A maneira como a realizadora Flávia Castro
costura a memória da jovem protagonista [Jeanne Boudier, debutante segura] ao
seu rito de passagem termina sendo uma alegoria [sutil?] de porque o Brasil,
enquanto não deveria, insiste em ignorar o próprio passado da ditadura militar.
A culpa sublimada leva a menina a rejeitar a volta ao próprio país, assim como
faz o [in]consciente coletivo negar as atrocidades do regime militar. A
narrativa opera em níveis simbólicos, mas projeta as entrelinhas com potência
dramática cirúrgica na cara do espectador, disfarçando o dolorido das questões
abordadas com poesia cinematográfica. Usa a música como recurso orgânico da
história de se reconectar ao país depois do exílio, assim como a burocracia
para abrir a fresta do trauma dos desaparecidos políticos. Ao mesmo tempo trata
os personagens de perto a ponto de quebrar estereótipos. Ante toda essa negação
do passado brasileiro recente, a estreia na ficção de Castro escancara uma lembrança
social que não pode ser apagada.
Idem * * * *
BRA, 2018 | Drama | 96 min
[13.07.19 | Cine Teresina 5 – pré-estreia]
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