A institucionalização da fé pela burocracia de
um Estado que deveria ser laico nem chega a ser realmente uma distopia
brasileira – claro, a estrutura narrativa não só é, como subverte certos
elementos. Depois de pulverizar o conceito de estereótipo em ‘Boi Neon’|2015,
Gabriel Mascaro nos provoca, e provoca bem, a refletir sobre apropriação
religiosa e coercitividade social com a ousadia necessária para penetrar e dar
uma sacudida na zona de conforto. A quantidade de pessoas [a maioria casais?]
que abandonaram a sessão em que eu estava reflete como a produção estreou num
momento oportuníssimo. Talvez peque por tudo o que deixa fora do recorte [racismo,
homofobia] e pela narração [ser infantil é uma boa sacada] que resume os sentimentos
das curvas da história, às vezes numa exposição didática. Por outro lado,
acerta ao mostrar como a religião isola e rejeita quem experiencia a magia dos seus
próprios preceitos de fé. A casca da humana hipocrisia racha ao meio se o
milagre não tiver explicação e contradizer nossos esforços individuais. Acreditar
no que se prega já é pedir demais.
Idem * * * ½
BRA, 2019 | Drama/Ficção | 100 min
[08.07.19 - Cine Teresina 7]
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