tanto manipula o
espectador nos quesitos preparação, falso susto, “jumpscare” [estrutura básica
do atual gênero], quanto o leva a se importar com os personagens, graças ao
tempo que gasta com eles, aprofundando relações e sentimentos – e isso vale
para o casal Ed e Lorraine Warren e para os membros da família Hodgson,
fragilizados pela ausência do patriarca. O recorte agora é o caso que ficou
conhecido como “poltergeist de Enfield”, Inglaterra, 1977, para onde vai o
casal Warren [novamente Vera Formiga e Patrick Wilson] após o polêmico caso de
Amityville, abordado no prólogo. Não temos as três palminhas do filme anterior
ou a boneca Annabelle [esqueçam o spin-off de 2014]; agora a figura que deve
mexer com o imaginário pós-sessão é o Homem Torto – The Crooked Man das
chamadas rimas de berçário inglesas [nursery rhymes]. Se bem que gostaria de
ter tido mais dele [outro spin-off caça-níqueis à vista? uma ceninha no final
dá a dica...], quando se revela é um furacão: rápido vem, mais rápido vai. Mas
são as interações entre Lorraine e Ed e como, mesmo sem querer a princípio, se
deixam afetar com o calvário dos Hodgsons, sobretudo da menina Janet [Madison
Wolfe], a possuída da vez, que fazem essa sequência driblar os artifícios que
já vimos uma centenas de vezes de um subgênero desgastado. E claro, a
habilidade do malaio James Wan [é ele quem vai dirigir “Aquaman” para a DC]
para tornar a poltrona um refúgio vulnerável sem tentar reinventar a roda, e
sim colar referências que ressoam com eficiência. Fora isso, ainda brinca com
as expectativas falsas que planta sem o menor constrangimento. Está tão à
vontade no terreno onde pisa que explora o design de produção com
planos-sequências e ousa pôr para tocar músicas insuspeitas para o gênero, como
“Can’t Help Falling in Love”, do Elvis, e “I Started a Joke”, dos Bee Gees, esta
flertando com o pastiche à própria narrativa quando parece estar comentando com
ironia [fina? nada sutil?] o circo midiático em torno do ocorrido e que hoje o
considera um “hoax”. Assim como os demais casos paranormais investigados pelos
Warrens. Seja qual for a verdade, os filmes de
casas/mansões/fazendas/apartamentos mal assombrados são desses filões do cinema
que podem até ser exorcizados, mas dificilmente serão eliminados. [09.06.16 – Cinemas Teresina]
TRUQUE DE MESTRE – O 2o ATO * * ½
[Now You See Me 2,
EUA, 2016]
Ação/Suspense - 129
min
A intenção de
entregar uma trama e twists mais elaborados míngua. Em contrapartida, a sessão
compensa com o ótimo ritmo imposto por Jon M. Chu e o elenco entrosado. Essa
sequência soa como um entrefilme, um prelúdio para o terceiro, o já anunciado ato
final. Dessa forma, nenhuma resposta é dada às perguntas do primeiro, de 2013,
as quais são apenas fomentadas, deixadas em aberto. Tudo se resume a um plot de
vingança, mas que, obviamente, é parte de um truque maior. Fácil de prever o
quadro geral sem precisar de tanto esforço assim. Lógico que aqui e ali a
criatividade narrativa impera, mesmo sem causar o choque da surpresa.
Absorvente sob medida para ser assistido com total descompromisso. [10.06.16 –
Cinemas Teresina]
DESTINO ESPECIAL * * ½
[Midnight Special,
EUA, 2016]
Suspense/Ficção -
112 min
Jeff Nichols é
habilidoso ao manter o interesse do espectador pelo mistério. O qual, por outro
lado, se revela nada particularmente impressionante, além de deixar todas as
perguntas [sim, são muitas] pairando no ar. Com ecos de “A Montanha
Enfeitiçada” [1975], só que num tom mais sério e urgente, trata-se de um
eficiente exercício de gênero. Contudo, poderia ter sido bem mais do que isso. [11.06.16]
ORGULHO E PRECONCEITO E ZUMBIS * *
[Pride and
Prejudice and Zombies, EUA/GB, 2016]
Comédia/Terror -
109 min
O que
"surpreende" é a tentativa de um "tom sério" [sério?] a
essa brincadeira com o clássico de Jane Austen. Quando, quem sabe, assumindo
sem receios a paródia-pastiche resultasse em algo mais divertido. Baseado no
livro escrito por Seth Grahame-Smith, que já tinha colocado Abraham Lincoln
como um caçador de vampiros [se não viu a adaptação, que ele mesmo roteirizou,
você é um sortudo], termina sendo uma comédia sem piadas e um terror sem clima.
[12.06.16]
PRESERVATION * *
[Idem, EUA, 2014]
Suspense - 88 min
Se há alguma
"tese" sobre os instintos de violência dos seres humanos na narrativa
de Christopher Denham, ela se perde ao ser tratada com gritante
superficialidade. [12.06.16]
ZERANDO A VIDA * ½
[The Do-Over, EUA,
2016]
Comédia - 108 min
Dentro das
"expectativas" de um filme com Adam Sandler e David Spade, esse
"cumpre" direitinho o que "promete". [13.06.16 – Netflix]
SEM RETORNO * * ½
[Self/Less, EUA,
2015]
Ficção/Suspense -
116 min
Com roteiro
assinado pelos irmãos David e Álex Pastor, o cineasta Tarsem Singh [“A Cela”,
2000] converte o instigante "O Segundo Rosto" [1966], dirigido por
John Frankenheimer, num thriller sci-fi cheio de concessões hollywoodianas. A
premissa ainda soa mirabolante [cortesia do escritor David Ely] e dá espaço
para discussões sobre ciêntica e ética. Porém, é narrativamente simplificada
para atrair o maior número de espectadores, chegando até mesmo a ecoar
elementos de “O 6o Dia” [2000], com Schwarzenegger. Produzido na
esteira do sucesso de “Looper – Assassinos do Futuro” [2012], não atinge todo o
seu potencial criativo. [13.06.16 – Netflix]
BOM DIA, TRISTEZA * * ½
[Bonjour Tristesse,
EUA/GB, 1958]
Drama - 90 min
Ligeira impressão
de que o cineasta Otto Preminger e o roteirista Arthur Laurents se perderam na
tradução das entrelinhas sobre a melancolia e o tédio juvenis contidos no livro
da francesa Françoise Sagan, publicado quatro anos antes. O tom do diálogo filme-livro
realça mais as fraquezas da obra original [a autora tinha 17-18 anos quando a
concebeu] do que a atmosfera que fez da mesma um grande sucesso editorial. Alguns
personagens viram meros pastiches e caricaturas de si próprios, enquanto a
tendência de explicar demais os movimentos e motivações do enredo soem frágeis,
sob o aspecto narrativo. Logo no início, por exemplo, a música-título composta
por George Auric e cantada em cena por Juliette Gréco, faz o [des]favor de
resumir tudo o que ainda vamos ver. Em compensação, temos os flashbacks
coloridos que caminham, podemos dizer, para o presente frio e monocromático;
além de um desfecho emocionalmente aterrador. [14.06.16]
MAIS FORTE QUE O MUNDO * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 107 min
Poyart pesa a mão
em seu estilo publicitário para compensar a narrativa biográfica – e
burocrática. Não chega a ser, necessariamente, um pecado mortal. Há inúmeros
precedentes na sétima arte dos anos 1980 [a popularização do videoclipe como
formato estético-narrativo] para cá. Creio que depende muito da sensibilidade
de quem assiste junto com o casamento entre abordagem e conteúdo. Mas é difícil
escapar dos excessos, de todo jeito. Depois de “2 Coelhos” [2012] e, agora, da
cinebriografia do lutador de MMA José Aldo, é quase lógico concluir que o santista
Afonso Poyart é um pretenso Michael Bay brazuca. Exagero? Provavelmente. Mas
basta conferir a abundância de slow motions [cuja transição a partir do frame rate
normal é chamada de ramping], snorricams [alguns bem exibicionistas], dutch
angles, cenários digitais, etc., para entender o que estou querendo dizer. Em
contrapartida, o roteiro assinado pelo diretor e lapidado por Marcelo Rubens
Paiva segue a linearidade quase num didatismo novelístico. E se digo quase é
porque há um rápido “in media res” para dar o start e dois flashbacks no final
para amarrar o espectro emocional. Que, apesar de tudo, termina diluído pelo
constante abuso dessa estética cinestésica, embora aqui e ali funcione até bem.
Existem sim bons elementos no filmes, o que não quer dizer que sejam originais
ou vão além da eficiência. Como, por exemplo, o twist em relação ao personagem
Fernandinho [Rômulo Neto], fácil de prever com um pouquinho de atenção. São
artifícios usados por Poyart para se apropriar do enredo e transformá-lo num
produto seu, com a sua pegada pop, enquanto parece tentar descobrir se faz um
drama biográfico sobre se tornar a pessoa que você sonhou ser [o texto reitera
isso sempre que pode] ou um filme de ação e luta acerca de administrar a fúria interior
[alegoria trabalhada sem muita sutileza]. E nesse fogo cruzado de estética e
referências [claro, já vimos essa história outras vezes], o elenco – José
Loreto, Cléo Pires, Milhem Cortaz, Jackson Antunes – dança com relativo molejo
ao ritmo do zunido dos jabs. Com estreia adiada em cinco meses por causa do
fatídico UFC 194, no geral o filme está apto a inebriar os sentidos do público
viciado em boas histórias de superação. A de José Aldo Júnior é uma delas.
Faltou apenas menos distração do estilo autoadimirado. [20.06.16 – Cinépolis
Rio Poty]
AS TARTARUGAS NINJA: FORA DAS SOMBRAS * * ½
[Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows, EUA, 2016]
Ação - 112 min
O apelo nostálgico da
produção [os espectadores com mais de 30 anos vão curtir as referências] com
frequência é engolido pelo abuso do CGI e o humor assumidamente bobo – o que,
para o bem ou para o mal, faz parte do universo dos personagens. E até
funciona. Não fosse a narrativa descompromissada, que não se leva a sério,
seria mais difícil se deixar levar pela experiência. A forçada de barra vem
mesmo com o terceiro ato à la “Os Vingadores” [2012]. Em compensação, há ritmo
e carisma [digital] de sobra. [22.06.16 – Sala Macro XE, Cinépolis Rio Poty]
INDEPENDENCE DAY: O RESSURGIMENTO * * ½
[Independence Day:
Resurgence, EUA, 2016]
Ficção - 119 min
Tenta retomar a
atmosfera do original, mas sofre com o avanço dos efeitos digitais e,
sobretudo, com o sinal dos tempos. Se há 20 anos [eu num Ballon Center com
gente saindo pelo ladrão...] era um verdadeiro evento cinematográfico, com
adaptação em quadrinhos e tudo, algo comum na época, hoje é “apenas” mais um blockbuster-em-3D-convertido-na-pós-propdução
da semana. Se o filme de 1996 deu uma nova amplitude ao subgênero do
filme-catástrofe, popular nos anos 1970, mesclando várias técnicas de efeitos
especiais, agora o famigerado CGI [computer generated imagery] domina cada
mísero frame. O textual perde cada vez mais importância para a cinestesia do
espetáculo. Não que “Independence Day” fosse literato, mas era simples e
absorvente – e divertidíssimo – com espontaneidade. Com o peso de duas décadas
de sucesso, a narrativa da sequência [se tardia ou não, deixo para você
resolver] brinca de se levar a sério, aglomera roteiristas, um plot mais
“elaborado” e boas ideias que ora não são bem desenvolvidas e ora são
sumariamente esquecidas ou maquiadas. No fim das contas, a narrativa em
paralelo entrega subtramas que não fariam qualquer falta ao “logos” do enredo.
Como exemplo, o barco com os pescadores russos e a jornada com crianças do
personagem de Judd Hirsch. Por outro lado, é ótimo rever rostos conhecidos em
papéis que os marcaram: Jeff Goldblum, Bill Pullman e Brent Spiner, o
tresloucado dr. Okum, além de pequenas participações de Vivica A. Fox e Robert
Loggia. Da nova geração, temos Liam Hemsworth, Jessie T. Usher, Maika Monroe e
Nicholas Wright. Sem falar de Charlotte Gainsbourg entrando em Hollywood. Will
Smith não quis participar. Ponto. [Para ele?] Goldblum assumindo o protagonismo
do filme foi das melhores decisões de Emmerich e Dean Devlin. Como não notar a
homenagem rápida [sutil? nem tanto.] que o ator faz ao seu personagem da
franquia “Jurassic Park”? Impossível. Mas a necessidade da produção em ser
“canônica” não reverbera no resultado final: além de repetir a estrutura e até
mesmo cenas do primeiro filme, muito se dilui na falta de criatividade no lidar
com uma nova invasão alienígena, e até “Star Wars” não escapa de, pela enésima
vez, ser referenciado. Como eu já disse, até há resquícios de boas ideias, como
o campo gravitacional da espaçonave substituir o canhão de laser nas sequências
de destruição, mas que não são devidamente aproveitadas e ficam a anos-luz do
impacto de se estar no cinema 20 anos atrás. Um “Independence Day 3” está sendo
planejado para os próximos anos. Espero que também seja pensado. Caso o
contrário, precisaremos esperar outras duas décadas para uma nova reinvenção
dos filmes-catástrofes. [23.06.16 – Cinépolis Rio Poty]
ÁREA 51
* *
[Area 51, EUA,
2015]
Ficção - 91 min
Embora mexa com o
nosso imaginário acerca dos mistérios que cercam a famosa base militar
norte-americana no deserto de Nevada [com existência assumida oficialmente apenas
em 1994], e seja particularmente tenso nos seus 30 minutos finais, esse novo
"found footage" de Oren Peli – realizador do primeiro “Atividade
Paranormal”, de 2007 – nunca convence enquanto narrativa. [26.06.16 – Sala de
Vídeo/quarto provisório, madrugada]
PARA MINHA AMADA MORTA * * *
[Idem, BRA, 2015]
Drama - 113 min
Pela primeira vez
assinando sozinho a direção e o roteiro de um longa metragem, Aly Muritiba
trafega por caminhos tortuosos, num drama com atmosfera de suspense e foco nos
personagens. Todo construído numa tensão latente [e os planos-sequência
contribuem para isso], subverte as expectativas ao nunca explodir no thriller
prenunciado. Ao invés disso, a investida é mais psicológica e existencial, com
ecos de “Teorema” [1968], de Pasolini, mas com as motivações todas
explicitadas. O título de trabalho, “O Homem que Matou a Minha Amada Morta”, resume
de cara o leitmotìv de um filme com mais camadas do que a princípio aparenta. [27.06.16
– Sala de Vídeo/quarto provisório, madrugada]
PROCURANDO DORY * * *
[Finding Dory, EUA,
2016]
Animação - 97 min
Andrew Stanton,
junto com o codiretor Angus MacLane, reencontra a atmosfera fascinante do
primeiro filme. Não arrisca inovar, e certamente não acerta tanto quanto em
“Procurando Nemo” 13 anos atrás [há pontos frouxos e decisões indulgentes, num
olhar clínico]. Mesmo assim, consegue trabalhar bem elementos nostálgicos e
contemporâneos na narrativa de personagens cativantes e entregar uma sessão
submarina agradabilíssima. Dessas de sair do cinema agradecendo a Pixar por
tornar o mundo, ao menos pelo tempo de duração da obra, um lugar melhor.
[30.06.16 – Cinépolis Rio Poty]
Julho – 23
filmes
SUBLIME
*
[Idem, EUA, 2007]
Suspense - 113 min
Se existem boas
ideias nesse filme para home video, elas são engolidas por um enredo
pessimamente estruturado em flashbacks forçados. Além disso, o roteiro não
consegue justificar narrativamente [não amarra os próprios laços de maneira
convincente] sua desconfortável mensagem em relação ao erro médico e,
sobretudo, ao estado de coma. Sobre o porquê do título ser “Sublime”, não faço
a mínima ideia. [03.07.16 – HBO]
DECISÃO DE RISCO * * *
[Eyes in the Sky,
GB/ZAF, 2015]
Suspense - 102 min
Sem perder a
tensão, esmiuça os meandros burocráticos, políticos, éticos e psicológicos por
trás de um ataque com drone. Embora Andrew Niccow já tenha refletido sobre o controverso
tema em “Morte Limpa” [2014], foram o diretor Gavin Hood e o roteirista Guy
Hibbert que mostraram como a sujeira se escancara no fato de ninguém querer
assumir a responsabilidade pelos danos colaterais. Último papel de Alan
Rickman. [03.07.16]
PORTA DOS FUNDOS: CONTRATO VITALÍCIO * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Comédia - 100 min
O primeiro longa do
coletivo brasileiro de humor popular na internet aposta na sátira ao universo
contemporâneo das celebridades e como isso distorce o próprio processo artístico/cinematográfico.
Mesmo que comece bem melhor do que termina – não me refiro ao desfecho em si,
mas como a história gradativamente vai se desgastando, exaurindo a piada –, já
sai na frente de qualquer produto da globochanchada. O diretor Ian SBF e o
ator/corroteirista Fábio Porchat não chegam a impressionar como fizeram em
“Entre Abelhas” [2015], mas entregam uma comédia na qual a graça vem do absurdo
da situação e das figuras que transitam por ela. O elenco inteiro do Porta dos
Fundos, com a exceção daqueles que deixaram o grupo até pouco tempo atrás, consegue
ser aproveitado, embora o filme sofra com o inchaço de personagens e
estereótipos. Por outro lado, dá para se ter uma ideia do quanto Gregório
Duvivier e o próprio Porchat são bons atores quando pisam em terreno conhecido.
A velha e boa estrutura de apenas o protagonista parecer “normal” gera momentos
hilários, do mais puro nonsense. A trupe não alcança a preciosidade de um Monty
Python, mas não me surpreenderei caso um dia o Porta versão cinema diga, em
alto e bom tom, ao que veio realmente. [05.07.16 – Cinemas Teresina]
OLMO E A GAIVOTA * * * *
[Idem/Olmo &
the Seagull, DIN/BRA/FRA/POR/SWE, 2015]
Documentário/Drama
- 82 min
Fascinante mergulho
nos dilemas existenciais da protagonista durante o afastamento da peça em que
atua [“A Gaivota”, de Tchekov] e o isolamento em casa por conta da gravidez de
risco [verdadeira]. Nessa codireção entre a brasileira Petra Costa [do
maravilhoso e triste “Elena”, 2012] e a dinamarquesa Lea Glob, os gêneros e
formatos se misturam, e se perdem, numa discussão “sobretextual” acerca do
próprio processo de construção narrativa. Onde termina a representação e começa
a realidade? A montagem sugestiva e a presença dos atores Olivia Corsini e
Serge Nicolai – estariam sendo espontâneos ou representando a si próprios? –
provocam uma experiência imersiva, delicada e cheia de camadas com reflexões
que confundem vida real e arte. Um filme raro e precioso. [07.07.16]
CAÇADORES DE EMOÇÃO – ALÉM DO LIMITE * *
[Point Break, EUA/ALE/CHI,
2015]
Ação - 114 min
Mantém a
macroestrutura da premissa do original e os nomes dos principais personagens;
até acrescenta uma filosofia ecológica [fictícia] aos terroristas praticantes
de esportes radicais [o surf agora é coadjuvante]. Infelizmente, o remake escrito
por Kurt Wimmer parece mais preocupado em promover adrenérgicas sequências de
ação, e o diretor/fotógrafo Ericson Core carrega na estética
“cinepublicitária”, do que em contar uma história minimamente convincente.
Como resultado, estamos diante de um genérico "Triplo X" [2002] – que
já soava genérico por si só, mas tinha lá seu charme à época. Passa longe de
fazer jus ao ainda muito eficiente filme dirigido em 1991 por Kathryn Bigelow,
com Patrick Swayze e Keanu Reeves no elenco. [09.07.16]
O NOVÍSSIMO TESTAMENTO * * * ½
[Le Tout Nouveau
Testament, BEL, 2015]
Comédia/Drama - 115
min
O belga Jaco Van Dormael
[“O Oitava Dia”, 1996] constrói uma fábula original com comentário mordaz em
cima dos preceitos cristãos como regulamentadores da vida de cada pessoa. Sobretudo
quando Deus é mostrado como um pai de família alcoólatra, autoritário e abusivo
que fica diante do computador criando leis arbitrárias [e que conhecemos muito
bem] apenas para o seu divertimento. Tão, ou mais, ranzinza que a representação
de Antonio Fagundes em “Deus é Brasileiro” [2003], o que vive em Bruxelas
certamente é mais cruel, como se o do Velho Testamento continuasse misantropo e
entediado com a própria criação. Uma obra inspiradíssima, cheia de ótimas
sacadas [o tempo de vida enviado para os celulares] e ocasionalmente genial [o
toque na mão prostética é de uma ironia fina e devastadora], tinha plenas
condições de ampliar a discussão para além da antítese destino/livre arbítrio.
Contudo, só em não se acanhar ao substituir o gênero por trás do comando desse
computador divino [é preciso relevar algumas indulgências do roteiro] já o
torna cult e ousadamente atual. [09.07.16]
THEY LOOK LIKE PEOPLE * * *
[Idem, EUA, 2015]
Terror - 80 min
Um
"terror" psicológico indie que não mascara a atmosfera de pista
falsas, mas cujo arremate vem como um soco de fé na amizade. Estreando em
longas, Perry Blackshear brinca com as nossas expectativas e realiza o tipo de
filme que precisa ser visto com olhar sensível. [10.07.16]
HARDCORE – MISSÃO EXTREMA * * * ½
[Hardcore Henry,
RUS/EUA, 2015]
Ação - 97 min
Em primeira pessoa a
adrenalina é elevada à enésima potência numa experiência absolutamente
cinestésica. Não é a primeira vez que a técnica da câmera subjetiva é usada na
narrativa como um todo, tanto que há uma referência ao noir “A Dama do Lago”
[1947], no qual vemos o protagonista apenas quando este se olha no espelho. Mas
se naquele o cineasta Robert Montgomery se valia do recurso para aumentar a
atmosfera de mistério do enredo do escritor Raymond Chandler, aqui o russo Ilya
Naishuller prioriza a estética do videogame para imergir o espectador em pouco
mais de 90 minutos de tirar o fôlego. Literalmente. Usando uma GoPro Hero3
[cuja lente grande angular distorce a imagem, e aí depende de quem não se
incomoda com isso] acoplada numa capacete especial, o filme nos leva a
vivenciá-lo na pele, e nas partes mecânicas, do ciborgue Henry, “interpretado”
tanto pelos dublês [verdadeiros heróis] quanto pelo próprio diretor. Mesmo
desmemoriado, ele não se furta de cumprir as missões que o personagem de
Sharlto Copley, num tour de force de diversidade, lhe confia para derrotar o
telecinético Akan e sua infinidade de capangas em vans personalizadas. Até a
estrutura do roteiro, também de Naishuller, remete a um “first-person” game,
comprovando que a intenção não é ser profundo ou filosófico – embora nada
escape às mentes treinadas – mas divertir, sacudir, incitar o “como diabos
fizeram isso?”, embora essa fase do puro encantamento não exista mais. Ilya
Naishuller levou a técnica usada nos clipes “The Stampede” e “Bad
Motherfucker”, da banda conterrânea de indie rock Biting Elbows, a uma escala
maior, banhada em violência gráfica e num ritmo enérgico. Não chega a
reinventar o cinema de ação, porém oferece uma refrescada nas possibilidades de
um gênero no qual a criatividade anda a zero. [11.07.16]
A ERA DO GELO: O BIG BANG * * ½
[Ice Age: Collision
Course, EUA, 2016]
Animação - 94 min
Nesse quinto filme
da franquia [dizem que é o último, mas, hum, sei...], o esquilo Scrat pega as
melhores referências a outros filmes de ficção, de “Gravidade” [2013] a “2001:
Uma Odisseia no Espaço” [1968]. Os personagens continuam carismáticos o
bastante para engolirmos mais uma aventura deles tentando sobreviver e se
manter unidos. Temos tanto arcos paternais quanto de relacionamentos entre a
conhecida trupe composta por Manny, Sid, Diego, Ellie, mais os que também
retornam. Todavia, a tradução brasileira equivocada do subtítulo [que mal
comercial acarretaria manter “Rota de Colisão”?] é um total desserviço ao
público-alvo que ainda está aprendendo, ou vai, sobre o Big Bang como a
principal teoria até agora da origem do Universo – e não da quase destruição do
planeta Terra durante o período glacial. Fica parecendo que, no caso específico,
o cinema não foi à escola. Difícil é saber se a aula foi gazeada de propósito
ou por motivo de doença [mental?]. Melhor mesmo nem perguntar. [11.07.16 –
Cinépolis Rio Poty]
OH BOY
* * *
[Idem/A Coffe in
Berlin, ALE, 2012]
Drama/Comédia - 85
min
Dramédia indie
alemã ideal para quem não sabe qual caminho seguir na vida – ou deseja somente
tomar um café simples. [12.07.16]
AMIZADES IMPROVÁVEIS * *
[The Fundamentals
of Caring, EUA, 2016]
Drama - 97 min
Baseado no livro de
Jonathan Evison, trata-se de um road movie feito de boas intenções [e apenas
disso], escancaradamente esquemático e com atmosfera de telefilme. Apesar do
carisma do elenco esforçado. [13.07.16 – Netflix]
OS OLHOS SEM ROSTO * * * ½
[Les Yeux sans
Visage, FRA/ITA, 1960]
Terror - 91 min
A "fábula de
angústia" de Georges Franju, baseado no livro escrito por Jean Redon, vai
de referências expressionistas ao realismo perturbador com um insuspeitíssimo
toque poético [melancólico?] em sua crítica à vaidade – independente da forma
que ela assume [conhecimento, poder, beleza] – que só se evidencia nas
alegorias do desfecho. Também há a boa utilização dos dois leitmotivs compostos
por Maurice Jarré para as personagens de Alida Valli e Edith Scob, deixando
sugestivamente o médico remoído e obcecado feito por Pierre Brasseur sem score.
É fácil encontrar ecos dessa obra em filmes tão distantes [pelo visto, nem
tanto assim] quanto “Halloween – A Noite do Terror” [1978], de John Carpenter, “A
Outra Face” [1997], de John Woo, e “A Pele que Habito” [2011], de Pedro Almodóvar.
[14.07.16]
CAÇA-FANTASMAS * * *
[Ghostbusters, EUA,
2016]
Comédia - 116 min
O humor esperto
flerta [melhor dizer: “tira onda”] com elementos do original sem nunca
pretender ser apenas uma cópia feminina do mesmo. A narrativa comandada por
Paul Feig [“Missão Madrinha de Casamento”, 2011] possui atmosfera própria,
discute a questão de gênero sem ser afetada e conta com um quarteto de
protagonistas com ótima química – Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Leslie Jones
e Kate McKinnon. O 3D se vale do formato letterbox para fazer os efeitos
visuais extravasarem o quadro. Para os nostálgicos, as referências e
participações especiais indiscutivelmente conferem um sabor extra, com gags
muito perspicazes. Apesar da covardia da distribuidora Sony em retirar o “As”
do título nacional, esse reboot funciona. [14.07.16 – Cinemas Teresina]
DEMOLITION
* * *
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 101 min
Dirigido pelo
canadense Jean-Marc Vallée, Jake Gyllenhaal atravessa a narrativa de luto e
suas metáforas [algumas bem óbvias, é verdade] para tomar consciência do
embotamento afetivo que o anestesia. O roteiro de Bryan Sipe até desliza aqui e
ali, porém não chega a derrapar de vez em atalhos bobos. [17.07.16]
A FAMÍLIA BÉLIER * * *
[La Famile Bélier,
FRA/BEL, 2014]
Comédia/Musical -
106 min
O tema requentado
[seguir seu talento ou permanecer em casa ajudando a família] ganha tempero
extra com a pegada simples e honesta de Eric Lartigau e as atuações de um
elenco afinadíssimo. Sobretudo os que não falam ou cantam, já que os familiares
da protagonista são todos surdos-mudos – Karin Viard e François Damiens roubam
suas cenas, enquanto Luca Gelberg possui real deficiência auditiva e também tem
bela desenvoltura. Quem conduz a narrativa é Louane Emera, um dos destaques da
versão francesa do The Voice em 2013. A cena na qual interpreta “Je Vole”, de
Michel Sardou, traduzindo para os pais na linguagem de sinais, é de fazer as
lágrimas saltarem dos olhos. Uma comédia dramática musical que lida com temas
delicados [os pais não conseguirem ouvir a bela voz da filha aspirante a
cantora], porém evitando o coitadismo e o melodrama. Ao invés disso, opta por
deixar congelado um grande sorriso, tanto no último frame quanto em nós, ainda
secando o choro. Parafraseando Hitchcock, “a good cry”. Ops, acho que eu
deveria ter colocado isso em francês, não? [17.07.16]
EXTRAORDINARY TALES * * *
[Idem,
LUX/BEL/ESP/EUA, 2013]
Animação - 73 min
O espanhol Raul
Garcia explora diferentes estilos de desenho nessa antologia atmosférica com
cinco contos de Edgar Allan Poe: “A Queda da Casa de Usher”, “O Coração
Delator” [difícil não comparar com a versão de Ted
Parmelee, de 1953], “Os Fatos do Caso
do Sr. Valdemar”, “O Poço e o Pêndulo” e “A Máscara da Morte Rubra”. Contando
com narradores do naipe de Sir. Christopher Lee, Bela Lugosi [uma gravação em áudio
antiga], Julian Sands, Guillermo del Toro, além de uma participação do cineasta
Roger Corman, de certo é uma delícia macabra para os fãs do autor. O ponto
fraco fica nos interlúdios, nas conversas entre Poe/Corvo e a Morte acerca da
obcessão dele com ela. Mas, no geral, trata-se de uma homenagem digna à fonte
de inspiração. [17.07.16]
FORÇA DIABÓLICA * * ½
[The Tingler, EUA,
1959]
Terror - 82 min
William Castle
convoca os espectadores a gritarem por suas vidas nesse terror B com o astro do
gênero Vincent Price e cheio de artimanhas [gimmicks] metalinguísticas. A fala
“The tingler are in theater!” era a deixa para a audiência da época se preparar
para o “percepto” – não a definição de Deleuze, mas um mecanismo que
“estimulava” o grito fazendo algumas poltronas darem choque. Fora isso, e a
cena com o sangue vermelho-vivo [o filme é p&b] na banheira, impossível não
perceber a visão amarga do casamento contida no roteiro de Robb White.
[19.07.16]
A LENDA DE TARZAN * * ½
[The Legend of
Tarzan, EUA, 2016]
Aventura - 110 min
O personagem criado
por Edgar Rice Burroughs relido, e turbinado, numa aventura romântica boba meio
“O Último dos Moicanos” [1991] e que apela para atalhos simplistas,
esquemáticos. E nem estou me referindo ao excesso de flashbacks na primeira
metade do filme, dirigido por David Yates com toda a pretensão de ser pop. Menos.
[21.07.16 – Cinemas Riverside]
DOIS CARAS LEGAIS * * *
[The Nice Guys,
EUA, 2016]
Comédia/Policial - 116
min
Verdadeiro
"delight movie", cuja narrativa experta de Shane Black brinca em cima
do noir e conta com a ótima dinâmica dos protagonistas feitos por Russell Crowe
e Ryan Gosling [mais a garota Angourie Rice]. Sem falar na atmosfera do final
dos anos 1970 e no timing preciso de um humor politicamente incorreto e suas
gags puxando referências inusitadas. Mas a maior diversão é mesmo ver os dois
astros desconstruindo, de forma talentosa, suas próprias personas
cinematográficas. [22.07.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]
BATMAN: A PIADA MORTAL * * ½
[Batman: The
Killing Joke, EUA, 2016]
Animação - 77 min
A clássica
"one-shot" de Alan Moore/Brian Bolland [1988] adaptada com ganhos e
perdas numa animação que bem poderia empolgar mais caso não ficasse tão presa à
estrutura da HQ. Sobretudo depois do longo prólogo adicionado focando no
“relacionamento” entre Batman e Bárbara/Batgirl. A intenção – fora extender a
duração, uma vez que a história original é curtinha, característica do formato
“one-shot” – é até justificável do ponto de vista dramático por conta do que
acontece com Bárbara, mas não ecoa com mais contundência. Em contrapartida, o
roteiro de Brian Azzarello explora as cenas sem se distanciar da obra de Moore
[como de se esperar, ele não permitiu ser creditado]. Os flashbacks são ainda
mais dispensáveis aqui do que nos quadrinhos. O problema é que a HQ se
justifica melhor justamente por ser curta, e cujo impacto reside em seu ambíguo
desfecho com a tal piada mortal, algo que fica um tanto diluído após pouco mais
de uma hora. Talvez indulgente? Bem, se o Coringa [voz de Mark “Luke Skywalker”
Hamill] quer provar ao Batman [o veterano Kevin Conroy] que um dia ruim pode
levar alguém à loucura, que esse dia fosse escavado e exposto em toda a sua
insanidade. Como o Palhaço do Crime realmente faria. [24.07.16]
UMA NOVA AMIGA * * *
[Une Nouvelle Amie,
FRA, 2014]
Drama - 108 min
Ozon conquista a
credibilidade do espectador quando presta atenção nos detalhes e no psicológico
dos personagens. Mesmo arriscando, baseado no livro de Ruth Rendell, ao
misturar a temática do luto com a transgeneridade. [26.07.16 – Telecine Cult]
JULIETA
* * ½
[Idem, ESP, 2016]
Drama - 99 min
Um Almodóvar
assumidamente melodramático, sem humor evidente, mas sensível aos seus
personagens desencontrados pela culpa e pelos não ditos. Inspirado em três
contos da canadense Alice Munro [do livro “Fugitiva”], como sempre o universo
feminino é a zona de conforto do cineasta, que se apoia nas ótimas atuações –
principalmente de Emma Suárez e Adriana Ugarte, que se revezam no papel-título.
Há uma sublime transição entre elas. Lamentável alguns movimentos da narrativa
serem sofridos, talvez até mesmo quase novelísticos. O uso da bela trilha de
Alberto Iglesias acerta de um lado e força do outro, e o mesmo vale para a
fotografia de Jean-Claude Larrie. O problema mais evidente é a falta de uma
maior combustão nas complexas relações que a obra constrói tão bem. É como se Pedro
Almodóvar tivesse optado por contornar a verdadeira história, confiando na sua
atmosfera que todos aprendemos a gostar. [27.07.16 – Cinemas Teresina]
O BOM GIGANTE AMIGO * * ½
[The BFG, GB/CAN/EUA,
2016]
Aventura - 117 min
Spielberg investe
numa atmosfera dickensiana para dar vida ao mundo mágico de Roald Dahl. Porém
se deixa afetar pela própria inocência da narrativa. Roteirizado pela mesma
Melissa Mathison de “E.T. – O Extraterrestre” [1982], e falecida enquanto o
filme se encontrava em pós-produção, é daquelas produções de fantasia que pede
absoluta crença do espectador na descrença para relevar as indulgências da
premissa. A primeira metade é plástica [pelos efeitos visuais] e sonolenta, até
porque demora muito a assumir uma trama de fato. Quando isso acontece, o diálogo
com o público melhora graças ao pastiche da sequência no Palácio de Buckingham
[sim, tudo se passa em Londres; Dickens, lembra?]. Mas aí já não temos certeza
do verdadeiro tom do filme de um Steven Spielberg afetuoso com o matéria e os
personagens – os digitais, principalmente, como o carismático personagem-título
feito por Mark Rylance. Só faltou o senso autocrítico e o talento apurado que
lhe proporcionaram tantas obras maravilhosas num passado cada vez mais
longínquo. [28.07.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]
Agosto – 27
filmes
JASON BOURNE * * *
[Idem, EUA, 2016]
Ação/Suspense - 123
min
Graças à direção de
Paul Greengrass e ao modo como Matt Damon se apropriou do protagonista é, sim,
uma experiência excitante – mesmo com todo o déjà vu temático e estrutural da
narrativa. Na busca pela manutenção da identidade da série, esse retorno do
personagem-título após nove anos [!!!] se reserva o direito de repetir
elementos que já vimos nos filmes anteriores, incluindo movimentos dramáticos
que se tornam antecipáveis ao espectador atento. Fora o clichê de começar num
flashback-resumo para mostrar Bourne preenchendo seu vazio existencial em
rinhas humanas. Por tudo isso chega a impressionar como o filme em si funciona
tão bem, nos segura na poltrona com um enredo-desculpa que nem se esforça em
inovar, mas investe numa montagem de ritmo e tensão impossíveis de passar
batidos. O curioso [no bom – e curioso – sentido] é que o roteiro é coassinado
por Christopher Rouse, justamente o montador do filme [e de “A Supremacia
Bourne”, 2004, e “O Ultimato Bourne”, 2007], ao lado Greengrass. Se pormos
Damon como “hors concours”, o destaque do elenco é Alicia Vikander e seu eterno
cabelo preso, substituindo Julia Stiles e trabalhando bem as facetas ambíguas
de sua personagem. A câmera inquieta e “chicotada” de Paul Greengrass segue
mais acertada do que nunca, sobretudo nas sequências de luta e perseguição, nas
quais não perde o controle do espaço diegético, ou seja, nunca são confusas.
Por falar em perseguições, a última delas, em Las Vegas, é uma coisa, viu? Haja
veículo estraçalhado! Jason Bourne, cria do escritor Robert Ludlum, comprova
ser um personagem icônico, com ou sem amnésia. Talvez ainda tenha fôlego para
mais [do mesmo?]. Devo confessar não saber até agora se ele de fato é o grande
espião/assassino da CIA tão alardeado. Contudo em quesito de contraespionagem,
para chegar a quem o deseja eliminado, é o melhor. [01.08.16 – Cinépolis Rio
Poty]
CHAMAS DA VINGANÇA * ½
[Firestarter, EUA,
1984]
Suspense/Terror -
114 min
Definitivamente não
é das melhores adaptações de um livro de Stephen King – no caso, “A
Incendiária”, publicado em edição limitada quatro anos antes. E nem parece se
esforçar para ser. Não bastasse a premissa genérica em cima da temática poderes
mentais [requentada de obras melhores do autor, como “Carrie” e “O Iluminado”],
o desenrolar da história comandada por um sofrido Mark L. Lester é cheia de
momentos absurdamente risíveis. Para o público atual, trata-se de uma das
referências contidas na série do momento, “Stranger Things” [2016]. Tirando
isso, é só decepção. [02.08.16]
ESQUADRÃO SUICIDA * *
[Suicide Squad,
EUA, 2016]
Ação - 123 min
Triste constatar
como, no fim das contas, trataram um material tão promissor [para o filão dos
filmes de super-heróis] com tanta indulgência. Eu mesmo era um dos que torciam
para a reunião dos vilões assumindo o protagonismo trouxesse a brisa boa que o
Universo Estendido DC precisava. Mas assim que notei, logo nos primeiros
minutos, a trapalhada burocrática da montagem na apresentação, numa só tacada,
da premissa e dos personagens, vi que o caminho seria outro. Primeiro, não
conseguem explicar de maneira sensata o porquê de fazer um time de força-tarefa
com os piores e mais instáveis sujeitos do mundo. Nos quadrinhos provavelmente
a ideia funcione melhor, já que no cinema faltou uma melhor argumentação que
não fosse “quem deteria o Superman se ele arrancasse o teto da Casa Branca?” Fora
isso, não se desenvolve em momento algum uma história interessante, com camadas
e reviravoltas – apenas ganchos para deixar a coisa em movimento e personagens
presos em suas características. É possível que toda a turbulência nos
bastidores em relação ao tom do filme [leve ou pesado, sério ou engraçado] e a
pressão notória sofrida pelo diretor e roteirista David Ayer tenham grande
parcela de culpa. Geralmente têm. Se você for atento, até dá para perceber
quais takes foram regravados/adicionados para explorar o humor da narrativa. E
o pior é que, se os isolarmos do restante, eles dialogam bem com o público,
pois não há muito além a ser oferecido. Nenhuma grande sequência de ação, plot
twist, direção criativa ou mesmo um pastiche do gênero bem construído. As más
línguas [elas são ótimas, não?] dão conta de que deram sinal verde para a primeira
versão do roteiro, escrito em um mês e meio, e tocaram a produção para cumprir
os famigerados prazos. Apesar disso tudo, não achei o filme um desastre total
irremediável. Os momentos divertidos se salvam, junto com a interação explosiva
dos anti-heróis. Claro, poderia ser melhor. Mil vezes até! Porém, não vamos ser
gratuitamente cruéis. Existe um bom filme ali, cheio de bons elementos e pegada
pop; somente está escondido em algum conjunto de takes e cenas que ficou na
sala de montagem. A Arlequina [ou Harley Quinn] de Margot Robbie é, disparada,
a melhor coisa do filme, espirituosíssima de um jeito lunático e inconsequente.
São delas as tiradas mais “precisas”. E o mais frustrante? Sinceramente, não
saberia dizer se é a caracterização de Jared Leto como o Coringa ou como o
usaram na narrativa, sem qualquer impacto orgânico dentro da história. Leto é
um ator talentoso, e você nota o quanto se envolveu dentro da “roupa” do
Palhaço do Crime cujas piadas [existem?] são sérias demais. Simplesmente não
souberam trabalhar o personagem, que em cena é só mais um coadjuvante com
potencial subjugado pelo filme. E nem a referência/brincadeira, no final, a um
momento-chave de “Batman – O Cavaleiro das Trevas” [2008] dá uma levantada
nessa figura que tanto merecia. Repito: não é um filme ruim, tem seus momentos.
Um feeling anárquico pulsa de algum lugar não especificado. É preciso
assisti-lo como um produto autêntico, experimental, suicida ao seu próprio
modo. Corre seus riscos e, acertados ou não, paga por todos eles. [04.08.16 –
Cinépolis Rio Poty]
BRIDGEND
* * ½
[Idem, DIN, 2015]
Drama - 109 min
Jeppe Ronde opta,
na sua estreia em longas metragens, por alimentar ainda mais o mistério em
torno da onda de suicídios na cidade-título no País de Gales. No elenco, os fãs
de “Game of Thrones” devem reconhecer Hannah Murray, intérprete de Gilly na
série. Tão atmosférico quanto “Picnic na Montanha Misteriosa”, dirigido pelo
australiano Peter Weir em 1975. [06.08.16]
BATMAN: ASSALTO EM ARKHAM * * ½
[Batman: Assault on
Arkham, EUA, 2014]
Animação - 76 min
O Esquadrão Suicida
numa missão bem mais interessante, e melhor desenvolvida [incluindo aí a
dificuldade dos instáveis membros de trabalhar em equipe], que a do recente
filme de David Ayer. Até ajuda a entender mais o estilo e estrutura que ele
tentou dar ao controverso longa. De quebra, ainda traz diversas referências
cinematográficas. Ao Universo DC, claro. [07.08.16 – madrugada]
BATMAN vs SUPERMAN: EDIÇÃO DEFINITIVA * * *
[Batman v Superman: Ultimate
Edition, EUA, 2016]
Aventura - 183 min
E não é que Zack
Snyder consegue melhorar a narrativa, trabalhando mais o contexto, a fluidez
das subtramas e a motivação dos personagens? Os problemas mais visíveis
continuam importunando – arrisco dizer que Batman declarar-se para Martha Kent
como amigo de seu filho, logo após a briga dos dois, é a pior derrapada do
roteiro, falso como um diamante de vidro. Por outro lado, a história fica menos
confusa, há espaço para os momentos introspectivos [de ambos], para entendermos
as nuanças e respiro para saborearmos um ou outro diálogo de Chris Terrio. O
ruído de comunicação entre os dois heróis tem mais tempo para ser explorado,
bem como as pontas se conectam com mais clareza. Não há o substancial aumento
da violência, como prometido, é uma montagem preocupada com o equilíbrio da
história e seus elementos dramáticos. O que, para mim, já conta muito. Assim
como fizera em “Watchmen” [2009], sua “versão do diretor” resulta mais bem
acabada, redonda, mesmo sem promover nenhuma mudança radical ao que tínhamos
visto. Está longe de ser um grande filme [ainda falta mais ação], mas sem o
peso da expectativa se torna mais fácil curtir todos os pontos positivos sem
afetação. Isso eu deixo para o Lex Luthor de Jesse Eisenberg. [07.08.16]
D'ARDENNEN
* * ½
[Idem, BEL, 2015]
Drama/Suspensse -
96 min
O ponto de partida
não é novo. Mesmo assim, o belga Robin Pront constrói bem a tensão paulatina
para o ótimo ato final. [08.08.16]
NEGÓCIO DAS ARÁBIAS * * *
[A Hologram for the
King, GB/FRA/ALE/EUA/MEX, 2016]
Drama/Comédia - 98
min
Na fascinante
viagem cultural que o filme muitíssimo bem dirigido por Tom Tykwer promove é a
jornada interna do personagem de Tom Hanks que serve de guia. Adaptado do livro
de Dave Eggers, a estrutura provavelmente soe puída, e de fato é, sobretudo
quando a própria se escancara no desfecho de recomeço, de [re]encontro com
algum sentido [re]confortante para a vida. Porém, o cineasta alemão, também
assinando o roteiro, injeta camadas tanto existenciais quanto geopolíticas e um
humor espertíssimo que se aliam com o carisma irresistível de Hanks. O
resultado parece tão honesto que até perdoamos seus ligeiros deslizes.
[09.08.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]
UM ESPIÃO E MEIO * * ½
[Central
Intelligence, EUA, 2016]
Comédia - 109 min
É a química divertidíssima
entre Dwayne Johnson e Kevin Hart, mais do que a história ou suas mensagens,
que vale a pena dar uma conferida bem descompromissada. Nesse aspecto, por mais
que o carisma do ex-The Rock o faça um gigante gentil aceitável, é a persona de
Hart que domina a tela, com timing cômico acima da média. A câmera quer o tempo
inteiro espiá-lo e sorrir. Já Johnson se esforça, mas a própria construção do
personagem, vítima de bullying e fã de “Gatinhas e Gatões” [1984], às vezes
provoca algumas estranhezas momentâneas com seu comportamento um tanto errático
demais. Proposital? Bem capaz. Até porque não saber se ele é herói ou vilão é o
que há de mais elaborado no enredo. Porém, isso poderia ter sido melhor
trabalhado para a temática trauma/superação não parecer tão forçada, destoante,
como se houvesse outro filme tentando emergir ali. Faltou um movimento mais
orgânico, que não precisasse derrapar para o panfletário escancarado [termo
forte, talvez] no final. Ao mesmo tempo que a direção de Rawson Marshall
Thurber [“Uma Família do Bagulho”, 2013] explora a dinâmica dos dois atores sem
medo – por um bom tempo são apenas eles interagindo –, se esquece de prestar
atenção à trama que precisa ser desenvolvida, passando direto por cima de
detalhes que acarretam indulgência narrativa. Como comédia de ação é diversão
garantida, sendo veículo para uma dupla inusitada. Por outro lado há a
tentativa louvável mas canhestra de focar nos personagens e suas questões. O
primeiro terço promissor termina perdendo para um esquema fácil, raso, que visa
o gol ao invés do jogo, apesar das boas referências lançadas no meio do campo e
cenas com gags hilárias. Um pouquinho mais de risco e não seria uma bela bola
na trave. [Essa sessão foi uma
cortesia do aplicativo motootáxi.] [11.08.16 – Cinépolis Rio Poty]
ATÉ O FIM
* * *
[All the Way, EUA,
2016]
Drama - 132 min
Já premiada no
teatro, a atuação de Bryan Cranston como o controverso presidente Lyndon B.
Johnson é magnética e cheia de camadas que vão além da mera hagiografia.
Adaptado pelo autor da peça ganhadora de dois Tony Awards, Robert Schenkkan,
cobre a fase “presidente acidental” [ele assumiu após o assassinado de Kennedy
em 1963] e sua batalha política pela Lei dos Direitos Civis de 1964. Com Steven
Spielberg na produção executiva, esse preciso telefilme da HBO é dirigido por
Jay Roach, que já tinha arrancado do eterno Walter White outra interessante
performance em “Trumbo – Lista Negra” [2015]. [13.08.16]
SALA VERDE
* * ½
[Green Room, EUA,
2015]
Suspense - 96 min
Jeremy Saulnier faz
um insuspeitíssimo "slasher movie" que, mesmo autolimitado,
desenvolve bem o roteiro e seus personagens. [14.08.16]
O VENTO SERÁ TUA HERANÇA * * * *
[Inherit the Wind,
EUA, 1960]
Drama - 128 min
A contundente
narrativa de Stanley Kramer sobre o controverso "Julgamento do
Macaco" de 1925, o primeiro a ser transmitido pelo rádio, ainda ecoa e
provoca reflexões precisas do embate criacionismo versus darwinismo. Levado ao
tribunal, veja só! Tão inusitado hoje, 91 anos depois, quanto deve ter sido à
época. Ou não? Ao que parece, essa é uma questão delicada para muitos
estadunidenses, sobretudo os criacionistas, e o roteiro de Nedrick Young e
Harold Jacob Smith, adaptando a peça de 1955, alterna os pontos de vistas e
observa de perto ambos os lados. Embora claramente o liberalismo de Kramer não
se furta de tomar partido. Nessa batalha judicial importantíssima para a
abertura de uma educação progressista – naquele ano estava em vigor em sete dos
Estados Unidos [o Cinturão Bíblico] o Buttler Act, lei que proíbia o ensino da
teoria evolucionista propagada por Charles Darwin em seu livro “A Origem das
Espécies, de 1859 – só faltou porem Deus como testemunha. E de certo modo o
colocaram. O mais forte é perceber como a interpretação literal da Bíblia
engessa o pensamento dos fanáticos religiosos perante dados científicos,
chegando mesmo a promover o medo e o ódio. Atualíssimo, não? Fora o fato da
introjeção religiosa acarretar certo comodismo e alienação, algo pontuado pelo
uso da canção protestante “[Gimme that] Old-Time Religion”, de 1873: “Me dê
aquela antiga religião/Ela é boa o suficiente para mim.” É como se qualquer
pensamento novo fosse automaticamente execrado apenas por ser algo... novo.
Diferente. Com sutileza [nem tanto] o filme defende um meio-termo, uma leitura
que apazígue religião e ciência a partir das lacunas deixadas por aquela. No
elenco, esse confronto é encarnado por Spencer Tracy e Fredric March. Difícil
apontar o melhor. Mas a surpresa é termos Gene Kelly se destacando como
coadjuvante fora dos musicais, sua zona de conforto. A direção de Kramer
equilibra a qualidade do texto entre cenas intensas e outras com um humor
natural, inspirado, sem apelo. Eles sabiam fazer clássicos sem parecer que
sofreram para dá-los à luz. Ainda mais com um tema sem qualquer sinal de ficar
datado. [14.08.16]
O CLÃ
* * *
[El Clan, ARG/ESP,
2015]
Drama/Suspense -
109 min
Trapero transforma
o surreal caso real dos Puccio numa crônica familiar dark amparada pelo
contexto sócio-político da época na Argentina – a transição da ditadura para a
democracia. [15.08.16 – Cinemas Teresina]
TRADERS
* * ½
[Idem, IRL, 2015]
Suspense - 90 min
Essa fábula sombria
da crise econômica irlandesa funciona, com premissa absurda, mas atraente, que
parece um improvável cruzamento de "Clube da Luta" [1999] com "A
Grande Aposta" [2015]. [16.08.16]
BEN-HUR
* ½
[Idem, EUA, 2016]
Drama - 124 min
Com atuações
inexpressivas e narrativa simplificada ao extremo [o que não a impede de contar
com buracos gigantescos], esse remake do remake – a magnífica versão de 1959 é
a terceira baseada no livro de Lew Wallace – nunca justifica, pelo menos
artisticamente, a própria existência. [17.08.16 – Cinemas Teresina, pré-estreia
e inauguração das novas salas/sistema de som surround Dolby Atmos]
QUANDO AS LUZES SE APAGAM * *
[Lights Out, EUA,
2016]
Terror - 81 min
Sandberg deixa o
interessante conceito do seu curta metragem de 2013 [viralizado na internet] ir
cena a cena se transformando num terror genérico com artifícios que descredibilizam
as próprias regras criadas, além de parecer completamente apoiado em
jumpscares. A ideia do medo ser construído a partir do que se esconde no véu da
escuridão de certo traz ar fresco a um gênero que adora atrelar o susto à
revelação visual do que-quer-que-seja. Indo em direção aos atalhos fáceis, o
roteiro [curiosamente não escrito pelo diretor, autor do texto original]
desenvolve um enredo fraquinho que não consegue fugir de um monte de diálogos
expositivos que explicam – e se repetem – demais sem amarrar nada. Há até bons
momentos, humor e uma tensão trabalhada, mas que caem na vala comum das
produções que apenas dão ao público o que o mesmo já espera ver. O sueco David
F. Sandberg provavelmente tenha talento, porém se deixou corromper logo em seu
primeiro longa. E isso nunca é um bom sinal. [18.08.16 – Cinemas Teresina]
JANIS: LITTLE GIRL BLUE * * *
[Idem, EUA, 2015]
Documentário - 105
min
Amy Berg
proporciona um contato intimista com a “Rainha do Rock and Roll” ao construir
uma narrativa muito afetuosa sobre a curta trajetória da artista e, mais ainda,
da pessoa por trás. [19.08.16]
A ONDA
* * ½
[Bolgen, NOR, 2015]
Drama/Ação - 105
min
O norueguês Uthaug
arma com eficiência o evento-catástrofe do filme. Depois sofre um pouco para
mantê-lo interessante. [20.08.16]
DISQUE BUTTERFIELD 8 * * *
[Butterfield 8,
EUA, 1960]
Drama - 108 min
Tinha todos os
elementos dramáticos para ser um filme melhor, porém a personagem de Elizabeth
Taylor e a atmosfera da narrativa dirigida por Daniel Mann compensam. Parece um
“Bonequinha de Luxo” [que seria lançado no ano seguinte] mais amargo. [21.08.16]
LEVIATÃ
* * *
[Leviafan, RUS,
2014]
Drama - 140 min
Zvyagintsev opta
por trilhas lúgubres, e pessimistas, intertextualizadas com o Livro de Jó, para
denunciar o estado sócio-político da Rússia contemporânea. Por isso foi tão
controverso dentro do próprio país – não passa, de fato, uma boa imagem de como
funcionam as coisas por lá. Em todo caso, não fica em cima do muro e ainda nos
instiga à reflexão sombria de um mundo sem heróis. [22.08.16 – Telecine Cut]
TÚMULO DOS VAGALUMES * * * *
[Hotaru no Haka,
JAP, 1988]
Animação - 89 min
Uma
das experiências mais tristes e dilacerantes em cima da 2a Guerra
Mundial pelo ponto de vista japonês. Mesmo assim, ainda há poesia envolvendo o
horror de maneira lúdica, tocante. Adaptada do livro semiautobiográfico de
Akiyuki Nosaka com absurda sensibilidade por Isao Takahata, uma animação do
Studio Ghibli [dirigido pelo mestre Hayao Miyazaki] ecoando o neorrealismo
italiano e impossível de apagar da memória. Passe o tempo que for. [23.08.16]
13 FANTASMAS * *
[13 Ghosts, EUA,
1960]
Terror - 82 min
Tire da equação o
gimmick do Illusion-O de Castle e o que fica é uma premissa-desculpa com
potencial não explorado. [23.08.16]
CAFÉ SOCIETY * * *
[Idem, EUA, 2016]
Comédia/Romance -
98 min
Allen nos leva a
Hollywood e, claro, Nova York dos anos 1930 com um esmero técnico e visual que
compensa o desenvolvimento do enredo em si. Muito se deve à belíssima
fotografia de Vittorio Storaro que, em harmonia com o design de produção e o
figurino, chega a ser transcendental – em direção ao passado. Inclusive,
utilizando recursos da época retratada, como o soft focus. Um presente para que
quer desopilar do presente. Filme à moda antiga, uma espécie em vias de entrar
em extinção. Mas não somente a isso se deve a saborosa atmosfera que a produção
evoca. Enquanto o roteirista Woody Allen não traz grandes arroubos narrativos
[recicla suas próprias piadas e observações cínicas, com referências cinéfilas
dessa vez], o diretor Woody Allen é quem se destaca numa mise-en-scène madura,
objetiva, que potencializa os elementos disponíveis. Até mesmo quando o romance
é açucarado. A oposição das paletas de cores e suas temperaturas entre Los
Angeles e Nova York deixam claro onde estão os verdadeiros interesses para o
cineasta de 80 anos e 47 filmes para o cinema. E aqui são quase dois em um,
apesar das subtramas apenas “encherem linguiça”. Em sua defesa, Allen não
precisa provar mais nada a ninguém; faz filmes por que gosta do processo, e se
diverte com isso. Tanto que ele próprio empresta a voz à narração literária de
sua crônica de época. Ainda tira proveito da fase interessante de Kristen
Stewart como pivô do triângulo amoroso com Steve Carell e Jesse Eisenberg, este
longe da afetação vista em “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” [2016]. De
todos, o que me surpreendeu foi não ter reconhecido Corey Stoll. Maquiagem
pesada, hein? Se Woody Allen produz compulsivamente para enganar a morte, como
a partida de xadrez em “O Sétimo Selo” [1957] de Bergman, que o xeque-mate
custe a ser dado. [25.08.16 – Cinemas Teresina]
VER – The Woman in
Red [1935]
A AGENDA
* * *
[L’Emploi du Temps,
FRA, 2001]
Drama - 129 min
Nesse estudo de
personagem emocionalmente frio inspirado em história real, Cantet acompanha o
protagonista na construção de sua amoralidade e de seu embotamento, os quais
desabam numa avassaladora crise de consciência. [26.08.16]
ÁGUAS RASAS * * *
[The Shallows, EUA,
2016]
Suspense - 85 min
Enquanto o roteiro
assinado por Anthony Jaswinski consegue desenvolver bem uma premissa mínima, a
direção do espanhol Jaume Collet-Serra nos permite pouquíssimo tempo sem
tensão. E que tensão! Nesse quesito, o filme cumpre o que promete. Por outro
lado, é preciso relevar a rasura [trocadilho infame?] da jornada emocional da
protagonista – o epílogo novelístico é absolutamente descartável – e os
rampings com cara de vídeo publicitário para uma competição de surf. O que o
tubarão branco não faz, Blake Lively certamente compensa. [26.08.16 – Cinemas
Teresina]
OS DELINQUENTES * *
[The Delinquents,
EUA, 1957]
Drama - 72 min
A estreia de Robert
Altman em longas possui deslizes dramáticos gritantes e ainda força no
moralismo panfletário. Sobretudo com as narrações que abrem e fecham o filme,
adicionadas pela United Artists sem o consentimento de Altman. Não sei se
ausência delas faria tanta diferença assim. Aproveitando o sucesso de filmes
como “Juventude Transviada” [1955], e outros que retratavam o mesmo tema, trata-se
de uma narrativa problemática de um cineasta que, felizmente, faria uma bela
carreira. [28.08.16 – Telecine Cult]
PETS – A VIDA SECRETA DOS BICHOS * * ½
[The Secret Life of
Pets, JAP/EUA, 2016]
Animação - 87 min
O enredo é tão
somente o gatilho para saborear as referências cinematográficas e um atraente outono
policromático em Manhattan. O uso das cores pelos diretores Chris Renaud e
Yarrow Cheney desafia a imagem do amarelo avermelhado das folhas secas caindo
das árvores para tornar vibrante e plástica a jornada dos heróis por prédios,
becos, avenidas e esgotos. Os filmes citados hipertextualmente garantem o
interesse do público que é criança há mais tempo – de clássicos como “Quanto
Mais Quente Melhor” [1959] e “Os Pássaros” [1963], passando por “Monty Python
em Busca do Cálice Sagrado” [1975], “Grease – Nos Tempos da Brilhantina” [1978]
e “Alien – O Oitavo Passageiro” [1979], até “O Fugitivo” [1993] e o próprio
“Minions” [2015], da mesma produtora. Entre outros bem mais insuspeitos, como
“O Silêncio dos Inocentes” [1991] e “O Mundo Perdido – Jurassic Park” [1997].
Sem falar na referência temática e estrutural mais escancarada de todas, o
insight narrativo, “Toy Story – Um Mundo de Aventuras” [1995]. Bom ritmo e um
humor destacado que talvez merecessem um desenvolvimento mais original. Não
seria custoso tentar. Seria? [30.08.16 – Cinemas Teresina]
Setembro – 25
filmes
JOVENS, LOUCOS E MAIS REBELDES * * ½
[Everybody Wants
Some!!, EUA, 2016]
Comédia - 117 min
Autoproclamada uma
"sequência espiritual" do filme de 1993 – no original, “Dazed and
Confused” –, traz todos os elementos da observação de Linklater dos ritos de
passagem na cultura estadunidense. Não importa a época retratada [no caso aqui,
início dos anos 1980], o cineasta é hábil ao construir espontaneidade nas
cenas, com diálogos fluídos e referências a cada instante. [02.09.16 –
madrugada]
STAR TREK: SEM FRONTEIRAS * * ½
[Star Trek Beyond,
EUA, 2016]
Ficção - 122 min
Justin Lin, assumindo
a cadeira de diretor deixada vaga por J. J. Abrams, injeta ritmo e ação sem se
preocupar com os freios. Por outro lado, há essa impressão de ser o filme mais
episódico do reboot da franquia até agora. Ironicamente, há um comentário nesse
sentido no comecinho feito por Kirk. Referia-se à série de TV, mas casou
perfeitamente com a nova aventura da tripulação do USS Enterprise. Que coisa,
não? [05.09.16 – Cinemas Riverside]
VICTORIA
* * *
[Idem, ALE, 2015]
Drama/Suspense -
138 min
Num único
plano-sequência de pouco mais de duas horas, o alemão Sebastian Schipper
elabora estudo de personagem e exercício narrativo. O resultado pode não
impactar em termos de dramaturgia do enredo, mas sua execução é fascinante e
explorada em camadas diferentes. Além de nos lançar diretamente para dentro da
situação, a câmera operada pelo norueguês Sturla Brandth Grovlen atende ao
psicológico dos personagens. Sobretudo a partir da metade da história, quando todos
– incluindo o espectador – são testados no limite. A tensão vivenciada chega a
ser palpável. Esse realismo estético do take contínuo ora encontra barreira em
algum movimento que soa artifício [como quando o carro não pega] e ora
escancara uma perfeita execução de logística da produção. Esse é o tipo de
filme em que a feitura, por mais orgânica que seja construída, deixando até
mesmo os atores improvisarem [o roteiro continha apenas 12 páginas
descritivas], dificilmente permanece numa esfera mais inconsciente de quem
assiste. É, queira ou não, meta em cada frame. O “tour de force” da câmera que
não “descansa” e do elenco nesse teatro ao ar livre segue o percurso inteiro
brilhando em néon. Por isso é formidável que Schipper consiga nosso
envolvimento emocional com a protagonista-título feita pela espanhola Laia
Costa. Se alguém arrisca transcender a linguística eletrizante da obra, é ela.
[06.09.16 – Telecine Cult]
THE SEA OF TREES *
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 110 min
Além de insossa,
com elementos descartáveis [o flashback paralelo] e previsíveis [o personagem
de Ken Watanabe], a narrativa dirigida de forma irregular por Gus Van Sant não
acrescenta à temática nada particularmente memorável. O texto de Chris Sparling
parece se apoiar na fama da floresta japonesa Aokigahara, o segundo lugar do
mundo em ocorrências de suicídios, para tocar apenas na superficialidade do que
poderia ser uma interessante discussão existencial do luto e do vazio. Se é que
buscava algo próximo a isso. Nem Matthew McConaughey se esforça para amenizar a
canastrice da sua atuação, num drama que é, em si, a própria definição de
vazio. [07.09.16]
AQUARIUS
* * * *
[Idem, BRA/FRA,
2016]
Drama - 142 min
É Sonia Braga a
força motriz, e unificadora, das várias camadas da narrativa sobre tudo o que
[ainda] resiste em nós. Para o bem ou para o mal. No caso de Kleber Mendonça
Filho é uma cômoda com gavetas que, passe o tempo que for, sempre vai lembrar os
encontros com o amante – ainda que a sobrinha-neta exalte, ingenuamente, outros
feitos de uma vida aparentemente plena, sobrevivente [como muitos, não ilesa]
da ditadura militar. Ou a paisagem urbana antiga agonizando perante o avanço da
arquitetura capitalista. Ou ainda uma viúva que insiste em não ceder para a
construtora com o amargo nome de Bonfim – bom fim para quem mesmo? – o
apartamento onde teceu tantas lembranças. A partir do embate memória versus o
tempo necessário para algo ser destruído em definitivo, o cineasta pernambucano
constrói uma obra de cara mais acessível que a anterior, “O Som ao Redor”
[2012], mas igualmente imersiva. Dessa vez o tempo fílmico não impõe, e sim seduz
para a imersão no estudo de Clara, a heroína clássica da resistência contra o
desenfreado tráfego da perda de todo tato e bom senso humanistas. Mesmo assim,
a personagem não é nenhum pouco conservadora, e seu resistir é afetivo o
suficiente para compreendê-la como a única moradora de um “prédio fantasma”,
como a filha interpretada por Maeves Jinkings solta durante uma discussão
familiar. Num Brasil em ebulição constante, parece a metáfora sobre que país
está surgindo e se ele está sendo pensado com consciência coletiva. Apesar de
plantar referências e simbolismos como um artesão perspicaz, o
diretor-roteirista não entrega a questão com facilidade; a própria Clara é
paradoxal, pinta a fachada do prédio e ignora que os outros ex-moradores a
esperam para poder fechar esse capítulo. Sonia Braga se entrega sem vaidades e
dá ao filme uma alma, uma performance que brota do olhar, enquanto Mendonça
Filho cria uma atmosfera do prosaico que vai revelando seus pontos de tensão
nos detalhes mais mínimos. Assim como em sua instigante estreia no comando de
longas, ele não se intimida ao fazer uma leitura do Brasil pós-temporâneo, por
mais que as palavras que encontre sejam garranchos. Sintomas das raízes de
pensamento que continuam a alimentar noções culturais distorcidas de segregação
social, preconceito disfarçado e meritocracia por procuração parental. Afinal,
“quem não é Cavalcante, é cavalgado”. Com uma seleção musical que é um deleite
à parte, sem esquecer de mover organicamente a história, o filme dá uma
deslizada evitável na maneira como o roteiro articula sua resolução “deus ex
machina” em três cenas. Por outro lado, tirando toda a polêmica política em que
vem se envolvendo desde a exibição em Cannes, é uma obra que vai na contramão
do que está sendo produzido no cinema nacional, de sensibilidade rara. Sobretudo
quando apoiada numa protagonista forte, palpável e convicta de si como
pouquíssimas vezes vimos por aqui. Uma protagonista que, embora atordoada com a
sordidez ao seu redor, não hesita em desafiar a infestação de cupins que ameaça
roer o que há de mais precioso no ser humano atual: a capacidade, cada vez mais
rara, de se indignar com o estado das coisas sem baixar a cabeça. [08.09.16 –
Cinemas Teresina]
UMA LOURA POR UM MILHÃO * * * ½
[The Fortune
Cookie, EUA, 1966]
Comédia - 121 min
Primeiro encontro
da dupla Jack Lemmon e Walter Matthau, numa esperta sátira sobre a ganância do
mestre Billy Wilder. Divido em capítulos, a sintonia dos atores só rivaliza com
os diálogos lubitschianos de Wilder e I.A.L. Diamond. Não é dos melhores filmes
do versátil cineasta, mas diverte sem ofender nossa inteligência. O inescrupuloso
advogado feito por Matthau lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Além
de um ataque cardíaco durante as filmagens. [10.09.16]
TRUMAN
* * *
[Idem, ESP/ARG,
2015]
Drama/Comédia - 108
min
Cesc Gay se vale da
narrativa sincera, e das atuações de Ricardo Darín e Javier Cámara, para tornar
o processo da morte um tema leve. Ainda que flerte aqui e ali com o melodrama,
consegue extrair de nós emoções sem forçá-las. [11.09.16 – Cinemas Teresina, Sessão Cinéfilos]
PRINCESA MONONOKE * * * ½
[Mononoke-hime,
JAP, 1997]
Animação - 134 min
Hayao Miyazaki nos
leva a uma aventura mágica e fascinante pela mitologia japonesa dos milenares
seres habitantes das florestas. [12.09.16 – madrugada]
SR. HOLMES
* * *
[Mr. Holmes, GB/EUA,
2015]
Drama - 104 min
O comovente
Sherlock de Ian McKellen em seu caso mais difícil: os deslizes da memória no
resgate da própria história. [12.09.16]
O HOMEM NAS TREVAS * * ½
[Don’t Breathe,
EUA, 2016]
Terror - 88 min
Alvarez explora o fiapo
de premissa com todo recurso atmosférico de que dispõe. O resultado é que a tensão
engole o enredo em si – junto com seus esquemas óbvios. Se funciona? Claro,
você vai se manter inquieto na poltrona durante a maior parte da narrativa. Só
não repare nos pormenores de um roteiro que, em relação aos personagens e suas
motivações ora caricaturais ora grotescas sem qualquer elaboração, esqueceu-se
de convencer. [12.09.16 – Cinemas Teresina]
CÃES DE GUERRA * * *
[War Dogs, EUA,
2016]
Comédia - 115 min
Há várias formas de
leitura [e crítica à falta de “organização licitatória” da Guerra ao Terror da
era Bush] nessa comédia, baseada numa inacreditável história real, na qual o
cineasta Todd Philips mimetiza Martin Scorsese. Ou seria Adam McKay, do recente
“A Grande Aposta” [2015]? Brian De Palma, de “Scarface” [1983], mencionadíssmo
durante o filme, de certo não é. Por via das dúvidas, melhor focar nos meandros
do roteiro extraído do artigo de Guy Lawson [Rolling Stones, março de 2011] e
na química entre os ótimos Jonah Hill e Miles Teller. [13.09.16 – Cinépolis Rio
Poty, Sala Vip]
NERVE – UM MUNDO SEM REGRAS * *
[Nerve, EUA/HKG,
2016]
Suspense - 96 min
Baseada no livro de
Jeanne Ryan, que tivesse pelo menos mais ousadia essa distopia teen da
contemporaneidade online que parece cruzar "Vidas em Jogo" [1997] com
"Jogos Vorazes" [2008]. [14.09.16 – Cinemas Teresina]
DESCULPE O TRANSTORNO * *
[Idem, BRA, 2016]
Comédia/Romance -
94 min
Tivesse um timing
menos indigesto [até se compreende a intenção, mas não colou] e/ou uma
narrativa mais inspirada o título não pareceria ser dirigido a nós no seu mais
triste sentido. [16.09.16 – Cinemas Teresina]
NOSSO FIEL TRAIDOR * * ½
[Our Kind of
Traitor, GB/FRA, 2016]
Suspense - 108 min
O plot extraído do
livro de John le Carré é, como de praxe, interessante e focado nos personagens.
Talvez tenha faltado apenas um tempero narrativo por parte da adaptação feita
pelo iraniano Hossein Amini e da direção de Susanna White [18.09.16].
SEXY E MARGINAL * * ½
[Boxcar Bertha,
EUA, 1972]
Drama - 88 min
Em início de
carreira, Martin Scorsese exercita o gênero exploitation para retratar a
atmosfera de personagens [reais] que descarrilaram [aos olhos da lei] durante a
Grande Depressão de 1929. [18.09.16]
ARQ *
* *
[Idem, EUA, 2016]
Ficção - 88 min
A estrutura em loop
não é nenhuma novidade. Todavia, a narrativa consegue ser engenhosa dentro dos
limites autoimpostos. [19.09.16 – Netflix]
O FANTÁSTICO SR. RAPOSO * * *
[Fantastic Mr. Fox,
EUA, 2009]
Animação - 87 min
Wes Anderson se
apropria, no bom sentido, da obra de Roald Dahl para mais um exercício
estético-narrativo – dessa vez em stop motion. [20.09.16 – madrugada, Netflix]
SANGUE RUIM * * ½
[Mauvais Sang,
FRA/SUI, 1986]
Drama/Suspense -
114 min
Leos Carax subverte
o gênero "heist movie" em prol de um personalíssimo neo-noir sobre o
choque dos sentimentos. [20.o9.16]
À PROCURA DE MR. GOODBAR * * *
[Looking for Mr.
Goodbar, EUA, 1977]
Drama - 136 min
Richard Brooks
acompanha, quase sem desviar o olhar [melhor: a câmera], a jornada autodestrutiva
da personagem de Diane Keaton. Talvez arrisque fazer uma concessão ao
justificar o comportamento da jovem professora, inspirada numa pessoa real,
Roseann Quinn, com um trauma de infância. Fora isso, o filme é uma experiência
que, 40 anos depois, continua forte e – pior – atual. Ao adaptar o livro de
Judith Rossner, Brooks [“À Sangue Frio”, 1967] faz um estudo de personagem que termina
refletindo anseios e vazios bem comuns da juventude. Seja qual for a época.
[21.09.16]
ALAN PARTRIDGE: ALPHA PAPA * * ½
[Idem, GB/FRA,
2013]
Comédia - 90 min
Steve Coogan leva
seu famoso, e incompetente, apresentador de rádio/TV para o cinema pela
primeira vez com o distinto humor britânico nonsense. [22.09.16]
SETE HOMENS E UM DESTINO * * *
[The Magnificent
Seven, EUA, 2016]
Western - 132 min
Um remake do remake
pode ser uma experiência suficientemente boa e até refrescante? Antoine Fuqua
prova que sim. Ao mesmo tempo em que refaz os passos do ótimo western dirigido
por John Sturges em 1960, não esquece a fonte original: o [esse sim] magnífico
“Os Sete Samurais” [1954], do mestre Akira Kurosawa. O espectador mais atento
vai pinçar os diálogos do filme estadunidense, mas também perceberá a atmosfera
do japonês no contexto do pós-Guerra Civil Americana dessa nova versão. Afinal,
soldados sem uma guerra para lutar são como ronins – samurais sem um mestre
para servir. O roteiro de Richard Wenk e Nic Pizzolatto [a mente por trás da
série “True Detective”] depura o cenário do Velho Oeste, diversificando os
personagens e dando um upgrade em suas motivações, algumas bem esquemáticas. Claro,
esbarramos em clichês, heróis que se sacrificam, jornada do herói com resolução
que o próprio Vogler criticaria. Por outro lado, a qualidade do texto
[lembremos que é um remake] e a dinâmica e interação do grupo formado chegam a
ser saborosos. De fato, a narrativa nos
deixa conviver com eles. As reviravoltas das obras anteriores são
“simplificadas” numa sequência de caos e tiroteio de quase uma hora [mais?]. O
lado bom é que Fuqua consegue manejar seus eixos sem grandes derrapadas. O
outro lado é que ficamos querendo uns 30 minutinhos a mais de história, mesmo
já tendo atravessado 132. Sem sentir. Sinal de que a estrutura mítica do
enredo, lá de Kurosawa, funciona tão bem quanto na década de 1950. E a
cereja do bolo, além de atualizar o western num potencial blockbuster, é ouvir
o indefectível tema de Elmer Bernstein nos créditos finais. Se todo remake
fosse assim. [22.09.16 – Cinemas Teresina]
CHICO: ARTISTA BRASILEIRO * * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Documentário/Musical
- 116 min
Miguel Faria Jr.
consegue entrevistar o homem por trás do galardoado compositor e escritor, com
toda a espontaneidade a qual o próprio se permite. Peca na estrutura já usada,
mas ganha pelo conteúdo e a pegada intimista. [23.09.16 – Canal Brasil]
NUM LAGO DOURADO * * * ½
[On Golden Pond,
GB/EUA, 1981]
Drama - 108 min
Da comovente
atuação de Henry Fonda e Katharine Hepburn, ganhadores do Oscar de ator e
atriz, à delicadeza do [também premiado] texto de Ernest Thompson, sob a sensível
condução de Mark Rydell – essa confluência resulta num caloroso quadro da
velhice, e todo o espectro que a envolve. Sobretudo, é um filme sobre o amor e
o companheirismo, como se confundem numa relação de pura verdade e doação. Com
uma atmosfera de espírito nostálgico, a narrativa pode até flertar de perto com
o melodrama, mas dribla as próprias armadilhas com um humor tangencial. Ora
consegue mais ora menos. O que fica é a visão otimista dessa fase final da
vida, mesmo com os sempre presentes ruídos geracionais em cima dos não ditos
familiares e a sombra constante do inevitável destino humano. Nada que a
poética cinematográfica não resolva para o deleite do espectador apto a se
emocionar. E com razão. São poucos os enredos que tratam a temática, tudo de
positivo e negativo em seu perímetro, com uma leveza acolhedora. É isso o que a
adaptação da peça, do próprio Thompson, faz: nos acolhe e nos oferece uma
referência para a estrada pela qual todos seguimos. [26.09.16]
CEGONHAS
* * * ½
[Storks, EUA, 2016]
Animação - 87 min
Nicholas Stoller,
aventurando-se na animação pela primeira vez, e o codiretor Doug Sweetland [do
curta “Presto”, 2008] entregam uma sessão com mais risos, emoções e reflexões
acerca da dinâmica familiar, nos seus diferentes sentidos, do que a princípio
se poderia esperar. [28.09.16 – Cinépolis Rio Poty]
O LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES * * ½
[Miss Peregrine’s
Home for Peculiar Children, GB/BEL/EUA, 2016]
Aventura - 127 min
Se a adaptação do
livro de Ransom Riggs parecia uma "mão na luva" para a estética imaginativa
de Tim Burton – de fato, os elementos estão todos lá –, a narrativa em si não
acompanha todo esse potencial. Não por conta das alterações feitas pelo roteiro
de Jane Goldman. Pelo contrário, são escolhas que funcionam bem. Na verdade, o
filme se passa por uma competente sessão de escapismo e fascínio sem maiores
tropeços a olho nu, sobretudo na primeira metade, na qual é o cineasta que
reina na condução, e no encantamento, do olhar do espectador. A atmosfera do
livro, nessa mesma parte, é mais misteriosa por conta das fotografias
[defendidas como reais] que permeiam suas páginas. No filme, isso se transfere
para a magia e o deslumbre do audiovisual, ampliados pelo uso dos efeitos
práticos. Quando esse deslumbramento passa, ficam visíveis os detalhes que
poderiam ter sido melhor explorados. Ou que simplesmente passaram por cima. Como
se a questão do ritmo e da duração fossem mais importantes que a história a ser
contada. E é engraçado, porque o terceiro ato do filme, que muitos consideram
seu calcanhar de Aquiles, é de longe mais vibrante e elaborado que o do livro.
Há, inclusive, uma divertidíssima homenagem ao mestre Ray Harryhausen e seu
exército de esqueletos de “Jasão e o Velo de Ouro” [1963]. Mesmo assim, livro e
filme ficam devendo no sentido de poderem ter ido além do que mostram em termos
de personagens [embora todos, com exceção do caricato vilão de Samuel L.
Jackson, estejam bem caracterizados], relação entre eles, plot twists, os
ínfimos componentes dramatúrgicos que compõem toda estrutura mítica. Destorcendo
as palavras, eu tinha a leve esperança de ficar mais empolgado com o novo Tim
Burton. Foi por pouco. [30.09.16 – Cinépolis Rio Poty, Sala Vip]
Outubro – 25
filmes
MEU AMIGO, O DRAGÃO * * *
[Pete’s Dragon,
EUA, 2016]
Aventura - 103 min
David Lowery
reimagina o filme de 1977, que misturava live action com animação tradicional,
como uma anacrônica – por isso mesmo muito bem-vinda – celebração do que é cândido
e mágico no audiovisual. Embora se possa acusar a narrativa de ser pueril
demais, os elementos costurados por Lowery resultam numa atmosfera tão
atraente, diria até mesmo tocante, em meio ao cinismo apocalíptico das
produções contemporâneas. Além de explorar o clima de folclore [ponte direta
para a nossa imaginação], usa a seleção musical à moda antiga num risco
acertado para nos fazer submergir na experiência. Apoia-se, ainda, num elenco
carismático e em um dragão 3D com a alma transbordando pelos pixels. Uma
fantasia que resgata o otimismo que muitas vezes achamos démodé assumir. Um
filme Disney como há muito não se via, para todos aqueles que não têm idade. [03.10.16
– Cinemas Teresina]
GÊNIOS DO CRIME * * ½
[Masterminds, EUA,
2016]
Comédia - 94 min
Jared Hess, de
“Napoleon Dynamite” [2004] e “Nacho Libre” [2006], até tenta impor seu estilo
de fazer comédia, com personagens idiotas num enredo absurdo – e inspirado num ousadíssimo
assalto verídico ocorrido em 1997 na Carolina do Norte. Sim, boa parte das
piadas funciona, a persona bem explorada de cada membro do elenco ajuda. Mas a
produção se permite a algumas indulgências narrativas que tornam o resultado um
pouco aquém do próprio potencial. [04.10.16 – Cinemas Teresina]
A FLORESTA QUE SE MOVE * * ½
[Idem, BRA, 2015]
Suspense - 99 min
Vinicius Coimbra
relê Shakespeare numa atmosfera psicológica a qual, um pouquinho menos afetada
e superficial, por vezes inconsistente em relação aos personagens de Gabriel
Braga Nunes e Ana Paula Arósio, resultaria no nível da pretensão
que almeja. [04.10.16 – Telecine Premium]
O AMULETO
* ½
[Idem, BRA, 2015]
Terror - 80 min
Jeferson De tenta
fazer um terror-exercício carregado de atmosfera e com narrativa fragmentada.
Mas é ruim de dar pena. [05.10.16 – Telecine Action]
FESTA DA SALSICHA * * *
[Sausage Party,
EUA, 2016]
Animação - 89 min
Por trás do humor
grosseiro – apesar de ser uma animação com comidas falantes, não assista ao
lado de alguém com a qual deseja evitar qualquer tipo de constrangimento –,
existe uma ácida reflexão acerca das introjeções e do fanatismo religiosos. Entre
as centenas de “fucks” proferidos com a naturalidade de um adolescente tardio com
larica constante e as gags escancaradamente sexuais, pipocam insuspeitas
referências filosóficas [como a Caverna de Platão], metafísicas e
cinematográficas – de “Táxi Driver” [1976] e “O Resgate do Soldado Ryan” [1998]
a “O Exterminador do Futuro: O Julgamento Final” [1991] e “Ratatouille” [2007],
esta é particularmente desconfortável. Há outras, todas hilárias. O que amarra
tudo é o questionamento de Deus [no caso aqui, deuses famintos e cruéis] e da
promessa do paraíso eterno no Grande Além. Embalado no típico senso de humor de
Seth Rogen, coautor da premissa e do roteiro, e sua trupe, obviamente não é uma
diversão que vá agradar a todo espectador. Baixando a guarda, porém, há de se
reconhecer a “criatividade” dessa subversão do tradicional modelo Disney-Pixar
[e os pastiches disso também se encontram em diversos detalhes] e de como seus
temas podem ser depurados numa discussão aprofundada. Sério? Estou mesmo
dizendo isso? Seja por um lado ou pelo outro, acho improvável termos ainda este
ano um filme mainstream mais ultrajante, engraçado ou terrivelmente estúpido.
Vai depender do tamanho da seu vazio estomacal... ops, existencial. [06.10.16 –
Cinépolis Rio Poty]
ASSASSINATO SOB CUSTÓDIA * * *
[A Dry White
Season, EUA, 1989]
Drama - 97 min
O despertar
[tardio] do personagem de Donald Sutherland leva a um contundente
filme-denúncia ao regime do apartheid. Ainda vigente na África do Sul à estreia
da produção. A martinicana Euzhan Palcy, que também coadaptou o livro de André
P. Brink, foi a primeira mulher negra a dirigir um lançamento hollywoodiano.
Sua dedicação foi tanta que tirou da aposentadoria autoimposta Marlon Brando,
cuja pequena participação lhe rendeu uma indicação ao Oscar ator coadjuvante. Mesmo
mais de 20 anos após o fim do estado de total segregação racial sul-africana, o
meandros do enredo ainda são eficientes em provocar incômodo. [08.10.16]
O CAÇADOR
* * *
[Chugyeogja, KOR,
2008]
Suspense - 120 min
Em seu début como
realizador de longas, o sul-coreano Hong-jin Na literalmente nos amarra à
frenética trama com um eficiente tom de urgência e uma boa dose de violência.
Fora isso, trabalha os personagens e as interrelações que os vão modificando ao
longa da narrativa inspirada num serial killer real, Yoo Young-chul. O mais
interessante é o fato de, mesmo com tanta correria, o filme discutir como a
burocracia do sistema policial termina por provocar mais tragédia – quando
deveria extingui-la. [09.10.16]
MILES AHEAD * * ½
[Idem, EUA, 2015]
Drama - 101 min
Don Cheadle [aka
Máquina de Guerra dos filmes da Marvel] parte para sua primeira experiência na realização
de maneira arriscada: sendo o trompetista de jazz Miles Davis [1926-1991] numa
narrativa ficcional. Com pinceladas biográficas, claro. Embora a opção esteja
longe da unanimidade e falte depuração técnica [comum a diretores estreantes],
podemos perceber o esforço de Cheadle tanto na atuação quanto na fluência,
sempre delicada, dos flashbacks paralelos. A única coisa que sai ilesa do filme
com Davis como protagonista é sua música. [09.10.16]
HERANÇA DE SANGUE * * ½
[Blood Father, FRA,
2016]
Ação - 88 min
Bom ver Mel Gibson
à vontade num ligeiro filme de ação, cuja melhor qualidade da narrativa é o
arco da relação de seu personagem com a filha. O que passa longe de ser algo
que nunca vimos antes – mas o que mesmo nunca vimos antes? – ou muito menos supre
o enredo genérico do livro de Peter Craig, que o próprio adapta ao lado de
Andrea Berloff. Mas a direção objetiva de Jean-François Richet e a persona do
eterno Martin Riggs garantem a sessão descompromissada. [10.10.16]
DEMÔNIO DE NEON * *
[The Neon Demon,
FRA/DIN/EUA, 2016]
Suspense/Terror -
118 min
A estética é
metalinguistica: sob a maquiagem de beleza plástica habita a feiúra de uma
narrativa superficial. [10.10.16]
HUNT FOR THE WILDERPEOPLE * * *
[Idem, NZE, 2016]
Aventura - 101 min
Waititi [“O Que
Fazemos nas Sombras”, 2014] acerta no tom atmosférico e na dinâmica entre os
personagens de Sam Neill e da revelação Julian Dennison. O Rick Baker deste
último já uma dessas figuras impagáveis. Tendo como base o livro “Wild Pork and
Watercress”, de Barry Crump [1935-1996], uma surpresa calorosa e com muito a
ensinar acerca das diferenças que nos aproximam uns dos outros. [12.10.16]
UM ESTADO DE LIBERDADE * * ½
[Free State of
Jones, EUA, 2016]
Drama/Guerra - 140
min
O interessante
recorte histórico da Guerra Civil Americana é prejudicado pelo didatismo quase
escolar e por subplots em desequilíbrio narrativo. Matthew McConaughey faz sua
parte na pele do controverso Newton Knight [1837-1922], que liderou o Estado de
resistência que dá título ao filme. Todavia, o cineasta Gary Ross se atropela
aqui e ali para contemplar um enredo complexo que, com um pouquinho mais de
cuidado, teria dado um grande épico. Soa como um passeio no qual o motorista
parece apressado para completar o percurso ao invés de nos deixar vivenciar a
jornada de perto. [12.10.16]
INFERNO
* * ½
[Idem, EUA, 2016]
Suspense - 121 min
O roteiro é uma
peneira, deixa passar twists óbvios e clichês narrativos. Prova que seu forte é
não levar-se a sério. [13.10.16 – Cinemas Teresina]
O SILÊNCIO DO CÉU * * * ½
[Era el Cielo,
BRA/URU, 2016]
Drama/Suspense -
102 min
Sem qualquer zona
de conforto, segue a culpa crescer nas entranhas dos não ditos e alastrar-se na
própria atmosfera da narrativa. [13.10.16 – Cinemas Teresina]
UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA * * * ½
[En duva satt på en gren och funderade på tillvaron, SUE/ALE/NOR/FRA/DIN,
2014]
Comédia/Drama - 101
min
O sueco Roy
Andersson fecha sua trilogia existencial – formada também por “Canções do
Segundo Andar” [2000] e “Vocês, os Vivos” [2007] – observando o absurdo dia a
dia do ser humano. [16.10.16 – Cinemas Teresina, Sessão Cinéfilos]
NOITE DO TERROR * * *
[Black Christmas,
CAN, 1974]
Terror - 98 min
Popularizou os
elementos do gênero slasher que dominariam as produções do final da década de
1970, começando “Halloween” [1978] de John Carpenter, e a seguinte, como “Sexta-Feira
13” [1980], “A Morte Convida para Dançar” [1980], “Dia dos Namorados Macabros”
[1981], a lista é grande. Até serem recauchutados nos 1990 pela série
"Pânico", de Wes Craven. Com direção de Bob Clark [“Porky’s – A Casa
do Amor e do Riso”, 1981] cheia de referências e recursos, como o Ponto de
Vista do assassino, para potencializar o roteiro nem sempre convincente, mas
com algumas sacadas muito interessantes, de Roy Moore, não foi um sucesso
quando lançado. Com o tempo, porém, adquiriu status de cult. Ainda mais com uma
forte pegada feminista ganhando destaque. [16.10.16]
DOUTOR ESTRANHO * * ½
[Doctor Strange:
The Sorcerer Supreme, EUA, 2007]
Animação - 76 min
Dá um gostinho
ligeiro, mas até eficiente, do potencial do Mago Supremo e da atmosfera mística
no seu entorno. [17.10.16]
DESIERTO
* * ½
[Idem, MEX/FRA,
2015]
Drama/Suspense - 88
min
Jonás Cuarón tem
bons elementos políticos e de gênero para trabalhar. Tivesse equilibrado ambos
e se questionado mais [em cima da entrada ilegal – e arriscada – de mexicanos
nos Estados Unidos], que ótimo filme teria entregado. [19.10.16]
O CONTADOR
* * *
[The Accountant,
EUA, 2016]
Suspense - 128 min
A interessantíssima
atuação de Ben Affleck como o inusitado protagonista evidencia mais ainda a
direção segura de Gavin O'Connor. E quem diria que um dia eu elogiaria o
canastrão [ops, ex-canastrão] Affleck em consecutivas boas escolhas – listo o
Batman? – como ator? Imagino a devastadora autoanálise que deve ter feito para
se reinventar artisticamente. Qualquer porão mental no qual tenha entrado fez a
pena valer. Nem me refiro à sua irrepreensível, até agora, carreira como
realizador. Quando ele se apropria de um personagem sorumbático ou com algum
grau de embotamento afetivo, o casting é acertado. Aqui, o seu “Jason Bourne
autista” pode mesmo ser absurdo, mas periga render uma das melhores
performances do ano. A primeira metade da trama assinada por Bill Dubuque é absolutamente
empolgante. Enquanto alimenta a pergunta “quem é esse cara?”, o filme caminha
entre os grandes. Quando se dedica a respondê-la, a queda é tão matematicamente
gradativa que irrita. Muito. O desfecho força a barra com deduções ora frágeis
ora inesperadas como ver um prego e, por algum devaneio, pisar nele. Nada tem a
ver com o filmaço que parecíamos assistir. Nesse momento, o acerto da escalação
de Ben Affleck faz a diferença. Assim como as conquistas de O’Connor ao lidar
com temas delicados sem transformá-las em mero pastiche. A janela como recorte
natural a “enclausurar” o herói em sua condição atesta a qualidade da regência.
Num suspense de ação, termos esses tipos de camadas já é algo a celebrar. [20.10.16
– Cinemas Teresina]
O SHAOLIN DO SERTÃO * * *
[Idem, BRA, 2016]
Comédia - 100 min
Solidifica a
comédia cearense capitaneada por Halder Gomes. Uma sessão hilária que se passa
na mesma atmosfera afetiva de “Cine Holliúdy” [2012] e transpira o amor de
todos os envolvidos. [20.10.16 – Cinemas Teresina]
O MESTRE DOS GÊNIOS * * *
[Genius, GB/ EUA,
2016]
Drama - 104 min
Uma narrativa que
tenta fazer jus à importância do editor literário, em vários níveis, é muito
bem-vinda. Mesmo que haja eslizes e escolhas questionáveis nesse recorte da
relação entre Max Perkins [Firth] e o histriônico Thomas Wolf de Jude Law.
[23.10.16 – Cinemas Teresina]
SOBRE ONTEM À NOITE... * * ½
[About Last Night..., EUA, 1986]
Romance - 113 min
Os então jovens
Demi Moore e Rob Lowe num romance yuppie sobre expectativas e dificuldades dos
relacionamentos sérios. Foi a estreia no cinema do diretor Edward Zwick, a
partir da adaptação da peça de David Mamet, “Sexual Perversity in Chicago”, de
1974. Apesar de todo carisma e sensualidade do casal de atores egresso de “A
Primeira Noite do Resto das Nossas Vidas” [1985], é Jim Belushi, repetindo seu
personagem do palco, quem rouba cada cena em que aparece. O melhor mesmo,
porém, é a atmosfera nostálgica que o filme passa. [24.10.16 – Max Up,
madrugada]
A 13a EMENDA * * * *
[13th, EUA, 2016]
Documentário - 101
min
A cineasta Ava
DuVernay [“Selma – A Luta pela Igualdade”, 2014] é incisiva ao partir de
brechas na constituição e da indústria prisional, sem aspas mesmo, para mostrar
que a escravidão racial ainda existe nos Estados Unidos. E isso 150 anos depois
de sua abolição oficial. Provavelmente seja o filme-denúncia mais importante e
corajoso da recente filmografia do século XXI. Mexe nas feridas-tabus das
questões de cor/raça sem receio da consequente, e necessária, dor. Que seu eco
faça jus à incômoda realidade descortinada. [25.10.16 – Netflix]
CAPITÃO FANTÁSTICO * * * *
[Captain Fantastic,
EUA, 2016]
Drama - 119 min
O
diretor/roteirista Matt Ross torna o espectador um membro dessa família utópica
em sua road trip particular de ideologia versus realidade. Afora a projeção do
sonho hippie da década de 1960, o cineasta não se furta de mostrar que, pelo
menos na formatação cultural do mundo pós-temporâneo, as brechas no paraíso são
suficientes para destruí-lo. É o que Viggo Mortensen, em ótima atuação, vai
encarar ao levar os seis filhos para salvar a mãe suicida de um enterro
cristão. A narrativa escapa das armadilhas melodramáticas ao defender sua
atmosfera libertária com humor equilibrado, e o roteiro é uma pérola mesmo com
estrutura convencional. No fim das contas, o que fica é a experiência paternal
que justifica as concessões feitas. Ainda que o olhar vago [melancólico?
resignado?] do pai esteja mirando o horizonte ideológico que, por algum tempo,
parecia absolutamente possível. [26.10.16]
A GAROTA NO TREM * *
[The Girl on the
Train, EUA, 2016]
Suspense - 112 min
Como acontece no
livro-fenômeno da britânica Paula Hawkins, essa adaptação insossa sofre com a
estrutura em teia que apenas tenta distrair o espectador do desfecho vulgar.
Além de incongruências quanto ao tom – ora é uma narrativa de mistério,
suspense psicológico, drama de superação –, a direção de Tate Taylor se mostra
ainda mais insegura quando se entrega aos excessos para construir alguma
atmosfera; os constantes slows irritam mais do que os enquadramentos elaborados
a entregar o jogo antes do tempo. E olha que a influência declarada vem de
Hitchcock. Como assim? Algo deve ter se perdido nas entrelinhas. Até mesmo a
postura feminista que uns defendem é algo questionável diante dos arcos
dramáticos rasos, não satisfatórios. A melhor sacada do livro/filme [o insight
da protagonista, aqui no corpo choroso de Emily Blunt, sobre sua própria
percepção de si] não passa de uma anedota para passar de um ato a outro. E o
que abstrair do texto quando 90% dos diálogos é pura exposição? Triste ver bons
elementos serem apenas largados durante o trajeto. O que sobra é um
plot-artifício prenhe de piruetas, mas nenhum coração pulsando. [29.10.16 – Cine
Roxy Gonzaga, Santos-SP]
Novembro – 32
filmes
TROLLS
* * ½
[Idem, EUA, 2016]
Animação - 98 min
A DreamWorks coloca
os bonecos dinamarqueses [com visual, digamos, mais simpático] numa matizada
animação musical a respeito do real sentido da felicidade. Assim como, numa
leitura – quem sabe? – “adulta”, a obsessão em buscá-la, a todo custo. [01.11.16
– Cinemas Teresina]
S. DARKO
*
[Idem, EUA, 2009]
Suspense - 103 min
A sequência do cult
de 2001 de Richard Kelly, que desafirma qualquer envolvimento com esta
produção, não faz justiça nem à própria imbecilidade, ainda mais sendo sendo
tão rasteiro e desencontrado. Se há maiores qualidades aqui, soterraram nas
intenções capitalistas. Mesmo com a atriz que interpretou a Samantha do
original, Daveigh Chase, não por menos foi lançado direto em home vídeo.
[02.11.16]
DOUTOR ESTRANHO * * * ½
[Doctor Strange,
EUA, 2016]
Aventura - 115 min
O universo do protagonista
parece mais fascinante do que explora a narrativa de Scott Derrickson. Ainda
assim, que viagem! Particularmente, tenho atração por essa temática mística de
projeção astral, dimensões paralelas, multiverso. Qual ser humano, em sua
jornada existencial, não se questiona acerca de um mundo invisível atuando numa
frequência diferente? Que outra produção conseguiria misturar magia, filosofia
oriental e física quântica sem soar um delírio desconexo? O Universo
Cinematográfico Marvel já atingiu o nível de suspensão da descrença no qual nos
permite embarcar de cara em conceitos como os trabalhados aqui e ter um
envolvimento emocional significativo. Expandir a consciência leva o arrogante
neurocirurgião ferido de Benedict Cumberbatch a retomar sua humanidade enquanto
descobre as infinitas possibilidades diante de si. Não por acaso “alguém” surge
gargalhando com a leitura do livro de Huxley, “As Portas da Percepção”. É
escorregar olhando para a casca de banana adjetivar as sequências que ocorrem
na “dimensão espelhada” como lisérgicas, mas não há definição mais direta.
Quando a premissa oferece algo assim, o maior obstáculo para os roteiristas é
sua própria criatividade limitada. Pelo quê? Pela fórmula Marvel que vem dado
certo, os ritos estruturais e o humor a cada oportunidade. Não é ruim, mas eu
queria ver mais riscos sendo corridos. Como o olhar propositalmente vago
durante todo o filme da Anciã feita por Tilda Swinton. Talvez um duelo de
corpos astrais fosse mais tenso do que divertido, sobretudo quando o corpo
físico está no centro cirúrgico na iminência da morte. Mas entendo o apelo
comercial menos incerto num filme de 165 milhões de dólares. Se o público não
rir e inflar a bilheteria, os produtores choram. Triste mesmo é aquela sensação
de que o desfecho poderia ter ido além. Potencial tem de sobra. Sobra para as
cenas extras e as futuras aparições de um personagem não muito popular nos
quadrinhos e que agora tem a chance de mostrar-se, quem sabe com o seu conjunto
melhor explorado, o mais interessante dentre os que já tiveram sua vez. [02.11.16 – Cinemas Teresina, pré-estreia]
O BURACO DA AGULHA * * *
[Eye of the Needle,
GB, 1981]
Suspense - 108 min
A adaptação do best
seller de Ken Follett está longe do equilíbrio ideal, mas segura bem sua
energia e tensão. Sobretudo nos 30 minutos finais que se passam na ilha. Esse
foi o filme que levou George Lucas a convidar o britânico Richard Marquand para
dirigir “O Retorno de Jedi”, de 1983. Donald Sutherland e Kate Nelligan já
haviam contracenado antes num telefilme, “Bethune” [1977], e até que fazem um
par cheio de sensualidade. Tivessem trabalhado mais a questão do desejo e da
culpa entre os dois teriam solidificado um grande filme. [03.11.16]
CINEMA NOVO * * * *
[Idem, BRA, 2016]
Documentário - 90
min
Mais do que uma
investigação-homenagem, busca em sua própria construção narrativa assimilar a
essência estética e espiritual do movimento cinematográfico brasileiro nascido
do inconformismo de um grupo de cineastas, e aspirantes a, dos anos 1950. Só
por isso já seria uma sessão fascinante, sobretudo para verdadeiros cinéfilos,
estudiosos e profissionais do audiovisual. Mas o documentário dirigido por Eryk
Rocha transcende o “filme de montagem” que é para, no meu mais profundo
pensamento positivo, inspirar novos realizadores, picar novos estudiosos e iluminar
novos cinéfilos. Filho de Glauber, um dos expoentes daquela geração, Eryk deixa
transparecer afeto e curiosidade genuínos pelos personagens reais – dos mais
aos menos lembrados. Escapa do didatismo e da estrutura careta ao deixar as
obras e seus autores darem o tom, guiarem o espectador pelo zeitgeist que
provocou a revolução artística, a quebra de rupturas nem sempre bem aceita ou
mesmo digerida. O engraçado, num sentido tragicômico, é o Novo ecoar também as
queixas daquele tempo, ainda as mesmas para quem agoniza perante a realidade
sócio-política e quer dizer alguma coisa por meio do seu processo criativo.
Seja ele qual for. Repito: que as vozes do passado desafiem os inconformados de
hoje a reinventarem a “câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Ou o contrário,
por que não? Enquanto houver angústia, haverá arte engajada. E o Novo nunca
ficará velho. [03.11.16 – Cinemas Teresina]
O ESCARAVELHO DO DIABO * *
[Idem, BRA, 2016]
Suspense - 90 min
Focado num público
específico e cheio de boas intenções, esse thriller teen não atinge o próprio
potencial. Mesmo com elenco carismático. Mesmo tendo como base a popular obra
da mineira Lúcia Macado de Almeida, publicada pela primeira vez em 1953. O que
já era infanto-juvenil não precisava ter uma adaptação tão – ou mais, quem
sabe? – infanto assim. Ou precisava? [04.11.16 – Telecine Premium]
MR. CHURCH
* * *
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 105 min
Entre erros e
acertos, a atmosfera que o veterano Bruce Beresford alcança a partir do roteiro
de Susan McMartin exala uma sinceridade a ponto de nos tocar com insuspeita
atuação dramática de Eddie Murphy. [06.11.16]
SUSPIRIA
* * *
[Idem, ITA, 1977]
Terror - 98 min
A primeira das
“Três Mães” – no caso, Mater Suspiriorum, uma das damas do sofrimento – de Dario
Argento destaca sua atmosfera pela paleta de cores, o score que punge [da banda
de rock progressivo Goblin] e, claro, o gore. Uma das mais lembradas obras do
cineasta italiano e cult quase instantâneo. [09.11.16]
PEQUENO SEGREDO * * ½
[Idem, BRA/NZL,
2016]
Drama - 107 min
Dirigido pelo
coração de David Schurmann, pede que o espectador não se incomode com a
tentativa rasa de emocioná-lo. Mas é difícil não se contorcer um pouco durante
a projeção. A premissa é claramente mais forte do que o produto lapido pelo
canhestro melodrama; oscila entre narrativas paralelas óbvias e diálogos
escritos por “softwares de teledramaturgia”. Belo de corpo e alma, se suja com
clichês ultrapassados e mal uso das suas preciosidades técnicas. Não é um filme
ruim, longe disso. Contudo, nos obriga a baixar nossas exigências para permitir
que um velho modelo estrutural se conecte conosco. Se há aqui um elemento-motor
inquestionável a pairar sobre suas indulgências cinematográficas é a sinceridade
afetiva que transborda cada bordo do frame. É uma linda homenagem de Schurmann
à própria família – notável por ter sido a primeira a velejar em volta do
globo. A melhor parte são as rápidas imagens de arquivo que precedem os
créditos finais. Quando isso acontece, é porque há uma grande história
escondida ali. Em algum lugar. Um pequeno segredo que não nos é permitido
descobrir. [10.11.16 – Cinemas Teresina]
HORIZONTE PROFUNDO – DESASTRE NO GOLFO * * *
[Deepwater Horizon,
HKG/EUA, 2016]
Drama/Ação - 107
min
Não inova em
estrutura, mas é tanto um filme-catástrofe muito bem realizado quanto um
filme-denúncia do trágico evento ocorrido em abril de 2010 – e sempre atento
aos personagens, o que ajuda na conexão emocional com o espectador. [11.11.16 –
Cinemas Teresina]
THE ONES BELOW * * ½
[Idem, GB, 2015]
Suspense - 87 min
A estreia na
direção de David Farr, roteirista de “Hannah” [2011] e da minissérie “The Night
Manager” [2016], ganha quando flerta com Polanski – tem toda a atmosfera de “O
Bebê de Rosemary” [1968] – e o suspense psicológico, mesmo o twist final sendo
o esperado. [11.11.16]
BARRAVENTO
* * *
[Idem, BRA, 1962]
Drama - 78 min
Glauber Rocha,
nessa sua estreia como diretor de longas – substituinto o até então amigo Luiz
Paulino dos Santos – entrelaça crítica social e misticismo religioso num
pungente confronto dialético hegeliano, aufhebung. Pré-Cinema Novo, mas já com
elementos os quais aprofundaria no movimento e no decorrer de sua carreira. [12.11.16
– Casa da Cultura|Curso Pela Lente]
O FIO DA SUSPEITA * *
[Jagged Edge, EUA,
1985]
Suspense - 108 min
A superestimada
trama do roteiro de Joe Eszterhas [“Instinto Selvagem”, 1992] nunca se afasta
do óbvio, mesmo quando ensaia – e deveria – nos surpreender. [13.11.16 –
madrugada]
KUBO E AS CORDAS MÁGICAS * * * ½
[Kubo and the Two
Strings, EUA, 2016]
Animação - 101 min
A quarta animação
em stop motion da Laika homenageia a mitologia japonesa e a própria contação de
histórias. [13.11.16]
A CRIADA
* * * ½
[Ah-Ga-Ssi, KOR,
2016]
Drama/Suspense -
139 min
Com notável
elegância, Park Chan-wook brinca com as percepções do espectador sobre os
personagens e a trama em si. [13.11.16]
NO FIM DO TÚNEL * * *
[Al final del
túnel, ARG/ESP, 2016]
Suspense - 120 min
Nesse suspense
escrito e dirigido pelo argentino Rodrigo Grande, são as camadas e os
artifícios da trama, entre ótimos e forçados, que seguram até o fim a tensão do
espectador. O enredo ensaia subverter os elementos do “heist movie”, inclusive
com um protagonista [Leonardo Sbaraglia] sem intenções tão certinhas. Tudo
envolto na atmosfera claustrofóbica de ambientes internos durante a maior parte
da projeção. [14.11.16 – Cinemas Teresina]
MUITO MAIS QUE UM CRIME * * * ½
[Music Box, EUA, 1989]
Drama - 120 min
A personagem de
Jessica Lange trilha um tortuoso percurso de revelações. E a narrativa precisa
de Costa-Gavras leva o espectador junto. O roteiro de Joe Eszterhas é um de
seus raros acertos. Sobretudo quando lembramos que o trabalho anterior dele foi
o fraquinho “Atraiçoados” [1988], também dirigido pelo cineasta grego. Ambos
vão soltando as informações aos poucos, ganhando nossa atenção com um
drama-situação delicado de digerir. Ao final não precisam de twists para nos
convencer estarmos diante de um grande filme. [16.11.16]
BLIND
* * *
[Idem, NED, 2007]
Drama/Romance - 98
min
A holandesa Tamar
van den Dop cria uma experiência quase sensorial, cujas camadas de leitura se
desfolham aos poucos. [17.11.16 – madrugada]
O VINGADOR INVISÍVEL * * *
[And Then There
Where None, EUA, 1945]
Suspense - 97 min
Em seu exílio nos
Esrados Unidos, o francês René Clair realiza a primeira – e talvez a mais
celebrada – adaptação do famoso enredo de Agatha Christie, “O Caso dos Dez
Negrinhos/Indiozinhos” [1939], equilibrando a atmosfera de mistério com o humor
bem dosado. [17.11.16]
ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM * * *
[Fantastic Beasts
and Where to Find Them, GB/EUA, 2016]
Aventura - 133 min
Demora a esclarecer
o recorte da trama, assombrado pela própria nostalgia. Quando deslancha,
converte-se numa beleza escapista com ritmo frenético. Isso depois de nos
cansar com um primeiro ato inchado, atrapalhado, em busca de um enredo. É – e
será – um tanto delicado dissociar essa nova série de cinco filmes dos oito da
franquia “Harry Potter” [2001-2011]. Até porque traz na direção o mesmo David
Yates dos quatro últimos e a autora J. K. Rowling assinando o roteiro, que nos
leva para sete décadas antes do nascimento do jovem bruxo. Dessa forma, a
identidade estética e atmosférica se mantém como marca indelével. Fora isso,
transferir a ação para a Nova York de 1926 dá a deixa para mexerem no tom, nas
cores e nas temáticas a serem trabalhadas. Se antes acompanhávamos três
crianças/adolescentes flertando com o perigo na Escola de Hogwarts, agora temos
um quarteto adulto na Big Apple pré-Grande Depressão. Esse senso histórico
ancora a magia na realidade, é preciso deixar os “nomajs” [não mais
“muggles/trouxas”] alienados da existência de bruxos/bruxas coexistindo quase
lado a lado. Então somos apresentados ao Newt Scamander de Eddie Redmayne,
cujo propósito de aportar na América com uma mala cheia dos animais fantásticos
do título termina sendo uma mera desculpa-gatilho para que a narrativa
aconteça. Há outros pequenos furos e esquemas óbvios na estrutura de Rowling que
a gente releva para não irritar os fãs mais fervorosos. Só eles reagem às mais
sutis e insuspeitas referências. Aliado a um 3D que salta na nossa cara, o
terço final faz o filme crescer em ação e envolvimento emocional. Se há algo
que atesta a força desse primeiro capítulo é o afeto que Rowling demonstra por
seus personagens. Está em cada movimento, diálogo e, sobretudo, nas hesitações.
Mesmo embarcando nas indulgências típicas, David Yates entende isso. E, por
tabela, nós também. [17.11.16 – Cinemas Teresina]
SANGUE DE PANTERA * * *
[Cat People, EUA,
1942]
Terror - 73 min
Como é sua marca [e
até por conta do baixo orçamento imposto pela RKO ao produtor iniciante Val
Lewton], Jacques Tourneur investe na sugestão do horror nesse conto acerca da
repressão sexual feminina. [20.11.16]
AO SEU LADO * * * ½
[At Li Layla, ISR,
2014]
Drama – 86 min
Por trás da
história simples, tocante, há questões complexas de laços afetivos e um
desfecho que permanece em nós. [20.11.16]
ELLE *
* * *
[Idem, FRA/ALE/BEL,
2016]
Drama - 130 min
Paul Verhoeven vai
descamando a nada unidimensional personagem de Isabelle Huppert e nos guiando
por caminhos sinuosos. O resultado transita entre diferentes gêneros, sempre
inquietantes e quase nunca óbvios. Como se fosse apenas pelos desvios abruptos que
tudo encontrasse o seu lugar certo. [20.11.16]
DEPOIS DE HORAS * * *
[After Hours, EUA, 1985]
Comédia - 93 min
Scorsese aproveita
o roteiro-TCC de Joseph Minion para arriscar uma espécie de anti-“Taxi Driver”
[1976] nessa comédia de erros frenética, com humor negro nosense que força aqui
e ali, mas funciona – e bem. Muito se deve à câmera vigorosa do cineasta,
premiado pela direção no Festival de Cannes, e ao carismático elenco com
Griffin Dunne [“Um Lobisomem Americano em Londres”, 1981] liderando. [21.11.16]
ALOYS
* * *
[Idem, SUI/FRA, 2016]
Drama - 91 min
O suíço Tobias
Nölle acerta na atmosfera sorumbática que envolve seu protagonista e como ele,
feito por Georg Friedrich, transcende o próprio estado de solidão. Estado esse
que, de tão perpetuado pela rotina, é difícil de quebrar. E é curioso como as duas
“solidões” do filme [a outra é Tilde von Overback] encontram no lúdico a
maneira de romper tal condição. A poesia narrativa em tons melancólicos pode
não ser o programa ideal para todos, mas é belamente construída. Para os seres
solitários, apegar-se à fantasia e evitar a realidade é um impulso mais forte e
confortável do que simplesmente abrir a porta. [24.11.16]
ELIS *
* ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama/Musical - 110
min
Se Andréia Horta
faz de sua performance uma homenagem sincera, a narrativa dura de Hugo Prata
carece de personalidade. Não, o filme não diz quem foi Elis Regina, para muitos
a melhor cantora da dita MPB. Nenhuma cinebiografia vai dizer quem era de
verdade o seu objeto de estudo. Nem a verdadeira Elis talvez soubesse quem era.
O que os melhores exemplos do gênero fazem é lançar um olhar sobre a essência e
os rastros deixados, ficcionalizá-los num enredo universal da pessoa por trás
da persona. Não somente reiterar a persona em si. O que parece uma constante
nesse filão [tardio] do cinema brasileiro. Anedotas do Wikipedia postas no
frame. Os bastidores sofridos da montagem ecoam na projeção, mesmo que a
personagem-título seja hipnotizante o suficiente para pairar acima dos defeitos
do filme sobre sua vida. Mesmo que a trilha sonora por si só já valha o
ingresso. Um filme, contudo, não se resume ao soundtrack. Claro que, ali e
aqui, esbarramos numa cena bem escrita, numa câmera bem colocada, numa
atmosfera bem passada. Mas no geral tudo aquilo o que não está nem no espaço invisível
entre os cortes assombra o que se elegeu para compor as quase duas horas da
intensa jornada humana da “Pimentinha”. Suas contradições estão lá porque são
impossíveis de serem ignoradas ou transformadas num pano de fundo. Como fizeram
com o momento histórico pelo qual passava o país. O engraçado é que a atuação
de Horta cresce quando tenta humanizar a protagonista, esquecer quem ela
deveria ser, torná-la frágil, insegura, imperfeita como qualquer outra pessoa. Acreditamos
mais nisso do que na suposta semelhança dela com a Elis real ou quando a
mimetiza no palco, em controversas sequências de playback. Por sua vez, a
estrutura nunca transgride a própria caretice, a progressão de cenas/diálogos meramente
simbólicos, a fôrma de cinema da Globo Filmes: para o público que quer tudo tão
elementar e mastigado que nem sabe mais qual seria o gosto se fosse feito de
outra fórma. Elis foi muito mais labiríntica do que a cinebriografia sobre ela.
Que não é ruim, longe dessa afirmação, por favor. Apenas foi para o lado oposto
à essência de sua personagem. [24.11.16 – Cinépolis Rio Poty]
JACK REACHER: SEM RETORNO * *
[Jack Reacher:
Never Go Back, CHI/EUA, 2016]
Ação/Suspense - 118
min
Tudo
é um genérico de si mesmo nessa segunda incursão do personagem de Lee Child no
cinema. Até Cruise se imita. E uma imitação bem carrancuda, por vezes machista.
Isso porque o diretor Edward Zwick insiste em inflar a “trama” com uma guerra
de gêneros para justificar a tensão sexual entre o protagonista e a major feita
por Cobie Smulders – a melhor coisa do filme. Tensão essa que implode, é
deixada de lado em prol de uma ação sem brilho mas violenta. O roteiro é uma
colagem, a seis mãos, de cenas, gags e diálogos que já devemos ter visto uma centenas
de vezes. No mínimo. Desafio qualquer pessoa a encontrar um elemento dramático,
ou uma curva de enredo, que não pareça ter sido tirado de outro filme. Dessa
vez incluíram uma suposta filha, cortesia do livro de Child, pelo simples fato
de que o apelo com o público seria maior. Só que a “família” formada resulta
num artifício frouxo demais para ser considerado credível enquanto Tom Cruise,
assinando a produção pela primeira sem Paula Wagner [que ficou na executiva],
desfere socos, chutes e tiros – não esqueçamos o mau humor – no modo autômato. Mesmo
modo que o espectador precisa ficar para engolir a seco tamanha cara de pau. [25.11.16
– Cinemas Teresina]
A CHEGADA * * * * ½
[Arrival, EUA, 2016]
Ficção - 116 min
Esmiuça as implicações semânticas numa comunicação
interplanetária, o ruído entre nós mesmos e como devemos abraçar o destino. Invasões
alienígenas e primeiros contatos passam anos-luz de serem premissas originais
no cinema. A “dirty sci-fi” sob a condução de Denis Villeneuve tem consciência
disso desde o prólogo-resumo da relação de Amy Adams com a filha. O roteiro de
Eric Heisserer parte do conto de Ted Chiang, “Historia de sua Vida”, publicado
em 1998, para operar a narrativa em três camadas: a da ficção científica
enquanto gênero na busca por compreender o propósito e a linguagem dos chamados
heptápodes, uma mais sócio-política relativa à comunicação, e diferenças, dos
seres humanos enquanto espécie e uma filosófica, digamos, bem nietzschiana que
nos leva a um mergulho na própria condição humana. A primeira é a responsável
pela estrutura primária do filme, preocupada com os detalhes da operação e em
ser o mais realista possível. Traz com elas ecos/referências a obras como
“Independence Day” [1996], “Contatos Imediatos do 3o Grau” [1977] e
“Solaris” [1972]. O tom orgânico nem nos faz desconfiar que podem estar ali
como uma distração, pistas falsas para pegar de surpresa o cinéfilo mais
atento. Tanto a montagem quanto o trabalho com o som são cruciais para a nossa
imersão. E que imersão! Mas Villeneuve, que atualmente realiza a sequência de
“Blade Runner – o Caçador de Androides” [1982], é um carpinteiro astuto; usa as
convenções do gênero para discutir questões mais relevantes e que extrapolam a
ficção: somos uma espécie dividida, plural, não apenas no idioma como também
nos interesses econômicos, políticos, etc. Embora a ação principal transcorra
em território estadunidense, há naves, ou “conchas”, estacionadas em outros
países e cada um possui sua independência no trato com os visitantes. O problema
levantado é este: num episódio de invasão do planeta, não há um representante
único a falar em nome da humanidade. E é justamente daí que vem a tensão que
nós e os personagens experimentamos. Em momento algum se sente que o perigo
está nos aliens-polvos. Se o mundo chega a ficar na iminência de uma
destruição, a origem está em nossa incapacidade de nos comunicarmos e unirmos
de maneira pacífica. A corrida contra o tempo é uma corrida contra nossa
desunião face a um desafio em comum. Só isso já diferencia esse de outros
filmes com a mesma premissa. A lista, sabemos, é enorme como a obsessão que
alimentamos pelo tema. Então Villeneuve, Heisserer e Chiang vão além no momento
de revelar para onde as pistas realmente apontavam desde o início. Somente
quando o prólogo é ressignificado e as convenções narrativas subvertidas despertamos
para o verdadeiro sentido da obra, que assume sua veia teleológica ao encenar o
que Nietzche chama de “amor fati”. Amor ao destino. Amor à fatalidade de cada
um, seja ela qual for. A aceitação plena da condição humana, aqui representada
pela personagem de Amy Adams e sua perda. O conto de Ted Chiang desde a
primeira página discorre em cima de como lidamos com o inevitável. A adaptação
cinematográfica é mais manhosa ao jogar para o final o peso conferido à
protagonista pela resolução do imbróglio. De certa maneira remete ao desfecho
de “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” [2004], o “Ok” tão natural dado
pelos esquecidos Kate Winslet e Jim Carrey mesmo ambos sabendo o rumo que
tomará aquela relação. Aqui o destino a ser amado é mais doloroso e sem a
possibilidade de, consciente do mesmo, provocar uma mudança qualquer. Quem
assistiu a “Incêndios” [2010] sabe que o cineasta canadense não tem pena do
espectador em matéria de twist tortuoso, aquele que custa a sair dos
pensamentos. O adjetivo não chega a caber no recente caso. Ainda assim, é um
soco não nas vísceras mas na crise existencial que teimamos em ter diante do
fato de que um dia todos iremos perder alguém que amamos. O impacto pode até
nos fazer relevar algumas escorregadas da produção, como certos links forçados,
elementos que são deixados de lado, a demora para o personagem de Jeremy Renner
mostrar serviço, ou mesmo esquecer a natureza da visita espacial, a troca de
sintaxes para um pedido de ajuda que só virá em três mil anos [o porquê dessa
lacuna abre espaço a tantas outras perguntas]. Na verdade, numa simplificação
cínica, a trama toda é um artifício para elaborar essa velha discussão do livre
arbítrio versus destino, algo que Chiang “aprofunda” no conto. No filme isso é
uma mera faísca acesa deliberadamente para fazê-lo permanecer com a gente. O
que não chega a esmaecer o cintilar da experiência tão bem arquitetada. Se é
possível acusar a heroína de transcender a própria humanidade, pelo conceito
nietzchiano, ao aceitar o fado com tamanha gratitude, é porque estamos tão
presos ao nosso próprio medo egoísta do sofrimento que não conseguimos aproveitar
todas as coisas belas que cada instante oferece. Independente de qual será o
resultado. E, acredite, só há um. [26.11.16
– Cinemas Teresina]
FOME * * *
[Idem, BRA, 2015]
sDrama - 90 min
Cristiano Burlan brinca com a fronteira entre ficção e
documentário e usa Jean-Claude Bernardet para corroborar seu filme-tese. No qual
a realização e o objeto em si [a falsa condescendência para com os moradores de
rua] também se confundem num assumido mea culpa. As contradições permeiam cada
elemento do filme, a começar pelo belo preto e branco da câmera em steadycam
[ou num slize, que seja], quase embelezando uma realidade feia, a marginalidade
e a invisibilidade social. E quando isso é uma opção pessoal? De fato, não é
uma obra de simples digestão. Várias camadas vão sendo colocadas/improvisadas
ao longo da narrativa. Por um ou outro viés Burlan consegue instigar o
incômodo, e ainda ser autor de sua própria câmera. Algo nem tão comum como
pensamos. [27.11.16 – Cinemas Teresina|Sessão Cinéfilos]
PHANTOM BOY * * ½
[Idem, FRA/BEL, 2015]
Animação - 85 min
A dupla Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol, de "Um
Gato em Paris" [2010], realiza outra animação 2D old-school, dessa vez investindo
numa atmosfera metafísica. A ação agora é numa Nova York tão neo-noir quanto a
produção anterior, onde o garoto doente Léo consegue passear com sua alma fora
do corpo enquanto ajuda o policial Alex e a jornalista Mary a capturar um
terrorista com o rosto quebrado. Não deixa de ser uma fantasia que mexe com o
nosso imaginário. Revela-se um enredo de super-herói, bebido em “Ghost – Do
Outro Lado da Vida” [1990], em que o estilo do traço é um charme à parte. [29.11.16]
O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO * * ½
[The Birth of a Nation, EUA, 2016]
Drama - 120 min
Se é válida a tentativa de Nate Parker em dialogar com a
obra homônima de D. W. Griffiths [1915], tal pretensão não reverbera na narrativa
de altos e baixos. O realizador de longas estreante se esmera tanto em encenar
a história de Nat Turner e sua rebelião contra o sistema de escravidão 30 anos
antes do início da Guerra Civil Americana que desliza nos elementos que
tornariam sua encenação menos artificiosa. Também protagonista e autor do
roteiro, opta por uma estrutura dramática puída, arrastada, e passa por cima de
detalhes na [falta de] construção credível da relação entre certos personagens
e seus antagonismos. Ficam devendo a catarse a princípio esperada. Sem falar
nas pistas falsas que deixa de lado. O filme passa toda a crueldade dos
escravocratas e o sentimento de injustiça dos negros perante sua submissão. Nesse
aspecto, impossível não se revoltar junto com Turner e justificar seu levante. Chamá-lo
de brutal seria abrandar a violência, ainda mais perversa, cometida pelos
brancos. Todavia, enquanto um “12 Anos de Escravidão” [2013] atinge uma força
cinematográfica pela própria mise-en-scène, Parker se contenta com a obsessão
pelo personagem e sua história, dando vazão a alegorias e a como – e esta é uma
analogia delicada que a projeção nos leva a construir – a religião é usada para
legitimar atos de terrorismo. Ao dividir opiniões, encontra ressonância no
clássico de Griffiths, que de forma clara é pró-Klu Klux Klan. Não à toa, põe
negros pintados de branco [D. W., como sabem, fez o contrário], ainda que possa
haver ruídos nessa resposta tardia. A questão é que o “O Nascimento de uma
Nação” de 100 anos atrás supera, como linguagem cinematográfica, suas falhas de
percepção. O mesmo não pode ser dito desse espelho invertido. [29.11.16 – Cinemas Teresina]
A BESTA HUMANA * * * ½
[La Bête Humaine, FRA, 1938]
Drama/Suspense - 101 min
Simone Simon é a catalisadora do "desejo capaz de
matar" na premente adaptação de Émile Zola realizada por Jean Renoir. O cineasta
francês, que também assina o roteiro, lança mão de uma câmera elegante e afiada
para se apropriar da atmosfera noir e construir sentimentos complexos nos personagens
– os masculinos feitos pelo astro Jean Gabin e o belga Fernand Ledoux. E isso
faz com que o enredo, mesmo com elementos reconhecíveis do gênero, nunca soe
óbvio. Sobretudo na construção do triângulo amoroso e para a vala que a
infelicidade dela, a femme fatale clássica, conduz a todos. A narrativa joga o
tempo todo com o espectador por meio da ambiguidade plantada de maneira sagaz. Com
raccords bem costurados e um som que nos lança sem desvios no universo das
locomotivas, a produção consegue instigar até o última frame. Que não podia
deixar de ser mais amargo. [30.11.16]
Dezembro – 26
filmes
MÃE SÓ HÁ UMA * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 82 min
Muylaert opta por se
desvencilhar dos caminhos óbvios, mesmo que isso sacrifique um pouco o seu foco
narrativo. Ou, quem sabe, tenha faltado mais tempo e esperteza para que o filme
exalasse o impacto que fica preso na garganta, querendo sair, berrar. Mas, para
a cineasta, seria desaguar no lugar-comum, deixar o esquema da estrutura tirar
do espectador a oportunidade de construir seu próprio filme. Minha tendência é
admirar o que ela tenta fazer. Pegar um tema primário e descamá-lo para tratar
algo diferente que está ali de maneira subjacente, não intrínseca. A questão é
que alguma coisa se perde pelo caminho, pois as duas histórias entrelaçadas [a
ressignificação traumática de lar/família e a busca flutuante por uma
identidade de gênero/sexo ou algo fora de uma única caracterização] são
atraentes na mesma intensidade e mereciam, cada uma, um olhar mais penetrante.
Ao trafegar por essas duas abordagens temáticas na atmosfera escolhida, a
pungência de ambas se dilui. Se para alguns tal opção reitera a concisão da
cinedramaturgia e realça os eventos sutis em frente à câmera, para outros
frustra a falta de uma elaboração consistente em cima das temáticas tratadas.
Em diversos pontos, a responsável por “Que Horas Ela Volta?” [2015], aqui
referenciado, acerta ao arriscar quebrar o paradigma que se esperaria. Em
outros, fica a dever. Colocar Daniela Nefussi para fazer as duas mães, a
sequestradora e a biológica, talvez seja a melhor sacada de Anna Muylaert em
relação ao simbolismo do título, também sujeito a diferentes formas de pensar.
Fora isso, o filme se contenta com o arco dramático entre os irmãos para dar ao
desfecho aberto e abrupto algum senso de resolução. No caso, o início do
verdadeiro caminho a ser trilhado. [01.12.16 – Cinemas Teresina]
PUPPE *
* ½
[Idem, ALE, 2013]
Drama - 89 min
A estreia de Sebastian
Kutzli na direção de longas nos guia pelos detalhes e pela atmosfera nos Alpes,
mesmo que precise assumir [ou ignorar] elementos frouxos do roteiro. Marie
Amsler usou sua experiência como professora em acampamentos para tecer essa
história de fugas e buscas por segundas chances. Tudo sob a ótima da juventude
feminina, abandona e/ou delinquência. Nada muito aprofundado, mas as atuações
inserem uma camada realista. E vai bem até a narrativa tentar a costura com um
thriller que só traz quebra de tom e ligações forçadas. O título original,
“boneca” em alemão, guarda em si diversas conotações. [03.12.16]
EU MATEI LÚCIO FLÁVIO... * * *
[Idem, BRA, 1979]
Policial - 97 min
A persona do
cafajeste carismático de Jece Valadão é uma luva para o papel de Mariel Moryscötte
[Mariscot na vida real] nessa crônica-resposta ao filme de Babenco, “Lúcio
Flávio – O Passageiro da Agonia” [1977]. Com direção de Antônio Calmon, mostra
o outro lado, o dos policiais, e sobretudo a criação do Esquadrão Le Cocq,
espécie de tropa de elite com cartão verde para limpar sem muita diplomacia as
ruas do Rio de Janeiro da bandidagem. Tanto que terminou ganhando fama com a alcunha
de Esquadrão da Morte. E Mariscot foi um dos seus mais intempestivos membros. Sua
obsessão em capturar o Lúcio Flávio de Paulo Ramos é a espinha dorsal de um
roteiro elipsado, sem muito preocupação em ser didático. Também há a relação do
protagonista com a prostituta viciada em heroína de Monique Lafond que confere
ao filme sua melancólica atmosfera. A produção com Reginaldo Farias é melhor
enquanto cinema de gênero e denúncia da midiatização, beirando o romântico, da
figura do criminoso na época. Contudo, os méritos dessa inversão de perspectiva,
como o curioso uso da trilha sonora que atribui diversos sentidos em certas
sequências e o próprio apelo do anti-herói [vilão?], não o deixam passar batido,
afora qualquer incômodo ao seu tom reacionário e assertivo, a começar pelo
título. Na realidade, foi outro le cocquiano, Guilherme Godinho Ferreira, o
Sivuca, que, ao se lançar político no início da década de 1990, propagou o
bordão até hoje controverso “Bandido bom é bandido morto”. Esses precursores do
capitão Nascimento... [05.12.16 – Canal Brasil|madrugada]
QUE ESTRANHO CHAMAR-SE FEDERICO * * *
[Che Strano Chiamarsi
Federico, ITA, 2013]
Drama - 97 min
O tributo de Ettore
Scola à carreira do amigo Federico Fellini também se desdobra no processo
lúdico do cinema. O filme oscila por entre os elementos do docudrama para
desfiar as memórias de Scola, no que terminou sendo seu último trabalho, com a
ajuda das filhas Paola e Silvia no roteiro. Como se não fosse o bastante
imprimir o afeto em cada frame, ainda colocou os netos Tommaso e Giacomo
Lazotti como os jovens Fellini e Scola. À parte toda essa atmosfera
familiar-nostálgica, ainda tece uma costura refinadíssima entre encenação e
realidade, adicionando fotografias e imagens de arquivos com organicidade e
colocando o narrador para derrubar a quarta parede nas cenas recriadas com
atores. Assim, pode fazer o grande Maestro fugir do próprio velório para ficar
contemplando, em paz, o imaginário que nos deixou como legado de sua
genialidade. [05.12.16 – Telecine Cult]
O FILHO ETERNO * * ½
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 82 min
A adaptação da
busca sesga de Cristovão Tezza pelo sentido da paternidade é um incômodo
emocional quase retumbo. Claro que, na superfície de um humanismo hipócrita,
rechaçar o comportamento do personagem [dramático, sim] de Marcos Veras é se refastelar
na própria zona de conforto. Mas ao mesmo tempo a narrativa nos provoca com sua
sinceridade cruel, como se soubesse que, numa camada não assumida, entendemos
sua rejeição ao filho com Síndrome de Down. E nos debatemos em culpa por causa
disso. Nada contra, seja no livro ou no filme, colocar o receptor da mensagem
em lugares lamacentos, que o testam justo na natureza humana mais enraizada: o
egoísmo da felicidade e a frustração quando o plano tem outros planos. Gosto do
risco de um protagonista com o qual é delicado se identificar. E ter um
humorista com cara de sujeito inofensivo no papel é a grande jogada do casting.
Se foi a melhor escolha, quem poderia dizer? Mas ajuda na jornada de
ressignificar os sentimentos de pai e aceitar o que o caminho trouxe. Esse é o
sentido da obra, que opta por não facilitar qualquer empatia rasteira nessa
relação. Até certa parte. A direção de Paulo Machline equilibra atores com
Down, como Pedro Vinícius, com performances comoventes como a de Débora
Falabella. É dela o texto que mais parece saído de um momento verdadeiro, de
uma descoberta irrefreável. A cargo de Leonardo Levis, o roteiro, contudo,
termina se arrefecendo em dois pontos: a estrutura cujo paralelo futebolístico
com importantes derrotas do Brasil nos faz antecipar a jogada final e já cair
nesse final, como se antecipando-o, logo após o mais importante ponto de
virada. O qual, por mais bem intencionado que seja como peça dramatúrgica, soa
como um clichezinho novelesco a imacular o que estava indo numa direção,
digamos, menos óbvia. Ao menos não chega a resolver o fosso familiar cavado
cena a cena. Tezza partiu de elementos autobiográficos para despir as relações
parentais do sagrado altruísmo em direção ao que pulsa por si mesmo, o amor sem
floreios condescendentes. Não fossem as concessões e os deslizes, o filme
retumbaria com mais gravidade da porta do cinema para fora. [06.12.16 –
Cinépolis Rio Poty]
A CONFISSÃO * * * *
[L’Aveu, FRA/ITA, 1970]
Drama - 130 min
A atuação de Yves Montand
é tão visceral quanto a pegada enérgica de Costa-Gavras mostrando como
subverter a dialética para arrancar a “verdade” que se deseja. O roteiro de Jorge
Semprún reconstrói, a partir do livro de Lise e Artur London, a prisão e
tortura desse último, então vice-ministro das Relações Exteriores da República
da Checoslováquia, para que confesse uma falsa colaboração com o imperialismo
estadunidense. Nesse calvário, vale da privação do sono à lógica sofista para
arremeter o preso ao erro, muitas vezes sem nem mesmo ele se dar conta. O
cineasta, que já havia denunciado as ditaduras de direita, causou polêmica ao
mostrar que regimes autoritários de esquerda também podem ser – e são – cruéis
e injustos. E qual totalitarismo estatal não o é, em algum nível? Somos
lançados na pele do protagonista, desafiados a sentir revolta a cada cena, a
cada diálogo [pos diretor e roteirista nos mantém lúcidos o percurso inteiro],
e ainda sermos “presenteados” com as cartas marcadas do que foi chamado de
Julgamentos de Prada, em 1952. Um pesadelo que perdura na tela com o mesmo
vigor de quase 50 anos atrás. Mais atual do que nunca? Um grito corajoso contra
qualquer governo que prive os cidadãos da liberdade. Em todas as suas formas. [07.12.16]
CREEPY
* * ½
[Kurîpî: Itsuwari no rinjin, JAP, 2016]
Suspense - 130 min
A trama justifica o
título e há mais subtextos do que se pode perceber a princípio. Por outro lado,
nem tudo convence. Sim, Kiyoshi Kurosawa busca a tensão pela atmosfera e os
sustos pelas reviravoltas. E como transpira a estrutura do enredo com a própria
claustrofobia! Pesa o meio e demora a se libertar para o arranque final. O
personagem de Teruyuki Kagawa é óbvio desde a primeira aparição, deixando o
caminho livre para a narrativa explorar a sordidez de sua natureza e da forte dependência
que cria nas vítimas. Não é um suspense psicológico para engolir sem estar
preparado. O pior [ou o melhor] é que nunca estamos. Assim como o casal feito
por Hidetoshi Nishijima e Yûko Takeuchi, cujo cotidiano na nova vizinhança logo
vai descer ao inferno. De onde ninguém retorna, se retorna, da mesma forma. O
que incomoda são as típicas coincidências dos subplots, cortesias do livro de
Yutaka Maekawa, escarando os artifícios. Fora um ou outro exagero no tom, nos
diálogos com tradução novelesca, informações que se repetem e como o psicopata
aliena todo mundo e os leva a atos horrendos sem uma elaboração mais crível do
ponto de vista dramático. A concisão cinematográfica tem desses detalhes. Talvez
seja apenas eu sendo mais clínico [chato, bem capaz] do que deveria. A crítica
em geral tem elogiado essa montanha-russa de sensações. Quem sabe numa próxima
visita eu me permita fazer o loop com os braços erguidos. [08.12.16 – Cinemas
Teresina]
ALMAS REENCARNADAS * * *
[Rinne, JAP, 2005]
Terror - 96 min
Shimizu explora os diversos
níveis da premissa, inclusive com metalinguagem. Ao evitar “jump scares”,
oferta calafrios. Takashi Shimizu estava entre as refilmagens de “O Grito”
[2002] e sua sequência quando realizou esse trabalho em cima da temática
reencarnação com ecos de “O Iluminado” [1980]. Colocar a protagonista como uma
atriz que fará o papel de uma menininha que foi assassinada pelo pai, junto a
outras dez vítimas, é um bom jeito de fisgar a atenção do espectador logo no
primeiro terço da história. Sobretudo quem se deixa seduzir pela estrutura do
filme dentro filme, mostrando os bastidores de uma produção. A sequência de
eventos entrelaça realidade objetiva, subjetiva e encenada, e às vezes não
parece linear. Também não arredonda todas as pontas, e aí vai de cada um gostar
ou sentir que há um furo ou outro. Tendo a ficar dividido, mas prefiro assim do
que comida em lata. Óbvio que o filme termine evocando elementos-fetiches do
terror japonês, cabelos cobrindo o rosto, espíritos vingativos, são coisas
atraentes demais por lá. Como são o sexo e a violência por aqui. O que se
sobressai é a maneira como o filme consegue usar tais artifícios e exposições
para desviar nosso olhar da pequena surpresa no final. O instante da revelação
em si [na verdade um pouco antes] talvez pudesse ter sido mais sutil, a
montagem paralela teria dado conta sozinha. Um deslize, contudo, que não mancha
tanto assim a carpintaria total. Ou pelo menos sua intenção. [10.12.16]
O MISTÉRIO DE GOD'S POCKET * * *
[God’s Pocket, EUA,
2014]
Drama - 89 min
Um retrato atmosférico
da classe trabalhadora do subúrbio estadunidense que vagueia por entre a
melancolia e a violência banal, institucionalizada. O inexplicável título
nacional conduz o espectador ao erro nesse que seria um dos últimos trabalhos
de Philip Seymour Hoffman. Estreia na direção de longas do ator John Slattery
[o Howard Stark do Universo Cinematográfico Marvel], trata-se de um olhar
voltado para os personagens que habitam esse bairro, God’s Pocket, e suas
relações de pertencimento. O enredo, adaptado do livro escrito por Peter Dexter
nos anos 1980, gira em torno dos preparativos para o velório do enteado de Hoffman.
Apenas um pretexto para descamar histórias paralelas sobre os impulsos humanos
de solidão e como isso reverbera, de alguma maneira, no coletivo. De duração
enxuta, traz bons diálogos e atuações “cansadas”, num sentido dramático que
casa com a passarela na qual os personagens se esbarram. Um filme para ser
sentido. [11.12.16]
SNOWDEN: HERÓI OU TRAIDOR * * * *
[Snowden,
FRA/ALE/EUA, 2016]
Drama - 135 min
Oliver Stone mira
sua narrativa de investigação sobre o despertar do ex-analista da NSA para expor
uma “verdade inconveniente”. Eufemismo máximo, por isso as aspas. Depois de Richard
Boyle, Ron Kovic, Jim Morrison, Kennedy, Nixon, Bush, Fidel Castro, Hugo
Chávez, sem falar nos roteiros sobre Billy Hayes, Evita, entre outros, agora é
Edward Snowden a figurar na lista de pessoas reais e nada unânimes retratadas
pelo cineasta de uma maneira ou de outra. Snowden revelou ao mundo em 2013 a
sistemática vigilância eletrônica do governo dos Estados Unidos em cima de...
todo mundo, qualquer pessoa com “vida online”. Já rendeu um documentário premiado,
“Citzenfour” [2014] – são os bastidores desse que dão o estalo aqui, a pergunta
inicial do jornalista Glenn Greenwald [Zachary Quinto] refeita pela
documentarista Laura Poitras [Melissa Leo], o que de cara diferencia a natureza
do trabalho de cada um – e debates acerca dos limites éticos da segurança
nacional. Hoje é um apátrido vivendo em asilo político na Rússia. O cerne do
filme é mostrar, em ritmo de thriller de espionagem, a transformação paulatina
de um Snowden patriota efusivo rumo à crise ética-moral que o fez trair o
próprio país. E isso a narrativa constrói, de uma forma muita precisa, entre
planos de câmera que vão se rendendo à paranoia orwelliana, inclusive há uma
cena de videoconferência que remete a “1984”, e a caracterização modulada de
Joseph Gordon-Levitt. Nossa atenção se divide na emulação do ator, na energia
de um Stone em seus melhores dias e no modo como a vigilância em massa se
processa e gera consequências na percepção do cotidiano, do que seria trivial
acabar sendo uma prova contra nós mesmos. Privacidade? Esqueça, como também
alertou a série “Black Mirror”. É difícil escrever sobre tudo isso sem olhar
para a webcam do laptop e não pensar que alguém, se assim o quiser, pode me
assistir neste exato instante, quase num metamomento digno de um Kafka-Orwell. Preciso
abstrair para terminar o texto e sair logo da frente do computador. Volto ao
filme. Se há problemas estruturais, é nunca questionar as boas e ingênuas
intenções do protagonista, que sacrifica a vida pessoal por um sentimento
altruísta e desinteressado. Faz-se necessário que Stone insira uma doença e
conflitos com a namorada [Shailene Woodley] para que saibamos que Edward
Snowden é um ser humano, não um herói mitológico, um fugitivo da Caverna de
Platão. Também coautor do roteiro, o diretor deixa claro logo nos primeiros
segundos que iremos assistir a uma “dramatização dos eventos”, algo que será
justificado no desfecho. Quando, num movimento de câmera elegante,
Gordon-Levitt cede lugar ao verdadeiro Snowden e o filme brinca com o
docudrama. O fato de não estranharmos, no sentido negativo, essa transmutação
vem da montagem já ter inserido o sujeito de forma sutil pouco antes e da
confiança de Oliver Stone na performance do seu ator principal. Uma ousadia que
comprova os méritos da obra mais politizada do diretor em anos. [11.12.16]
CANÇÃO DA VOLTA * *
[Idem, BRA, 2016]
Drama - 98 min
Fora alguns
deslizes da direção iniciante de Gustavo Rosa de Moura, o filme vai bem
enquanto é consciente da espinhosa temática inicial, o olhar para o desarranjo
familiar após a tentativa de suicídio da mãe/esposa. Quando deixa isso de lado,
com uma subtrama de ciúme do marido e outras questões que nunca ficam claras, a
narrativa se perde quase por completo. Até esse ponto de virada radical, e que
se revela inconsistente, trata-se de um promissor estudo do desconforto, focado
mais no personagem de João Miguel. A atmosfera escura, carregada, tenta
elaborar a depressão de Marina Person e como os membros da família são
afetados. Mas nunca escarafuncha além do psicologismo superficial. Moura ainda
é um diretor pesado e vários de seus planos de conjunto aberto revelam um
elenco atarantado, fake, tentando não descuidar da marcação e em manter o tom
preso numa nota baixa. É, de fato, uma mise-en-scène sofrível. Sua opção de
impor uma trama desvia nossa atenção, como um truque de mágica barato. E que
não leva a nenhum lugar. João Miguel vai na onda emocional de seu personagem e
Francisco Miguez muda de postura de uma hora para a outra. Marina Person, por
sua vez, se esforça para passar substância, mas mostra apenas a casca vazia, o
nível mais propagandeado da doença que acomete mente e alma ao mesmo tempo. E
Moura não resiste à alegoria da família perguntando por ela em voice over sobre
os cômodos desabitados até de mobília. Tivesse ao menos continuado nessa linha,
poderia ter desaguado num banho de mar [sempre esse clichê] mais catártico. [12.12.16
– Cinemas Teresina]
O BEBÊ DE BRIDGET JONES * * ½
[Bridget Jones’s
Baby, IRL/GB/FRA/EUA, 2016]
Comédia romântica -
123 min
Não espere que a
protagonista por fim amadurecerá com a expectativa de ser mãe. E essa é a graça
aqui. O terceiro filme da série traz de volta a diretora Sharon Maguire, de “O
Diário de Bridget Jones” [2001], o que significa a manutenção da atmosfera com
a qual o público se encantou há 15 anos. Como sempre, a criadora da personagem,
Helen Fielding, coassina o roteiro ao lado, dessa vez, de Dan Mazer e Emma
Thompson, responsável pela lapidada final. Como sempre também, começa com Jones
a lamentar sua idade e solteirice – ao som, claro, de “All by Myself” – até mudar
a música, fazer novas resoluções em seu diário/ipad só para se ver na
trincheira entre dois pretendentes, qualquer um pode ser o pai do seu futuro
bebê. Nada de originalidade no pós-apocalipse criativo, eu sei, mas o texto
contorna isso com boas piadas e mostrando que Bridget continua mestra na arte
de passar vergonha a si mesma. Ao invés do Daniel Cleaver de Hugh Grant, Mr.
Darcy [Firth] disputa com o americano Jack, feito por Patrick Dempsey – hoje
mais conhecido pelo papel na série “Grey’s Anatomy” do que, no meu tempo, “Namorada
de Aluguel” [1987] ou “Loverboy – Garoto de Programa” [1989]. O tempo é uma
coisa, hein? Que o diga Renée Zellweger, antes “dream date” e agora difícil de
saber se é ela mesmo depois de tanta cirurgia facial. Ainda bem que Bridget
Jones nos dá uma mãozinha ao manter sua essência. Faltou estar num filme com
desfecho corajoso. [13.12.16 – com Lívia]
O SEU JEITO DE ANDAR * *
[Barefoot, EUA, 2014]
Comédia romântica -
89 min
Por mais que
simpatizemos com os personagens e o romance tenha apelo, o roteiro se atropela
do meio para o fim. Chega a parecer o rascunho de uma boa ideia. Mas não é. Trata-se
do remake de “Barfuss” [2005], comédia romântica alemã dirigida por Til
Schweiger. Inclusive, o roteirista Stephen Zotnowski é o autor do argumento
original. Algo se perdeu na tradução. O primeiro ato cativa, sobretudo por ter
Evan Rachel Wood no elenco. Os outros dois soam apressados, numa indulgência
para chegar logo ao desfecho. Por quê? Só faz com que a química dela com Scott
Speedman nem consiga se desenvolver sem ocultar os artifícios do gênero. O
diretor Andrew Fleming conhece o terreno onde está pisando. Tanto que a atmosfera
ajuda, e muito. Não é suficiente, porém. [14.12.16]
ROGUE ONE – UMA HISTÓRIA STAR WARS * * *
[Rogue One, EUA, 2016]
Ficção - 134 min
O despertar aqui é
de ordem política, a qual com frequência deriva da transformação pessoal que
leva alguém a abraçar o sacrifício em prol de uma causa coletiva. Esse
subtexto, a atuação no processo político-revolucionário e o impulso que deve
emanar de cada um, está embutido no arco dramático de Jyn Erso, a protagonista
feita por Felicity Jones nesse primeiro, e bem resolvido, spin-off da saga
criada por George Lucas. Uma saga com essência politizada, repare. Não à toa, o
filme com direção de Gareth Edwards [“Monstros”, 2010] está sendo percebido
como o mais adulto da franquia até agora. Ao contrário dos episódios oficiais,
esse pode levar suas ações às últimas consequências. Inclusive, como muitos
também já apontaram, consegue ressignificar todo o Episódio IV, o “Star Wars”
original de 1977, dando-lhe peso referente e ao mesmo tempo espírito de
ressaca. Edwards não apenas se desprende do cânone gramático-visual, como a
ausência das transições em cortina, o resumo inicial à la “space opera”, mas
brinca com isso de forma esperta. Basta ver o primeiro plano do filme e seu
movimento contrário ao que estamos acostumados. A brincadeira prossegue em
momentos pontuais. Por conta disso, assume mais riscos do que as outras
produções. A maneira como o score de Michael Giacchino “dialoga” com os temas
de John Williams é um exemplo. Se a princípio possa haver estranheza e
desconfiança sobre ser um derivado autêntico dessa “galáxia muito, muito
distante”, tais sensações são minadas no decorrer da projeção. As referências
plantadas ancoram a produção na linha cronológica sem grandes tropeços, e não
vou estragar as delícias para quem não assistiu. Por outro lado, ouso dizer que
a participação de Darth Vader não é uma mera homenagem como se poderia esperar.
Embora apareça pouco – o vilão é mesmo o Orson Krennic de Ben Mendelsohn –, tem
a presença marcada com toda a pompa que merece. Além disso, protagoniza a cena
que faz com que os esforços da Aliança Rebelde em roubar os projetos da Estrela
da Morte deixem de ser uma mera linha introdutória para se converterem quase
numa tragédia grega. Trata-se de um filme que cresce aos poucos, até o ponto em
que nos importamos com toda a trupe, do Cassian Andor de Diego Luna ao androide
K-2SO, o alívio cômico que faz as vezes de C-3PO ao reverso. São esses
personagens que extrapolam a estrutura de “heist movie” e nos ensinam o sentido
do altruísmo heroico. E como isso, antes um detalhe narrativo, parece renovar
uma história que está sendo contada há quatro décadas. [15.12.16 – Cinemas
Teresina]
SULLY – O HERÓI DO RIO HUDSON * * *
[Sully, EUA, 2016]
Drama - 96 min
Pegando a deixa do
personagem-título, Clint Eastwood não perde o foco do fator humano por trás de
uma façanha da aviação. Em 15 de janeiro de 2009, o voo comercial US Airways
1549 foi atingido por um grupo de gansos-do-canadá logo após decolar do
LaGuardia, em Nova York, e teve que fazer um pouso forçado... nas águas do rio
Hudson. O roteiro de Todd Komarnicki entrecorta o feito em si, sob vários
pontos de vista, com as investigações acerca se o comandante [Tom Hanks] tomou
a atitude mais acertada e alguns flashbacks da juventude do protagonista. Necessário
dizer a não necessidade desses últimos? Não no resultado final do filme, em
termos dramáticos. O ponto alto é o questionamento, a desconstrução do ato nas
dúvidas do próprio Sully enquanto buscam uma resposta. E que resposta? Não é
suficiente o sujeito ter salvado a vida de 155 pessoas, fora aquelas que
tombariam caso o avião caísse por entre os prédios nova-iorquinos? Embora, ao
final, o cineasta escancare uma abordagem propagandística do “milagre do
Hudson” para garantir o diálogo com o público de lá e deixe de discutir a fundo
uma infinidade de assuntos, gosto da busca por uma direção sem floreios, um
intimismo narrativo voltado aos personagens. Dá espaço para Hanks entregar uma
performance que quase se pode apalpar, mesmo se você achá-lo um tanto arrogante
em sua maneira de se impor. É o risco da contradição que o ator assume. E não é
a coisa mais difícil do mundo deixar-se convencer por Tom Hanks e suas escolhas.
Não mais do que acreditar no que aconteceu naquele 15 de janeiro. [16.12.16 –
Cinemas Teresina]
PERFEITA É A MÃE! * * ½
[Bad Moms, EUA, 2016]
Comédia - 100 min
Bom ter duas coisas
em mente: senso de humor não é pecado e rotina de mãe enlouquece qualquer um. Inclusive
ela. Claro que a dupla Jon Lucas e Scott Moore exagera, seguindo a atual cartilha
da comédia estadunidense, a ofensiva de apelo adolescente. O resultado, por
incrível que pareça, não soa ruim. Isso se o espectador filtrar os pontos mais
ou menos inspirados da narrativa e achar válida a essência da produção. Dá para
rir refletindo que a maternidade representa e apresenta na sociedade
pós-temporânea. [19.12.16 – madrugada]
SING – QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA * * *
[Sing, EUA/GB, 2016]
Animação - 108 min
Com uma seleção
musical que atira para todos os gostos e arcos dramáticos que edificam, seria
difícil algo sair errado. Sem falar nas referências, do teatro ao cinema,
passando pela televisão. Garth Jennings [“O Guia do Mochileiro das Galáxias”,
2005] é feliz na estrutura que consegue fazer de todos os personagens protagonistas
do enredo e trabalhar cada um. Simpatizamos com todos, mesmo aqueles que não
são os melhores exemplos de caráter. A narrativa de câmera tem um dinamismo que
conecta as histórias e colabora para o ritmo-timing. As crianças crescidas vão
pescar camadas de leitura insuspeitas para uma animação. Ah, sim, há
cenas-gags-piadas que transcendem a diferença de idades. O palco-tela contagia,
nesse que, por trás de tudo, é um ode ao trabalho do produtor. E dos talentos
que ele descobre. Cante! [20.12.16 – Cinemas Teresina]
ABLUKA
* * ½
[Idem, FRA/QAT/TUR,
2015]
Drama - 115 min
Nessa distopia
turca, o diretor/roteirista Emin Alper sustenta nosso interesse ao mexer na
percepção cronológica da narrativa e do que seria ou não real. Para nós e para
os personagens. Dois irmãos que se reencontram numa Istambul assolada por
terroristas e cachorros doentes após um deles ser solto mais cedo da prisão
para servir como espião do governo. Alper, em seu segundo filme, nos conduz por
camadas sutis de desejo, solidão e família que desaguam num viés psicológico.
Talvez muitas perguntas fiquem no ar, mas dá para sentir a segurança de algo
sério sendo contado. Vai depender de quem assiste. [21.12.16]
SIERANEVADA * * * ½
[Idem, ROU/FRA/BIH/CRO/MK,
2016]
Drama/Comédia - 173
min
Cristi Puiu aponta
sua “narrativa do cotidiano” para o microcosmo familiar, com um ritmo de
imersão e uma câmera que observa os personagens por trás de molduras naturais.
Carros, assentos, escadas e, sobretudo, portas abertas, semiabertas e
entreabertas. À espera do padre para a celebração de morte do patriarca, entram,
saem, conversam sobre terrorismo, política, religião, ideologia e os problemas
dos membros da família. Cebola essa que, pouco a pouco, é descascada, no velho
pensamento “família boa é a do vizinho”. Todas são iguais, eu digo, prestes a
implodir se formos desatentos. Família é drama e alegria, um ensaio da
sociedade. A Romênia ainda lida com os ecos do regime de Nicolae Ceausescu
[1965-1989] e, no cinema, a Nova Onda Romena não está livre deles tampouco. A
geração atual é sempre, de uma ou outra forma, uma resposta a anterior. Os
paralelos podem, ou não, ser encontrados tanto em chaves dramáticas quanto na
postura geral da narrativa. Essa é longa, verdade, mas nunca chega a cansar se
você olha para o trivial buscando o épico do absurdo no comportamento humano. [22.12.16
– Cinemas Teresina]
MORRENDO DE MEDO * * *
[Scared Stiff, EUA,
1953]
Comédia/Musical -
108 min
O próprio George Marshall
refilma seu "O Castelo Sinistro" [1940], e a dupla Dean Martin/Jerry Lewis
dança e canta com Carmen Miranda. No que seria o último filme da “pequena
notável”, falecida em 1955. Ela, inclusive, faz uma introdução dos
protagonistas em português e Lewis se traveste dela para “Mamãe, Eu Quero” com a
vitrola enganchando a todo instante. Apesar da fonte, o filme se desenvolve
[enrola?] mais no percurso até o suposto castelo assombrado em Cuba, todas as
trapalhadas da jornada, colocando as melhores tiradas, como de hábito, na boca
de Lewis. E não pisque na participação “esquelética” de outra dupla: Bing
Crosby e Bob Hope. Retribuindo nada menos que um favor. [25.12.16 – Telecine
Cult]
BACALAUREAT * * *
[Idem, ROU/FRA/BEL,
2016]
Drama - 122 min
Mungiu flerta com o
moralismo, e escapa dele, ao estudar como um ato desonesto se alastra, sai do
controle – mesmo bem intencionado. E afeta todos os que estão mais próximos. Afeta,
inclusive, o próprio caráter, a percepção dele? A atuação de Adrian Titieni
lança mão de nuances que tornam difícil julgar seu personagem sem o impulso de
tentar entendê-lo ou apenas rejeitar suas motivações. O romeno por trás de “4
Meses, 3 Semanas e 2 Dias” [2007] faz uma narrativa-espelho que, queiramos ou
não, vai além de uma simples diluição ética; desfia um novelo mais emaranhado
da própria sociedade [não por acaso denuncia os médicos que recebem por fora],
do oportunismo do dar-se bem. Sobretudo quando esse atalho imoral encontra
justificativa numa tragédia, como ser atacada, quase estuprada, um dia antes dos
exames finais da vida escolar. Cujas notas são cruciais, lá, para garantir a
bolsa de estudos conquistada para a faculdade. O tema é provocativo porque, num
ou noutro momento da vida, já nos pegamos em situações similares, nas quais
perdemos o conceito monocromático da “coisa certa”. Cristian Mungiu trabalha o
enredo em gradações: o que a princípio parece um pedido sensato leva a outros
favores até mesmo criminosos. Passo a passo, o protagonista atravessa zonas
cinzentas, até o ponto do total comprometimento. Sem usar trilha sonora até os
créditos finais, o cineasta dividiu com Olivier Assayas o prêmio de direção no último
Festival de Cannes. [25.12.16]
AMERICAN HONEY * * *
[Idem, GB/EUA, 2016]
Drama - 163 min
Um road movie pela
"América profunda" e seus sonhos longínquos, muitas vezes – e cada
vez mais – difíceis de alcançar. Sejam simples e/ou bucólicos. A busca interna,
o “coming to age”, exige concessões a si mesmo. Andrea Arnold nos transforma em
passageiros dessa jornada, sem que isso implique termos personagens palatáveis
como companhia. Pelo contrário. São críveis, portanto com falhas e
contradições. Ora divertidos, frágeis, patéticos. O “american way of life”,
sobretudo o das cidades pequenas, escancaram seus pontos-gatilhos. [27.12.16]
BO * *
[Idem, BEL, 2010]
Drama - 89 min
O belga Hans Herbots
apenas raspa a superfície emocional do que prenunciamos acerca do arco
dramático da jovem protagonista. [28.12.16 – madrugada|pré-viagem Bahia]
A TORTURA DO MEDO * * * *
[Peeping Tom, GB, 1960]
Suspense - 101 min
Powell entrelaça o
próprio processo cinematográfico ao estudo quase psicanalítico do protagonista.
O roteiro de Leo Marks adota a perspectiva do psicopata feito pelo alemão
Karlheinz Böhm para elaborar trauma infantil, expressão do medo [que o título
nacional entrega] e voyeurismo [que o título original sugere]. Sem o parceiro
Emeric Pressburger – eles se alcunhavam The Archers –, Michael Powell discute
esses temas, principalmente o último, no papel do cineasta, de sua busca ao
enquadrar, iluminar e mover a câmera. Coisas que orquestra aqui com precisão
hitchcockiana. Isso na mesma época em que Hitch dava ao mundo “Psicose” [1960].
Muitos colocam ambos os filmes numa análise de contrabalanço. Se é uma
resposta, que pergunta precisa alguém deve ter feito! Vale ainda com estudo de
direção e fotografia, cada movimento existe para revelar uma nova informação. Fincher
é o maior discípulo atual desse método. Afora a atmosfera mantida a cálculo
matemático, pela primeira vez populariza a câmera subjetiva como ponto de vista
do assassino. Através de sua 8mm e seu tripé mortal perfurando camadas que vão
além do gênero e da metalinguagem proposta. Filmes não são cults à toa. [28.12.16
– Salvador-BA|resort IberoStar]
EIS OS DELÍRIOS DO MUNDO CONECTADO * * * ½
[Lo
and Behold, Reveries of the Connected World, EUA, 2016]
Documentário - 98
min
Herzog busca,
reflete, se espanta com as maravilhas e, sobretudo, os pesadelos do mundo
pós-advento da internet. [30.12.16 – Salvador-BA|resort IberoStar]
DEPOIS DA TEMPESTADE * * * ½
[Umi yori mo mada fukaku, JAP, 2016]
Drama - 118 min
Koreeda constrói
uma atmosfera honesta para mostrar um protagonista em busca de algo que já [se]
perdeu. | shoshimingeki filmes [31.12.16 – Salvador-BA|resort IberoStar]
Curtas – 23
PAPER WORLD * * *
[Idem, HUN, 2013]
3 min
Bastam três minutos
para um microcosmo de papel mostrar que todas as coisas, as boas e as más,
estão conectadas. [12.01.16]
WORLD OF TOMORROW * * *
[Idem, EUA, 2015]
16 min
Em seu primeiro
curta de animação feito digitalmente, Don Hertzfeldt compartilha um vislumbre
frio do futuro. [14.01.16]
THE PRESENT * * * ½
[Idem, ALE, 2015]
4 min
Jacob Frey mira, e
acerta, nos insensíveis corações desprevenidos nessa curtíssima narrativa sobre
auto-aceitação. [01.02.16]
12
CIGARROS & UMA BALADA INACABADA * * ½
[Idem, BRA/PI, 2016]
25 min
A angústia de quem deseja "chegar
lá" pela arte impressa tanto no conteúdo quanto na própria feitura do
curta. [18.02.16 – Casa da Cultura]
SAILOR
* * ½
[Idem, BRA, 2014]
min
O natalense Victor
Ciríaco usa a figura arquetípica do marinheiro para abordar a fugacidade das
relações contemporâneas. [19.03.16 – Canal Brasil]
ALGUM LUGAR NO RECREIO * * *
[Idem, BRA, 2014]
23 min
Caroline Fioratti
usa o microcosmo do intervalo no colégio para expor o não pertencimento típico
juvenil. Além de quebrar certos paradigmas. [02.04.16 – Canal Brasil]
CRÔNICAS DO MEU SILÊNCIO * * * ½
[Idem, BRA, 2015]
9 min
A excelente sacada
de Beatriz Pessoa nos coloca na vivência mais íntima da violência contra a
mulher [a alma quebrada, o desencontro que fica dela com o mundo à sua volta],
obrigando o olhar a um cruel imaginário diegético do machismo nosso de cada dia
– infelizmente muito real. [29.05.16 – YouTube]
PIPER – DESCOBRINDO O MUNDO * * *
[Piper, EUA, 2016]
6 min
Alan Barillaro
mostra que derrotar o medo traz a conquista da independência nesse curta de
animação com um fotorrealismo em 3D impressionante. [30.06.16 – Cinépolis Rio
Poty]
DEIXA A CHUVA CAIR * * *
[Idem/Let’s the Rain
Falls, BRA, 2016]
26 min
Juscelino Ribeiro
Jr. confere uma pegada pop e incisiva para mostrar o rap de Preto Kedé e seu
trio A Irmandade como válvula de expressão e, sobretudo, instrumento de
transformação da realidade. [06.07.16 – Teatro 4 de Setembro, Abertura Parada
de Cinema]
SARAH: MENINA DE OURO * * *
[Idem, BRA, 2016]
26 min
Embora com foco na
figura da judoca campeã olímpica [até por ter sido feito para a ESPN], há uma
tentativa de olhar de perto a pessoa por trás. [10.07.16 – ESPN]
ESTÁTUAS VIVAS * * ½
[Idem, BRA, 2013]
14 min
Tentativa poética
de mostrar o processo por trás do estatuísmo e de que maneira essa arte de rua
reverbera nas pessoas. [27.07.16 – Canal Brasil]
THE LAUGHING MAN * * *
[Idem, EUA, 2016]
20 min
Os irmãos Hallivis
concebem uma sombria visão, de fãs assumidos, em cima dos personagens Coringa e
Arlequina. [07.08.16 – YouTube]
DOCEAMARGO
* *
[Idem, BRA, 2009]
16 min
É perceptível que a
ideia do curta escrito e dirigido por Rafael Primot é mais atraente do que o
resultado-título. [22.08.16 – Canal Arte 1]
MINIONS JARDINEIROS * * ½
[Mower Minions,
EUA, 2016]
4 min
Uma divertida
desculpa de quatro minutos apoiada no carisma das criaturinhas amarelas e suas
já idiossincráticas gags. [30.08.16 – Cinemas Teresina]
SO MUCH FOR SO LITTLE * * ½
[Idem, EUA, 1949]
10 min
Chuck Jones, num
curta-doc animado primeiro ganhador do Oscar, é incisivo e panfletário em prol
do healthcare USA pós-Segunda Guerra. [25.09.16 – YouTube]
THE MASTER! * * ½
[Idem, EUA, 2016]
min
A divertida sacada
do curta Lego é a estrutura como trailer o tempo todo interrompido por um
inusitado personagem. [28.09.16 – Cinépolis Rio Poty]
O ASSASSINADOR * * ½
[Idem, BRA, 2016]
12 min
AJosé faz uma
versão personalíssima e autorreferente da lenda-maldição piauiense de Crispim
"Cabeça de Cuia". [28.09.16 – YouTube]
QUANDO PAREI DE ME PREOCUPAR COM CANALHAS * * *
[Idem, BRA, 2015]
15 min
Com texto esperto,
coloca Matheus Nachtergaele a personificar a atual crise política se
transformando em angústia existencial. [08.10.16 – Casa da Cultura]
BORROWED TIME * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
7 min
Um curta animado
com atmosfera adulta, carregada, melancólica, trazendo as lembranças e a culpa
como temáticas. [21.10.16 – YouTube]
A DANÇA DOS ESQUELETOS * * *
[The Skeleton
Dance, EUA, 1929]
6 min
Com trilha
arranjada por Carl Stalling [mais lembrado pelos desenhos da “Looney Tunes”], é
o próprio Walt Disney quem dirige o primeiro – e “macabro” – dos 75 curtas
animados musicais da série Silly Symphonies [1929-1939]. [02.11.16 – YouTube]
O DUPLO
* * * ½
[Idem, BRA, 2012]
25 min
O mito do
Doppelgänger é o mote para Juliana Rojas exercitar/subverter os elementos de
horror no realismo fantástico. [07.11.16 – Canal Brasil, madrugada]
OS HERÓIS DE SANJAY * * *
[Sanjay’s Super
Team, EUA, 2015]
7 min
Patel experimenta,
em curta, um diálogo lúdico entre os mitos da religião hindu e a atual febre
dos super-heróis. [25.12.16 – Telecine Premium]
THE CRUSH
* * ½
[Idem, IRL, 2010]
15 min
A frustração do
primeiro amor leva o jovem protagonista, filho do diretor/roteirista Michael
Creagh, às últimas consequências nesse curta irlandês indicado ao Oscar.
[31.12.16 – YouTube, Salvador|IberoStar]
Séries – 20
temporadas
MAKING A MURDERER * * * *
[Idem, EUA, 2015]
10 episódios
Essa série documental
de Moira Demos e Laura Ricciardi denuncia, de forma desconcertante, as falhas e
vulnerabilidades corruptivas do sistema judiciário estadunidense. Acompanhando
de perto o impressionante caso de Steven Avery, a narrativa nos obriga a
sairmos da indiferença perante a terrível condução do processo no mínimo
tendencioso. Além de testemunhar como os erros da justiça cega [em seu pior
sentido] podem destruir todos os envolvidos, direta ou indiretamente.
[07-08.01.15 – Netflix]
MR. ROBOT – 1ª temporada * * ½
[Mr. Robot – Season
One, EUA, 2015]
10 episódios
Os ecos de
"Clube da Luta" [1999], tanto temáticos quanto estruturais,
atravessam os 10 episódios dessa série sobre terrorismo cibernético.
[19-24.01.16]
THE JINX: THE LIFE AND DEATHS OF ROBERT DURST * * * ½
[Idem, EUA, 2015]
279 min
[6 capítulos]
Quase é possível criar empatia com a falta de
sorte de Robert Durst. Os desdobramentos dessa minissérie documental dirigida
por Andrew Jarecki são chocantes. [20-21.02.16]
HOUSE OF CARDS – 4a
temporada * * * *
[House
of Cards – Season Four, EUA, 2016]
13
episódios
Da
metade para o final é quase impossível tomar fôlego. Provavelmente a temporada
mais empolgante desde a primeira. Embora haja ecos dramáticos e tenha a crise
conjugal como espinha dorsal, tudo se justifica a partir do sexto episódio. E
daí para frente, a narrativa só surpreende, caprichando nas artimanhas
políticas e no viés do jornalismo investigativo. Fora o fato de Kevin Spacey e
Robin Wright, que dirige quatro episódios, estarem tão à vontade na pele de
seus personagens a ponto de parecerem feitos sob medida. Se quando separados o
estrago é notório, juntos então... Mesmo com o cerco se fechando, são capazes
de cruzar limites [e eles existem?] para segurar o poder. [06-08.03.16 –
Netflix]
DEMOLIDOR – 2a temporada * * ½
[Daredevil –
Season Two, EUA, 2016]
13
episódios
Melhora
em relação à primeira temporada, mas, ao tentar amarrar todos os elementos, o
nó não fica tão firme assim. [19/26-27/31.03.16 – Netflix]
VINYL – 1a
temporada *
* *
[Vinyl – Season One, EUA, 2016]
10 episódios
T01E01 – Martin Scorsese injeta todas as
substâncias, boas e más, do rock'n'roll dos anos 1970 nesse piloto de [quase]
duas horas. [15.02.16 – HBO, madrugada]
T01E02 – O texto cheio de referências assinado
por Terence Winter e a seleção musical produzida por Mick Jagger são os pontos
altos. [21.02.16 – HBO]
T01E03 – Nem sempre lapidar demais, anulando
toda a essência crua, torna a coisa mais atrativa – seja artística ou
comercialmente. [29.02.16 – HBO]
T01E04 – Colocar Lester Grimes como
"agente" da banda de Kip Stevens talvez tenha sido o movimento mais
forçado do enredo até agora. [06.03.16 – HBO]
T01E05 – A qualidade da produção tenta
disfarçar o quanto os roteiros dos episódios parecem arrastados. A serie se
move lentamente. [15.03.16 – HBO Plus]
T01E06 – Modo rock'n'roll on: Richie Finestra
surtado, Devon nua, David Bowie centrado, Andy Warhol mimado... A atmosfera é
ótima. [22.03.16 – HBO Plus]
T01E07 – Obcecado
com o número 18, Finestra vai a Las Vegas só para ser derrubado por um Elvis
decadente e perder tudo o que não podia. [27.03.16 – HBO]
T01E08 – O
pot-pourri aula de Grimes vale mais do que Devon jogando um "mereré"
em cima de John Lennon e May "the lost weekend" Pang. [03.04.16 –
HBO]
T01E09 – Para
Richie Finestra, a pressão vem de todas as direções com força total. E sem ao
menos uma "carreirinha" para desopilar. [11.04.16 – HBO]
T01E10 – Um
desfecho redondinho com roteiro de Winter, apelando para alguns clichês
rockers, mas mantendo bem o espírito setentista. [18.04.16 – HBO]
BETTER CALL SAUL – 2a temporada * * *
[Better Call Saul - Season 2, EUA, 2016]
10 episódios
T02E01 – Começa tão logo de onde parou na temporada
anterior. Jimmy, com crise existencial, flerta com seu lado
"ensaboado". [16.02.16 –
Netflix]
T02E02 – A ética e a
moral vão se afrouxando para o pré-Saul Goodman. Mas quem rouba a cena é Banks
com o seu icônico Ehrmantraut. [24.02.16 –
Netflix]
T02E03 – Jimmy até
deseja agir 100% correto, por um ou dois segundos. A referência a
"Crepúsculo dos Deuses" é excelente. [01.03.16 – Netflix, Guabes]
T02E04 – Desculpa,
Jimmy. Você pode ser um personagem divertidíssimo, mas competir com Mike
Ehrmantraut é ser nocauteado fácil. [11.03.16 – Netflix]
T02E05 – Para todos
os méritos, um episódio centrado na Kim Wexler feita por Rhea Seehorn. Merece.
Pior nunca do que tarde. [19.03.16 – Netflix]
T02E06 – À parte a
ótima introdução, Jimmy parece mais coadjuvante da própria série do que nunca
nesse episódio burocrático. [25.03.16 – Netflix]
T02E07 – E então
Jimmy resolve tomar a atitude mas estúpida e sábia de todas: ser ele mesmo?
Isso, meu amigo, ninguém paga. [03.04.16 – Netflix]
T02E08 – Nos
bastidores da advocacia, o poder nunca será inocente. É um puxando o tapete do
outro sem o menor constrangimento. [09.04.16 – Netflix, madrugada]
T02E09 – As ações
de Jimmy e Mike podem ter suas motivações justificáveis, mas ambas se cruzam
nas consequências extremas. [21.04.16 – Netflix]
T02E10 – Ah, a
consciência e suas recaídas! Nenhum dos protagonistas escapam desse ótimo cliffhanger
pra próxima temporada. [21.04.16 – Netflix]
GAME OF THRONES – 6a temporada * * * *
[Game of Thrones –
Season Six, EUA, 2016]
10 episódios
T06E01 –
Acompanhando a morte do Lorde Comandante da Patrulha da Noite, a atmosfera
lúgubre domina nosso retorno a Westeros. [24.04.16 – HBO]
T06E02 – Entre
mortes e ressurreições, difícil é comprar o "pico do estirão" de Bran
Stark e não saborear as tiradas de Tyrion. [01.05.16 – HBO]
T06E03 – O retorno
de Jon Snow de certo instiga questões sobre o seu período de não existência e
quem retornou mesmo de lá. [08.05.16 – HBO]
T06E04 – Há
reencontros e guerras tramadas. Mas somente Khaleesi demonstra na prática
porque é mesmo fogo. Sem se queimar. [15.05.16 – HBO, com Manel]
T06E05 – Hodor. Difícil não se comover com a
ressignificação do nome e todas as conexões metafísicas, e afetivas, que evoca.
[22.05.16 – HBO]
T06E06 – Na ressaca
do episódio anterior, aproveita para movimentar alguns núcleos mornos, como a desconfortável
volta ao lar de Samwell Tarly. [29.05.16 – HBO]
T06E07 – Nesse
trailer do próximo episódio, o Cão de Caça ressurge, Jon tenta arregimentar seu
exército e mais um Stark é esfaqueado. [05.06.16 – HBO]
T06E08 – Bastam uma
sequência de perseguição e uma referência a "The Godfather" para
animar mais do que a aguardada escolha de Cersei. [12.06.16 – HBO]
T06E09 – Por mais
que o episódio da claustrofóbica Batalha dos Bastardos seja excitante, não se
pode dizer que surpreenda de fato. [20.06.16 – HBO]
T06E10 – Ótima
direção de Miguel Sapochnik, da tensão absurda da sequência inicial à beleza do
corte que revela a origem de Jon Snow. [26.06.16 – HBO]
STRANGER THINGS – 1a temporada * * *
[Stranger Things –
Season One, EUA, 2016]
8 episódios
A atmosfera anos
1980 é saborosa em seu recheio de referências nostálgicas. O enredo, porém,
funciona melhor enquanto sabemos pouco sobre o que se trata. A série criada
pelos irmãos Matt e Ross Duffer bebe nas fontes corretas [Spielberg, Stephen
King...] e consegue segurar nosso interesse ao transitar entre o terror e a ficção
científica. Por outro lado, os interessantes [hum...] conceitos apresentados
nunca parecem atingir todo o potencial prometido. Além disso, o mistério, mesmo
driblando as expectativas, não chega a surpreender de fato – sofrendo do mal de
ter que deixar a[s] explicação[ões] para a[s] próxima[s] temporada[s]. Em
contrapartida, é ótimo uma produção que homenageia a década oitentista ter
Winona Ryder e Matthew Modine no elenco. Cujo verdadeiro destaque é a garota
Millie Bobby Brown. [15-16.07.16 – Netflix]
AMERICAN CRIME HISTORY: THE PEOPLE v. O.J. SIMPSON * * * *
[Idem, EUA, 2016]
10 episódios
Eu particularmente
não me lembrava de todos os surreais pormenores reencenados nessa excitante
narrativa seriada da dupla Scott Alexander e Larry Karaszewski. Se há muito de
ficção aqui, é brilhantemente escrita. Se tudo durante o “julgamento do século”
foi como mostrado, é estarrecedor. Ressuscitando Cuba Gooding Jr. e John
Travolta com excelentes performances [na verdade, o elenco inteiro está
magnífico], trata-se de uma das melhores séries de temporada fechada
[antologia] do ano. [30.07.26-03.08.16]
NARCOS – temporada 2 * * *
[Narcos – Season 2,
EUA, 2016]
10 episódios
Enquanto a
narrativa assume sua urgência, com uma queda aqui e ali, Moura “desaparece”
ainda mais na pele de Escobar. [07/08-14.09.16 – Netflix]
LUKE CAGE – 1a temporada * * ½
[Luke Cage – Season
One, EUA, 2016]
13 episódios
O protagonista em
si parece bem mais interessante do que a narrativa absorvente, e arrastada, na
qual fica preso. [03-08.10.16 – Netflix]
BLACK MIRROR – 2a temporada * * * *
[Black Mirror –
Season Two, GB, 2013]
4 episódios
Charliie Brooker
concebe mais quatro contos geniais e perturbadores sobre a sombria simbiose
homem-tecnologia. [25-26.10.16 – Netflix]
BLACK MIRROR – 3a temporada * * * *
[Black Mirror –
Season Three, GB, 2016]
6 episódios
Os episódios 1, 3 e
4 são daqueles capazes de reverberar pelo nosso imaginário de fantasias e medos
por dias. [06-07.11.16 – Netflix]
3% – 1a temporada * * ½
[Idem, BRA, 2016]
8 episódios
[capítulos]
A distopia
meritocrática criada por Pedro Aguilera até tem uma premissa absorvente –
mistura de “A Ilha” [2005] com “Jogos Vorazes” [2012]? –, mas no percurso fica
devendo. Muito. Primeira série brasileira da Netflix, o roteiro consegue reciclar
uma ou outra ideia acertada, que ajuda a encher os oito episódios [chamam de
capítulos]. Quando não comete diálogos indefensáveis, furos de lógica, links
frouxos e reviravoltas nem um poucos originais. Sem falar no abuso que nos
presenteia da palavra Processo. A direção [direções], de César Charlone e
outros três egressos da versão websérie de 2009, é ainda mais afetada, apela
demais para “dutch angles” e quase torna a narrativa um pastiche do gênero. Em
termos de design visual, alguns planos de maquete são muito perceptíveis. De
resto, a maioria das cenas são internas, com limitado espaço para respiro ou
técnicas de câmera melhores. Do elenco que conta com Bianca Comparato e João
Miguel no topo dos créditos, o destaque termina sendo Rodolfo Valente, cujo
arco do personagem Rafael é o mais atraente. E então chega-se numa resolução
cheia de finais, todos com a onipresença de João Miguel e nenhum empolgante. Iniciativa
com pretensões melhores do que a encomenda entregue. [28.11.16 – Netflix]
A HISTÓRIA DE DEUS – 1a temporada * * *
[The Story of God
with Morgan Freeman, EUA, 2016]
6 episódios
Morgan Freeman, o
Todo-Poderoso no cinema, busca a presença divina nas culturas, religiões,
ciência, história, psicologia, entre outras áreas. Sempre tentando compreender
o que move a fé das pessoas. Embora não chegue a aprofundar todos os temas que
aborda, é esclarecedor em diversas partes e um ponto de partida para uma
pesquisa multifacetada. [...28.11.16]
MAGNÍFICA 70 – 2a temporada * * ½
[Idem, BRA, 2016]
10 episódios
T02E01 – O que
esperar de uma temporada que já começa com uma atmosfera densa e subvertendo a
dinâmica dos personagens? Gostei. [02.10.16 – HBO]
T02E02 – Sofre
queda atmosférica em prol de uma sequência de exposições [como no longo
flashback] para preencher as lacunas. [09.10.16 – HBO]
T02E03 – Nem todas
as estratégias dramáticas soam convincentes, sobretudo quando vêm em
flashbacks. Mas é mantido o fôlego. [16.10.16 – HBO]
T02E04 – É notório
[notável?] como a série teme os riscos de assumir o flashback como uma espécie
de “leitmotiv narrativo”. [23.10.16 – HBO]
T02E05 – Há coisas
ótimas, mas também muita afetação dramatúrgica, na equipe de cinema mais
disfuncional do cin... ops, da TV. [01.11.16 – HBO]
T02E06 – Mais do
que nunca, é o domínio do plot sobre os personagens que dita a atmosfera. E o
plano-artifício segue diretinho. [06.11.16 – HBO]
T02E07 – É
magnífico quando conseguem um entrelace orgânico da trama com o próprio
processo cinematográfico. O melhor episódio da temporada? [13.11.16 – HBO]
T02E08 – Dessa vez,
a estrutura narrativa parece nos levar a uma falsa vitória das subtramas da
série. Que promete durar pouco. [20.11.16 – HBO]
T02E09 – Fica
difícil levar a sério esse episódio que tenta arrumar a casa quando os diálogos
expositivos forçam a paciência. [27.11.16 – HBO]
T02E10 – Um abrupto
final de temporada mais amargo, melancólico e aberto que da outra vez. Passeia
entre o belo e o artificioso. [04.12.16 – HBO]
WESTWORLD – 1a temporada * * * *
[Westworld – Season
1, EUA, 2016]
10 episódios
T01E01 – A premissa
do filme escrito/dirigido por Michael Crichton em 1973 adquire contornos
filosóficos-existenciais pelas mãos do casal Jonathan e Lisa Joy Nolan.
[02.10.16 – HBO]
T01E02 – As
lembranças e os sonhos parecem ser os primeiros passos para os robôs se
tornarem autoconscientes. Após isso, o caos. [09.10.16 – HBO]
T01E03 – A
progressão da narrativa, elaborando a senciência dos anfitriões, levanta
algumas questões e desdobramentos sombrios. [16.10.16 – HBO]
T01E04 – Os
showrunners são hábeis em, dentro das próprias regras, adicionar uma camada de
misticismo à “realidade” dos anfitriões. [23.10.16 – HBO]
T01E05 – Brinca com
papéis, funções e arquétipos, narrativos e coletivos, para instigar as reais
questões que começam a aflorar. [31.10.16 – HBO]
T01E06 – Maeve
saindo da Caverna de Platão, anfitriões “fantasmas”, a mitologia do labirinto e
uma conspiração entre os humanos. [06.11.16 – HBO]
T01E07 – O “truque
de perspectiva” revela um mundo fora da caverna mais infectado do que o suposto
“despertar” dos anfitriões. [13.11.16 – HBO]
T01E08 – Ao tempo
que Bernard está mais preso ao seu e Dolores “perde-se” buscando-o, Maeve
consegue “controlar” o próprio destino. [20.11.16 – HBO]
T01E09 – Saber
demais sobre si mesmo pode levar a lugares que não se quer ir. E quanta
elegância narrativa nessas veredas tortuosas. [27.11.16 – HBO]
T01E10 – Todas as
suposições se realizam, afinal de contas. O que não tira o brilho das
engenhosas artimanhas e suas metáforas. [04.12.16 – HBO]
THE OA – 1a temporada * * ½
[The OA – Season
One, EUA, 2016]
8 episódios
Toma rumos de
tamanha indulgência narrativa que, pouco a pouco, dilui todo o potencial dos
seus temas metafísicos. [16 e 17.12.16 – Netflix]
CRISIS IN SIX SCENES – 1a temporada * * *
[Crisis in Six
Scenes – Season One, EUA, 2016]
6 episódios
Está longe do
preciosismo, mas as tiradas [sempre] compensam. Assim como a atmosfera dos anos
1960 [repare na brincadeira fonética do título] e toda a sua ebulição política.
Para quem sabe saborear a pegada de Woody Allen. Seu lado menos inspirado ainda
é melhor do que a média. Até mesmo quando, por razões dantescas, escala Miley
Cyrus. [30.12.16 – Salvador|resort IberoStar]
Abandonadas
GOTHAM – 2a temporada
[Gotham – Season
Two, EUA, 2016]
11 episódios
T02E12 –
Honestamente, não sei [ainda] o que achar desse Mr. Freeze. A mid season
promete ter mais vilões do que heróis. Vamos ver... [14.03.16 – Warner Channel]
T02E13 – A
impressão [pista falsa?] é que é Hugo Strange quem vai articular essa
"ascensão dos vilões", mote proposto pela temporada. [21.03.16 –
Warner Channel]
T02E14 – Se esse
for mesmo o episódio no qual Bruce encarou o assassino dos seus pais, bem, um
impacto textual não teria sido mal. [28.03.16 – Warner Channel]
T02E15 – Bruce
apanha como homem, Nygma esquematiza para "derrubar a casa" de Gordon
e um "curado" Cobblepot conhece papai Pee-wee. [04.04.16 – Warner
Channel]
T02E16 – Alternando
entre a "vida na prisão" de Gordon e a "vida em família" de
Cobblepot, a série está cada vez mais se enfraquecendo. [17.04.16 – Warner
Channel]
PREACHER – 1a temporada
[Preacher – Season
One, EUA, 2016]
10 episódios
T01E01 – Já no
episódio-piloto, Seth Rogen e Evan Goldberg equilibram [tentam] gore, humor
negro e personagens bizarros como Cassidy e Cara de Cu. [23.05.16]
T01E02 – Os
showrunners não se encabulam em misturar neo-western com violência gráfica.
Custer começa a descobrir o dom adquirido. [12.06.16]
Revistos – 35
filmes
OS OITOS ODIADOS [2015] * * * ½
[12.01.16 – Cinemas
Teresina]
SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS [2015] * * * * ½
[26.01.16 –
Cinépolis Rio Poty]
SOBRE MENINOS E LOBOS [2003] * * * ½
[03.02.16 –
madrugada]
JANELA INDISCRETA [1954] * * * * *
[09.02.16 –
Telecine Cult]
O REGRESSO
[2015] * * * ½
[10.02.16 – Cinemas
Teresina]
SEVEN – OS SETE CRIMES CAPITAIS [1995] * * * * *
[11.03.16 –
madrugada]
PERDIDO EM MARTE [2015] * * *
[15.03.16 – Casa do
Thiago]
O
HOMEM DE AÇO [2013]
* * ½
[24.03.16]
CLOVERFIELD – MONSTRO [2008] * * * ½
[07.04.16
– madrugada]
OS GAROTOS PERDIDOS [1987] * * *
[11.04.16
– madrugada]
DEU A LOUCA NOS MONSTROS [1987] * * ½
[03.05.16]
Por conta de uma
conversa sábado com um amigo revi agorinha DEU A LOUCA NOS MONSTROS (1987),
pela primeira vez com áudio e formato de tela originais. Continua uma
brincadeira muito divertida com cinco monstros clássicos da Universal, numa
narrativa enxuta à la OS GOONIES. Tirando o aspecto nostálgico, é preciso
relevar os gigantescos furos do roteiro de Shane Black (Máquina Mortífera), que
são escancarados. Por outro lado, é ótimo sacar agora todas as referências (há
várias) aos originais. E o melhor: as criaturas criadas pelo mestre Stan
Winston ainda dão de pau no CGI de hoje. Um autêntico terrir que parece mais
acertado na nossa memória afetiva. Mas vale a pena ser revisitado após tanto
tempo. Filme de terror com a atmosfera dos anos 70/80 funcionam muito bem. [por
WhatsApp]
INDEPENDENCE DAY [1996] * * *
[22.06.16
– madrugada]
PROCURANDO NEMO [2003] * * * *
[30.06.16]
CAÇADORES DE EMOÇÃO [1991] * * *
[09.07.16
– folga, manhã de sábado]
OS CAÇA-FANTASMAS [1984] * * * ½
[13.07.16]
OS CAÇA-FANTASMAS 2 [1989] * * ½
[14.07.16
– Netflix]
OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS [1954] * * *
[26.07.16 – Telecine Cult]
RISCO TOTAL
[1993] * * ½
[24.08.16]
JUVENUDE
[2015] * * * ½
[28.08.16 – Cinemas Teresina|Sessão
Cinéfilos]
REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL [1940] * * * *
[04.09.16 – Cinemas Teresina|Sessão Cinéfilos]
SETE HOMENS E UM DESTINO [1960] * * * *
[20.09.16]
NASCIDO EM 4 DE JULHO [1989] * * * ½
[23.09.16 – Telecine Cult]
ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO – VERSÃO DO DIRETOR [1979] * * * *
[02.10.16 – madrugada]
ALIENS, O RESGATE – VERSÃO DO DIRETOR [1986] * * * *
[02.10.16]
ALIEN3 – VERSÃO DO DIRETOR [1992] * * ½
[02.10.16]
ALIEN – A RESSURREIÇÃO [1997] * *
[02.10.16]
O SEGREDO DO ABISMO – UNCUT
VERSION [1989/1993]
* * *
[10.10.16]
PROMETHEUS [2012] * * ½
[11.10.16]
SE MEU APARTAMENTO FALASSE [1960] * * * * *
[12.10.16]
GAROTOS INCRÍVEIS [2000] * * * *
[14.10.16]
MORTE SOBRE O NILO [1978] * * *
[18.10.16]
DONNIE DARKO – DIRECTOR’S CULT [2001/2004] * * *
[02.11.16]
COVA RASA [1994] * * * *
[19.11.16 – Casa da
Cultura|Curso Pela Lente]
OS SUSPEITOS [1995] * * * * *
[26.11.16 – Casa da
Cultura|Curso Pela Lente]
BLOW-UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO [1966] * * * *
[08.12.16 – Cinemas
Teresina]
Técnicas/estilos
. Ramping
mudança no frame rate, alterando a
velocidade normal para câmera lenta.
. Deep focus photography
Alfred Hitchcock and
cinematographer George Barnes used
a technique known as "deep focus photography" in this film. This is
one of the few films to use that technique before Cidadão Kane (1941). Hitchcock had
also used it in his film Downhill (1927).
. The
Kubrick stare
the scariest
expression in the movies.
. Trompe-l'oeil
técnica artística que, com truques de
perspectiva, cria uma ilusão ótica que faz com que formas de duas dimensões
aparentem possuir três dimensões. Provém de uma expressão em língua francesa
que significa "engana o olho" e é usada principalmente em pintura ou
arquitetura.
. Mumblecore
obras do cinema
independente norte-americano que apostam pesadamente nos diálogos e no
improviso – daí o “mumble”, ou “resmungo”.
. Manic Pixie Dream
Girl
expressão usada para descrever
personagens femininas unidimensionais que habitualmente têm modos alegres e/ou
divertidos (mesmo quando tristes), se comportam de forma artificial, vivem
arcos superficiais e existem para ajudar seus interesses românticos a lidar com
seus problemas pessoais.
. Meet Cute
convenção de comédias
românticas que envolve encenar o primeiro encontro do casal principal de forma
engraçadinha através de um desentendimento, uma coincidência, um acidente ou
algo do gênero.
.
Matte Painting
cenário/fundo
pintado em perspectiva/profundidade de campo.
RESUMO DE 2016
302
longas inéditos
35
revistos
20
temporadas de séries
23
curtas
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