segunda-feira, 15 de julho de 2019

DESLEMBRO

A maneira como a realizadora Flávia Castro costura a memória da jovem protagonista [Jeanne Boudier, debutante segura] ao seu rito de passagem termina sendo uma alegoria [sutil?] de porque o Brasil, enquanto não deveria, insiste em ignorar o próprio passado da ditadura militar. A culpa sublimada leva a menina a rejeitar a volta ao próprio país, assim como faz o [in]consciente coletivo negar as atrocidades do regime militar. A narrativa opera em níveis simbólicos, mas projeta as entrelinhas com potência dramática cirúrgica na cara do espectador, disfarçando o dolorido das questões abordadas com poesia cinematográfica. Usa a música como recurso orgânico da história de se reconectar ao país depois do exílio, assim como a burocracia para abrir a fresta do trauma dos desaparecidos políticos. Ao mesmo tempo trata os personagens de perto a ponto de quebrar estereótipos. Ante toda essa negação do passado brasileiro recente, a estreia na ficção de Castro escancara uma lembrança social que não pode ser apagada. 


Idem * * * *
BRA, 2018 | Drama | 96 min
[13.07.19 | Cine Teresina 5 – pré-estreia]

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