Filmes dos anos 1930 [comentários]

Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

A DAMA OCULTA * * * *
[The Lady Vanishes, GB, 1938]
Suspense - 93 min
Verdadeira pérola do suspense hitchcockiano. Em plena viagem de trem para a Inglaterra, velha senhora desaparece misteriosamente, intrigando uma jovem inglesa que a acompanhava. O mistério está no fato de que nenhum passageiro parece tê-la visto entrar no trem; a moça, que havia recebido uma forte pancada na cabeça, pode apenas ter imaginado tudo. Só que os vestígios de uma conspiração dentro do próprio trem são muito visíveis. Hitchcock se mostra aqui em pleno domínio da trama, com uma direção precisa, sempre dando pistas para o expectador mas sem escorregar em sua própria armadilha. Grandes reviravoltas e seqüências geniais - a melhor é quando o protagonista fica pendurado fora do trem enquanto outro vem em sua direção -, sempre com diálogos carregados de humor, num filme de primeira, em que é o expectador quem brinca de Sherlock Homes. [1999]

...E O VENTO LEVOU * * * * *
[Gone with the Wind, EUA, 1939]
Drama - 220 min
Quem nunca ivu “…E o Vento Levou”, não sabe quase nada sobre cinema. É isso o que muitos dizem. Então resolvi tirar a prova e... pimba! Assisti a um dos melhores filmes de todos os tempos. É tudo o que menos se espera, muito mais que um clássico ou uma epopeia de amores. A história de Scarlet O’Hara, uma garota mimada e cheia de vida que vê seu mundo desabar com o inicio da Guerra Civil Americana, que a leva para longe seu grande amor, é algo simples e ao mesmo tempo grandioso e intensamente cativante. É durante essa terrível página da historia dos Estados Unidos que começa o lento processo de amadurecimento da personagem e que prossegue após o término da guerra. Sendo sulista, Scarlet sente mais do que ninguém a derrota e luta com todas as forças e artimanhas desesperadas para preservar Tara, seu único lar no mundo, mesmo tendo de abrir mão de sua própria felicidade pessoal. Quem dizer que o filme é enjoado e cansativo com certeza está se precipitando. A sutileza do roteiro é tão agradável e com um bom ritmo que toda obra parece pequena, visto os temas abordados. Chega a um ponto em que parece não ter mais fim. Mas isso é o que desejamos secretamente. Já estamos tão dentro da história, que queremos que ela se prolongue pelo maior tempo possível. Logo em seguida somos jogados bem no meio de sucessivas tragédias inesperadas e de apertar o coração. Só mesmo nas cenas finais e que podemos compreender claramente o sentido da obra, que já sabemos desde o começo, mas a cabeça dura da personagem principal não. A proeza que o produtor David O Selznick merece horas e horas de aplausos consecutivos. Vivian Leigh bate centenas de grandes e premiadas atrizes com sua estupenda interpretação, que arrecadou merecidamente o Oscar e deixou o filme papar mais sete: filme, direção [Victor Fleming], roteiro, atriz coadjuvante [Hattie McDaniel], fotografia, montagem e direção de arte. Sem duvida nenhuma “...E o Vento Levou” é um espetáculo inigualável, isso sem falar da imortal trilha sonora do filme. [04.01.01]

HORIZONTE PERDIDO * * * *
[Lost Horizon, EUA, 1937]
Aventura - 132 min
Um dos grandes clássicos de Frank Capra, realizado entre "O Galante Mr. Deeds" e "Do Mundo Nada se Leva", dois filmes que lhe deram o Oscar de direção. "Horizonte Perdido", apesar de ter concorrido a sete prêmios da Academia, incluindo melhor filme, levou apenas edição e direção de arte. Também pudera. Trata-se de uma produção suntuosa sobre a mística Shangri-La, nos confins do Tibete. A mais bem-sucedida adaptação do livro de James Hilton, de 1925. Shangri-La é uma utopia, a concepção de um paraíso terrestre, onde impera a moderação dos sentimentos, todos são felizes e o tempo não passa. Supostamente escondida por entre as montanhas do Himalaia, inspira artistas e intelectuais desde sua criação literária. Foi inspirada em Shambhala, local místico presente em textos sagrados antigos e em tradições orientais. E Frank Capra calca sua narrativa nesse misticismo, abusando do soft-focus para acentuar essa áurea mística do lugar (posso estar enganado, mas foi a impressão que tive). Vários críticos reclamam que a obra envelheceu por causa de sua ingenuidade. Tanto que ficamos esperando alguma revelação sombria, como bebês deficientes ou pessoas que não condizem com o estilo de vida de Shangri-La sendo sacrificados ou expulsos. Sinal de que o mundo foi que ficou cínico, como mostram filmes como "A Praia", em que o paraíso perfeito possui seu ônus para ser mantido. Mas nada disso acontece aqui. Shangri-La realmente nos acomete uma sensação agradável de paz interior e esperança, principalmente agora que vivemos rodeados por brutal falsidade, acidez e individualismo. O DVD com a obra restaurada é um presente para os cinéfilos, com cenas compostas por fotos no lugar do negativo que se perdeu, utilizando-se o áudio. Nada que prejudique realmente a grata experiência concebida por Capra, o cineasta do otimismo. Shangri-La ainda é um refúgio dos sonhos, uma esperança acalentadora, uma fuga bem-vinda.

UMA NOITE NA ÓPERA * * * *
[A Night at the Opera, EUA, 1935]
Comédia - 91 min
Os irmãos Marx protagonizam uma das comédias mais insanas já realizadas. Quem disser o contrário, está claramente mentindo – ou então é louco varrido. É um dos desses casos em que podemos dizer, de maneira positiva: a culpa é do produtor. Foi o jovem prodígio da MGM, Irving Thalberg, quem bancou a ideia de levar os irmãos para o estúdio de maior prestígio na época, especializado em dramas e musicais pomposos. O que parecia longe de ser o casamento perfeito, entrou para a história como o maior sucesso comercial no cinema de Groucho, Chico e Harpo [Zeppo havia deixado o grupo após o último filme na Paramount]. Quem poderia conceber os Marx anarquizando o mundo elitista da ópera? Mas deu certo, e pouquíssimos filmes apresentam ainda hoje uma sucessão tão louca das mais inusitadas gags que a sapiência dos roteiristas norte-americanos dão conta. Até Buster Keaton ajudou nas sequências de Harpo, que não pronuncia uma palavra aqui. A mais famosa gag do filme, e quem sabe do cinema de modo geral, é a da minúscula cabine do navio que gradativamente vai se enchendo de pessoas, e qualquer coisa é desculpa para entrar mais gente. É quase a visão do impossível, e Harpo, dormindo, desliza pelas bandejas para fora do quarto. Mas a minha preferida é de Groucho e Chico, com seu típico sotaque italiano, rasgando as cláusulas do contrato até chegar na “mais importante delas”, a cláusula de sanidade. “Mas não existe cláusula de sanidade”, Chico retorque. Todos os maneirismos que fizeram dos irmãos Marx um fenômeno, influenciando de Woody Allen a Os Trapalhões, são bem explorados aqui. Sendo um filme da MGM, há um plot estruturado [ajudar o par romântico, Kitty Carlisle e Allan Jones, assumindo o papel de Zeppo] e números musicais dignos do estúdio. A longa e absurda sequência final do caos em cima da apresentação da ópera de Verdi, “Il Trovatore”, dificilmente será capaz de ser superada em termos de loucura aparentemente sem qualquer motivação dramática. [25.02.12]
 
A VIDA DE ALEXANDER GRAHAM BELL * * *
[The Story of Alexander Graham Bell, EUA, 1939]
Drama - 98 min
A história por trás da invenção e popularização do telefone de Graham Bell nos anos 1870, assim como a batalha pela patente, narrada com todo o sentimentalismo romântico típico das produções estadunidenses da época. A caracterização de Don Ameche como o personagem-título ficou tão popular que o telefone ganhou o apelido de “Ameche”. Em tempo: o italiano Antonio Meucci foi reconhecido pelo Congresso dos Estados Unidos em 2002 como o verdadeiro criador do aparelho. [25.05.14]

 

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