Filmes dos anos 1950 [comentários]

 Péssimo * Desastroso * ½ Fraco * * Assistível * * ½ Sólido * * * Acima da média * * * ½ Ótimo * * * * Quase lá * * * * ½ Excelente * * * * *

CANTANDO NA CHUVA * * * * *
[Singin’ in the Rain, EUA, 1951]
Musical - 102 min
Dupla famosa como par romântico do cinema mudo é ameaçada com a chegada das produções faladas. Agora, eles têm que mostrar, acima de tudo, que são bons atores e que sabem falar e cantar divinamente. Só que para isso vão ter muito trabalho. Sem dúvida, este é o melhor musical já realizado e um dos melhores filmes de todos os tempos. O magnífico e sutil roteiro é apenas uma excelente desculpa para o astro Gene Kelly e seus colegas mostrarem as mais perfeitas coreografias, com destaque para a clássica cena dele cantando na chuva. Originalidade é o que não falta aqui. “Cantando na Chuva” preenche todos os requisitos de um musical e muito mais. Faz a gente rir, se emocionar e dançar ao embalo das mais sublimes músicas da Metro. É um espetáculo à parte reviver o tempo de ouro do cinema americano, em que tudo era magia e ingenuidade. Um filme para ver e rever o tanto que a vontade quiser. [1999]

ARDIDA COMO PIMENTA * * *
[Calamity Jane, EUA, 1953]
Musical - 102 min
Calamity Jane é uma daquelas matutas bem arretadas, que veste roupas bem masculinas, cheia de histórias exageradas e que não deve satisfações a ninguém. Quando ela diz uma coisa, geralmente cumpre. Recém-chegada de mais uma intrépida viagem, Calamity promete aos habitantes de Deadwood ir até Chicago e Trazer Adelaid Adams, a cantora do momento. Só que acaba comprando gato por lebre. Ela traz uma bela farsante que conquistará toda a cidade, até mesmo sua grande paixão, um tenente do exército que não está nem ai para Calamity. Belo musical, com uma história muito bem bolada e um ritmo contagiante. Doris Day dá um baita show na pele da personagem-título, mostrando um físico e uma disposição invejáveis. Um filme para ser degustado, com grandes coreografias e lindas canções. [02.01.01]

WINCHESTER '73 * * *
[Idem, EUA, 1950]
Western - 87 min
Anthony Mann dirige James Stewart nesse western no qual o fio condutor da narrativa é o famoso rifle do título. “Um em Mil”, assim era chamado o modelo 1873 da marca Winchester, popularizado como a “arma que conquistou o Oeste”. O filme consegue passar o fascínio por esse rifle, e também por todos os revólveres, espingardas e pistolas, servindo até como estudo para compreendermos a obsessão dos cidadãos dos Estados Unidos por armas de fogo. Algo que Michael Moore analise com profundidade no seu excelente documentário “Tiros em Columbine” [2002]. Mas nos detenhamos à ligeira, porém eficiente, obra de Mann. A princípio, o alemão Fritz Lang era o mais cotado para dirigi-la, mas saiu do projeto. Foi o próprio Stewart quem recomendou Anthony Mann, pois já havia trabalhado com ele no teatro. Na verdade, o ator queria reinventar-se, por isso topou protagonizar o western. Ele interpreta Lin McAdam, que passa o filme inteiro na caça de Dutch Henry Brown [Stephen McNally] para vingar o assassinato do pai. Ambos se encontram numa competição de tiro, logo no início, cujo prêmio é justamente a Winchester ’73. Daí, o roteiro segue o percurso do rifle, até a arma concluir seu ciclo e retornar às mãos de seu dono por direito. Shelley Winters faz Lola Manners, uma cantora-dançarina que vai despertar algo em McAdam, embora comprometida com o covarde Steve Miller [Charles Drake]. O conflito de Miller por não ser homem o suficiente rende cenas interessantes, todas bem conduzidas por Anthony Mann. A decisão inédita de James Stewart de abrir mão do cachê por participação nos lucros inaugurou uma nova modalidade de contrato entre atores e produtores. De quebra, ele está ótimo com uma voz rouca num tom mais baixo. Pode apostar que isso faz toda a diferença. [03.04.13]
 
O PALHAÇO QUE NÃO RI * *
[The Buster Keaton Story, EUA, 1957]
Dram - 91 min
Cinebiografia do astro do cinema silencioso Buster Keaton que passa longe de fazer qualquer jus à sua vida e obra. Keaton foi, ao lado de Chaplin, um gênio da pantomina no cinema. Enquanto o outro se notabilizou pela adorável figura do vagabundo, ele conquistou seu lugar na história graças às gags perigosas e geniais, para as quais dispensava dublês [como em “A General”, de 1926, sua obra mais famosa], e seu rosto inexpressível, duro, tirando daí toda a sua graça. Esse filme, realizado enquanto o cineasta ainda estava vivo [ele morreria em 1966, aos 70 anos], tem direção do famoso escritor Sidney Sheldon, também coautor do roteiro. O flerte de Sheldon com o cinema vinha de muito antes, tendo ganhado seu único Oscar em 1948 pelo roteiro original de “Solteirão Cobiçado”, com Cary Grant, Myrna Loy e Shirley Temple. Mas nem sempre a credencial é sinônimo de talento. Se toda biografia é, em essência, a simplificação de uma vida, Sheldon extrapola o bom senso ao conceber uma obra rasa, simplista e até mesmo inverídica acerca do ilustre personagem retratado. O que vemos é um melodrama barato, a passar batido pela ascensão de Buster Keaton como comediante vaudeville migrado para o cinema, em seu berço, como maneira de expressar-se por inteiro e sobreviver à nova onda das imagens em movimento. Depois, vem a histórica estreia de “O Cantor de Jazz”, o cinema falado a mergulhar o astro na bebida. Todavia, Sidney Sheldon não mostra o que realmente aconteceu, prefere a estrutura à veracidade dos fatos. Keaton, incrivelmente creditado como consultor técnico aqui, continuou trabalhando no cinema por muitos anos após a chegada dos talkies movies, construindo gags até mesmo para os irmãos Marx. Só que o esquema novelesco de Sheldon, no segundo dos três filmes que dirigiu, prefere acentuar o alcoolismo e prioriza, como redenção, a volta às origens no palco. As três esposas de Keaton se transformam numa só, interpretada por Ann Blyth. Quem encarna o protagonista é o talentoso Donald O’Connor [“Cantando na Chuva”, também sobre o fim da era silenciosa no cinema], que até se esforça e talvez pudesse ter brilhado nas mãos de um diretor de verdade. Como curiosidade, há a participação de Jackie Coogan, o astro-mirim de “O Garoto” [1921], obra-prima de Chaplin. É uma pena que ele esteja na cinebiografia errada. [08.04.13]

LILI * * *
[Idem, EUA, 1953]
Musical - 77 min
Musical de uma canção só, com história ligeira, ingênua, cheia de fantasia, mas adorado por muitos desde sua estreia. Boa parte, creio, deve-se à deliciosa e alegre “Hi-Lili, Hi-Lo”, composta por Helen Deutsch, roteirista do filme, e Bronislau Kaper, que recebeu um Oscar pela trilha sonora. A música teve centenas de versões, incluindo a de Gal Costa, sendo lembrada pelos mais velhos como uma canção de ninar. A francesa Leslie Caron certamente é outro dos motivos do filme ter sido o sucesso que foi no papel da inocente protagonista acolhida por quatro marionetes manipuladas pelo frustrado personagem de Mel Ferrer. Dirigido por Charles Walters, se não é dos melhores do gênero certamente é um dos lembrados com mais carinho. [25.03.14]

GODZILLA * * *
[Gojira, JAP, 1954]
Aventura - 96 min
O kaiju mais famoso do cinema em seu début. Primeiro dos 28 filmes com o monstro-trauma japonês pós-bomba atômica. 60 anos depois de sua estreia avassaladora, a obra mantém seu charme peculiar, mesmo com a limitação dos efeitos visuais. Se pensarmos bem, a direção de Ishirô Honda consegue driblar isso e transformar o defeito em efeito, tornando a criatura mais intimidadora do que muitas versões posteriores. Mas é preciso entrar na onda, deixar de lado os pré-julgamentos até com as atuações estereotipadas [só para nós, do ocidente?]. Com ótima trilha sonora de Akira Ifukube, dando um caráter épico, a produção ainda reserva questões morais e serve de contundente alerta humanitário. [16.05.14]

A PONTE DO RIO KWAI * * * *
[The Bridge on the River Kwai, GB/EUA, 1957]
Drama/Guerra
161 min
Os esforços do produtor Sam Spiegel e do diretor David Lean rendem um filmaço que tem impacto até hoje. Adaptada do livro de Pierre Boulle, mesmo autor francês de “O Planeta dos Macacos”, trata-se de uma narrativa poderosa sobre manter os princípios em meio à guerra. Grande atuação de Alec Guinness. [21.05.14]

TARÂNTULA! * * *
[Tarantula, EUA, 1955]
Ficção - 80 min
O deserto retratado como uma paisagem romântica nessa ficção B do mestre do gênero, Jack Arnold, com estrutura da trama redondinha e efeitos visuais muito competentes até hoje. Alguns até mesmo assustadores. [23.06.14]

AS 3 MÁSCARAS DE EVA * * *
[The Three Faces of Eve, EUA, 1957]
Drama - 91 min
Joanne Woodward está brilhante no triplo papel-título, transformando uma personagem real num estudo fascinante. No caso, Christine Costner Sizemore [Eva, na ficção], que, ao contrário do mostrado pelo filme escrito e dirigido por Nunnally Johnson, chegou a ter cerca de 26 personalidades múltiplas. Para vender os direitos da sua história, ela teve que assinar três contratos diferentes, cada uma por uma personalidade. Baseado no livro dos médicos Corbett Thigpen e Hervey M. Cleckley, o filme deu o Oscar de atriz a Woodward, em início de carreira. Comparada à realidade, a narrativa de Johnson é simplista, nem todos os seus movimentos são louváveis. Sua sorte foi ter apostado na atriz certa. E que aposta, viu? [25.08.14]

O DIÁRIO DE ANNE FRANK * * * ½
[The Diary of Anne Frank, EUA, 1959]
Drama - 171 min
George Stevens não perde o tom intimista, ao mesmo tempo em que nos confina junto com os personagens. Para isso, precisou driblar a imposição do estúdio em rodar o filme no formato CinemaScope [2:35:1] usando o ótimo design de produção, aliada à magnífica fotografia em preto e branco de William C. Mellor, para criar um ambiente claustrofóbico. Realizada 12 anos após a primeira publicação do comovente livro-diário, a produção contou com os mesmos autores, Frances Goodrich e Albert Hackett,  da peça na qual a narrativa se baseia. A história da menina Anne Frank e seus dois anos escondida, junto à família judia, no sótão de um prédio ainda hoje provoca reflexões sobre a guerra extirpando a inocência. Mas também como preservar, de certa forma, essa inocência e manter a esperança até o fim. É possível ser otimista diante da tragédia e do caos? Anne é o símbolo da resposta positiva, compartilhando conosco sua difícil fase de amadurecimento, cheia de questionamentos, desejos, raiva e até romance. O confinamento no esconderijo funciona como um microcosmo de um mundo dissonante. Por isso o sábio investimento narrativo de três horas, para não esquecermos certos períodos da História que não devem ser repetidos. [01.02.15 – Telecine Cult]

A EMBRIAGUEZ DO SUCESSO * * * *
[Sweet Smell of Success, EUA, 1957]
Drama - 96 min
Tony Curtis e Burt Lancaster encabeçam essa narrativa sordidamente inteligente sobre o lado B do colunismo social. Se é que existe um lado A. De qualquer maneira, as noções de moralidade e ética no jornalismo caem por terra no roteiro amargo extraído do livro do também roteirista Ernest Lehman ["Intriga Internacional", 1959], assinado por ele e Clifford Odets. O personagem de Lancaster é inspirado em Walter Winchell [1897-1972], tido como o pai da "coluna social moderna", quem primeiro tornou pública a vida pessoal de figuras famosas. Já Curtis é um assessor de imprensa sem nenhum escrúpulo que vai dar fim a um romance a pedido do outro, em troca de oportunidades de publicação de seus artigos. O diretor Alexander Mackendrick, que fez carreira no cinema britânico, apesar de ser estadunidense, consegue nos inserir na noite lamacenta desses pseudojornalistas passando por cima de tudo para atingir seus objetivos, sejam eles quais forem. Embora cometa uma notória quebra do eixo da câmera [pelo menos, gritou nos meus olhos], isso não chega a tirar o brilho de uma obra ainda hoje atual, infelizmente. A diferença é que o mau-caratismo contemporâneo não possui a elegância dos diálogos bem lapidados e o cinismo sutil das artimanhas psicológicas do filme. Desconcertante na amoralidade de seus personagens, foi um fracasso quando lançado. O tempo se encarregou de colocar essa perola no seu devido lugar. [13.04.15]

OS QUATRO DESCONHECIDOS * * *
[Kansas City Confidential, EUA, 1952]
Suspense - 99 min
Phil Karlson dirige esse "heist movie" noir cheio de reviravoltas na absorvente trama que segura bem o espectador. E que se passa até por original até nos dias de hoje, mesmo o cinema já tendo usado ladrões de banco mascarados depois disso. Aqui, eles não conhecem a identidade um do outro, o que certamente cria possibilidades dramáticas interessantes. John Payne é o florista injustamente suspeito que vai atrás da sua parte do dinheiro do roubo, terminando por se passar por um dos assaltantes à espera do encontro com o misterioso chefe para dividir a grana. Payne também trabalhou no roteiro, assim como Karlson, mas ambos não receberam esse crédito. Coisas de Hollywood. [15.05.15 – Netflix]

 

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