Filmes dos anos 1970 [comentários]

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

A CONVERSAÇÃO * * * *
[The Conversation, EUA, 1974]
Drama - 113 min
Brilhante trama moral que gira em torno de Harry Caul, um expert em grampear conversas, que entra num dilema pessoal ao ver que pode comprometer a vida de dois jovens espionados. Ele se recusa a entregar a fita com a suposta conversa dos dois ao contratante, prevendo que isso poderá resultar em assassinato. Francis Ford Coppola cria um clima tenso do início ao fim, mas não faz seu primoroso roteiro virar um thriller, o erro da maioria dos diretores. É mais um estudo sobre paranóia e loucura, e chega a questionar a própria espionagem, através da grande interpretação de Gene Hackman. Há ainda a fria atuação de Harrison Ford e uma pequena participação de Robert Duvall. O final é surpreendente. [1999]

A VIDA DE BRIAN * * * *
[Monty Python’s Life of Brian, GB, 1979]
Comédia - 94 min
"Dogma", o novo filme de Kevin Smith, causou escândalo entre os católicos ultraconservadores antes mesmo de ser lançado nos EUA. Imagine o que este "A Vida de Brian" não provocou há mais de vinte anos. O excêntrico grupo Monty Python foi ao cúmulo do sarcasmo contra a religião ao contar a história de Brian de Nazaré, nascido no mesmo dia que Jesus Cristo num estábulo vizinho, que, contra a sua vontade, acaba sendo confundido com o Messias. O polêmico "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese, é fichinha se comparado ao primoroso, e ateu, roteiro deste "Brian", onde nada é levado a sério e tudo é motivo para piada, principalmente religiosa. O Pilatos aqui, para se ter uma idéia da loucura, é um sujeito que é motivo de deboche por não saber pronunciar a letra “r”. Os crucificados cantando "Always Look on the Bright Side of Life" é genial. Engraçado de morrer de rir, é um programa mais que ousado - e para poucas pessoas. [1999]

QUANDO NEM UM AMANTE RESOLVE * * *
[Diary of a Mad Housewife, EUA, 1970]
Comédia - 95 min
Essa comédia mostra o que faz uma dona de casa quando se enche de ser objeto do marido emergente. Além de ser absurdamente antipático, egoísta, narcisista, torná-la uma piada até diante das duas filhas, chatinhas até doer. Em menos de cinco minutos, estamos compadecidos perante a miserável existência da protagonista, Tina, muito bem interpretada pela então estreante em cinema Carrie Snodgress [viera da televisão e fizera uma participação, não creditada, em “Easy Rider”]. O que ela faz? Arranja como amante um escritor mulherengo e canalha assumido [Frank Langella], o qual só encontra para desopilar da rotina com sexo. Mas até o amante termina a tratando igual ao marido, feito com exagero por Richard Benjamin, que depois se revelaria um bom diretor de comédias, como “Um Dia a Casa Cai”, com Tom Hanks, “Minha Noiva é uma Extraterrestre”, com Kim Basinger, “Minha Mãe é uma Sereia”, com Cher, entre outros. Baseado no livro de Sue Kaufman, “Diary of a Mad Housewife”, publicado três anos antes, o filme embarca na onda do momento da liberação sexual feminina, o próprio marido chega a elogiar a esposa após ela conversar sobre sexo com outro homem. Isso mostra o quanto a adaptação de Eleonor Perry, então casada com o diretor, Frank Perry [eles se divorciariam um ano depois], é afetada pelo zeitgeist daquele período. Em contrapartida, aborda também a emergência social, rasa, mesquinha, com falsos interesses a não ser o de aparentar estar dentro da roda, de ser “importante”. A conversa final da protagonista com o marido leva a um sintomático desfecho dela sendo julgada por outros personagens. Carrie Snodgress, que levou o Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar, morreu em 2004 aos 58 anos, numa época na qual seu filme de estreia já se encontrava radicalmente ultrapassado. [06.02.13]

QUADRILHA DE SÁDICOS * *
[The Hills Have Eyes, EUA, 1977]
Terror - 86 min
Um dos primeiros filmes dirigidos por Wes Craven, homenageando Tobe Hooper e seu cult "O Massacre da Serra Elétrica", de 1974. A história põe uma típica família estadunidense atravessando o deserto da Califórnia em direção a Los Angeles. No meio da viagem, tomam o atalho errado e são aterrorizados por grupo de canibais que vivem nas montanhas. O plot, claro, não passa de mera desculpa para Craven praticar o gênero que o tornaria famoso. Muito longe de ser daquelas obras memoráveis, foi produzida por Peter Locke, para o qual Craven havia sido assistente de direção e editor em “It Happened in Hollywood” [1973]. O curioso aqui é justamente a edição, também assinada por Craven, ser a base da narrativa. A aproximação dos planos, herança hitchcockiana, e o uso dos cortes são o leitmotiv do próprio filme em si. E é interessante perceber o quanto a edição [na época, montagem] pode suprir a falta de maiores recursos numa produção do gênero com baixo orçamento. É quase um estudo de montagem: o que certamente pareceria tosco com planos mais abertos e espaçados entre si, fica insuportavelmente tenso com os cortes curtos e planos fechados. Sim, um filme-homenagem de montador que terminou virando cult também. Inspirado numa lendária família canibal escocesa dos anos 1400, ganhou uma continuação em 1984, mesmo ano em que papai Craven mostraria ao mundo seu filho pródigo, Freddy Krueger. E nunca mais se livraria dele. [06.03.13]

A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES * * * * *
[The Private Life of Sherlock Holmes, GB, 1970]
Comédia - 125 min
Perfeito equilíbrio de gêneros, na trama engenhosa e cheia do humor mordaz, e ao menos tempo refinadíssimo, do mestre Billy Wilder. Esse é um dos filmes mais problemáticos da insuperável filmografia do austríaco, obrigado pelos produtores a picotar a obra, cujo primeiro corte tinha quase 4 horas de duração [foi quando soltou a pérola: “Tudo é muito longo, menos a própria vida e o próprio pênis.”]. Todavia, o resultado passa anos-luz longe da mediocridade, graças ao roteiro saboroso e perspicaz escrito ao longo de dez anos em parceria com I. A. L. Diamond, seu melhor colaborador. Absolutamente fiel ao universo criado pelo autor Arthur Conan Doyle, publicado em 56 contos na Strand Magazine [1891-1927] e em 4 livros, Wilder cutuca logo o grande tabu do famoso detetive particular, na verdade consultor particular, sua relação com as mulheres. Acompanhamos um Sherlock Holmes ocioso e entediado, primeiro sendo contratado para, ora, ser o pai do filho da bailarina russa Madame Petrova, caso o qual se desvencilha com a desculpa de ser homossexual, o que irrita profundamente Dr. Watson. Em seguida, surge a misteriosa Gabrielle implorando ajuda para encontrar o marido desaparecido, tendo início a principal trama do filme, que levará o trio a Escócia, onde... Melhor não entrar em detalhes, mas até o popular monstro do lago Ness está envolvido no mistério. Billy Wilder não economiza nas tiradas cáusticas em cima dos personagens e seus comportamentos, mas genialmente não escorrega na sátira, a armadilha mais fácil. Não poupa nem a personalidade egocêntrica e fleumática de Holmes e muito menos sua “queda”, digamos assim, pela cocaína injetada, a contragosto de Watson, levianamente tratado como inferior. Não é de hoje a discussão acerca do relacionamento dos dois e o filme põe lenha na fogueira sem, claro, afirmar nada. A narrativa é recheada por homenagens e influências hitchcockianas, diretas ou indiretas. A princípio, a dupla central seria feita por Peter O’Toole e Peter Sellers [imaginou?], mas Wilder consegue extrair ótimas performances de ilustres desconhecidos como Robert Stephens e Colin Brakely, que escapam da mera caricatura. Sobretudo Holmes, uma figura trágica, em certos aspectos. Há quem encontre uma relação psicanalista entre o filme e o próprio Billy Wilder. Há quem considere o filme um deslize do gênio equilibrista do cinema, autor de obras-primas em quase todos os gêneros. Há quem ache tratar-se do melhor filme com os personagens de Conan Boyle, escrito exatamente como o faria o autor, em termos de estrutura e humor. O fato é que, desde 1900, existem 267 produções com Holmes no cinema e na televisão até agora. Só mesmo um gênio para fazer um deslize se destacar com honras em meio a um oceano tão grande de tentativas [ditas] acertadas. [17.03.13]

DOMINGO MALDITO * * * ½
[Sunday, Bloody Sunday, GB, 1971]
Drama - 110 min
Sofisticada narrativa de John Schlesinger, nesse instigante estudo de personagens dentro de um triângulo amoroso. Fez polêmica à época por ser entre uma mulher e dois homens – um gay e um bissexual. Schlesinger havia ganhado o Oscar por “Perdidos na Noite” [1969] e aqui retrata o finalzinho da Swinging London iniciada na década anterior. O filme custa um pouco a nos lançar na história de fato, mas é fascinante quando nos pegamos absortos pela situação. Os personagens de Peter Finch e Glenda Jackson precisam conter os próprios sentimentos para dividirem o amante interpretado pelo também cantor [e de beleza meio exótica, pelo menos aqui] Murray Head. Quando este anuncia que vai embora para os Estados Unidos, os outros dois vão buscar seus próprios amparos, até o inevitável encontro de ambos e o afinado monólogo final de Finch. De certa maneira, parece-me mais moderno hoje, em relação ao comportamento “civilizado” dos três, do que quando foi lançado. [25.02.14]

SONHOS DE UM SEDUTOR * * *
[Play It Again, Sam, EUA, 1972]
Comédia - 85 min
Embora não seja dos textos mais inspirados de Woody Allen, que adaptou sua peça em apenas dez dias, ele está com ótimo timing físico sob a direção de Herbert Ross. Só um detalhe: não veja sem já ter assistido a “Casablanca”, de 1942. O alter ego do carente protagonista é o “próprio” Bogart. [12.05.14]

PROVIDENCE * * *
[Idem, FRA/CHE/GB, 1977]
Drama - 104 min
Alain Resnais [“Hiroshima Meu Amor”] casa bem seu experimentalismo narrativo com o roteiro do britânico David Mercer sobre o processo criativo de um escritor moribundo em busca de alguma catarse com o próprio passado. [09.06.14]

EQUUS * * *
[Idem, EUA/GB, 1977]
Drama - 137 min
Sidney Lumet dirige o complexo roteiro de Peter Shaffer ["Amadeus"], adaptando sua polêmica peça teatral, nesse instigante drama psicológico sobre religião e sexualidade, com atuações corajosas de Richard Burton e Peter Firth. Primeiro filme com nu frontal masculino a receber classificação R nos Estados Unidos, e não X. [12.06.14 – madrugada]

FEBRE DE JUVENTUDE * * * ½
[I Wanna Hold Your Hand, EUA, 1978]
Comédia - 98 min
A beatlemania vista pelo olhar de Robert Zemeckis, aqui estreando na direção de longas, numa “screwball comedy" divertidíssima. A confusão da trama maluca assinada por Zemeckis e Bob Gale gira em torno da primeira apresentação dos garotos de Liverpool nos Estados Unidos, em 1964, como a última atração do Ed Sullivan Show. Prato transbordante para os fãs da banda e da boa comédia de situações. Também marca a primeira produção executiva de Steven Spielberg. [07.07.14]

TRÓPICO DE CÂNCER * * *
[Tropic of Cancer, EUA, 1970]
Drama - 87 min
Joseph Strick retrata o caótico – e, de várias formas, divertido – período de não pertencimento do escritor Henry Miller em seu autoexílio parisiense. Não deixa de ser uma curiosa adaptação do controverso livro de Miller publicado em 1934, mas proibido nos Estados Unidos até 1961. Há uma memorável participação não creditada de Ellen Burstyn [na época, Ellen McRae]. [14.07.14]

WESTWORLD – ONDE NINGUÉM TEM ALMA * * *
[Westworld, EUA, 1973]
Ficção - 89 minMarca a estreia como diretor de cinema do também escritor Michael Crichton, já abordando/denunciando os perigos da tecnologia. Realizado duas décadas antes de “Jurassic Park”, seu livro mais famoso [publicado em 1990] que virou filme pelas mãos de Steven Spielberg em 1993, traz a mesma estrutura que veríamos com os dinossauros: um parque temático [três, na verdade] que termina pondo em risco a vida de seus visitantes. A diferença é que são os robôs a se voltarem contra os humanos, em meio a uma recriação do Velho Oeste estadunidense. Interessante como, além de falar rusticamente em vírus de computador, a narrativa antecipa conceitos de realidade virtual, num contexto offline, mas que não deixa de reverberar em programas como Second Life ou mesmo em filmes como “Matrix” [1999]. No elenco, temos o futuro diretor Richard Benjamin [“Um Dia a Casa Cai”, 1986, e “Minha Mãe é uma Sereia”, 1990], James Brolin [pai de Josh Brolin e hoje casado com Barbra Streisand] e o russo Yul Brynner. Este último usa a mesma roupa de seu personagem em “Sete Homens e um Destino” [1960] para dar vida ao Pistoleiro, o androide-vilão que inspirou o psicopata Michael Myers de “Halloween – A Noite do Terror” [1978] e cuja maneira de caminhar foi copiada por Schwarzenegger em “O Exterminador do Futuro” [1984]. Obviamente que assistindo ao filme 30 após seu lançamento, é fácil perceber as falhas do iniciante Crichton, também autor do roteiro, sobretudo ao não conseguir resolver melhor suas tramas paralelas. Apesar da duração ligeira, há problemas de ritmo, além do fato de ser uma história que poderia ter sido bem mais explorada em sua tensão. Quem sabe por isso Jonathan Nolan [corroteirista e irmão de Christopher] esteja desenvolvendo um remake. Vamos ver no que vai dar. [13.09.14]

ANO 2003 – OPERAÇÃO TERRA * *
[Futureworld, EUA, 1976]
Ficção - 105 min
Sequência de "Westworld – Onde Ninguém Tem Alma", lançado três anos antes, investe num suspense fraquinho cheio de furos no roteiro e com reviravoltas bem previsíveis. Dessa vez, não há qualquer dedo de Michael Crichton, diretor/roteirista do original [seu nome sequer está nos créditos], e a história segue por uma vertente completamente diferente. Na verdade, poderiam ser duas produções sem nenhuma ligação, porém os produtores [sempre eles] resolveram pegar carona no universo do filme de Crichton para situar um plot que até poderia ter potencial se fosse desenvolvido com inteligência e talento. Como não foi, reina a mediocridade. Peter Fonda e Blythe Danner [a cara da filha, Gwyneth Paltrow; talvez até mais bonita] são os jornalistas que visitam Delos, reaberta após o incidente mostrado no primeiro filme, e descobrem uma conspiração em grande escala. Uma grande bobagem, ainda mais implausível, que não traz resquícios dos conceitos ou temas abordados anteriormente. Há sequências inteiras sem necessidade narrativa, como a do “sonho” na qual colocam Yul Brynner reprisando seu personagem, o Pistoleiro, mas sem os traços que o marcaram. A direção é de Richard T. Heffron, cujo legado ficou mais na televisão. Sua mise-en-scène é sofrível, principalmente nas cenas com lutas ou mais ação. Ele e Fonda trabalhariam juntos novamente logo em seguida, no drama “Um Foragido na Multidão” [1977]. Deveria ser um encontro de “As Esposas de Stepford” [1975] com “Todos os Homens do Presidente” [1976], não um genérico sci-fi meia-boca. Ainda rendeu a série para TV “Beyond Westworld” [1980], com cinco episódios apenas. Contudo, mistério mesmo é entender o título nacional dado a “Futureworld”, sem qualquer explicação na trama. Ou a distribuidora realmente contava com androides sofisticados em 2003? No Brasil? Só se forem aqueles que aparecem no horário eleitoral gratuito. [14.09.14]

APOCALYPSE NOW REDUX * * * * *
[Idem, EUA, 1979/2001]
Drama/Guerra - 202 min
Em meio a Guerra do Vietnã, capitão do exército norte-americano recebe a missão de adentrar o Camboja e matar um renomado coronel, também norte-americano, que aparentemente enlouqueceu na floresta e se transformou em uma espécie de deus para um grupo de nativos. Assisti a “Apocalypse Now”, adaptação personalíssima de “O Coração das Trevas” [Joseph Conrad, 1902], pela primeira vez em meados de 1996, com então 13 anos de idade, e na época não gostei muito do filme. Achei-o chato e sem muito atrativo. Assisti a “Apocalypse Now” cedo demais. Agora, assistindo ao filme reeditado e ampliado em quase uma hora, não há como não cultuar o resultado obtido, uma verdadeira obra-prima do cinema. Não tenha dúvida: “Redux” veio sepultar de vez a versão anterior. A odisseia do cap. Willard [talvez a melhor atuação de Martin Sheen] dentro de uma guerra claramente estúpida e sem sentido ficou ainda mais fascinante. Com mais tempo, entramos e compreendemos melhor a narrativa psicológica de Coppola, a gradativa fascinação de Willard pelo coronel Kurtz [Marlon Brando] e o entranhamento nos cantos obscuros do ser humano à medida que a guerra vai perdendo o controle e, sobretudo, o sentido. “Redux” é muito mais denso e intenso que a antiga versão. A premiada fotografia de Vittorio Storaro está deslumbrante, até mesmo nas cenas mais escuras do final, assim como Coppola entrega uma direção magnífica, recheada de sequências antológicas, como o ataque de helicópteros ao som de “A Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner. São cerca de quatorze cenas/sequências adicionadas, todas originais, que ficaram de fora na época. Com isso, o filme ganhou outras conotações, ficou mais lindo e poético. Ganhou mulheres também, como a parte em que o grupo que conduz Willard a seu destino transa com as coelhinhas da Playboy, presas em um acampamento por falta de gasolina. A sequência da plantação francesa vem somar com as ideologias que permeiam a história, mostra a Willard uma nova visão da guerra. Brando aparece em uma cena inédita, que nos permite, em conjunto com as outras, ter uma visão mais completa da personalidade complexa e conflitante de seu personagem. Todos sabem do verdadeiro inferno que foi rodar “Apocalypse Now” [desastres naturais, o enfarto de Martin Sheen, a loucura do diretor, a obesidade de Brando, etc.] e essa versão veio fazer jus a tudo isso. Coppola afirma nunca ter pensado em um final alternativo; o original já é sombrio e simbólico o suficiente. O horror... o horror... [27.10.02/17.02.15]

CADA UM VIVE COMO QUER * * * ½
[Five Easy Piecies, EUA, 1970]
Drama - 98 min
Como um homem eternamente deslocado e insatisfeito, Jack Nicholson está fantástico no primeiro protagonista de sua carreia. Não apenas ele, mas também Karen Black tem uma atuação que a marcaria pelo resto da vida [ela faleceu em 2013]. O roteiro assinado por Carole Eastman, sob o pseudônimo Adrien Joyce, pega emprestado momentos da vida do diretor Bob Rafelson para fazer esse retrato dos Estados Unidos de ressaca da contracultura dos anos 1960. É o cinema começando a colocar em cheque de fato o tão superestimado “american way of life”. [30.03.15]

A MALDIÇÃO DA LUA CHEIA * * ½
[The Boy Who Cried Werewolf, EUA, 1973]
Terror - 93 min
É preciso baixar bem a guarda para curtir essa história de lobisomem com uma atmosfera hippie. Cult? Nem tanto, embora tenha seus defensores. Trata-se de um dos últimos filmes da Universal lançados em sessão dupla [double feature], no caso com "Sssssss" [1973], e o derradeiro trabalho do diretor Nathan Juran, de "A Vinte Milhões de Léguas da Terra" [1957] e "A Mulher de 15 Metros" [1958]. Uma obra que, nos dias de hoje, tem lá seu charme. [27.04.15 – Netflix]

QUEIMANDO TUDO * * ½
[Cheech and Chong's Up in Smoke, EUA, 1978]
Comédia - 81 min
"Stoner movie" cult por natureza, a primeira investida no cinema dos doidões Cheech e Chong provoca risos chapados. Alguns deles bem hilários, até para os caretas. Como eu. Os comediantes Cheech Marin e Tommy Chong, também autores do roteiro, já trabalhavam suas personas hippies maconheiras havia dez anos quando juntaram as ideias para fazer um filme. Altas ideias – não resisto ao trocadilho. Lou Adler, produtor executivo de “The Rocky Horror Picture Show” [1975], assina a direção [Chong não recebeu o crédito, embora tenha codirigido] dessa comédia fumacenta que mostra os Estados Unidos pós-Vietnã e, querendo ou não, reforça alguns estereótipos acerca dos mexicanos. Se você deixar o politicamente correto de lado, dá para embarcar numa viagem com elementos antológicos. É o que posso dizer da van feita 100% de maconha, cuja fumaça da erva queimada que sai do escapamento chapa e dá “larica” em todos por onde passa. A produção teve tanto sucesso que rendeu seis continuações. Não me surpreenderia se fosse o filme preferido de Seth Rogen, figurinha carimbada nos atuais exemplos desse subgênero da comédia. Também não posso deixar de apreciar a criatividade do título da obra em Portugal, “E Tudo o Fumo Levou”. Genial, não? [19.05.15 – Netflix]

007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE * * *
[Moonraker, GB/FRA, 1979]
Aventura - 126 min
Aquele no qual Bond desembarca um Rio de Janeiro caricatural para brigar em cima de um BONDinho antes de ir ao espaço arruinar os planos do vilão Drax. Quarto dos sete filmes protagonizados por Roger Moore e última aparição de Bernard Lee como M. Traz de volta o grandalhão duro de matar Jaws, que agora arranja uma namorada. O cineasta Lewis Gilbert comanda sua derradeira produção na franquia, explorando todas as gags possíveis para dar um ar de graça à aventura. Realizado seguindo a esteira do sucesso do primeiro “Star Wars” [1977], as referências a “2001: Uma Odisseia no Espaço” [1968] e “Contatos Imediato do 3º Grau” [1977] dão a dica do último ato, quando se transforma numa verdadeira sci-fi espacial. Sem perder o charme do espião britânico. [31.05.15 – Telecine Cult]

O INQUILINO * * ½
[Le Locataire, FRA, 1976]
Suspense/Terror - 125 min
Roman Polanski comanda, e protagoniza, esse delírio claustrofóbico sobre paranoia e desconstrução da personalidade. Baseado no livro do francês Roland Topor e realizado logo após o ótimo "Chinatown" [1974], fecha a trilogia do apartamento, composta também por "Repulsa ao Sexo" [1965] e "O Bebê de Rosemary" [1968]. A pegada de Polanski está mais personalíssima do que nunca, brincando com gêneros e referências, abrindo mão da consistência para provocar estranhamento. Divide opiniões, mas cumpre seu papel. [08.07.15]

O ESPELHO * * * *
[Zerkalo, URSS, 1975]
Drama - 102 min

As reminiscências de Tarkovsky poetizam e traçam o perfil da ex-URSS antes, durante e depois da participação do país 2a Guerra Mundial. O que ficou conhecida como Grande Guerra Patriótica. A experiência social fundida à vivência do autor, num lirismo narrativo que transcende a suposta ordem das coisas. Como se já fosse pouco, há um trabalho de câmera sensacional, pontuando as atmosferas percorridas. Atores se revezam em mais de um personagem para fazer do ciclo nietzchiano o suporte estrutural dramatizado na relação com a mãe que reverbera no relacionamento com a ex-esposa. Mais simbólico com a própria situação da nação impossível. Uma obra que dificilmente deixará de produzir eco. [18.07.15 – Londres]

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